Crítica - Aquaman 2: O Reino Perdido (Aquaman and The Lost Kingdom, 2023)

O final agridoce do DCEU. Adeus, não fará falta.

Depois de dez anos, quinze filmes, um Snydercut e uma série, o DC Cinematic Expanded Universe finalmente chega ao seu fim, infelizmente de maneira abrupta, precoce e inacabada. Isso se dá por uma péssima organização, planejamento inexistente, incompetência e impaciência por parte da Warner Bros. e de executivos, que são quadrinistas lendários, mas que não deram certo no cinema: Geoff Johns e Walter Hamada. Agora, com esse encerramento, pode-se falar que sim, o DCEU é um fracasso enorme em qualidade e em repercussão, quase assumido pelo próprio estúdio, pois esse filme que irei falar agora não teve nem uma premiere, apenas uma sessão de fãs com presença do diretor James Wan e do protagonista Jason Momoa. É um tanto quanto bizarro, já que o primeiro bateu U$1 bilhão nas bilheterias, estreou até abaixo do esperado, mas ao longo das semanas foi subindo cada vez mais pelo boca a boca. Agora, a sequência é envolta de problemas nos bastidores, por conta de atrasos, pressão do estúdio, tretas entre o casal principal e muitos outros, o que culmina num remendo enorme onde o coitado do Wan teve que se virar com o que deu.

Anos depois de derrotar seu irmão e tornar-se o Rei de Atlântida, Arthur Curry, o Aquaman (Jason Momoa) tem que equilibrar a vida de monarca com a de herói e mais a paternidade, contando sempre com a ajuda de sua esposa Mera (Amber Heard), sua mãe Atlanna (Nicole Kidman) e seu pai Thomas (Temuera Morrison). No entanto, quando seu antigo inimigo, David Kane, o Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) está em busca de vingança pela morte de seu pai, nisso, junto com o Dr. Shin (Randall Park) vai em busca de Atlântida e de tecnologia atlante, e acaba encontrando um tridente que o conecta diretamente com Necrus, o Reino Perdido, e encontrando o olicauto, um artefato que ele utiliza para acelerar em muitos anos os efeitos do aquecimento global. Quando a ameaça torna-se inevitável, Arthur busca ajuda de seu outro inimigo, Orm (Patrick Wilson) para auxiliar na caça ao Arraia e tentar de alguma forma reverter os estragos do Arraia. É uma história interessante, mas percebe-se que é um remendo enorme de uma história original que se conecta diretamente aos outros filmes (onde teríamos até uma participação do Ben Affleck como Batman), mas que em refilmagens acabaram tomando outros caminhos que se confundiram na montagem. E cara, sendo sincero, não desgostei tanto assim, pois para o que tudo que a produção sofreu, até que vai.

James Wan teve que se virar nos trinta para entregar algo minimamente assistível e dá para sentir um esforço dele ali para não ser ruim, já que provavelmente até mês passado estava sofrendo alterações, mas ele consegue coisas positivas, ao mesmo tempo que hão pontos baixos. O ponto alto acaba por ser o relacionamento entre o Arthur com o Orm, que de longe acabam sendo a melhor coisa, criando um buddy cop legal de se ver enquanto vão desenvolvendo um arco de redenção ao antigo vilão. Apesar do corte da primeira para a segunda parte da interação ser abrupto e o visual do velho rei ser totalmente diferente do nada, acaba sendo massa ver os dois passando por desafios no maior estilo Nathan Drake, precisando se virar com o que tem, enfrentando insetos gigantes, é uma galhofa mas continua sendo bacana de se ver. Outro destaque são as cenas de ação, são sequências bem encaixadas, com exceção da batalha final que corta muita coisa e vira anticlimática, eu gostei do rumo das demais, tem ótimos momentos que trazem uma certa adrenalina.

Agora, falando do que é ruim, sinceramente, até eu em uma análise mais sóbria me surpreendi com a quantidade, até porque eu quando saí do cinema achei uma Sessão da Tarde bacana, mas depois de pensar... É, não deu para defender. Primeiro que é a mensagem sobre aquecimento global, que é válida, ainda mais atualmente, mudanças climáticas ocorrendo o tempo inteiro, mas acaba perdendo a força quando é posto em um plano secundário como um desafio de fácil conclusão, pois tem a citada tecnologia atlante que é tão poderosa que pode reverter a temperatura média do planeta - essa banalização tira o peso da mensagem. Outro baixo são os cortes avulsos para tela preta, são seis ao longo da exibição, o que causa uma sensação de falta de conexão entre a própria trama, que como eu disse lá atrás, são sobras de algo maior. No entanto, Wan consegue deixar minimamente coeso, fazendo com que seja assistível, eu particularmente desliguei o cérebro, fui de mente aberta e não me ofendi com quase nada realmente, acaba que com a mão de um diretor competente, dá para se dizer que foi um desastre total evitado.

