Crítica - Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder, 2022)

Um belo tributo ao Guns N' Roses (ah, e um filme bacana também).

🚨 Texto com spoilers leves 🚨

Após o sucesso tanto de crítica quanto de público de "Thor: Ragnarok", Taika Waititi e Chris Hensworth retomam a parceria no quarto filme do deus do trovão. Thor sempre foi meio zoado por muita gente porque os filmes dele dentro do MCU são uns dos mais fracos, os dois primeiros no caso, e aí muita gente desanimou com o personagem, porém o Thor magicamente renasceu nas mãos do Taika e dos Irmãos Russo em "Vingadores: Guerra Infinita" e "Vingadores: Ultimato" e acabou por se tornar um dos melhores personagens desse universo compartilhado. É merecido um quarto filme pois o personagem merece essa nova trilogia com essa nova visão (possivelmente teremos um quinto filme que também possivelmente será dirigido pelo Taika) e nesse filme o Thor cresce muito, o Thor aqui está passando por uma crise de meia idade (por mais que ele tenha mais de 1500 anos de idade) e o filme cumpre o que o título promete: tem muito amor e muito trovão.

Taika tenta fazer uma mescla de seus elementos apresentados no filme anterior e dos elementos dos dois primeiros filmes ao trazer Jane Foster (Natalie Portman) de volta (não só ela, como há participações especiais de outros personagens que estavam nesses dois primeiros filmes) e eu gostei muito de ver a Natalie Portman de volta, porque eu sempre senti um subaproveitamento dela, apesar dela ser uma das poucas coisas que se salva naqueles dois filmes que é melhor nem lembrar e o Taika trabalha ela de maneira muito coerente, pois vemos aqui a adaptação do câncer de Jane e como ela vira a Poderosa Thor e a Portman aqui se sai muito bem, é praticamente a redenção dela no papel, ela tem o carisma dela e no drama ela é a melhor do filme, por outro lado, na comédia ela não tem uma grande participação, mas tem uma certa piada recorrente dela buscar um bordão e essa em si é muito engraçada e até na batalha final zoam isso com ela mandando algumas frases de efeito em sequência - que eu achei muito engraçado, mas as pessoas na sala acharam que aquilo era para ser sério mesmo, o que deixou a cena mais engraçada para mim.

Com esse retorno da Portman, o Taika não iria perder a oportunidade de zoar e fazer uma comédia romântica, o Taika tem uma liberdade criativa aqui e ele estrutura o filme como uma romcom, nesse estranhamento entre Thor e Jane, o Thor buscando encontrar o amor, algo para sentir e a Jane estando logo ali, é muito bom. Além de parodiar o gênero com os martelos, o triângulo amoroso entra em ação entre Thor, Mjölnir e Stormbreaker, essa relação gera as cenas mais engraçadas do filme, porque claramente zoa com as comedias românticas e com esse lance de um ex-casal se reencontrar nesses filmes clichês, essa parte é incrivelmente divertida. Taika na comédia inegavelmente manda bem, apesar de ter um ou dois momentos que você ri de pena por a piada ser ruim, mas no geral o humor é bem controlado dentro do filme. Eu também gostei de como o drama do filme se equilibra, pois o Taika quando precisa deixar o filme sério, ele deixa (vimos isso muito bem lá em "Jojo Rabbit") e o peso emocional que ele dá ao filme, ao relacionamento da Jane e do Thor, do câncer, da perca do vilão, a tensão acerca do vilão, é muito certeiro na minha opinião, ele sabe ser sério na hora que precisa e não parece que o filme mudou a vibe do nada, essa parte vai bem na manha e me agradou.

O que não me agradou no filme foi o ritmo. Quando eu vi que o filme tinha menos de duas horas, eu já senti na pele essa impressão e se confirmou, tem muita coisa que ocorre muito rápido, tem coisas que dá para justificar que foi rápido porque verdadeiramente não dá para pensar no desenvolvimento que levaria até lá, mas no geral a montagem em algumas cenas por estar acelerada, acaba atrapalhando um pouco, tem uma cena que os diálogos vão se atropelando e tal. O motivo disso você já deve saber, eu falei exatamente a mesma coisa no texto de "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", menos tempo de filme é igual a mais salas para encaixar nos cinemas, o que gera mais ingressos que logo gera mais dinheiro para o rato enfiar no reto anal e de novo fica claro que a Disney está cagando para a qualidade dos seus filmes e está visando apenas o retorno monetário.

