Crítica - Thunderbolts* (2025)
E a montanha-russa da Marvel continua, mas dessa vez subiu.
🚨 Texto com spoilers leves 🚨
O que são Thunderbolts? Onde vivem? O que comem? Por que tem um asterisco no título do filme? São questões que irei responder no texto de hoje. Thunderbolts é uma equipe de vilões e anti-heróis dos quadrinhos da Marvel, que são designados para missões cujo equipes primárias de heróis, como os Vingadores e os X-Men, não se envolveriam normalmente, por isso essa equipe de "descartáveis" é reunida. Aí você se pergunta: "Ué, eu já não vi isso antes?", e sim, é um conceito parecido com o Esquadrão Suicida, da DC. Mas, a essa altura do campeonato, já deveria ter ficado claro que Marvel e DC são constituídas de semelhanças uma da outra, e nesse caso os Thunderbolts vieram em 1997, enquanto a versão moderna do Esquadrão surgiu em 1986. No entanto, quando foi anunciada a equipe, muitas especulações sobre os membros não foram confirmadas, ignorando alguns personagens que eram esperados, como Zemo, Abominável, Hulk Vermelho e até mesmo Justiceiro e Deadpool. E também, haviam certas desconfianças, com a atual fase de montanha-russa do MCU, onde temos um filme bom e na sequência um mediano ou ruim. Contudo, gostaria de falar que apesar das desconfianças, eu tinha uma esperança aqui justamente por ser um filme pouco regravado, sem tantas alterações por parte da própria Marvel, quanto também pela própria vibe de underdog dentro do universo, que já funcionou com outras propriedades dentro desse universo, como "Guardiões da Galáxia" e Pantera Negra, então, é o que a Marvel melhor fez no cinema. E bom, mais uma vez fico feliz de estar certo.
Quando sente que sua vida não tem mais propósito, Yelena Belova (Florence Pugh) trabalha em missões secretas para a diretora da CIA, Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), até que em uma delas, ela acaba presa em uma armadilha arquitetada pela chefe, onde fica presa com outros capangas de Val: John Walker, o Agente Americano (Wyatt Russell), Ava Starr, a Fantasma (Hannah John-Kamen) e Antonia Dreykov, a Treinadora (Olga Kurylenko), além de Bob (Lewis Pullman), um jovem usado de cobaia para seu projeto secreto, intitulado "Projeto Sentinela", e de Alexei Shostakov, o Guardião Vermelho (David Harbour), pai de Yelena. Quando Bucky Barnes (Sebastian Stan), agora senador, desconfia de Valentina, ele se une e lidera o grupo, que se vira contra sua antiga patroa, antes que suas ambições e manipulações acabem deixando o mundo em risco, enquanto essa equipe forçada de desajustados tenta se ajustar e acabam se encontrando uns nos outros. Uma equipe de agentes perdidos no mundo que se encontram uns nos outros e acabam formando um time, algo que James Gunn fez com maestria com sua trilogia "Guardiões da Galáxia" dentro do próprio UCM, e se pensar bem, os próprios Vingadores foram assim, apesar de que fato eles estavam sendo arquitetados como um conjunto pelo Nick Fury, mas eles só foram se encontrar como time após muita treta entre eles, então é algo histórico dentro do universo, quase uma zona de conforto para um bom filme daqui.
