Crítica - Simplesmente Amor (Love Actually, 2003)

O verdadeiro Simplesmente Amor são os amigos que fazemos no caminho.

Hoje em dia estamos acostumados a ver comédias românticas com múltiplos personagens, vários núcleos que vão se intercalando e nisso acompanhamos várias histórias de vários tipos de amor em um longa só. Esse conceito começou aqui, com Richard Curtis, em 2003 na Grã-Bretanha, mas, posteriormente, era óbvio que Hollywood iria levar essa moda para lá após o exímio sucesso deste. Tanto que esse, como dá para perceber, se passa no Natal, e depois fizeram em outras datas comemorativas, como "Idas e Vindas do Amor" (2010) no Dia dos Namorados, e "Noite de Ano Novo" (2011), que, como vocês devem imaginar, se passa no Réveillon. Curtis é meio que o rei das comédias românticas, escreveu as mais famosas obras do gênero, em seu catálogo temos "Quatro Casamentos e Um Funeral" (1994), "Um Lugar Chamado Notting Hill" (1998), "O Diário de Bridget Jones" (2001) e um dos meus filmes favoritos, "Questão de Tempo" (2013). Este, no entanto, acaba sendo seu trabalho mais famoso, sendo um dos poucos filmes que dirigiu, e terminando gerando uma obra famosíssima que mudou as romcoms para sempre.

Geralmente nesse segundo parágrafo eu apresento a sinopse, mas nesse caso acho que eu vou precisar de uns dois para englobar tudo. São vários arcos contando oito diferentes histórias de amor. Harry (Alan Rickman) é o chefe em um jornal, onde acaba se afeiçoando indevidamente pela sua jovem secretaria, Mia (Heike Makastch), mas é casado com Karen (Emma Thompson), que consola seu amigo, Daniel (Liam Neeson), após o falecimento da esposa dele, enquanto o homem ajuda seu enteado, Sam (Thomas Brodie-Sangster) a lidar com o primeiro amor na infância. Karen também é irmã do Primeiro Ministro do Reino Unido (Hugh Grant), que também se apaixona por uma de suas subordinadas, a bela Natalie (Martine McCutcheon). Sarah (Laura Linney) tem problemas familiares, mas acaba esquecendo deles quando se apaixona pelo designer Karl (Rodrigo Santoro) quando entra para o jornal de Harry. Sarah é amiga de Jamie (Colin Firth), que é traído pela namorada com o irmão dele, e acaba indo para longe, se interessando acidentalmente na jovem portuguesa Aurélia (Lúcia Moniz). Jamie é amigo de Peter (Chiwetel Ejiofor), cujo se casou com a belíssima Juliet (Keira Knightley), mas, Mark (Andrew Lincoln), melhor amigo de Peter, é secretamente apaixonado pela moça, porém, finge que a odeia para não manter suspeitas. No casamento do casal, Colin (Kris Marshall) é um garçom que quer aproveitar sua juventude com atos reprodutivos, nisso pretende ir para os Estados Unidos, mesmo com a reprovação de seu amigo Tony (Abdul Salis), que trabalha com stand-ins de cinema, como John (Martin Freeman) e Judy (Joanna Page), que estão gravando uma cena de sexo. Por fim, Billy Mack (Bill Nighy) é um rockstar decadente que busca o topo das paradas novamente nos seus 50 anos.

