Crítica - Missão: Impossível - O Acerto Final (Mission: Impossible - The Final Reckoning, 2025)

A última dança de Ethan Hunt?

Cá estamos depois de dois anos para falar sobre "Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 2"...? Bom, quando eu trouxe a crítica da parte um, o sétimo filme da franquia, ele era intitulado como a primeira parte de duas, de um grande evento que encerraria um arco da franquia Missão: Impossível. Acontece que o filme acabou indo abaixo das expectativas na bilheteria, fez U$569 milhões, que está de ótimo tamanho, mas, contudo, custou U$300 milhões e sua bilheteria foi afetada no geral pelo fenômeno Barbenheimer, onde "Barbie" (2023) e "Oppenheimer" (2023) estrearam na semana seguinte à aventura de Ethan Hunt, nisso, esses dois tornaram-se dois dos três filmes de maior bilheteria em 2023. Apesar de um resultado invejado por qualquer filme hoje em dia, a mudança de estratégia foi justamente renomear o longa, removendo o "Parte 1", e renomeando totalmente esse segundo, mas seguindo a mesma lógica, saindo de "Acerto de Contas" para "Acerto Final", pois foi entendido que não só com M:I, mas no geral, a divisão em partes escancarada acaba atraindo menos o público, que espera o segundo sair para ver os dois em sequência. Depois de algumas mudanças que ocorreram devido às greves de 2023, chegamos ao resultado final do acerto final, que eu adianto que fica abaixo das expectativas, estava quase considerando como uma decepção, e aí, conseguiu se salvar e entrega algo que é digno dos demais.

Após, finalmente, ter em mãos as duas metades da chave que passou o filme anterior todo procurando, Ethan Hunt (Tom Cruise) a mantém, pois tem medo do que aconteça caso ela caia em mãos erradas. Contudo, quando a inteligência artificial Entidade começa a dominar todo o cyberespaço do planeta, ela começa a dominar o armamento nuclear da maior parte dos países que detém esse poderio. Com isso, Ethan entra em uma missão de urgência, junto com sua equipe: Benji (Simon Pegg), Luther (Ving Rhames), Grace (Hayley Atwell) e Paris (Pom Klementieff), para deter o vilão Gabriel (Esai Morales) e desativar a IA antes que ela cause o fim do mundo. Mais uma vez colocam o Ethan Hunt como um super-herói, onde já vimos ele impedir uma pandemia, a terceira guerra mundial, e agora ele tem que impedir um apocalipse nuclear, e isso é sensacional, essas escalas gigantescas que ele coloca, colocando ali algumas coisinhas pequenas da nossa realidade no meio, pegando essa possibilidade de expansão e chegando a um cenário bem maior, é o que faz a franquia viver e o Tom Cruise cometer atos falhos de tentar acabar com a própria vida.

Christopher McQuarrie retorna para seu quarto filme na franquia, que o torna responsável por 50% dela, já que foi o único que até hoje se repetiu, e pelo tom da obra, provavelmente deve ser seu último por aqui também pelo visto, ao menos como diretor, eu duvido que ele deixe a produção ou algum cargo criativo. E eu começo falando que aqui ele teve limitações, já que as vezes ele cria muita coisa para pouco tempo, é perceptível que existem muitas coisas para pouquíssimo tempo de tela pela primeira hora de exibição. Um diálogo atrapalha o outro, existem diálogos diferentes acontecendo ao mesmo tempo, que causa uma confusão onde você se perde facilmente se perder o foco por alguns segundos. E isso creio ser um problema grave do longa, já que todo seu ritmo é tão rápido, que torna-se chato de se assistir, chega a um ponto onde você fica entediado com o tanto de coisa acontecendo ali, não porque é mal escrito ou são ideias ruins, mas sim porque a forma que é feito é tão rápida que parece que está correndo com o longa. Não dá para remover nenhuma coisa dessa parte inicial do longa, é de fato tudo muito importante para a trama como um todo, mas se fosse editado de uma forma diferente, teria se saído muito melhor.