Falando em treta, a direção deste longa foi dada nas mãos de Jake Schreier, que dirigiu seis episódios da série "Treta" (2023), que eu vi faz pouco e se tornou uma das minhas favoritas, e ver ele dirigindo aqui e percebendo aos poucos sobre o que o longa retratava, deu para entender a escolha. Além dele, Lee Sung-jin, criador da mesma série, ajudou a escrever o roteiro (não foi creditado), então dá para entender bastante como essas duas obras se relacionam, já que muitos dos assuntos trabalhados são semelhantes, em especial, o vazio que se estende dentro de nós, seres humanos. Eu esperava muitas coisas daqui, esperava ação, aventura, espionagem, piadas, mas com certeza não esperava que fosse um longa que retratasse sobre saúde mental, depressão e como todos nós tentamos fugir dos nossos problemas, mas eles sempre acabam nos alcançando. A junção desses personagens não é atoa, pois se pararmos para analisar, são algumas das figuras que mais sofreram nesse universo inteiro. Yelena perdeu sua irmã sem conseguir se despedir, Walker teve uma quebra mental e matou um civil em público com o escudo do Capitão América, a Fantasma foi feita de cobaia em laboratório desde criança, até o próprio Bucky, que foi feito de capanga da H.Y.D.R.A. por décadas, sem contar os demais. Então escolher trabalhar esse assunto por aqui acabou me pegando, já que eu consigo me identificar muito com aqueles problemas que eles passaram, e foi a escolha ideal, o casting daqui é perfeito para conseguir trazer tudo isso à tona.
Eu achei sensacional como o filme é maduro e sabe levar a sério suas questões dramáticas, dando o devido peso que é necessário para cada situação que vemos os personagens passando, especialmente utilizando um total de *zero* vezes o artifício clássico do MCU de cortar uma cena de drama no meio com alguma piadoca ou uma situação esquisita feita para tirar uma risada. Eu admiro isso, de respeitarem o que eles estão tratando, de terem noção de que eles estão falando sobre vários tipos de problemas que muitas pessoas passam, a maioria, coisas que são inevitáveis, como traumas, luto e depressão. Uma das melhores coisas que o Schreier faz é justamente a dosagem, pois está tudo onde deveria estar, o timing cômico é ótimo, as piadas são bem colocadas, o mesmo dá para se dizer dos momentos de ação, são muito bem encaixados dentro da trama (e são muitos, inclusive, a primeira hora de exibição é basicamente luta e tática), e o drama é colocado de uma forma muito pontual, onde essa dosagem se denota perfeita, pois os momentos dramáticos são colocados para uma evolução dos personagens que jamais imaginaríamos vendo as outras obras em que eles aparecem.
Isso era uma das coisas que eu mais sentia falta no MCU, de me importar com os personagens, de ver a evolução deles, de torcer por eles, faz tempo que eu não me importava mais com os heróis. Tudo bem, tivemos Deadpool e o Wolverine ano passado, e Guardiões ano retrasado, mas aí são continuações, era o mínimo a gente querer o bem dessa galera que acompanhamos por uma década, praticamente. Agora, pegando um recorte de 2022 para a frente, eu não me importo com a Shuri, eu não me importo com a Capitã Marvel, nem com o Cavaleiro da Lua eu deixei de me importar com personagens que eu gostava, como Thor, Homem-Formiga, Nick Fury, e os únicos que eu ainda gostei apesar dos filmes serem abaixo foram o Doutor Estranho e o Sam Wilson, mas também não consegui sentir essa importância nas situações em que suas obras os colocam. Agora, aqui, é brincadeira como eles fazem todos os personagens serem bons, com exceção da Treinadora, que eu não gostei nada da forma que ela foi utilizada, os demais são todos incríveis. Cara, quando que eu imaginei na minha vida que a Marvel ia me fazer gostar da vilã genérica de "Homem-Formiga e a Vespa"? Eu não a odiava, mas ela era uma personagem dane-se lá no meio, e aqui transformam ela numa personagem bem carismática que agrega ao longa. O Walker, eu odiava ele na série, ele era insuportável, aqui não tem como não se apegar a ele, o arco que colocam ele aqui é uma das grandes redenções do MCU.
