Crítica - Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (Ant-Man and the Wasp: Quantumania, 2023)

A nítida queda da Marvel em formato de filme.

🚨 Texto sem spoilers 🚨

Quem me acompanha sabe que eu sou muito fã da Marvel, quem é um pouquinho mais velho na página lembra que eu fiz um especial do MCU onde eu postei crítica de todos os filmes que a Marvel já lançou, entre eles "Homem-Formiga" (2015) e "Homem-Formiga e a Vespa" (2018), os antecessores desse e que eu defendo, eu gosto, porque eles funcionavam como um bom break da tensão do resto do UCM em uma história isolada e divertida, o primeiro vindo entre "Vingadores: A Era de Ultron" (2015) e "Capitão América: Guerra Civil" (2016), o segundo entre "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e "Capitã Marvel" (2019), que eram mais levados a sérios e mais importantes dentro do universo, então as aventuras de Scott Lang (Paul Rudd) eram "fillers" que serviam para nós respirarmos antes da tensão da linha narrativa principal voltar, por isso que me agrada e agradou uma grande parte do público. Mas aqui, a Marvel tentou transformar a franquia em um início de saga, algo grandioso, que apresentaria o grande vilão da nova fase: Kang, O Conquistador (Jonathan Majors), mas acaba que não era para ser isso, não é o que deveria ser, e uma série de decisões erradas na criação e na produção geraram uma baita decepção pessoal, é a primeira vez que eu saio desanimado do cinema com a Marvel, claro, tem outros que eu não gostei, mas esses eu não assisti na telona, essa na verdade foi a primeira vez que eu saí de um cinema triste, desanimado, eu tô até agora triste com o que eu vi, tem momentos legais, mas parece que o roteirista ou odeia a Marvel ou foi muito mal pago, que o editor trabalhou com o Kevin Feige apontando uma 38 na cabeça dele e que o diretor era verdadeiramente o robô K.E.V.I.N. que aparece na série da Mulher-Hulk.

Eu tinha hype, os trailers apresentavam algo bonito, viajado, criativo, mais sério e que realmente parecia o início da nova saga, já que a fase 4 eram filmes aleatórios que não tinham conexão um com o outro (tirando uns ali) e tudo bem, nova saga, precisa apresentar a galera novata e eu entendo, mas agora era para a fase 5 começar metendo os dois pés na porta apresentando o vilão, que não é qualquer um, é Kang, um dos maiores vilões da Marvel, dos mais interessantes, ameaçadores e amedrontadores que tem nos quadrinhos em geral. O problema, é que eles são medrosos, ao invés de se arriscar e meter um épico de duas horas e meia, eles fazem uma aventurinha genérica e besta de pouco menos de duas horas que acaba sendo isolado e só mais um no MCU, coisa que ele não se propôs a ser e que não era para ser. Meu hype começou a cair quando mês passado começaram regravações, um mês antes da estreia, o que foi muito suspeito, depois começam as críticas, depois vem as notas em agregadores e então, meu hype já estava baixo, mas eu ainda esperava pelo menos me divertir, mas não consegui, é algo bagunçado, visivelmente picotado, mal editado e que dava para ver as alterações de última hora. Se você leu meu último texto sobre "Gato de Botas 2: O Último Pedido" sabe que eu citei que o comando da Disney mudou recentemente outra vez e as regravações vieram numa época que saiu uma notícia que o velho/novo CEO, Bob Iger, queria diminuir o número de produções da Marvel por ano para não prejudicar a marca, então pode ser que eles sacrificaram esse filme para salvar outros projetos no futuro, mas só o tempo nos dirá isso. O que eu digo saindo da pré-estreia é que é a maior decepção com cinema de super-herói que eu já tive e olha que existe "Liga da Justiça" de 2017. Me surpreende que muita coisa foi aprovada, é pavoroso em vários aspectos.

Vou começar falando do que eu gostei, depois eu explico melhor a decepção. Em questão técnica o que mais me chamou atenção foi o design de produção, a construção dos cenários, quer dizer, tem o chroma key, que é meio memes em alguns pontos, mas eu acho a construção dos cenários "verdadeiros" bem interessante, é criativo na construção visual daquele povo, aquele local que tem muito de um negócio futurista, de ficção científica, usando uma estrutura usando muito a figura de círculos, isso eu acho bastante instigante, alguns mecanismos, tem locais muito bem construídos, como o palácio do Kang, a prisão, eu acho muito bonito visualmente, a paleta de cores mais escuras ou apelando mais para um roxo, eu curti essa parte da direção de arte. Eu também gostei de alguns efeitos visuais, tem umas partes do reino quântico que são bem interessantes, trazendo um lado de nebulosas e supernovas que deixa bonito, usando várias cores e tal, tem o CGI da armadura do Kang que funciona perfeitamente, o M.O.D.O.K. (Corey Stoll) é meio bizarro, mas isso é proposital, porque ele é bizarro desde sempre, desde os quadrinhos, e o visual é essa mistura do bizarro do cinema com o sci-fi das HQs, eu particularmente gostei do visual da armadura (só isso). Tem uma cena em particular de computação gráfica, que é uma loucura maravilhosa e tem um peso dramático, essa cena em particular é boa pelo caos bom que ela é.

