Crítica - Capitão América: Admirável Mundo Novo (Captain America: Brave New World, 2025)
A Marvel voltando ao status quo (da fase 4).
Depois de um conturbado período para o MCU com as fases 4 e 5, que nos entregaram obras extremamente divisíveis, que não empolgaram, e as que empolgaram acabaram sendo por ou ter um diretor competente, ou saber pegar no cerne da emoção dos fãs. Muita coisa não saiu como planejado, acabou que a história que era para ser sobre Kang não só não empolgou, mas também teve um imprevisto que foi a condenação do ator Jonathan Majors por violência doméstica, obrigando a editora a mudar os rumos e colocar o Doutor Destino como vilão principal dessa saga, criando um Frankenstein bizarro e inutilizando vários elementos apresentados durante os longas. Agora, voltamos para o quinto filme da fase 5, onde, finalmente, vão fazer a história começar a andar (ou pelo menos tentar), fazendo uma sequência da série "Falcão e o Soldado Invernal" (2021), que particularmente é a que eu mais curto dentro desse devaneio deles de juntar série com filme, e que apresentou Sam Wilson como o novo Capitão América, repetindo algo que já havia sido feito antes nos quadrinhos, onde Steve Rogers passa o bastão para o antigo Falcão. Muita gente discorda disso, tem quem prefere o Bucky nessa função, mas eu particularmente tinha gostado desse caminho que eles haviam seguido. No entanto, nem tudo são flores, a Marvel volta para sua montanha-russa e entrega mais uma obra mediana e apressada, mas que pelo menos tenta andar a história de alguma forma.
Sam Wilson (Anthony Mackie), agora como o novo Capitão América, tenta trabalhar junto ao ex-general e agora Presidente Thaddeus Ross (Harrison Ford) para dar esperança e segurança a um Estados Unidos ainda devastado e traumatizado com os eventos do blip. Quando começam a explorar a Ilha Celestial (sim, aquela criatura gigante que foi ignorada por mais de três anos depois de "Eternos" que está no meio do oceano), é descoberto um novo minério mais resistente e adaptável, chamado de Adamantium. Após a interceptação do Capitão e do seu novo Falcão, Joaquin Torres (Danny Ramirez), de um roubo de uma carga do material que estaria destinado ao Japão, eles são coroados na Casa Branca. Contudo, conspirações e coisas sinistras vão acontecendo, que acabam misteriosamente levando Isaiah Bradley (Carl Lumbly) a tentar assassinar o Presidente. Com isso, o Capitão precisará correr não só para interromper uma possível guerra, mas para se provar que pode ser de fato o Capitão América, mesmo não sendo o Steve Rogers. O creditado como diretor é Julius Onah, e com esse nome de NPC é óbvio que a Marvel não deu espaço para ele trabalhar, regravando o longa inúmeras vezes e transformando algo interessante em uma obra que não gera nada.
É um filme do Capitão América, então ele tenta seguir a vibe mais séria, uma pegada mais espionagem, investigação, que remete muito à trilogia do Steve Rogers, então tem essa identidade intrínseca nele, é um tom mais sério e mais centrado na missão que eles tem que seguir. A questão não é a história, é boa, é algo realmente interessante, o problema acaba sendo mesmo a direção, ou a falta dela, já que fica claro que tem muita coisa cortada, tem muita coisa apressada e tem coisa ali que claramente foi colocada depois, incluindo sequências de cenas, existem problemas de continuidade onde o mesmo cenário está muito mais bizarro e feio uma cena depois de outra onde estava mais finalizado. Dá para perceber que tem até personagens inteiros que foram colocados depois, que todas as cenas de um deles é extremamente falsa. Todas as cenas externas praticamente são feias, tem muitas ali muito falsas, tem outras até massas, tem uma cena com o Capitão e o Falcão voando nos céus interceptando caças, essa é bem legal, bem finalizada, mas tem muitas que causam um estranhamento muito grande.
A trama foi muito afetada, não só pelas regravações, mas também pela greve dos roteiristas, tendo CINCO profissionais creditados pelo roteiro, três creditados como roteiro e argumento (provavelmente os três iniciais), depois mais dois, incluindo o próprio diretor NPC. Termina que muitas vezes há uma tentativa de investigação, de espionagem, que é legal, em outros momentos tem uma cena do Harrison Ford fazendo spinning e um vilão sendo derrotado pelo poder do discurso. Pegando individualmente cada roteirista e sua carreira passada, vemos que temos um responsável por filmes de ação genéricos, um de sci-fi genérico, um novato, um que trabalha com animações mais fantasiosas e um de comédia romântica. Onde está o cara que realmente poderia escrever uma história de espionagem e super-herói com propriedade? Acaba que juntam vários inexperientes, com um ou outro experiente, nenhum deles é bom, e todas as alterações foram mudando a forma do longa, deixando assim um zumbi, praticamente. Nenhuma cena me deu de fato vergonha alheia, mas causou uma broxada bizarra a batalha final ser resolvida com discurso meloso sendo dito no pior chroma key da história, aquele visual ali claramente falso até do asfalto me causou dor física de se assistir e estragou até a fala que tá sendo dita mesmo que ela seja ruim, é piorada com aquela falsidade, não conseguem nem manter a continuidade do cenário da cena anterior.
