Crítica - Máfia da Dor (Pain Hustlers, 2023)

É piada o que seria esse filme dirigido por um diretor de primeira linha.

Em 2013, Martin Scorsese lançou "O Lobo de Wall Street", que falava sobre um assunto como a ascensão e a queda de um homem em meio ao mundo corporativo de Wall Street sendo retratado de forma energética e cômica. Desde esse sucesso de público, crítica e bilheteria, todo mundo tenta fazer igual, alguns mandam muito bem, como é o caso de "Cães de Guerra" (2016), do Todd Phillips, que fala sobre o mercado de armamento, mas a maioria falha e acaba ficando para trás, como foi "A Lavanderia" (2019), do Steven Soderbergh com a própria Netflix, que fez até a plataforma ser processada. Aqui temos uma dessas obras sobre o ramo farmacêutico, que recentemente vem ganhando bastante visibilidade, com as minisséries "Dopesick" (2021), com Michael Keaton, e "Império da Dor" (2023), com Matthew Broderick. Aqui, o diretor que tenta lançar o novo Lobão é David Yates, sim, o cara do Harry Potter, dirigiu todos (incluindo os Animais Fantásticos) desde o Enigma do Príncipe. Porém, todos sabemos que o Yates deu certo por ser uma cadelinha da Warner e apenas obedecer ordens de forma competente, pois aqui a única coisa que eu consegui pensar para descrever é: "sem meu Harry Potter eu não consigo".

Liza Drake (Emily Blunt) é uma mãe solteira, ex-presidiária e stripper que faz de tudo para sustentar sua filha, Phoebe (Chloe Coleman). Desesperada, Liza lembra da proposta feita por um engravatado no clube de strip, Pete Brenner (Chris Evans), que a convida para fazer parte do ramo dos farmacêuticos, trabalhando para o renomado Dr. Neel (Andy García). Ela aceita e se torna extremamente bem sucedida no meio, ficando rica e conseguindo as melhores condições para sua filha e sua mãe, Jackie (Catherine O'Hara). No entanto, quando o remédio que representa torna-se um vício geral, Liza vê uma queda diante de seus olhos justamente quando mais precisa. David Yates tenta estabelecer essa trama de forma documental, com os personagens sendo gravados falando com alguém como se fosse um documentário enquanto as cenas vão passando nos interlúdios, porém, ele tenta inventar maneirismos de direção que são extremamente desnecessários, jogos na montagem que fazem com que você fique com uma sensação esquisita e trabalha tudo de maneira muito plástica, que apenas ensaia um desenvolvimento, mas dá a volta e termina num grande quadrado.

Não existe interesse aqui, são vários personagens que se relacionam com a protagonista, mas não há nenhum impacto, a preocupação com o que acontece é zero. Desnecessariamente tem muitas referências sexuais aqui e não tem nenhum sexo, parece que o Yates é broxa, porque ele com certeza queria fazer uma cena de sexo da Emily Blunt com o Chris Evans mas foi vetado pela Netflix, porque é aparente que ele queria muito um sexozão e não tem nada, toda vez que parece que vai acontecer há um corte abrupto, eu não sei porque mas achei importante comentar isso. Até porque é um longa sem tesão, não só no sentido +18 da coisa, parece feito com má vontade, de maneira desleixada, sinceramente aparenta que ele o diretor foi sequestrado e estava lá dirigindo enquanto sua família estava no porão do Ted Sarandos com suas cabeças em jogo. Não tem peso nenhum, você não se importa. A Liza conseguiu dar a volta por cima e ficar milionária? Dane-se. O remédio deles começou a tomar proporções maiores e gerar bastante lucro? Dane-se. Chris Evans engravidou a estagiária? Dane-se. A filha dela é eplética? Dane-se. Você não sente nada, parece que você tomou o remédio e não que está assistindo uma obra sobre ele.

O pior de tudo acabam sendo os personagens. Emily Blunt, Chris Evans, adoro vocês, mas aqui não deu, porque simplesmente quem eles interpretam são pessoas antipáticas. A protagonista acaba sendo tão forçada para você sentir pena que fica irritante, tudo que envolve a vida pessoal dela não passa de uma pincelada mal aproveitada. Tentam criar a relação com a mãe, não funciona, tem uma cena de gritaria e só. Com a filha é mais desenvolvido, mas é esquecido por uma boa parte do longa e volta em partes sem timing nenhum, ainda com o acréscimo de que mostram que ela tem uma doença e que é provável que ela vá de comes e bebes, mas não tem a mínima importância, você não sente nada, vai acontecendo ali na sua frente e dane-se. Coitada da Emily Blunt, esse papel era perfeito para ela concorrer (e ganhar) um Oscar, mas infelizmente o longa caiu nas mãos do David Yates. Outro que sofre é o Chris Evans, o cara é extremamente carismático, isso é fato, mas ele é prejudicado por ser resumido a um bêbado idiota que só quer transar, subjugado ao arquétipo do engravatado que quer fornicar com as novatas da empresa, trabalhado da forma mais sem graça possível, chega a ser irritante.

Dá nem mais vontade de falar nada, é tudo muito mal aproveitado. Eu garanto, o potencial que tinha era enorme, poderia ser um filme de Oscar, ser indicado em roteiro, atriz, ator coadjuvante, montagem e melhor filme, se fosse dirigido por algum diretor de primeira linha ou pelo menos mais competente que o Yates, estaria lá no páreo sem dificuldades. No entanto, termina que "Máfia da Dor" realmente é doloroso, não existe preocupação, você não se importa com os personagens, a direção é desleixada, a montagem é desnecessariamente confusa e os personagens são chatos e sem graças. Emily Blunt e Chris Evans tentaram, tentaram bastante, mas nem eles conseguiram salvar nem mesmo os próprios papéis, entregando atuações sem sal em um longa padrão Netflix. É uma daquelas adições de catálogo que fica duas semanas no top 10 do streaming e termina esquecido, uma pena, potencial desperdiçado.

Nota - 4,5/10

Postagens mais visitadas