Crítica - A Baleia (The Whale, 2022)
Não é para qualquer gordo este filme.
O diretor Darren Aronofsky é um dos mais aclamados por cinéfilos em início de sua formação, considerado bastante original e talentoso por seus filmes super metafóricos e diferentes, aí depois de uns três anos você percebe que a maioria dos longas que ele lançou são cópias de obras não-americanas. Particularmente nunca gostei dele como diretor, sempre achei ele bastante limitado e que se agarrava muito em inspirações sem querer assumi-las diretamente, só tem um único dele que eu gosto verdadeiramente que é "Réquiem Para Um Sonho" (2000), que foi bem marcante, de resto, acho ele ok. Não tinha tantas expectativas para esse, achava que ia ser só mais um filme, e além do Aronofsky, eu também não gosto muito do Brendan Fraser, que é o motivo principal de atenção do filme, já que furou a bolha por causa dele e seu retorno (teoricamente) triunfal, que está arrebatando prêmios em várias premiações da crítica, já ganhou duas televisionadas, mas eu não gosto dele como ator, ele teve seu carisma lá no final dos anos 90 e início dos anos 2000, mas no máximo ele era isso, apenas um cara carismático, nunca foi bom ator. Com isso, minha expectativa era que o filme fosse horroroso, emocionalmente manipulativo e bem caricato, pelo material que eu tinha visto e pelo fato da A24 tentar esconder o filme de qualquer forma, eu achei que viria uma bomba por aí, mas sendo sincero eu achei melhor que eu imaginava, não significa que eu tenha gostado, mas é um drama muito padrão que tem como grande destaque (literalmente) a atuação do Brendan, que é boa, achei que não ia gostar, mas eu curti. De resto, acho um filme problemático, com uma estrutura que não é tão agradável e com vários diálogos horrendos.
Queria começar falando então sobre a polêmica da obesidade, diferente dos acontecimentos do filme, tiraremos o elefante da sala. Esse é o motivo que estão tentando cancelar o longa, por teoricamente tratar a obesidade de forma ofensiva e generalista, mas nesse quesito eu defenderei o filme. Vamos lá, este que vos fala, o ADM, é obeso, não tanto quanto o personagem principal, mas eu tenho muitos quilos a mais que deveria (tanto que todas essas piadas de gordo que vocês leram e lerão eu estou fazendo sem peso na consciência porque eu também passo por isso). Eu, particularmente, não sofro com isso, até porque faço exercício físico regularmente, bebo muita água e vivo bem. Mas no filme, vemos um caso isolado, que não generaliza e muito menos fala que gordos não podem viver bem, até porque o filme não é sobre obesidade, é sobre um homem, e a sua condição é um detalhe, tanto que descobrimos no longa que nem é por ele ser daquele jeito que se chama "A Baleia", é por conta de outra coisa nada a ver com peso. Então acho uma polêmica desnecessária de tentar dizer que há uma tematização da obesidade, não é sobre isso e não se propõe em nenhum segundo de exibição a ser sobre isso, é a jornada de um cara em seus dias finais de vida e é isso.
Eu sinceramente não curto muito a estrutura do filme e é meu principal problema. O longa é adaptado da peça homônima escrita por Samuel D. Hunter (que também é o roteirista aqui) mas o problema para mim é que não parece uma adaptação, realmente parece um teatro sendo encenado em câmera e isso me deu um incômodo porque não parece um filme, é uma estrutura teatral toda bagunçada e dá para imaginar perfeitamente como a peça acontece nos palcos. Não bastando só isso, ainda há o fato de que o texto em si é muito fraco. Eu não li o roteiro, não gosto de dar uma avaliação sobre roteiros sem ler, até porque o roteiro não é parte do filme em si, mas os diálogos, só pela assistida, já dá para notar que são, em grande parte, horríveis! Tipo, tem alguns bons, os diálogos da Liz (Hong Chau) eu particularmente acho muito bem feitos, mas de resto é tudo muito caricato, previsível, se você já viu dez obras de drama na vida, você consegue prever minimamente os diálogos. Não tem surpresa, não tem sal, é tudo bem expositivo, o que talvez funcionaria numa atração teatral, mas no cinema acabou ficando maçante e até meio irritante da quantidade de vezes na qual é repetida a mesma estrutura de diálogo, além de sempre ter que apelar para personagens gritando desnecessariamente quando tenta dar alguma emoção, mas não funciona para mim.