Até porque existem excelentes momentos no meio disso tudo, momentos até emocionalmente impactantes, eu diria. Tem umas porradarias massa ali no meio, mas em sequência vinha uma exposição (e a exposição em si não é o problema, já explico isso melhor), aí depois vinha uma ótima sequência mostrando a ameaça que eles vão enfrentar, para depois vir o péssimo vilão fazendo alguma ceninha, para depois vir mais uma boa cena, e em sequência vir outra cena mal colocada ou chata, e esse ciclo permeia, mais ou menos, setenta minutos de exibição. A questão é: o filme tem 169 minutos, duas horas e quarenta e nove minutos, então nos sobram ali, aproximadamente, uma hora e quarenta para o longa brilhar, e quando começa, vai ficando cada vez mais brilhante, vai virando o bom e velho Missão: Impossível que nos acostumamos e aprendemos a adorar. Muito dessa queda no início se deve ao fato deles ficarem fazendo recapitulações, buscando conexões com os outros filmes da franquia mostrando cenas deles, e aí temos conexão com os filmes 1, 3, 4, 5, 6 e 7 (o 2 é tão ruim que até eles ignoram), e isso não era necessário, parecia que era uma recapitulação de TV para quem não viu o episódio anterior, soa como uma exigência para conseguir pegar o espectador que está vendo este filme isolado, mas só a ideia disso num longa que era para ser uma parte 2 de outro já está errado. A primeira metade do longa parece algo exigido pela Paramount e a segunda soa como o que o McQuarrie realmente queria fazer.

Cara, falando mais sobre a história, nenhum tem uma trama incrivelmente absurda e bem trabalhada, é a direção que pega e tenta transformar em algo bom que crie um senso de urgência, de que pode dar ruim a qualquer momento independente da narrativa. Só que a maioria se mantinha num simples bem feito, onde trabalhavam bem suas estórias e criavam diálogos comuns, sendo realmente impactantes pela entrega do ótimo elenco. Não me levem a mal, tem crítica de todos os outros sete e eu elogiei seis desses por conta disso, mas é algo que não dá para elogiar aqui. Existem muitos diálogos mal colocados dentro do longa, onde, como eu falei, são muitos e acabam que eles vão se perdendo graças ao número exagerado de informações, quem tem TDAH ou algum transtorno de atenção tá ferrado com esse início de filme, ainda mais se for ver legendado, pois são tantas informações jogadas juntas e misturadas, que causa uma confusão danada. E isso é algo que se mantém ao longo do filme, já que existe muita exposição, tipo, muita mesmo, até demais, chega a cansar. Claro que tem várias que o longa (e a franquia como um todo em suas demais tramas) se justifica, mas aqui tem algumas que o filme se expõe para explicar para os burros da plateia, pois são tão convenientes que tornam-se engraçadas, como o vilão, convenientemente, dizer para o Ethan Hunt explicitamente que ele tem dois aviões de fuga (essa me quebrou).

Mas, quando eu digo que existe uma recuperação milagrosa, é graças também ao McQuarrie e ao Tom Cruise. A direção é muito boa ali do meio para o fim, pois consegue trazer bem ao espectador o sentimento de urgência daquela missão, já que é a escala máxima que a franquia traz, essa é a narrativa que mais consegue fazer jus ao título de "Missão: Impossível", pois é a que precisa de mais exatidão, de mais pequenas coisas para dar certo, é a que mais necessita de vários personagens ao mesmo tempo e nessa loucura de ir mudando de personagens para os outros (agora, sem pressa, onde a montagem tem tempo para a construção), acaba dando-se essa sensação de que precisa tudo dar certo ao mesmo tempo, mas a cada segundo parece que alguma coisa vai dar errado. A gente sabe como funciona essa franquia, eles passam por poucas e boas, mas no final, sempre conseguem vencer e a gente sabe disso, continua assistindo tranquilamente porque é excelente, no entanto, essa foi a primeira vez vendo um longa da franquia que eu senti de fato que tudo poderia dar errado, foi a primeira vez que eu fiquei nervoso de que eles iam perder, e não é dando spoiler, nem nada, mas é só o sentimento que passa na hora, pois está tudo dando errado e a adrenalina da missão vem muito de existir um contador, que a cada segundo fica mais próximo do zero, e a cada uma dessas eu ficava mais na ponta da cadeira ainda, foi o que deveria ter sido desde o início.

E em mais um capítulo de "As Peripécias de Tom Cruise", aqui temos uma cena dele por vinte minutos debaixo da água (dessa vez com equipamento, não na respiração pura que nem foi no "Nação Secreta") e também ele se pendurando do lado de fora de um avião analógico. A questão é que já foi tanta coisa maluca feita que parece que as opções estão se esgotando, então eles colocaram mais um veículo aéreo, que se pegar a carreira do Tom Cruise nos últimos anos, já é o quarto (foi o avião em "Nação Secreta", o helicóptero em "Efeito Fallout", os caças em "Top Gun: Maverick" e agora esse), mas primeiro gostaria de falar sobre essa cena da água, que não só é uma excelente cena, uma cena bastante longa, como é o retrato de que o filme está melhorando a medida que ele passa, pois ele havia começado a ficar interessante alguns minutos antes, tiveram duas cenas de ação simultâneas bem boas que antecedem esta, e aqui é uma cena que não tem diálogos, tem uma complicação enorme para ser feita, mas é aqui que a imersão começa de fato a ser efetiva, é ali que a construção da pressa que o Ethan tem para concluir a missão vira outra coisa, já que a cada momento que passa e as coisas não vão acontecendo, a diminuição do tempo, vira uma contagem regressiva para o armagedom, transformando o longa na adrenalina que foram os anteriores.