A interação entre os (anti) heróis acaba sendo um ponto chave para o funcionamento da obra, já que a engrenagem é como essas figuras vão agindo entre elas, eu gostei muito que é reconhecido pelo próprio longa que eles são uns zé ninguéns que ninguém liga e que precisam conquistar seu espaço de merecer o próprio filme dentro dele mesmo. Tem uma vibe de tiração de sarro, onde aqueles personagens se odeiam inicialmente, se zoam o tempo todo e vão aprendendo a trabalhar juntos na marra, onde aí cria-se o ritmo do longa. É um clima quase urgente, onde tudo aqui necessita de algo sendo feito na maior velocidade que conseguirem, pois eles não podem se atrasar para impedir o grande plano da Val. Eu gostei de como essa dosagem que eu falei também é aplicada à duração, já que eu não senti o tempo do longa passar nem para mais, nem para menos. Não é nem um pouco arrastado, também não é uma speedrun maluca que nem foram "Capitão América: Admirável Mundo Novo", "As Marvels" e até o "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" que eu curto. O Jake Schreier sabe criar o tempo exato que o longa precisava, uma boa história que se desenrola durante apenas duas horas, sem mais para acrescentar, sem menos para diminuir. Honestamente, nada me fez falta por aqui, eu senti que tudo está onde deveria, e que saudade eu tinha disso nesse universo, eu tinha me esquecido o quão bom era ir no cinema ver um longa da Marvel e aproveitar a diversão sem parecer que eu estava vendo uma corrida para os créditos.
Apesar disso, sinto que o longa tem alguns problemas ali. O primeiro, e talvez o único que eu considere algo grande dentro da exibição principal, é que existem muitas soluções fáceis ao longo da narrativa, muita coisa acontece porque deveria acontecer e não soa tão orgânico. Por exemplo, acho que a maneira como o Guardião Vermelho se une à equipe é muito simplista, muito conveniente para o roteiro o colocar lá em tal momento para que ele pudesse chegar à trama principal, mas, o resto da participação dele posteriormente acaba por dar uma amenizada nisso. Essa eu usei de exemplo, mas existem várias outras, como um carro que acerta um personagem num momento exato que deveria e etc, aquela preguicinha básica de roteiro. Eu achei desrespeitoso como trataram a Treinadora por aqui, porque pelos materiais promocionais já se percebe que ela não teria muito destaque, mas trazerem uma boa atriz como a Olga Kurylenko (de novo) e a jogarem lá no meio com meia-linha de diálogo (de novo), ainda darem o desfecho que deram, foi algo que me deu um certo incômodo, mas no final nem impacta muito pois você vai se esquecendo que ela é parte do longa. Outro problema é que voltou a maldita cena pós-créditos da piadinha enfadonha, que não serve para nada, mas eu dou uma colher de chá para essa, porque eu também estava com saudade. Melhor uma piadinha enfadonha do que fazer uma cena séria que não dará em nada (nesse caso, o longa tem duas e a segunda é a que importa, e importa MUITO).
Falando mais agora sobre os personagens, gostaria de começar por Robert Reynolds, ou Bob, ou Sentinela, ou Void. Primeiro que estamos falando de um dos grandes personagens da Marvel nos quadrinhos que demorou muito a ser introduzido, eu honestamente já tinha perdido as esperanças, mas finalmente o adaptaram e, meu irmão, todos os medos que eu tinha sobre uma adaptação dele, felizmente, não se concretizaram, já que o fizeram com justiça. O que é o Sentinela? Em um breve resumo, é o Superman da Marvel, com alguns poderes diferentes. Porém, apesar de assim como o Superman, ele voar, ter capa, ser um símbolo de esperança, ele também sofre de TDI (Transtorno de Identidade), cujo faz com que ele também assuma a persona de Void, um vilão que é totalmente feito de escuridão que transforma as pessoas em sombras. Primeiro que eu receava que eles iam nerfar o personagem, com a justificativa de que ele era muito poderoso e, obviamente, esses pé rapados não seriam páreos para ganhá-lo no soco. É o personagem mais poderoso de toda a Marvel, tanto como herói quanto como vilão, e como vilão só existe uma forma de derrotá-lo, que não é na porrada, e eu fiquei extremamente feliz que respeitaram isso e fizeram de uma forma não só fiel ao material base, mas também de um jeito que corrobora para toda a mensagem geral do filme.
