Crítica - O Mal Que Nos Habita (Cuando achecha la maldad, 2023)

Um terror brutal e chocante.

Vocês que me acompanham há mais tempo sabem que eu não sou lá um grande fã de filmes de terror, claro, também não sou um hater, assisto sem o menor problema, gosto de vários longas, mas não tenho aquele tchan que muita gente tem. Comecei a me interessar mais recentemente, nas últimas semanas, pois ultimamente está tendo uma excelente safra do gênero que vem puxando para todos os lados, o sobrenatural, o slasher, o psicológico, folk, body horror, os sobre monstros e até o terrir. Esse longa de hoje é produzido pela Shudder, uma empresa calcada nessas produções de horror independente que há alguns anos já vem lançando filmes nichados para essa galera que é fanática pelo gênero, mas vez ou outra temos um que faz um barulho maior, como é o caso deste. A obra argentina, dirigida pelo parceiro da distribuidora, Demián Rugna, acabou conquistando um espaço um pouquinho maior por ser um destaque, ter enraizada uma brutalidade sem apelação, nisso acabou conquistando uma fama e chamando bastante atenção. Temos então o que seria o melhor horror do ano?

Na mitologia estabelecida, temos os possuídos, pessoas que são, de alguma forma, dominadas pelo bafomé e que caso não sejam mortas, irão ser portais para a vinda do bichão para a superfície. Aqui se desenrola quando os irmãos fazendeiros Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jimi (Demián Salomon) tentam se livrar do possuído Uriel (interpretado fisicamente por Pablo Galarza e Gonzalo Galarza e com a voz de Sebastián Muniz), mas, ao perder o corpo do rapaz, acabam se vendo em uma jornada para se salvar da maldição, impedir de chegar aos seus familiares e tentar impedir a vinda do chifrudo para a Terra. É terrível, é desumano, porém, se tratando de um terror, acabam que são adjetivos positivos, porque é tão pesado, é tão inacreditável que acaba sendo bom por isso, é imprevisível, é sangue frio, seria impossível ver isso em Hollywood ou até mesmo na Europa. Acontecem coisas tão absurdas e mesmo quem está acostumado com o terror acaba se chocando, são situações tão bizarras, e o pior é que são insinuadas, mas você pensa: "não, não é possível que eles vão meter essa", mas eles vão lá e fazem de uma maneira que deixa qualquer um boquiaberto, ninguém está a salvo aqui.

Demián Rugna cria esse clima de suspense organicamente, ele sabe trabalhar um tom cujo parece que tudo vai dar errado, ninguém nem nada está a salvo e você não tem confiança que aquelas pessoas vão conseguir mudar algo, a desesperança é um sentimento dominante. A forma como o sobrenatural é trabalhado é bastante interessante, porque é muito difícil fazer algo original dentro do subgênero do horror sobrenatural, é um tipo de filme que vem sendo feito e se autoplagiando por décadas. Porém, aqui os caras conseguem dar uma inovada, inventando conceitos bastante interessantes e que criam dúvidas ao longo da exibição, tem toda a questão envolvendo o filho dele, se ele é um possuído ou apenas um deficiente comum, ou se é autista (bom refrescar que autismo não é deficiência). Ainda sobre os encapetados, em questão de maquiagem, a caracterização do Uriel é algo único, um negócio diferente, que é asqueroso, é nojento, difícil de olhar, é uma monstruosidade humana, é como se fosse a antítese do Brendan Fraser em "A Baleia" (2022), uma coisa que não é amigável, que é feia, mas tão bem construída e com um orçamento tão pequeno que dá uma surra em filmes de grandes empresas com muito dinheiro.

Uma das principais características positivas é o protagonista, apesar da pessoa em si não ser muito positiva, a atuação se destaca. O personagem é um ser humano terrível, que toma cada atitude duvidosa e que praticamente as vezes a desgraça acontecem por tomadas de decisões erradas ou pelo fato dele simplesmente estar onde não deveria, você se apega ao Pedro, mas ao mesmo tempo você nota que ele se atrapalha. A real é que estamos acostumados com protagonistas abordados como heróis, como um verdadeiro modelo a ser seguido, aqui há a subversão, é exatamente o que não se deve ser numa situação dessas. Sem uma atuação boa, isso não seria possível, o Ezequiel Rodríguez entrega uma atuação chocante, que tem seus momentos de desespero onde é passado com maestria para o espectador, ele traz essa situação de maneira tão crível que você acaba ficando entretido de alguma forma.

Não há muito mais para dizer, o que tem não completa um parágrafo, mas devo dizer que meu interesse pelo terror vem aumentando e obras como essa acabam deixando maior ainda. "O Mal Que Nos Habita" realmente é a maldade nos habitando, eu já vi muita coisa pesada mas esse aqui consegue impactar pela imprevisibilidade, pela frieza e pela honestidade, não é apelativo, quase não tem jumpscare, assusta pela crueldade instaurada nele desde o início até a última cena, que é absolutamente chocante. Demián Rugna entrega um horror com originalidade, realmente tenso, onde os personagens são imperfeitos e tem atitudes erradas, você tenta torcer por eles mas a cada atitude fica bem mais difícil torcer por eles. Cara, é cruel, é desumano, é difícil de assistir em alguns momentos, vale muito a pena ver.

Nota - 8,0/10

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