Essa cena do avião mesmo está incluída num dos melhores terceiros atos da franquia, talvez o melhor, pois como eu falei, é o único que me gerou um sentimento negativo quanto ao final que Ethan Hunt e sua equipe receberiam após ao encerrar o longa. Não só está acontecendo isso do Ethan se pendurando em avião, mas também temos o Benji com a Grace em outro ponto, aí temos outros personagens secundários em outro local impedindo outra coisa ruim de acontecer, ao mesmo tempo mostra o que está rolando dentro do governo americano, representado pela Erika (Angela Bassett), que era a diretora da CIA lá no sexto filme, retorna aqui sendo a Presidente dos Estados Unidos. Acho bizarro como o maior erro do longa é justamente seu desequilíbrio na hora inicial, mas um dos grandes acertos é equilibrar isso perfeitamente mais para o final. Não só no suspense, mas na ação em si, já que temos momentos sensacionais de pancadaria por aqui, que mantém o nível das últimas entradas, já que o corpo a corpo é muito bom, a forma como eles utilizam as armas continua incrível, e os momentos de correria, onde a ação não está no combate, como esses exemplos do avião e da cena submersa, comprovam que há um capricho muito grande no que eles buscam fazer.

Só que mesmo na parte boa, existe um efeito colateral, que é o vilão: Gabriel, que se repete do longa anterior. Eu já não havia achado ele grandes coisas lá no sétimo, mas ele pelo menos dava um trabalho e entregava uma ameaça física boa para o Ethan Hunt enfrentar, tanto que eu falei no texto do 7 que o material dele tinha tendência a melhorar nessa segunda parte. Contudo, o que fazem é seguir numa linha e deixar ele totalmente caricato, quase como um vilão de desenho animado, não só porque esse maluco tem a necessidade de ficar falando demais toda vez, como ainda fica dando risadinha maléfica e entrega de bandeja partes primordiais do plano dele para os mocinhos. Esse ator é muito fraco, o tal do Esai Morales, eu já não gostava dele por sua atuação fajuta como Slade Wilson na (também fajuta) série "Titãs", mas aqui é incrível como ele é ruim, como você torce para o Ethan quebrar a cara dele, não por ele ser um vilão, mas sim por ser um ator, pago, num grande blockbuster, entregando uma atuação que qualquer pedreiro daqui entregaria. Eu ficava esperando para que esse mano calasse a boca, pois toda vez que ele a abria, parecia o Dick Vigarista, quebrando um pouco o clima do longa.

Falando sobre o Ethan, é interessante ver como ele funciona aqui, já que nos demais longas, desde o terceiro para ser mais exato, vinha sendo muito sobre ele e o desenvolvimento dele através das missões, como as coisas que aconteciam se relacionavam a ele como pessoa, à sua vida, como ser quem ele é o impede ele de ser alguém na sociedade, mas aqui, com ele já não sendo mais alguém, de fato, é interessante ver como ele assume totalmente essa persona e essa responsabilidade de ser o maior herói desse universo, já que tudo que ele fez foram basicamente façanhas que somente super-heróis conseguiriam realizar. Aqui, fazem dele mais como um peão em algo maior do que ele, do que como pessoa em si, tanto que é falado várias vezes que ele tem uma fraqueza, que é ver seus amigos em situação de baixa, e que se isso acontecesse, poderia atrapalhar toda a missão. Ele ainda é um humano apesar de tudo, ele tem esses sentimentos que o motivam buscar o objetivo por aqui, e é essa humanidade que gera nele uma gana de fazer o bem maior, de, nesse aqui, tentar salvar o mundo, não só por aqueles que ele ama, mas por aqueles que ele nunca conheceu, e a maneira como o longa faz jus ao juramento da IMF é bem singela, chega a ser bonito como conseguem fazer dessa história que parecia bagunçada, algo que eu via as pessoas chorando quando olhava ao lado na sala do cinema.