Essa questão da depressão do Bob é muito bem trabalhada, já que ele é desenhado para ser o herói perfeito. Ele é trincado, tem super força, super resistência, sabe voar, visão de calor, telecinese, é loiro, branquelo, nasceu com a vida no very easy. Toda a forma que mostra ele sendo construído por aqui é muito semelhante a do Homelander em "The Boys" (2019-), já que ele também é todo quebrado por dentro e também é manipulado por um projeto que o fez de cobaia. Mas eu gostei bastante da maneira que o colocam aqui, primeiro como o Bob, um cara mais ingênuo, bicho-grilo, engraçado pela maneira dele de se portar durante os acontecimentos do longa, dão uma personalidade bem cativante para ele, não tem como você não sair daqui não adorando ele. Muito devido ao ótimo trabalho do Lewis Pullman no papel, que eu não dava nada, mas ele entrega muito, até porque ele precisa entregar essas várias facetas de um mesmo personagem, as vezes em cenas que são sequências uma da outra e até momentos que ele precisa enfrentar a si mesmo. Pullman entrega carisma, uma proximidade e finalmente um personagem mega poderoso que não é tratado como um burro que perde por não saber usar os poderes, mas também entrega imponência quando necessário, traz bem todas as complexidades que existem do personagem para a tela, realmente é um sentimento de realização ver um personagem tão sensacional ser adaptado com êxito.
Mas, eu falei dele primeiro pois é ele quem mais contribui para a mensagem que vinha falando o longa inteiro, contudo, a grande protagonista acaba por ser a nossa querida Yelena Belova. A Yelena é uma das melhores coisas que o MCU apresentou nessa Fase 4, porque trazer a Florence Pugh como a nova Viúva Negra, uma passagem de bastão da Scarlett Johansson para ela, foi um dos maiores acertos de casting que tiveram. E ela é incrível, segura o longa como protagonista muito bem, tem o grande arco dramático e é a cola que une todo mundo em prol do mesmo objetivo. Eu gostei dela ser o foco, pois inegavelmente ela é a melhor atriz do time, e é ela quem consegue entregar o melhor drama. É uma evolução sentimental de tudo que havia sido apresentado sobre ela, toda essa destreza dela com a vida, o luto pela irmã, o vazio que ela sente dentro de si, como ela é afetada por sua própria mente. Ela entrega uma das melhores atuações da Marvel aqui, porque o que ela entrega você sente, você consegue entender perfeitamente o lado dela, como ela tenta fugir do inevitável e não consegue, que bagulho bisonho de bom. Ainda tem toda questão mais cômica, as tiradas dela, a interação meio impaciente com os demais. Cara, que acerto, essa mulher é incrível, eu nem vou contar o que se passava na minha cabeça toda vez que ela aparecia na tela. É uma decisão corajosa também trazê-la como protagonista, pois é uma das poucas vezes que em filme de herói, a protagonista não lidera a equipe em nenhum momento. Sempre é o líder, ou alguém que torna-se um líder eventualmente durante a exibição, mas aqui ela é a grande personagem do longa sem precisar de um posto de autoridade.
