Crítica - Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo (Rebel Moon - Part 1: A Child of Fire, 2023)

O épico falso e inodoro de Zack Snyder.

Snygod? Zack Snyder é um cineasta que ganhou muitos fãs nos últimos dez anos, seja por sua participação na DC Comics na construção de um universo cinematográfico morto e fracassado, fazendo filmes medianos que se salvaram em versões estendidas e tendo toda a questão de seu afastamento após a perda de sua filha, realmente uma falta de consideração enorme com o cara, um desrespeito a ele e seu trabalho, que ocasionou sua saída da Warner Bros. e o contrato na Netflix. Na esposa do Burger King, Snyder já criou uma franquia de zumbis chamada "Army of the Dead", que em 2021 teve um longa principal e um spin-off (agora, não sei se terá mais - e eu também nem assisti nenhum dos dois). Então, dois anos depois ele retorna com a promessa do grande blockbuster do streaming, o filme com o maior investimento da plataforma, seja em orçamento, em marketing, eventos e o que mais tiver, foi uma campanha gigantesca para a visibilidade, sabendo do nome grande do diretor por conta de seus trabalhos, polêmicas, fandoms e hashtags como #ReleaseTheSnyderCut e #RestoreTheSnyderVerse, a distribuidora não poupou despesas: pontos de ônibus decorados, outdoors, anúncios em massa na internet, painel na CCXP, churrasco e pagode com Zequinha e elenco em São Paulo, tour de entrevistas lotados, influencers recebendo produtos. Foi uma loucura tão grande que eu entrei na Netflix no dia da estreia e a tela da televisão tomou-se de um banner enorme do longa cobrindo todo o resto do catálogo. Parecia que eles realmente acreditavam muito no projeto, mas o resultado final é inacreditável e que se fosse um diretor menos famoso, provavelmente não sairia do papel.

Em uma galáxia distante, acompanhamos Kora (Sofia Boutella), uma garota que vive numa lua pacífica repleta de fazendeiros por ter sido achada por Hagen (Ingvar E. Sigurðsson) em meio ao lixo. Quando soldados do Império do Mundo-Mãe, que cria uma ditadura espacial, vão à vila para expandir seu domínio. Kora, então, é enviada numa missão para criar uma aliança rebelde que consiga deter a expansão imperial, nisso ela leva o fazendeiro Gunnar (Michiel Huisman) e encontra Kai (Charlie Hunnam), um talentoso piloto que os ajuda a completar a equipe com Tarak (Staz Nair), um príncipe exilado, Nemesis (Bae Doona), uma assassina ciborgue e espadachim, Darrian Bloodaxe (Ray Fisher), um dos líderes de seu povo que tem uma discordância de sua irmã quanto ao conflito, e Titus (Djimon Hounson), um lendário general do Império que virou a casaca. Com essa galerinha do barulho, vamos ver quais peripécias eles aprontam para derrotar esse pessoal do mal. Uma curiosidade rápida é que a ideia original desse longa era para se situar dentro do universo de Star Wars, mas a ideia foi rejeitada por supostamente ser muito ruim, ou seja, os caras conseguiram ser negados pela mesma empresa que aprovou "Star Wars: A Ascensão Skywalker" (2019), não precisa dizer muito para chegar ao veredito de que é ruim, é algo que tenta chegar a um ponto que nunca chegará, utilizando-se de inspirações que não chega nem aos pés, chegando a ser ofensivo para qualquer obra na qual há uma mínima semelhança narrativa e visualmente com isso.

Snyder é teimoso, tem suas convenções de que ele sabe fazer coisas incríveis, quando na verdade todo mundo acha brega, transforma em piada por ser batido nas suas obras, como a câmera lenta, a ausência de cor na tela com filtros acinzentados e diálogos vazios tratados de maneira épica. Adivinha? Aqui tem tudo isso novamente, chega a ser inacreditável quanto ele não abandona suas convicções e prefere seguir nessa bolha de que tudo que ele faz é bom e tem seus alienados que vão o defender até o fim. É ridículo a maneira que ele conta a história, não cria o mínimo de interesse quanto ao que ele quer contar, parece que ele não tem nenhum objetivo maior aqui, tem todo o marketing de ser um épico, um blockbuster, mas no final é inodoro, você assiste, vê aquilo passando e não sente o mínimo de sentimento. Esse filme é uma água, é incolor, inodoro e insípida, mas a diferença é lógica: a água é gostosa, é essencial e literalmente nós seres vivos somos dependentes dela para viver, enquanto aqui temos uma futilidade em formato audiovisual.