Aqui, novamente há a equipe, não tem como, é essencial o Hunt ter seu time, pois eles são grande parte da graça da franquia. Devo dizer que é a equipe mais fraca desde o terceiro filme, na questão do carisma mesmo, pois são personagens legais em maioria, mas acabam ficando um pouco para trás quando você compara com os outros. Temos o Luther, que continua sendo o GOAT, aqui ele aparece pouco, é a última aparição do Ving Rhames na franquia, então todas as cenas dele tem um tom forte de despedida, é um encerramento muito bonito para a participação dele por aqui, que não chegou a arrancar lágrimas minhas de fato, mas eu olhando para o lado, tinha gente chorando em duas cenas que o envolvem. O Benji assume um papel de mais protagonismo, já que ele é a maior mente ali desse universo, e o Simon Pegg mantém a excelência do papel, dando até um pouco mais de profundidade dramática quando é pedido e traz também um senso de amizade e de equipe muito bom, pois foi um personagem que foi crescendo cada vez mais dentro da franquia, tornando-se cada vez mais legal e importante para o andamento da saga. A Grace é uma personagem menos legal aqui do que no anterior, mas ainda sim consegue ser uma adição interessante e importante para o plot geral, apesar de eu achar bem qualquer coisa essa tensão romântica dela com o Tom Cruise, aqui não funcionou de jeito nenhum, acho que faltou um pouco mais de peso dentre eles para isso ser crível.

Ainda nos personagens secundários (inclusive, talvez seja o longa da franquia com mais, porque tivemos vários), dá para citar os dois novos membros da equipe, a Paris e o Degas. A Paris é a Pom Klementieff, vilã secundária do filme anterior, que acabou se juntando ao Ethan por ele ter poupado a sua vida, e aqui ela também entrega menos que no outro, mas acaba sendo uma adição boa ao time por mudar um pouco a dinâmica de ter uma ex-antagonista lá, ainda mais com os ideais meio conturbados dela e a falta de comunicação por ela só falar francês, isso dá uma diversificada bacana. Já o Degas, interpretado pelo Greg Tarzan Davis, entrou mudo na equipe e saiu calado. Ele é funcional para várias cenas, realmente precisava de um membro ali, mas não faria diferença se fosse ele ou qualquer outro, já que a proximidade dele com os demais e com o Ethan acaba não sendo tão grande e nem tão convincente quanto os outros, acaba que ele é útil para a narrativa como um todo, mas num papel que não o favorece tanto. Existe ainda a Angela Bassett como Presidente, que eu gostei muito dela nessa figura máxima dentro do longa, a maneira que ela tem de lidar com dilemas presidenciais e como isso acaba afetando na sua vida pessoal, como ela enfrenta alguns problemas ao mesmo tempo, e ainda sim, pouco tempo de tela, pouco destaque, mas uma atriz bizarramente boa como ela, consegue extrair o máximo para dar essa importância a uma personagem, seu arco, sua narrativa e suas decisões.

Creio que já foi quase tudo que tinha para falar, não achei espaço para falar sobre a trilha sonora incrível que dá esse sentimento de épico enquanto tudo vai rolando, mas no mais, é apenas isso. Apesar de um pouco decepcionante, "Missão: Impossível - O Acerto Final" ainda é um baita filmaço, isso só comprova o quão absurdo é o padrão de qualidade estabelecido pela franquia pelos seus anteriores. Eu tinha bastante expectativa, afinal, esta é a minha franquia favorita da história do cinema, apesar de eu desgostar totalmente do 2 e achar o 3 apenas ok, os demais fazem com que esta seja a franquia que eu mais gosto, e esta era a culminação prometida, o grande encerramento, e apesar de ter defeitos que nenhum de seus antecessores (desde o 4) tem, ainda sim consegue entregar uma experiência de ação que não é qualquer um que entrega no cinema blockbuster de hoje em dia, especialmente pela sua parte final, que faz jus ao nome da franquia. É o último filme, realmente? Olha, eu duvido muito, acredito que esse só vá ser o último caso o Tom Cruise venha a óbito nos próximos anos, mas esse é o último de uma primeira saga da franquia, podemos dizer, pois consegue dar um fim digno aos seus personagens, dar um encaminhamento interessante ao que poderemos ver com Hunt daqui para a frente. Começou me decepcionando, já estava chateado desacreditando que eles iriam falhar no seu prometido evento, mas quando me dei de conta, já estava nervoso na ponta da cadeira. Apesar de tudo, ainda vale muito a pena ir no cinema assistir, é mesmo a melhor franquia de ação do cinema, não tem jeito.

Nota - 8,0/10

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