O líder é o Bucky, que esse aqui nós já cansamos de ver em tela e eu acho que era o único personagem que eu me importava de fato antes de assistir ao longa, até porque são quase quinze anos do Sebastian Stan no MCU, não tem como não gostar dele. Ele é colocado aqui no cargo de senador, algo mais importante e mais condizente com a visão que ele vai adquirindo ao longo da sua participação, especialmente na série, "Falcão e o Soldado Invernal". Ele tem toda essa questão de desconfiança, de se sentir quase um infiltrado, de ter uma participação mais burocrática, mas não é do seu feitio, ele não consegue. Eu achei bem feito como eles fazem o Bucky aceitar a própria natureza dele de soldado, era uma das coisas que eu mais queria, e é muito bem feito, eu estava com saudades dos momentos incríveis deles de ação. A cena dele na moto, parecendo o T-800, que está no trailer, que cena! Passa exatamente a vibe que ele nunca deveria ter deixado de passar, desculpem o palavreado, mas ele é f0d4, não tem outra palavra que define ele por aqui. E finalmente acabaram com essa frescura de chamar ele de Lobo Branco, com todo o respeito, Lobo Branco é o meu saco, que bom que ele voltou a ser chamado de Soldado Invernal, nunca deveria ter deixado de ser assim. Gostei da relação dele com a Mel (Geraldine Viswanathan), foi bem feita a conexão do arco dele com os Thunderbolts através dela, e a química entre eles funcionou muito bem.
Sobre os demais membros, passei rapidamente por eles anteriormente, vou desenvolver mais agora, mas os três restantes são justamente a base do argumento que eu trouxe de se importar com quem eram personagens descartáveis. O Guardião Vermelho, apesar de eu não gostar da forma na qual ele se junta aos demais, ele manda muito bem, especialmente como parte do arco da Yelena, mas ele funciona individualmente. Impressionante como aqui ele se vende melhor como pai aqui do que em "Viúva Negra", e aqui ele tem uma atuação que é bem dosada, pois aparentemente ele era para ser o alívio cômico, e ele realmente é, ele é pirado, excêntrico, exagerado, mas quando precisa dele no drama, ele entrega bem, eu me surpreendi com o alcance dramático que o David Harbour entrega, totalmente diferente do esperado, pois ele faz bem esse papel paterno para a Yelena, ao mesmo tempo que ele lida com suas próprias decisões do passado e como isso o impacta agora no presente. Eu gosto muito também de como ele também traz um senso de heroísmo quando é pedido, como ele se porta como um verdadeiro herói quando necessitado, ele traz um sentimento muito parecido com o que a gente tinha vendo o próprio Steve Rogers lá no MCU raiz lá para o terceiro ato. Foi um dos que mais me surpreendeu, não esperava que ele fosse tão bem trabalhado quanto foi.
O John Walker também é um ótimo personagem por aqui, ele e a Fantasma são os que mais ficam de lado, mas ainda sim são bem trabalhados. O Walker, que era o Capitão América fake da cabeça de Minecraft, que matou um cara em público com o escudo do herói, foi retirado do cargo e virou um agente da Val. Motivo o suficiente para estar na equipe, mas eu gostei muito deles terem pegado algo escanteado de sua primeira aparição, que foi o fato dele ser casado e ser pai, e usarem isso a favor de um desenvolvimento dramático dele, mostrando o como ele lida com tudo isso de ser um herói falho, um agente, e ao mesmo tempo alguém com problemas num casamento. Wyatt Russell melhorou muito o personagem por aqui, trazendo todo esse ar de babaca muitas vezes inconsequente, mas que tem motivo para criar essa casca em torno dele. Enquanto a Fantasma, que era uma das personagens mais dane-se da história, uma vilã meia bomba, que aqui vira uma personagem legal. A Hannah John-Kamen entrega um carisma ali, ela, assim como os outros, lida com todos os problemas dela de novo ter sido uma cobaia e não conseguir viver sem um traje que a mantém viva, literalmente. Ela é a que tem menos espaço, mas ela é o Sergio Busquets do filme, ela contribui silenciosamente para a grandiosidade que esses personagens vão alcançando aos poucos durante a exibição, ela joga para a equipe e acaba conquistando. Eu fiquei realmente em choque ao ver que eles conseguiram mesmo fazer eu me importar com essa aleatória, foi muito bem trabalhada.
