Crítica - Sexo, Drogas e Jingle Bells (The Night Before, 2015)

Cumpre o que promete: tem sexo, tem drogas e tem jingle bells.

Geralmente eu não falo muito sobre ele na página, mas quem me acompanha no Letterboxd sabe que eu vivo assistindo filmes do Seth Rogen, desde as comédias mais escrachadas até obras que ele escreve com todo o coração, como "As Tartarugas Ninja: Caos Mutante" (2023) - que já tem crítica por aqui. Ele é uma figura bem divisível, até porque o humor é a qualidade mais subjetiva a gosto pessoal, eu particularmente adoro humor retardado que envolvem milhares de piadas de sexo, drogas, zoação alheia e de si próprio, é um estilo que me agrada muito, essa comédia de adultos que estão nos primeiros quarenta anos de infância particularmente me representam. No entanto, as vezes essas comédias trazem um lado dramático que nos pegam de jeito, como já fez o diretor Jonathan Levine em outro longa com a dupla Rogen e Gordon-Levitt: "50%" (2011), que é uma comédia, mas é uma paulada emocional. Aqui é bem mais cômico, muito mais piadas, mas ainda tem esse lado que nos pega desprevenidos.

Isaac (Seth Rogen), Ethan (Joseph Gordon-Levitt) e Chris (Anthony Mackie) são amigos de longa data que tem uma tradição longínqua de sair no Natal e fazer loucuras pela cidade de Nova York. Porém, muitos anos depois, quando Isaac está prestes a ser pai e Chris está no seu auge da fama como jogador da NFL e influencer, eles decidem parar com esse encontro, mas não antes de uma última noite épica. Com Isaac tendo uma crise de ansiedade por não se sentir preparado para ser pai, Chris tendo que lidar com a aprovação do capitão de seu time e Ethan se sentindo perdido no mundo com medo de entrar em uma relação séria com Diana (Lizzy Caplan), as eventualidades da noite acabam fugindo do esperado, como um reencontro com um ex-professor que é traficante, o Sr. Green (Michael Shannon), uma ladra de rua, uma festa secreta gigantesca, uma erva das boas, uma troca indesejada de telefones e muito mais. Cara, eu não sei porque eu demorei tanto para assistir, realmente me conquistou, porque ele é muito engraçado, realmente um besteirol dos melhores do subgênero, mas ele tem uma emoção presente que arrebata, que é identificável, em questões sobre relacionamentos, amizades, passado, presente e futuro.

Primeiro que há uma mística, uma questão de fantasia, há uma relação com a clássica história dos "Fantasmas de Scrooge", onde aqui ao invés de fantasmas, hão baseados distribuídos pelo Michael Shannon que mostram diferentes visões do passado, presente e futuro, que é uma parte importante do desenvolvimento do trio principal. Toda a narrativa é sobre essa jornada dos três amigos em uma suposta última noitada de Natal onde teria que ser o ápice de seus momentos juntos, tanto que desde o início é estabelecida a tal festa secreta que é gigantesca e super exclusiva e que seria o apogeu da história dos rapazes. Essa questão da festa ser o objetivo final já foi trabalhada em tantos outros besteiróis, inclusive em que o próprio Seth Rogen participava, mas não com tanto drama bem feito, porque esse acaba sendo o diferencial, são personagens cômicos bem desenvolvidos dramaticamente. Há um equilíbrio perfeito entre esses dois tons, eles não se interrompem, os momentos sérios são encaixados magistralmente em meio ao humor, servindo não como uma quebra, mas como uma adição.

Esses personagens são tão bem criados e desenvolvidos que é difícil não criar apego, não só pelo carisma de ambos atores, mas pelas situações que passam. Ethan é um músico fracassado, não tem dinheiro e desperdiçou o amor de sua vida ao tomar decisões bobas e imaturas dentro do relacionamento. Chris era um atleta de futebol americano meio esquecido que começou a ficar famoso pelo desempenho abismal em campo e um carisma enorme fora dele, mesmo em uma idade avançada para jogadores de alto rendimento (você sabe o porquê, é o suco), mas que ainda precisa ir em busca da aprovação dos craques da equipe. E Isaac é um futuro pai passando por um estresse de não conseguir ser o suficiente para sua filha, estando em um desespero silencioso por medo da reação da esposa. Esses três juntos tentando superar os problemas juntos geram cenas icônicas, como o piano no chão em referência à "Quero Ser Grande" (1988), a cena do karaokê e os encontros com o Sr. Green. A interação entre os três é tão verdadeira que chega a ser difícil não se apegar a eles e crer que eles não são só amigos: são família.

É difícil não empatizar com ambas situações, todo mundo já passou ou presenciou alguém passando pelas situações de perder um grande amor, de fracasso na carreira, de ascensão e queda, aceitação, paternidade, casamento, são situações reais que, mesmo em contexto de comédia, tem um impacto. A forma como eles lidam com os problemas acaba sendo a honestidade: um se declara para a garota que ama, outro desabafa para a esposa sobre sua ansiedade e o último confessa para a mãe o uso de doping, depois de passar por toda essa jornada maluca, a conclusão acaba sendo uma mensagem reconfortante de que a sinceridade é o caminho certo, e que você sempre terá pessoas lá para apoiá-lo. É belíssimo. Agora, sobre comédia, é aquilo que eu falei, tem piada sobre sexo, drogas e o humor de situação que ocorre no longa, justamente pela imprevisibilidade dos ocorridos, tem dois cameos sensacionais, mas um deles eu me mijava de tanto rir. Outro artifício cômico excepcional era a participação do Michael Shannon como uma espécie de anjo maconheiro se passando por traficante, justamente em referência aos Fantasmas de Scrooge e até de "A Felicidade Não Se Compra" (1946), e cara, ele é maravilhoso nesse papel, há um quê de bizarro, mas é muito engraçado.

Enfim, dá para se dizer que "Sexo, Drogas e Jingle Bells" é um filmaço subestimado da época natalina, sendo uma comédia extremamente engraçada, boa de assistir e acompanhar, um timing perfeito, e que tem seus dramas e mensagens impactantes. O trio protagonista é um espetáculo à parte, Joseph Gordon-Levitt é extremamente versátil e consegue entregar perfeitamente o lado cômico do personagem e o lado dramático onde ele precisa lidar com várias questões difíceis. Anthony Mackie é dono de um carisma sem igual, o cara é a personificação da diversão, ele tem uma vibe própria que contagia, mas quando ele precisa de seriedade no papel, a faz com perfeição. E Seth Rogen é genial, o cara mal atua na realidade, ele fica drogado o tempo inteiro, creio eu que seja espontâneo, mas ele sempre faz o que lhe é proposto de uma maneira que você ri, ao mesmo tempo que entende o desespero. É maravilhoso, assistam porque vale a pena demais, eu realmente curti muito.

Nota - 8,5/10

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