Como deu para perceber no longevo parágrafo anterior, são muitos arcos, muitos personagens a se lidar, nisso, termina com alguns sendo bem mais interessantes que outros. Os melhores arcos são disparados o da Emma Thompson com o Alan Rickman, o do Liam Neeson com o Thomas Brodie-Sangster e do Bill Nighy. O do Hugh Grant é ok, tem mais tempo de tela do que deveria. Do viajante transudo é engraçado, da Laura Linney merecia mais minutagem e o do triângulo amoroso é interessante, agora o resto, se tira do longa, não muda nada. Vou começar falando sobre os que não gosto para poupar tempo. O do Colin Firth começa massa, mas no decorrer do longa vai se perdendo e tornando-se fútil, não consigo comprar ele com a portuguesa e dos finais, ele tem o menos legal. Outro esquisito é o do Martin Freeman, que mais me parece uma desculpa para ter nudez do que qualquer coisa (fun fact: essas cenas não passam em exibições na televisão britânica por motivos óbvios, comprovando meu ponto de que não faz diferença alguma). O do Primeiro Ministro é legal, mas o fato de ter tantas cenas acaba sendo incomodativo, já que com outros mais interessantes sendo escanteados, esse fica escasso, e há uma complicação desnecessária, esse era o com a resolução mais fácil possível. Mas, inegavelmente, nele temos cenas icônicas do longa.

Falando do que deveria ter mais espaço, o arco da Laura Linney é um dos melhores e acaba sendo um dos menos explorados, sendo que tinha um potencial gigantesco. Além de conter nosso querido compatriota Rodrigo Santoro, o fato de ser uma personagem apaixonada enquanto vive em uma situação familiar complicada merecia mais atenção, é bem mais identificável que o arco do triângulo amoroso. Falando nisso, é uma das partes mais famosas, tem a icônica cena das placas na porta, mas sendo sincero, é muito errado o cara talaricar e o diretor tratar isso como se fosse lindo e fofo (e fica ainda mais esquisito quando você percebe que o corno é o único ator negro do elenco principal). Sem mencionar que a Keira Knightley tinha 17 anos na época, enquanto o Chiwetel Ejiofor tinha 26 e o Andrew Lincoln estava com 30. O do Colin é o mais engraçado, tem poucas cenas, mas são hilárias e funcionam perfeitamente como um break das histórias mais sérias, é escrachado e tem o sonho de todo jovem adulto, ainda mais quando aparece a Elisha Cuthbert, que é um show à parte.

Agora falando da elite. O do Bill Nighy é o mais interessante, ele faz uma paródia falida do David Bowie, um artista decadente que já fez muito sucesso no passado e agora é um museu de si mesmo, um cara que foi problemático com drogas e nunca conseguiu achar o verdadeiro amor, e que a pessoa que ele mais ama acabou sendo o agente dele, que é uma conclusão inesperada, mas fofa, e quebra o paradigma do amor romântico, é uma amizade que acabou sendo mais próxima que um relacionamento amoroso. O do Liam Neeson com o garoto é meu favorito, tem a minha parte favorita que é a do aeroporto e tem a relação mais saudável daqui, pai e filho (mesmo que não biologicamente) onde o menino tem o conflito mais bonitinho de toda a história, sem contar que os dois em cena combinam perfeitamente. Emma Thompson entrega uma atuação sensacional ao fazer uma esposa que se sente reprimida, deixada de lado e que descobre a traição do marido de maneira arrebatadora, esse núcleo é basicamente o principal, e ele acaba sendo o mais impactante e o que se conecta com todos os outros, pela atuação da Emma torna-se ainda melhor.

Acho que tudo que já tinha para falar foi dito, de forma explícita e implícita, só faltou falar sobre o papel do Rowan Atkinson, que funciona meio que com um anjo da guarda, tentando ajudar essa galera quando aparece de jeito implícito e tem mais duas cenas cortadas que ele ajudaria de outros jeitos, é um conceito bacana, pena que foi praticamente arrancado no corte final. "Simplesmente Amor" é um clássico das comédias românticas, não há dúvidas, mas também é saudosismo negar que hão vários problemas, plotlines boas que são subaproveitadas e medíocres que tem destaque até demais, pecando pela pouca experiência de Richard Curtis na época. Temos excelentes atuações, especialmente por parte de Emma Thompson, Alan Rickman, Bill Nighy e Liam Neeson, mas todo o elenco manda bem, e tem um climinha gostoso, um tom britânico que é um pouco mais ácido que Hollywood. É um filme bacana no geral, tem coisas que envelheceram mal, mas dá para se divertir.

Nota - 7,5/10

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