Crítica - As Marvels (The Marvels, 2023)

O primeiro filme foi perdoado depois desse.

Há algum tempo atrás eu fiz um especial com crítica de todos os filmes da Marvel na página, e quando chegou em "Capitã Marvel" (2019), que foi um dos últimos a ser resenhado, eu dei nota 3/10, disse que gostava da Brie Larson como a personagem-título e que a mensagem era excelente para o público feminino, onde as meninas poderiam se enxergar naquela mulher forte e poderosa, mas que todo o resto era genérico, sem sal e batido. Depois do que passamos recentemente na Marvel, com "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania" (2023), "Cavaleiro da Lua" (2022), "Thor: Amor e Trovão" (2022) e "Mulher-Hulk: Defensora de Heróis" (2022) (eu nem desgosto desses dois últimos, Thor é mais ou menos e She-Hulk é bacaninha, mas o pessoal odeia de coração), além de outras obras ruins que culminam diretamente aqui como "Ms. Marvel" (2022) e "Invasão Secreta" (2023), acaba que o sarrafo desceu, então obras que no velho MCU ficaram para trás nas minhas críticas como o anterior, o primeiro "Doutor Estranho" (2016) e até "Capitão América: Guerra Civil" (2016) acabaram sendo perdoados por mim e receberam um aumento de nota, pois se o primeiro Capitã Marvel foi nota 3, esse aqui é mil vezes pior, a disparidade de qualidade é muito grande, o antecessor parece uma obra-prima perto desse.

Quando os poderes se entrelaçam, Carol Danvers, a Capitã Marvel (Brie Larson), a adulta e agora capitã Monica Rambeau (Teyonah Parris) e a novata Kamala Khan, a Ms. Marvel (Iman Vellani) começam a trocar de lugar a cada vez que usam suas habilidades.  No entanto, quando isso ocasiona a interrupção de um acordo entre os krees e os skrulls, o trio compra uma briga pessoal com a general e líder da raça kree. Dar-Benn (Zawe Ashton) - e sim, o nome da personagem é Dar-Benn kkkkkk. Com isso, as três heroínas decidem trabalhar em grupo em prol do bem do universo. O primeiro filme é um sucesso arrebatador, mais de bilhão e tornou a personagem, até então desconhecida, em um fenômeno,  apesar de ser criticada, na minha visão, de maneira exagerada. Com isso, a continuação deveria ter um sucesso maior, não? Seria a lógica, entretanto, estava quase sozinho no cinema, só tinham mais duas pessoas além de mim, isso se dá por um cansaço que a Marvel criou, com esse tanto de conteúdo lançado desde 2021, e grande parte ou de má qualidade, ou que causa grande divisão de opiniões, o consenso foi extinto dentro do MCU e acaba que o interesse também vai diminuindo quantitativamente, pois o estúdio já está em crise, a série do Demolidor trocou de mentes criativas, hão rumores de outras obras que serão canceladas, os planos estão mudando por conta de que o intérprete do principal vilão levou o papel de cara mau muito a sério e outros motivos que escancaram uma era das trevas do MCU.

Substituição na cadeira de direção, saiu a dupla Anna Boden e Ryan Fleck para a entrada de Nia DaCosta, que foi muito elogiada pelo seu "A Lenda de Candyman" (2021), mas que aqui acabou na pegadinha do Kevin Feige Games, porque é mais uma daquelas obras do Marvel Studios que são ocas, que não aparentam ter um diretor humano, mas sim um robô pau mandado que não é nem do Kevin Feige, porque ele hibernou depois de Ultimato, mas que sim, é o robozinho do Bob Iger, controlando o tempo de exibição para caber em mais salas, colocando piadas batidas de desenho animado para passar pela classificação indicativa e banalizando todo o clima heroico que some na trama. Não é a toa que a diretora jogou a toalha na pós-produção e foi fazer outra produção, provavelmente devem ter mudanças que foram feitas sem o conhecimento dela, porque atualmente a Marvel só estrutura os filmes depois de gravá-los, o próprio Quantumania foi alterado a três semanas da estreia, esse aqui só não deve ter tido alterações mais radicais por conta das greves, mas com certeza tem cena que está aonde não deveria, tem uma que eu tenho quase certeza que era o pós-créditos e foi enfiada para a exibição principal, é a falta de alguém com pulso na cadeira de direção, foi mais uma ceifada pelo estúdio.