No elenco, temos um problema perceptível como intromissão do estúdio: a participação exagerada do elenco de apoio, especialmente dois atores famosíssimos, o Dolph Lundgren e a Nicole Kidman. É mais um filme de 2023 onde o Lundgren parece estar atuando com uma mira de sniper na cabeça, ele claramente não queria estar lá e é notável quando eram cenas normais e quando eram regravações pelo seu físico que aumenta e diminui (ele tem mais participação aqui que no anterior). Nicole Kidman então é uma tentativa desesperada de buscar uma participação maior dela para trazer público ao longa, mas tem cenas que você percebe que claramente ela não deveria estar ali, subjugam ela a uma stand-in dela mesma. Outro problema é a Amber Heard, que teve sua importância diminuída por motivos óbvios, é uma figura controversa que estragou a própria carreira, e aqui são poucas falas, e quando fala é da maneira mais genérica, mal feita e caricata possível.

Sobre o vilão, Yahya Abdul-Mateen II é pior que anteriormente, onde ele era um sub-chefe, um vilão secundário. Suas atitudes são malignas? São, o cara literalmente acelerou efeito s do aquecimento global em décadas, sequestrou um bebê que iria matar a sangue frio e botou todo mundo sobre seu controle. Motivo para isso tudo? Aquaman matou seu papaizinho. Ó, com todo respeito, não dá para acreditar que o cara queria acabar com o planeta por conta de vingança é muito besta, não dá para acreditar, todos os problemas dele seriam resolvidos com uma terapia, o cara parece uma criança mimada querendo se aparecer. O pior é um ator tão talentoso não se entregar minimamente ao personagem, dando uma abordagem batida a um personagem que não era assim no anterior. Aliás, é por conta dele que vem a ligação com o subtítulo, o tal Reino Perdido, que é algo tão palpável, tão mal feito, que chega a ser uma bizarrice sem tamanho, tendo um clímax que é broxante, pois quando veríamos o Aquaman descer a porrada nesse rei de ossos, simplesmente eles destroem toda uma boa briga em um segundo.

O que acaba funcionando é a interação entre Jason Momoa e Patrick Wilson, numa vibe buddy cop onde há um desenvolvimento de ambos. Momoa está à sua própria maneira, seu Aquaman beberrão e maluco da cabeça funciona por natureza (isso se você já gostava dele anteriormente), ele tem esse carisma inacreditável que entrega as únicas piadas boas do longa e se impõe na ação, conseguindo trazer aquela sensação bad-ass de sempre. O problema vem quando há um ensaio sobre ele não querer mais ser rei, mas não é desenvolvido, é apenas um diálogo e essa questão some, o que é uma pena, pois era um artifício dramático interessante para ser trabalhado. Patrick Wilson é o grande destaque, ele busca trazer uma jornada de redenção para o personagem, que é legal, pois ele no primeiro filme é, na minha opinião, um dos melhores vilões dos CBMs (comic book movies). Ele é essencialmente cativante, e aqui ele trabalha em se redimir, roubando a cena por suas atitudes que conquistam o espectador. Mas, ele também tem seu problema quando ele acaba sendo utilizado no "papel de Nolan" e fazem ele explicar toda a ameaça da trama em uma cena extremamente forçada. A interação entre os dois remete à clássicos como "Máquina Mortífera" (1987) e "Tango & Cash - Os Vingadores" (1989), se aproveitando do carisma de ambos os atores para carregar a narrativa, criando uma cortina de fumaça para todos os outros problemas.

Olha, eu vi esse filme na primeira sessão que teve na minha cidade, não por ansiedade ou curiosidade como fã, apenas por tédio de estar em casa e precisar dele para crítica e fechar alguns posts da página, então decidi tirar o atraso antes de vir e tive um tempo legal assistindo, mas depois de ver, os problemas começaram a se denotar na minha cabeça e aí ficou indefensável. "Aquaman 2: O Reino Perdido" se perde em suas questões, se situa em um universo morto onde as consequências jamais serão mostradas e isso afeta na montagem, pois cria uma experiência abrupta, incompleta e oca. Tem um quê nostálgico de ver o Momoa e saber que é a última vez no papel, revisitar a Atlântida de um primeiro filme que é tão legal, tem o Orm roubando a cena, mas os problemas são muitos, vilão torna-se genérico, motivação fraca para o que ele está causando, mau uso de coadjuvantes e o tal 'Reino Perdido' é subjugado apesar de estar no subtítulo. Esse projeto do DCEU/Snyderverse chegou ao fim em uma morte trágica, onde termina em seu sétimo fracasso consecutivo de bilheteria, poucos trabalhos realmente bons e um elenco com pérolas, como Margot Robbie, John Cena, o próprio Momoa e alguns outros, mas no fim terminou sendo uma lição de porque a Marvel deu certo e a DC não, a palavra-chave é: planejamento.

Nota - 5,5/10

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