Eles tentam emular bastante o segundo filme do Steve, "Capitão América 2: O Soldado Invernal" (2014), que é meu filme favorito do Universo Marvel e um dos meus filmes favoritos como um todo. Eles tentam tanto fazer isso que chega a um ponto que literalmente tentam criar uma dinâmica de trio entre um Capitão América, um Falcão e uma Viúva Negra novamente, mas isso foi muito mal explorado e pouco utilizado. Um dos grandes problemas termina sendo esse, eles apresentam um monte de coisa para não dar sequência, creio que seja culpa das próprias refilmagens, que precisaram condensar o longa a algo muito menor do que ele originalmente era. Não existe originalidade aqui, o que é ok na real, não necessitava ser original, mas existe uma diferença entre ser original e criativo, e acaba que a criatividade também é pouca, já que tem muita coisa emulada. Eu entendo que eles queiram resgatar essa vibe de algo mais sério que tinha lá nos outros longas do Capitão, algo que traga mais a urgência da missão, tem momentos aqui que remetem a "Bourne" também, eles querem algo assim, mas você não faz algo desse nível limitando o diretor e até regravando o longa sem ele, encaixando um monte de coisa na edição e encerrando a trama de maneira meio broxante. Tem cenas que eu estava interessado, as cenas do Sam com o Joaquin investigando o vilão, e tem momentos que eu estava cagando baldes, como qualquer cena que esse personagem do Giancarlo Esposito estava na tela.
Porém, a melhor coisa do longa é justamente o Anthony Mackie, o desenvolvimento dele como Capitão América. Tudo bem que é repetitivo mostrar os dilemas que ele enfrenta ao assumir o manto do Capitão, a série consegue explorar isso numa vertente mais dele ser convencido a ser, dele ser um homem negro representando e sendo um símbolo para todo o Estados Unidos, essa questão mais puxada para o lado racial, também para a insegurança do Sam, mas aqui o que eles fazem é justamente trabalhar os conflitos dele com as comparações com o Steve Rogers, com o fato dele não ter tomado soro e como Sam lida com tudo isso. Tem uma ótima cena, que já estava no primeiro trailer, que é ele sendo diminuído pelo Ross após o velho dizer que ele não era o Steve Rogers (e ele retrucando, que era uma cena que eu achei meio bad-ass no trailer, não tem no filme), tem outros momentos que ele precisa lidar com isso, ele é subestimado por alguns vilões genéricos, ele não é levado tão a sério, mas, especialmente, um de seus grandes momentos de crescimento como personagem é justamente numa cena de conversa dele com o nosso querido Bucky Barnes (Sebastian Stan), que aparece do nada por aqui, provavelmente é uma cena de regravação, mas essa cena ajuda mesmo a desenvolver o personagem. Eles resgatam essa relação deles, essa interação que tinha na série, que tinha desde a Saga do Infinito, como essa amizade é fortalecida e aqui vem num momento que Sam precisava ouvir certas coisas, é muito massa. E o Anthony Mackie é muito bom, ele é muito carismático, ele é engraçado, é divertido, um cara que consegue conversar com o povo, mas que quando tem de ser sério ele se impõe, ele tem uma postura militar, ele tem essa vontade pela justiça e consegue carregar bem a obra como um todo.