Eu estava assistindo e eu vou ser sincero, eu não tive nenhum sentimento, era tudo vazio, porque é tanta pressa em tão pouco tempo que parecia que o Usain Bolt estava dirigindo, soa como um cem metros rasos, o longa queria acabar logo para chegar na cena pós-créditos que é o que importa mais para a Marvel atualmente. Essa pressa faz com que tudo seja muito atrapalhado, especialmente em relação a personagem da Monica, que para mim acabou sendo a mais prejudicada do rolê e acabou tendo só uma cena de destaque e lá no terceiro ato. A Teyonah Parris não tem culpa, ela manda bem quando precisa, mas não tem direção o suficiente para que você sinta o drama dela, soa forçado, a relação com a Carol não tem credibilidade, parece jogada lá no meio e tem uma resolução tão vaga que eu fiquei boiando até perceber. Além disso, foge demais da trama principal várias vezes, a vilã só aparece quando convém (dela eu falo mais depois), tem momentos que a vergonha alheia passa dos limites, eu sinceramente não aguentei uma cena de tanto cringe, passei a ser hater de gatos, e tem outra que é um musical que, honestamente... nem falo nada. O desequilíbrio tônico é insustentável, não sabe o que quer ser, fica entre o épico, o cômico e o drama, mas você não se importa com o que vai acontecendo, seja as personagens ou os desafios que elas precisam superar como heroínas, aqui no terceiro ato eles envolvem a destruição do sol, mas ninguém leva isso a sério, prova que é tudo feito na pós-produção, porque nem quem mais deveria se importar, que é o Nick Fury (Samuel L. Jackson), não dá a mínima. 

Inclusive o papel do Fury aqui comprova a hibernação do Kevin Feige, pois a disparidade dele para as aparições recentes é inacreditável, ele no Invasão Secreta estava todo reflexivo, pensativo e cansado, aqui, que se passa pouco tempo depois, ele já está no modo zoeira ativado, fazendo piadas fora de tom e tendo um papel fútil dentro da história e estando lá por ser o personagem, não tem nenhum impacto e ele é um completo lixo aqui. O que fizeram com o Nick Fury esse ano é um desrespeito ao personagem e ao ator, porque é indescritível essa desconstrução ruim que fizeram dele. Falando em personalidades que não surtem nenhum efeito na trama, temos quatro cameos, um no meio do longa que foi muito aleatório e jogado lá por puro fanservice, outro na última cena do filme que foi bacana, foi massa de ver, mas aí mencionam uma das piores coisas recentes do universo para ferrar com tudo. No pós-créditos (que é só um), temos mais dois, uma que já era meio esperada, mas o outro que é de um personagem antigo dos cinemas, que escancara de vez a apelação e o desespero da produtora. Mas nenhum desses cameos supera a vilã, que é tenebrosa. Ela tem um flashback melodramático para justificar seus atos, mas não cria aproximação e não há desenvolvimento entorno disso, sua motivação é vaga e ela não se impõe, só aparece quando é conveniente e é a antagonista que é derrotada da forma mais imbecil possível (por conta única e exclusivamente dela, inclusive). Pior vilã desse universo por muito, coitada da atriz.