Esse ritmo atrapalhativo acabou afetando diretamente no vilão: Gorr, o Carniceiro dos Deuses (Christian Bale), que aparece muito pouco no decorrer do filme, acho que ele tem umas seis, sete cenas, por aí. Quando ele aparece é sensacional, o Christian Bale arrasa na performance, buscando um lado mais louco e profundo do personagem, ele é ameaçador, quando ele chega perto dá medo, ele se impõe, a presença dele ao longo do filme é aterrorizante, a atuação dele foi claramente inspirada pela performance de seu antigo amigo Heath Ledger em "Batman: O Cavaleiro das Trevas", onde a loucura que ele traz ao personagem é semelhante. O personagem e a atuação em si são ótimos, o problema é como é utilizado, nesse corta-corta todo foi ele quem acabou prejudicado, uma pena porque o personagem é verdadeiramente bem trabalhado, a cena inicial é um show e ele é aterrorizador, gostaria de ter visto mais dele.

A Valquíria (Tessa Thompson) foi espetacular, ela sai um pouco desse lado mais vida loka dela e aqui vemos ela com as responsabilidades em ser rei de Asgard e também sendo uma espécie de celebridade e a Tessa Thompson cai como uma luva no papel, ela é bem carismática, ela tem a dosagem certa no humor e o desenvolvimento dela é incrível. Inclusive, quando mostra ela sendo um pouco essa celebridade está tocando "Paradise City" do Guns N' Roses e o filme é um grande tributo a banda, pois em momentos chave do filme tocam músicas da banda, inclusive são as quatro mais famosas: "Welcome To The Jungle" toca no início, "Paradise City" toca quando vemos Nova Asgard de novo pela primeira vez, tem "Sweet Child O' Mine" que toca várias vezes durante o filme e "November Rain" que toca durante a batalha final e foi muito legal ver essa homenagem de fã do Taika ao Guns (até renomeando um dos personagens para Axl), as músicas combinaram perfeitamente com os momentos no filme e foi lindo de ver. Além de depois da primeira cena pós-créditos tocar simplesmente "Rainbow in The Dark" do Dio que eu quase surtei e comecei a cantar junto.

Não posso sair sem falar do próprio Thor. Chris Hensworth como Thor está há onze anos no papel e, ao lado do Don Cheadle, é o ator mais duradouro do MCU, mesmo assim ele consegue reinventar o personagem a cada filme e deixar ele cada vez melhor. Aqui, como eu falei, vemos a busca do Thor por amor, por algo para se sentir um bosta quando ele perder e ver essa versão do Thor em crise, tentando buscar espiritualidade, encaixou perfeitamente na proposta do filme. Minha interpretação é que o Thor é basicamente um rockstar, na hora da arrasar ele é brabo, o mais poderoso, o mais desejado, o mais amado, mas do que adianta tudo isso se meia hora depois ele vai estar sozinho no quarto refletindo sobre o que está faltando na vida dele, esse deve ter sido o motivo de tocar tanto GNR, ele ser o maior herói de todos, ser o rockstar, mas no fundo ele é só um cara sensível que está com um espaço vazio na vida. Então fica a pergunta do filme: você vai ficar aí parado ou vai ir logo buscar algo para se sentir mal quando perder?

Divertido, "Thor: Amor e Trovão" funciona bem como um filme de ação, de super-heróis, mas também como um grande filme de romance e de comédia. Taika Waititi equilibra bem o drama e a comédia e cria um filme um pouco autoral no MCU que foge dessa fórmula genérica tosca da Marvel. Chris Hensworth e Natalie Portman retornam bem aos seus respectivos papéis e ambos tem desfechos de arcos bem interessantes na trama, tendo atuações seguras que ajudam muito na qualidade do filme. Não é perfeito, tem seus problemas, principalmente no ritmo e aproveitamento de Christian Bale, mas é um filme divertido, bonitão visualmente e tem um final extremamente fofo.

Nota - 7,0/10

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