Ele tem vários coadjuvantes que o ajudam, muito similar, como eu havia dito, ao segundo filme do Capitão América, eles tentam trazer os mesmos arquétipos, ou pelo menos parecidos com alguns lá do Soldado Invernal para essa narrativa, contudo, sem o mesmo brilho e sem a mesma originalidade. Mas, um que eu gostei muito foi o Isaiah Bradley, o Capitão América negro que foi apagado, que ele já tinha aparecido lá na série e eu não curti muito, confesso que gostei um pouco mais dele aqui, até porque o ator manda muito bem, o Carl Lumbly, ele consegue mostrar uma certa desconfiança com o que acontece com ele, uma tristeza pelo o que acontece com ele injustamente, você sente pena dele, você se apetece por ele, não dá para não criar empatia por ele e depois ele falando causa ainda mais desse apreço. O novo Falcão, o Joaquin Torres, é um personagem legal, ele é bastante cativante, ele tem um certo carisma e é legal ver a empolgação dele em ser um herói, em estar ao lado do Capitão, em estar envolvido naquele mundo. Sem contar a interação dele com o Sam, que é muito boa, que gera momentos bem massas, dele aprendendo a trabalhar como herói e sendo guiado pelo Capitão, sendo mentorado e aprendendo como lidar com certas coisas. Só não entendi porque diabos colocam ele falando espanhol do nada em alguns momentos, tudo bem que ele é latino, mas isso já está estampado na testa dele, não precisava reforçar a ascendência dele, sem contar que no final é revelado que ele é natural de Miami e ainda tem o fato dele servir ao exército dos Estados Unidos, então acaba que essas inserções forçadas são por uma tentativa falha de representatividade.
Existe também uma nova Viúva Negra, não alguém assumindo o manto da Natasha Romanoff, essa será a Yelena, mas aqui vemos uma das Viúvas da Sala Vermelha, no caso, uma israelense chamada Ruth Bat-Seraph, interpretada pela atriz Shira Haas. E é uma Viúva genérica mesmo, ela trabalha a favor do Ross, tem algo contra o Capitão pela forma que ele quer agir, é desconfiada, trabalha a favor do governo, mas é muito qualquer coisa, até colocam um traje remetente da personagem dos quadrinhos para ela, mas é uma cena bem qualquer coisa que tentam, novamente, emular cenas de filmes anteriores, dessa vez de "Homem de Ferro 2" (2010), que é a cena da Romanoff destroçando os caras na porrada num corredor. Honestamente, não faz falta, é novamente uma tentativa de Ctrl+C - Ctrl+V. Ainda tem outros personagens mais coadjuvantes ainda, tem um carinha do exército que é amigo do Sam, honestamente não lembro se ele aparece na série ou em alguma outra obra interagindo com Wilson, mas não faz diferença nenhuma pois ele é acionado uma vez durante o longa, tem outra cena de diálogo e é tirado de jogo pelo vilão sendo que não tem nenhum impacto. Tem uma amiga do Sam que trabalha na Casa Branca, a Leila Taylor, interpretada por Xosha Roquemore, que nos quadrinhos é um interesse romântico do Sam Wilson, no filme até tentam criar uma química ali, umas indiretas de que ele vá ficar com ela, mas no fim não gera nada, é só mais uma que tá lá no meio e você não se importa.
Falando dos vilões agora, o principal antagonista é Samuel Sterns, o Líder, interpretado por Tim Blake Nelson, que retorna ao papel depois de dezessete anos da sua participação em "O Incrível Hulk" (2008). Ele é um vilão interessante, visualmente é bastante diferente dos quadrinhos, onde lá ele tem uma testa gigantesca e aqui é bem interessante como ele parece, é como se a cabeça dele tivesse derretido e se mesclado ao cérebro, mas mantém o tom de pele verde. É algo bem filme de terror, eu achei isso interessante, mas, não é um vilão que causa um impacto no espectador de qualquer jeito. Ele não é ruim, a atuação é até boa e o plano dele faz sentido, apesar de ser apenas explicado a continuidade dele após os eventos lá do filme de 2008 através de um diálogo vagabundo, faz sentido que ele queira acabar com o Ross e acabar, eventualmente, liberando o Hulk Vermelho e mostrar para a população quem eles elegeram como presidente, mas causar uma guerra entre os EUA e o Japão, que são aliados nesse mandato do Ross, é algo muito exagerado e que só é colocado para tentar causar um impacto maior em escala, que honestamente não era necessário, poderia ser uma história apenas a nível estadunidense e assim trabalhar algo melhor em uma história mais contida que poderia causar o mesmo impacto. E tem o Giancarlo Esposito, que esse é inacreditável, eu tenho 99% de certeza que ele foi incluído totalmente através de refilmagens, pois é bisonha a participação dele, todas em cenas mal finalizadas, em aparições com zero impacto como um todo e que não precisavam, é mais uma tentativa de tentar colocar alguma referência ao Soldado Invernal, tendo uma briguinha de faca na rua, mas é totalmente sem graça.