Mas chega de desgraça, bora falar do que funciona, o que é bem pouco, mas pelo menos salva o filme de ser definitivamente o pior do estúdio. Eu cravei há muito tempo de que a melhor coisa daqui seria a Iman Vellani como Kamala Khan e adivinhem? Eu estava certo! Que menina boa, um dos melhores castings da Marvel recentemente, porque ela é fã de verdade, eu duvido que ela esteja atuando, porque ela é assim desse jeito e ela é muito fofa, muito bonitinha ver ela ali interagindo, trazendo essa luz que precisava, roubando a cena completamente, excelente alívio cômico e personagem. A própria Brie Larson está excelente, pessoal reclama muito dela que ela é prepotente, arrogante, mas o que ela faz, se você analisar, é a mesma coisa do Tom Cruise no Top Gun, então percebe-se que é um hate seletivo, e aqui ela está muito melhor do que nos anteriores, pois ela aprende a lidar e superar os problemas do presente e do passado (basicamente o Maverick no "Top Gun: Maverick"), ela consegue criar um carisma contagiante, canta muito bem na parte musical e dá o único ar dramático do longa (e se parar para pensar, a personagem é mesmo o Tom Cruise, em teoria era para ela ter quase 60 anos mas tá desse jeitinho aí, que eu confesso que é meio desconcertante, ela tá muito linda aqui, muito mesmo). A interação delas duas e mais a Monica (mesmo com os problemas de desenvolvimento) são os pontos em que acabam atingindo um pouco mais o espectador, funcionando cômica e dramaticamente.

As cenas de ação e a técnica acabam dando uma salvada, excelente trabalho em algumas questões. O elefante na sala é o CGI, que nesse está um pouco melhor que nos anteriores do estúdio, no caso Quantumania e "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" (2022), mas que ainda tem suas escorregadas enquanto ao chroma key, que acabam tirando a imersão dependendo da cena, mas não está quase inassistível como em obras anteriores. Acho que o trabalho técnico se destaca mais na direção de arte, a construção das naves é bem bacana, tem uma certa criatividade ali, principalmente em Aladna, nesse planeta a construção que remete a uma mescla de culturas do oriente acaba sendo primordial para uma visual bacana naquele local. Figurinos também são muito legais, não curti o novo uniforme da Capitã Marvel, mas o da Monica (que é a Fóton, mas acho que não chegam a falar isso no filme) e o da Kamala são muito legais. Porém, como tudo que é bom aqui, a parte técnica também tem sua mancha, que é a montagem, ora parece ser comandada pela Nia DaCosta com criatividades bem massas de se ver, ora comandadas pelo robô pau mandado do Bob Iger que apressa o filme para que chegue no pós-créditos.

Confesso que quando saí do cinema estava extremamente irritado, agora como estou com a cabeça esfriada, percebo mais qualidades, continua sendo um dos piores da Marvel, mas tive que aumentar pela Brie e pela Iman, elas mereciam muito mais do que isso. "As Marvels" (que nome horrível por sinal, qual era o problema de chamar "Capitã Marvel 2"?) é um dos piores filmes de todo o MCU, com uma das piores direções (se é que tem), a pior vilã, consegue ser pior que o Aldrich Killian do "Homem de Ferro 3" (2013) para ter uma ideia, uma trama que não empolga, não convence e algumas questões e dramas acabam sendo mal desenvolvidos e mal aproveitados. Tem uma dinâmica interessantíssima entre as três principais que é um grande ponto alto, mas no fim é oco, vazio e soa como mais uma obra fútil do universo, se não fosse pelo pós-créditos seria irrelevante. Brie Larson e Iman Vellani espetaculares, Teyonah Parris subjugada mas com potencial para ser muito mais no futuro, gostei dela atuando, mas o que atrapalhou foi o desenvolvimento. Acho que o que faz mais falta é a mensagem, no primeiro tinha aquela questão de empoderamento que era muito bem feita, mas aqui é cinza, é oco, é tudo mal trabalhado e termina por isso mesmo.

Nota - 3,5/10

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