Outra personagem interessante é a Val, que era uma personagem desenhada há muito tempo, desde lá no "Falcão e o Soldado Invernal", depois aparecendo em cenas pós-créditos, até de fato aparecer em "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" como uma parte da narrativa, mas lá, como aquele filme todo é um grandioso dane-se que não serviu para nada, a participação dela lá também não serve para muito, a não ser estabelecê-la como diretora da CIA (coisa que eu não me lembrava até ver aqui em Thunderbolts, para ver como aquele filme é memorável). Mas aqui eu gostei muito dela, nessa função dela de ser uma espécie de "Nick Fury do mal", até porque não é exatamente uma vilã, mas com certeza é uma desgraçada, ela passa a vibe de diretora da Vought, trazendo de volta a referência "The Boys" à tona. Mas eu gostei que apesar disso, ela ainda é humanizada, a gente ainda é introduzido ao passado dela e como os traumas dela de infância definiram sua personalidade como adulta, como ela não acredita mais no bom, apenas no ruim e no pior ainda, e como isso passa por tudo que ela já viu desde pequena. A Julia Louis-Dreyfus é uma atriz sensacional, geralmente de comédias, mas aqui ela manda muito bem no quesito drama da personagem, além do carisma que ela tem, a lábia dela, a vibe de que não teme nada nem ninguém.
Voltando para a direção, uma das coisas que mais me agradou foram as cenas de ação, que são ótimas. Eu achei a coreografia muito bem feita, bastante dinâmica e muito condizente com o que sabíamos desses personagens de suas demais aparições. É mais parruda, é corpo a corpo, soco, chute, arma, escudo, é o mais próximo que o MCU chegou de "Capitão América 2: O Soldado Invernal" nesse quesito, posso estar exagerando, mas é a impressão que me passou. A pancadaria é ótima, e mesmo quando envolvem efeitos no meio não atrapalha nem um pouco o andamento orgânico que tem a movimentação dos personagens, muito pouco boneco de CGI, e tornam-se bem legais de se assistir. Outra coisa que eu achei boa é a edição, já que consegue ampliar esse dinamismo do Schreier e encaixa bem vários momentos onde era necessário ter uma melhor noção rítmica dos acontecimentos, gostei principalmente ali para o terceiro ato, mas se eu falar mais é um spoiler grande. Muito boa a fotografia também, não é um filme escuro, mas ele tem uma vibe nublada, um tom cinza, quase como se fosse um espelho da vida que esses personagens levam, que conseguem trazer essa escuridão que existe dentro desses personagens sem deixar o filme sem graça visualmente.
Bom, chegamos naquela velha pergunta: a Marvel voltou? E, olha, não. É o que eu venho falando faz tempo, é um filme bom no meio de um monte de porcaria, a questão é que esse filme é bom e finalmente movimenta a história geral desse universo, não sendo isolado, o que torna sua qualidade mais surpreendente, mas eu só irei acreditar que a Marvel voltou se o Quarteto Fantástico for bom, porque eu sinto falta de dois filmes bons seguidos. Mas, enfim, o que posso mais dizer de "Thunderbolts*" que eu não tenha dito? Esse é um dos melhores filmes que o MCU nos proporcionou em muito tempo, até porque resgata o principal espírito deste universo, que é a interação entre os personagens e como nós como espectadores nos importamos com eles. Basicamente, tem tudo que eu sentia falta: boas cenas de ação, dinâmica entre os personagens, química, uma mensagem muito poderosa, cujo eu vi gente chorando no cinema, mas, principalmente, se preocupar em ser um filme bom antes de ser um produto de franquia, cujo é o maior erro das fases 4 e 5 do MCU. Eu fiquei impressionado que, apesar de haver a diversão, se leva a sério e é maduro nos temas que retrata. É um excelente entretenimento, um ótimo blockbuster e um filme muito massa, que resgata uma vibe tão gostosa de se sentir. Novamente lembrando que eu avisei, mas eu gostei mais do que pensei que iria. Vão ver, é bom independente de ser filme de herói ou não.
Nota - 8,0/10