Agora, sobre uma das melhores coisas do filmes, temos de falar do nosso grandioso Harrison Ford como General Ross. Primeiro que ele tem o trabalho de substituir o William Hurt no papel, que infelizmente veio a falecer alguns anos atrás, e eu gostei muito da atuação dele. Ele manda bem na questão dramática do personagem, pois ele está sofrendo pela rejeição da filha dele, a Dra. Betty Ross (Liv Tyler), e também pelo fato dele estar com um Hulk Vermelho dentro dele (já já falo mais sobre o bichão) e estar sofrendo com uma ansiedade ferrada com tudo que está acontecendo, com ele sofrendo uma tentativa de assassinato, à beira de entrar em um conflito internacional, já sentindo a pressão do cargo nos seus primeiros cem dias. Ele tem ótimos momentos, onde você vê no rosto dele a tensão, o medo de ser revelado que ele é um Hulk, como ele se segura e precisa manter a calma e a tranquilidade em situações que passam longe de serem calmas ou tranquilas, mas que ele precisa se segurar para o monstro não sair da jaula. O desenvolvimento dele ter enlouquecido e ido atrás do Líder para sobreviver também é interessante, mas mal explorado, só que gera uma boa cena dele explicando para o Sam as motivações reais dele por trás. O Ford foi excelente, gostei mesmo dessa adição dele.
Porém, meu caro, que decepcionante esse Hulk Vermelho, foi mais rápido que o Steve Rogers indo pegar a sobrinha depois que a Peggy morreu. Cara, primeiro que o marketing arruinou completamente isso, pois visivelmente era para ser a grande reviravolta da trama, tanto que ele só aparece no terceiro ato e há toda uma construção dessa ansiedade e dessa mentalidade do Ross para impedir que isso aconteça, e originalmente até seria bem feito pois mostra ele tomando os remédios, comendo coisas com açúcar para manter a calma, como lentamente ele vai sendo manipulado pelo vilão para liberar o bichão e quando acontece é até massa, gera uma cena bem bacana dele causando destruição, mas quando vai para o combate contra o Capitão, não tem luta quase, tem até uma cena massa do Sam cortando um carro arremessado no meio com a asa dele (tunada por vibranium de Wakanda inclusive, achei legal esse detalhe), mas acaba que a luta é tão broxa que finaliza mais cedo. Ainda é seguida pela pior cena do filme, que é o Sam tentando dar um discurso à la Superman para fazer o Ross se destransformar na cena do pior design de produção já visto depois de "Quantumania".
As cenas de ação são bem paia, na realidade parecia interessante, mas tem muita cena que é cortada e remendada esquisitamente. Eu já esperava que tivessem momentos onde a montagem fosse bisonha, até que não tem tantos, dos filmes remendados da Marvel esse é o que mais funciona dentro da duração picotada dele (que está ótima inclusive, precisamos de mais filmes de herói com menos de duas horas, mas também vamos fazer filmes bons né grandes estúdios), mas acaba que o prejudicial é nas cenas de ação mesmo, que soam menores do que deveriam ser e tem várias com soluções muito apressadas, até quando aparenta terem momentos que o pau vai quebrar, são arruinadas. Design de produção e efeitos visuais também sofrem bastante, pois tem momentos que estão ok e tem momentos inassistíveis que causam dor ocular. Minha cena favorita do longa e creio que a única cena de ação bem feita é a dos mísseis, que tem uma dinâmica bem interessante com o Sam e o Joaquin, tem bons efeitos e é a cena mais bem editada e coreografada do longa. No entanto, CGIs bisonhos acabam atacando novamente com o Hulk Vermelho que não é propriamente ruim, mas ele dentro dos cenários que é colocado soa muito falso, acaba que se destaca pois a tela verde é pior ainda.
Continuando a montanha-russa bizarra da Marvel, temos mais um filme fraco com "Capitão América: Admirável Mundo Novo". A fase 5 começou com um filme horrível, foi para um excelente, para outro tenebroso, para outro bom e agora mais um ruim, o que significa que o próximo filme, o derradeiro "Thunderbolts*", será bom, confirmando minha teoria de que será o melhor da Marvel em 2025. Brincadeiras à parte, dos piores, este é o melhor, tem bons momentos, cenas interessantes, bom desenvolvimento dramático do protagonista e consegue fazer com que nós compremos de vez o Sam como novo Capitão, além de ter uma dinâmica cativante com o novo Falcão e um ótimo personagem do Ross com uma bela atuação do Harrison Ford no papel, entregando como ele sempre entrega, apesar da broxada que é a participação do Hulk Vermelho, arruinada pelo marketing, que sua vez foi arruinado pelo McDonald's. No mais, vale a pena ver, ele dá sequência a varias inconsequências deste universo e prepara um terreno bacana para o futuro com Sam liderando os Vingadores. Mas, infelizmente, ainda não é suficiente para empolgar.
Nota - 5,5/10