Outro erro de Snyder vem em relação ao elenco, aos personagens que são os arquétipos mais batidos possível. Tem a protagonista que é a escolhida porque sim, ela tem uma relação direta com o verdadeiro vilão da história e é enviada para criar um grupo para deter o Império. Onde será que eu já vi isso antes? Exatamente, ela é a Rey. Ou seja, além de ser um roteiro rejeitado de Star Wars, a protagonista é literalmente a mesma, com apenas uma diferença: a Daisy Ridley manda bem como Rey, é carismática, você gosta dela no início (o problema é que estragam ela no final com decisões podres, mas isso é outro post), enquanto aqui a Kora, meu pai amado, que personagem péssima. A atriz não tem o mínimo de carisma, ela é colocada para citar frases genéricas daquele jeito bad-ass, com aquela fala meio rouca, séria, mas não há convicção, quem disser que se apegou a ela é um baita de um mentiroso, pois não tem esforço nenhum por parte da atriz e nem do diretor para que isso aconteça. Sem falar na masculinização que ela sofre, com o clássico arquétipo da mulher que é tratada pela obra como homem para soar bad-ass, e isso é retrógrado, é péssimo visto que hoje em dia temos muitos exemplos de heroínas que não abandonam a feminilidade para serem brabas, como a Mulher Maravilha da Gal Gadot (idealizada pelo próprio Zeca!), a Viúva Negra da Scarlett Johansson, a própria Barbie da Margot Robbie, a Daenerys, Eleven e tantas outras, aqui fazem até a personagem com uma silhueta masculina, com uniforme militar, voz grossa e cabelo curto (no nype degradê com disfarce). É um desserviço, sinceramente.

Para efeitos cômicos, incluirei em parênteses personagens de Star Wars, para vocês entenderem o tamanho da preguiça em até mudar os arquétipos. Temos o Gunnar (Luke), o cara lá que é corajoso, audacioso, que quer buscar ser mais do que ele é. Kai (Han Solo), um piloto talentoso que é meio charlatão, ele tem um quê irônico, é um cara que tem uma lábia impressionante e, apesar da atuação fraca do pobre do Hunnam, tem uma virada de chave que pode ser meio batida, mas que surpreende pelo tratamento que ele vinha tendo, uma das poucas ideias interessantes, mas que foi menos impactante pela própria qualidade do longa, concluindo esse arco de forma insatisfatória. Aí tem o Tarak (Poe Dameron), que é um nobre afastado de seu povo para viver suas próprias aventuras, que é fútil também, esse mano só serve para ser o cabeludo sem camisa, e o fato dele se chamar Tarak e o visual me fez toda vez que ele aparecia pensar que ele é o Tarzan do espaço. Titus (Finn) é o cara que trabalhava para os vilões mas decide se virar contra, e é basicamente o Finn se tivesse passado mais anos trabalhando para o Império. Não só esses, como também há o robô Jimmy (que tem a voz do lendário Sir Anthony Hopkins, como que ele veio parar aqui?), que é uma mescla do C3PO com o Obi-Wan (sim).

Até o vilão, Atticus Noble (Ed Skrein) é uma cópia. Primeiro que ele é um vilão péssimo, ele não impõe nenhuma ameaça, quando ele aparece é caricato, o medo que ele tenta pôr nas pessoas em posições inferiores à dele não é crível, ele parece um louquinho genérico que acabou de sair de um hospício, parece um redpill que levou o meme muito a sério. E a cópia dele é óbvia, ele é o General Hux. Skrein tenta emular o Domhnall Gleeson na atuação, mas sem o mesmo brilhantismo, sem a mesma emoção, sem a mesma insanidade no olhar, tudo que ele faz soa forçado. Mudando de pauta, esse aqui não é o Rebel Moon verdadeiro, pois é uma versão PG13 que tem cortes nítidos para caber numa classificação mais convidativa, mas ano que vem teremos a Parte 2, e então provavelmente teremos mais um Snydercut de 4 horas e são perceptíveis os inúmeros cortes abruptos as vezes dentro até da mesma cena, na mesma situação. Visualmente também não me agrada, claro, efeitos visuais muito bem feitos, caprichos técnicos em figurinos, maquiagem, mas a fotografia é cinzenta, é sem vida, não cria a sensação de universo fantástico/sci-fi que tenta fazer, me lembra até "Duna" (2021), que vocês sabem que eu não gosto, mas lá havia um capricho inacreditável, aqui parece uma paródia low profile da obra do Frank Hebert.

Finalizando dizendo que "Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo" é um blockbuster falho que termina em uma casa experiência comparável a olhar um vidro com uma paisagem por duas horas e vinte minutos. Elenco fraco, personagens genéricos que são cópias inescrupulosas de Star Wars, visual feio e que não cria o universo do jeito que Snyder imaginava, parece muito atrapalhado e bagunçado. Faço questão de terminar esse texto citando uma frase do grande filósofo Arqueiro Verde: "C4r4lh0, todo dia essa p0rr4 de Rebel Moon, velho. C4r4lh0, vai tomanocu vocês, o Snyder e a Netflix, tudo junto, vei. P0rr4, tomanocu, cês nem dormem, fica o dia inteiro babando o ovo do-do-do Zeca Splinter, veio. C4r4lh0, vai tomanocu. Irmão, visionário é meu p4u recebendo um salário, tomanocu. Sap0rra de diretor afundado aí, f0did0. P0rr4, grava a p0rr4 dos filmes e coloca um bocado de filtro de Instagram, filh0d4put4. Bota os filmes preto e branco, tomanocu. P0rr4, tá nos anos 50, arrombado? Tem que ter cor no filme, desgraça!".

Nota - 3,0/10

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