Sinceramente o Aronofsky tenta fazer algo que eu não esperaria dele, porque geralmente eu espero muitos plágios não assumidos, metáforas fáceis retratadas de formas difíceis, mas nunca algo tão emocionalmente manipulativo assim, que tenta apelar para questões de paternidade, casamento, amor, sexualidade e família para tentar dar alguma emoção, mas me soa forçado de alguma forma, parece que ele quer muito que o espectador chore (e por várias reviews que eu vi, ele conseguiu), ele quer muito que ganhe o rótulo de filme triste, arrebatador e isso me dá um incômodo em 99% das obras desse estilo. O pior é que ele não tenta isso só na exibição, tenta isso no marketing, de uma maneira que na minha visão é errada. Temos Brendan Fraser, ator que marcou a infância de uma galera com "A Múmia" (1999), "Looney Tunes - De Volta à Ação" (2003), "Endiabrado" (2000), entre outros, até que ele foi assediado por um votante do Globo de Ouro no início dos anos 2000 e ele caiu em depressão, nas drogas, viveu uma barra pesada, ele realmente foi uma vítima. Porém eu sinto que o marketing do longa se sustenta nisso, o retorno triunfal do Brendan Fraser e usando a imagem dele gordão para dizer que ele tava destruído e tentando voltar aos topos, mas na minha visão, tão se aproveitando de um caso tão sério no marketing para as pessoas assistirem e ganharem prêmios, o que é de mal gosto na minha opinião, fazer o cara sempre se lembrar do que ele passou só para tentar fazer o público assistir e vencer um Oscar, o que para mim é ridículo e totalmente desnecessário, já que o caso não tem NADA A VER com o filme.
Mas ele manda bem, o Brendan Fraser tem uma das melhores atuações dele (o que também não é grande coisa, convenhamos), é uma performance gigantesca (tá, chega de piada de gordo). Eu gosto desse desenvolvimento dele, do cara depressivo que já aceitou a morte e que só quer se reconciliar com a filha antes de fazer wakanda forever na horizontal. Ele vai bem mostrando o sofrimento do Charlie, demonstra como é um cara que sente as dores do passado, do abandono da filha, a perca do namorado, o arrependimento claro, mas mesmo assim ele tenta ser positivo sempre, é um cara que mesmo estando à beira de uma morte precoce por um motivo não natural, tenta ver tudo por um lado positivo, acho essa certa ingenuidade dele muito legal e muito cativante. Contudo, alguns momento por isso de querer ser emocionalmente manipulativo, a performance dele (e da maioria do elenco no geral) cai numa caricatura que eu não consegui gostar, por ficar muito exagerado, chega a ser overacting e dá um incômodo. Por isso, eu não indicaria ele ao Oscar, mas ele ganhar como a concretização da jornada de reinvenção dele pode ser emocionante, então não concordo, mas não reclamarei. Também considero uma performance complicada por ele ter usar quilos de maquiagem no corpo todo, é uma maquiagem até meio surrealista que tenta criar uma obesidade possível, porém chocante pela expansão, é algo pior e mais agoniante que um Quilos Mortais da vida, tem uma cena dele sem camisa que beira o bizarro. Um excelente trabalho da equipe de maquiagem, que provavelmente vai ser vencedora do Oscar nesse aspecto, pelo menos nesse momento que eu tô escrevendo o texto é uma das favoritas para a premiação.
Outras performances muito boas são a da Hong Chau e da Sadie Sink. A Hong Chau faz a Liz, melhor amiga/enfermeira/ex-cunhada do Charlie, que tenta ajudá-lo e visivelmente gosta dele apesar das irritações que ele causa por sua teimosia algumas vezes. De longe a personagem com melhores diálogos do filme, a única que não soa caricata em nenhum momento e a que tem um desenvolvimento bem legal fora da relação com o principal, da questão do passado, o daddy issues, a relação dela com a fé, que reflete no relacionamento dela com o garoto da igreja, o Ty Simpkins, que tem uma atuação bem padrão, normal, na linha, mas quando tem uma cena que ele precisa gritar, ele dá um gemido, que eu comecei a rir vendo. A Sadie Sink também cai na caricatura em alguns momentos, mas ela faz uma das pessoas mais detestáveis da história recente do cinema, eu gosto muito da atriz e ela conseguiu me deixar com vontade de meter um socão na cara dela. Ela faz aquela típica adolescente revoltada e que é má pelo prazer de ser, apesar de que obviamente iam inventar que "ela não é má de verdade, é só uma casca criada pela falta de amor paterno e blá blá blá", sempre tem isso nesses dramas. Eu gosto da atuação apesar de cair nos mesmos problemas já citados de parecer muito robótico e exageradamente teatral, ela manda bem em cumprir o objetivo, que é fazer o espectador odiar a personagem, isso ela faz com maestria, ela igualmente vai bem em mostrar a dor pela falta do pai e a relação tóxica (por parte 100% dela) criada dá uma dorzinha sincera em quem assiste.
No final, "A Baleia" é mais um drama bem padrão e bem comum cujo o único diferencial é o fato do protagonista ter 300kg. Exageradamente teatral, muito dramalhão novelesco, sem originalidade e alguns diálogos horríveis e desnecessariamente específicos e expositivos, além de que no final inventam uma metáfora só porque parece que a A24 não pode ver um filme comum que já ordena o diretor colocar alguma coisa diferentona, não importa quem seja e o que essa pessoa vai meter na trama. Boas atuações do Brendan Fraser, Sadie Sink, Hong Chau, atuações comuns do Ty Simpkins e da Samantha Morton, mas o elenco acaba por cair num caricato que mais me afastou do que criou alguma imersão. Sinceramente não curti muito, não chega a ser ruim, mas é só mais um drama bem padrão que eu vi trocentos iguais sendo indicados ao Oscar nos últimos anos justamente em categorias de atuação. Vale a pena ver para criar a própria experiência, mas a minha não foi tão agradável quanto poderia.
Nota - 6,0/10