Crítica - Five Nights at Freddy's - O Pesadelo Sem Fim (Five Nights at Freddy's, 2023)
Talvez o subtítulo diga tudo.
Five Nights at Freddy's é um fenômeno difícil de explicar, ainda mais se levarmos em conta que é um jogo de terror e seu público principal acabou sendo o infantil, as crianças adoram. Isso se dá ao YouTube lá de 2013-2015 onde o que tinha mais visualizações eram construções no Minecraft e pessoas levando sustos no FNAF. No jogo basicamente você controla um segurança de uma atração infantil estragada cujo precisa fugir dos animatrônicos do local que são possuídos. É isso, não há profundidade nenhuma, não tem cutscenes, você só tem que fugir. Eu falo que é um fenômeno complicado pois eu não gosto desse jogo, eu acho uma abestalhada e ainda mais que o público infantil estraga forçando o game a um nível de fama enquanto jogos consensualmente melhores acabam ficando para trás. Como é um sucesso, decidiram adaptar para as telonas, lançando no Halloween de 2023 com a supervisão e participação no roteiro do criador da franquia, Scott Cawon, e apesar das minhas ressalvas à obra originária, decidi dar uma chance pelo tamanho sucesso que vem emplacando em bilheteria (mesmo tendo lançamento simultâneo em streaming nos EUA) e pela divisão de opiniões, uma guerra de fãs x crítica que é quase de lei. Contudo, a expectativa que se confirmou, infelizmente, foi a negativa.
Após ser demitido, se envolver em múltiplas confusões e ter sonhado sobre traumas do passado que o atormentam, Mike (Josh Hutcherson) tem oferecido pelo delegado Steve (Matthew Lillard) um emprego na fechada atração infantil Freddy Fazbear's, onde foi o palco de sequestros de crianças no passado e causou um trauma geral na sua cidade. O protagonista aceita a oferta e crê que seu trabalho será tranquilo, porém, se choca ao descobrir que os antigos animatrônicos do local possuem vida e estão com sede de sangue. Nisso, com a ajuda da policial Vanessa (Elizabeth Lail), Mike busca investigar o porquê dos bonecos ganharem vida e quererem atacá-lo enquanto precisa lidar com seus próprios pesadelos (ou não, porque o fato dele ter sonhos apavorantes é ignorado totalmente). A direção é da Emma Tammi, que já fez vários longas de terror e que também assina o roteiro ao lado do criador de FNAF, o Scott, e mais três carinhas que, com exceção desse, ainda não tiveram trabalhos relevantes para o grande público: Seth Cuddeback, Tyler MacIntyre e Chris Lee Hill. Então vem um pensamento comum, que se tem tanto o autor original quanto a do filme na criação da base da história, logo poderíamos esperar uma boa obra, só que o que acontece é um show de informações soltas e falta de interesse em todo assunto citado, causando assim uma obra frágil e redundante.
Acho que, narrativamente falando, é um desastre, pois são várias coisas colocadas em tela e poucas tem uma resolução, e as que tem são insatisfatórias. Tem a apresentação do Mike, que eu sinceramente não sei se é um personagem da lore do game ou se foi criado, mas independente disso, é um bosta, você não tem o mínimo de apego com ele e não compra nada que o envolve. Tem a relação dele com a irmã, que é besta, você na verdade acaba concordando com o fato de que ele é incapaz de cuidar de uma criança pelas situações bisonhas que ele coloca a coitada. Tem a batalha pela guarda da criança entre ele e a tia que não serve para nada e você percebe que era só uma desculpa para agregar outros personagens inúteis com funções fúteis à trama e que só servem para morrer, porque o longa não sabia outra maneira de incluir vítimas dos bonecões e termina que o longa tem umas cinco ou seis mortes e todas são broxas. Outro problema é a relação do principal com os sonhos, pois ele vive dormindo tentando encontrar respostas sobre o desaparecimento de seu irmão, mas é uma repetição até o final do longa que quase nunca muda alguma coisa, ele não descobre nada sobre o irmão e são pontas soltas que não convêm nem explorar em uma possível sequência, pois é verdadeiramente um arco desinteressante.
O clima de terror é banalizado ao máximo, tudo bem que é direcionado ao público infanto-juvenil justamente por ser o principal consumidor da franquia, mas dava para fazer diferente, adicionar um tom de horror sem infantilizar e se encaixar na classificação indicativa, só pegar exemplos de outros longas que fazem isso, como "A Casa Monstro" (2005) ou "ParaNorman" (2012), que são excelentes filmes infantis que se encaixam no gênero. Eles tentam vender como uma introdução ao horror mas acaba sendo menos assustador que "O Estranho Mundo de Jack" (1993), e você deve tá pensando: "ué, mas você só está citando animações e se trata de um live-action", bom, tem os exemplos de "Abracadabra" (1993), "A Família Addams" (1991) e até o próprio "Scooby-Doo: O Filme" (2002), mas qual a principal diferença que separa esse dos citados? A aceitação de que é fantasia, aqui eles tentam buscar por algo pé no chão que acaba sendo difícil de acreditar, não tem a noção de que é essencialmente rídiculo animatrônicos de parque serem assassinos sedentos por sangue e acaba numa seriedade que eu não comprei.
Mas o que termina prejudicando o longa mais ainda é como não há nenhum esforço para que você se importe, seja por parte da direção ou das atuações. Você não se importa com o Mike, com a irmã dele, com o fato dele estar cercado por bichos do bafomé, é algo tão instável e oco que sua aproximação com a trama é afetada mil por cento, o terceiro ato então é vergonhoso, apelando para um plot twist que não tem nenhum impacto numa arma de Tchekov . O Josh Hutcherson colabora para isso com uma atuação péssima, que tenta emular aquelas boas atuações que ganham Oscar mesclada com as mais icônicas do gênero onde é o cara traumatizado que tenta buscar respostas no sobrenatural através de um transe (no caso o sonho), mas é ridículo, parece uma paródia caricata não assumida desse arquétipo. Pior que ele só a Elizabeth Lail que é utilizada como o que eu denominei "papel de Nolan", que a cada cinco minutos tem que explicar o que tá acontecendo porque aparentemente a exposição é obrigatória nos diálogos. Na minha opinião, o que piora tudo é quando se compara com outras obras baseadas em games desse ano, como "Super Mario Bros. O Filme", "The Last of Us" e "Gran Turismo - De Jogador a Corredor", pois nessas dá para sentir que há preocupação com a emoção, mesmo você não sendo fã, acaba entendo a comoção, aqui não, não tem coração, não tem alma, é um Kinder Ovo sem brinquedo.
E os fãs estão amando, catarse no cinema, pessoas gritando como se fosse filme da Marvel, o que é legal, mas se só os fãs estão gostando por coisas que o pessoal de fora não entende, acaba sendo inacessível, diferente das obras que eu citei no último parágrafo, o público em geral (que nesse caso eu me incluo) não sabe as referências, não pega os easter-eggs, e se o filme se foca apenas nisso para funcionar, piora ainda mais a minha nota. "Five Nights at Freddy's" é um fiasco, um negócio monótono, confuso, sem emoção, sem vontade, não assusta e se levam a sério demais mesmo sendo essencialmente ridículo, acho que até aquele filme que teve com o Nicolas Cage que era uma cópia parece melhor (mesmo eu não tendo visto), acaba se salvando apenas os visuais dos bonecões. É simplesmente inacreditável, um dos piores terrores do ano, um dos piores do ano no geral. O preço que eu pago pelo conteúdo é inacreditável, valorizem o adm.
Nota - 2,0/10