O elenco também é bom. O Paul Rudd é maravilhoso, ele funciona pelo seu próprio carisma, ele tem um arco interessante, cenas muito boas tanto cômicas quanto sérias, ele tem um arco muito bom envolvendo a paternidade dele, a falta que ele fez e está fazendo na vida da Cassie (Kathryn Newton) e o Paul consegue demonstrar esse peso, ele dá a carga que era necessária e muito do filme é essa exploração do relacionamento paterno, acho que mesmo apressado, consegue impactar, muito mais pelo talento do que pelo texto. A Kathryn Newton é carismática, mas a forma como ela é utilizada é patética, chega um ponto que ela assume uma importância tão grande que chega a ser um clichê inacreditável e vergonhoso de assistir, uma pena por ela, ela não tem culpa se quem fez a parte criativa é completamente incompetente (pelo menos ela é linda - fiquei um pouco apaixonado confesso). A Evangeline Lilly completamente esquecida no filme onde ela tem o nome da personagem no título, ela vai bem mas é porque ela é boa atriz, não tem arco, não tem desenvolvimento, não tem nada, isso pode ter sido prejudicado pelas polêmicas que ela se envolveu, mas aqui ela é deixada de escanteio. Michelle Pfeiffer fazendo a Janet é a que tem um arco que é realmente bom, bem feito, ela tem um peso dramático, um medo do vilão que é muito necessário e a relação dela com o Reino Quântico se desenvolve naturalmente, mas é a Michelle Pfeiffer também, ela poderia fazer um vídeo de sete horas comendo cenoura que seria sensacional. O Michael Douglas o mesmo, ele está excelente, mas ele é o Michael Douglas, ele tá bom até no que ele já fez de ruim, ele tem umas cenas bad-ass, um carisma muito grande e pelas referências de antigos papéis icônicos dele é o que acaba deixando bom. Mas o grande destaque é óbvio que é o Jonathan Majors de Kang, praticamente fizeram isso tudo para ser o filme de origem dele. A motivação é boa, é interessante, faz sentido, apesar de utilizar o artifício narrativo do macguffin de uma maneira bem fraca, acaba sendo meio anulado pelo talento do Majors, ele põe medo quando aparece, é imponente, é até meio carismático, ele tem um peso dramático, um lado tirano, ditador, que é amedrontador. Ansioso para mais dele no futuro interpretando várias versões diferentes.

Agora, o principal erro, é a história. Na moral, o roteirista desse filme deve ter sido muito mal pago ou ele é muito hater da Marvel e 100% DC, porque não é possível. Jeff Loveness é o nome da fera, uma das mentes por trás de "Rick & Morty" e será o escritor de "Vingadores: A Dinastia de Kang" (o medo que eu estou é indescritível). E também tem que culpar o diretor, o Peyton Reed, que tinha tido uma liberdade criativa no segundo filme, aqui ele parece que sofreu uma lavagem cerebral daquele robô K.E.V.I.N. que aparece em She-Hulk, porque foi visivelmente censurado pela Marvel/Disney e entrega uma das direções mais robóticas que eu já vi no subgênero de heróis, porque é isso, a impressão é que foi uma máquina que dirigiu e um macaco autista que escreveu. A primeira hora de exibição é nada, é zero, tem umas três cenas engraçadas e só, no geral é chato. Aí Kang entra em cena, o tom dá uma mudada e vem 25-30 minutos da aventura séria e divertida da antiga Marvel, para depois virar genérico de novo, aí ficar animador novamente, depois fica monótono, depois brabo, depois cringe, depois emocionante, depois fraco e covarde, é uma montanha russa enorme, tem subidas e muitas descidas, parece algo que foi feito às pressas, porque ele cai em certas convenções e artifícios narrativos preguiçosos, nossa, que decepção.

Mas o pior erro é como o filme foi vendido, porque eles vendem como se fosse o início da Saga do Multiverso, o filme que vai começar tudo de novo, que vai trazer o vilão brabo que vai ser a grande modinha pelos próximos anos, mas que acaba arregando no final por algum motivo que só iremos saber nas próximas produções, porque eu fui pesquisar e havia vazado um roteiro meses atrás em que tinha um final com maior conectividade, que fazia muito mais sentido e que seria mil vezes mais impactante, mas acabou que de última hora eles inventaram de tentar voltar a vibe antiga de Homem-Formiga e dá para saber exatamente que cenas foram alteradas, porque é só olhar o cabelo da galera, não se deram nem o trabalho de disfarçar correto. Com isso, acaba que a montagem é toda bugada, o editor ou trabalhava com sono ou com uma arma apontada na cabeça, porque tem umas cenas que não é possível, parece que ele editou batendo a pika no teclado, é todo corrido, desconexo, quase inassistível para mim. Os efeitos visuais também tem alguns horríveis, claramente mal renderizado, principalmente algumas criaturas do Reino Quântico que me lembraram o CGI da filmografia do Robert Rodriguez. Tem alguns que são bons como citei acima, mas esses são os de cenário, os de personagens que não sejam principais são péssimos.

Eu infelizmente tive uma decepção gigante com "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania", é até divertido, vi várias pessoas sorrindo quando terminou a sessão, mas particularmente eu me senti traído. Aqui foi meu estalo final de que a Marvel nunca mais vai ser a mesma, se a minha teoria de que este filme foi sacrificado para outros do futuro terem mais sentido estiver certa, mesmo assim é provável que não vá mais chegar onde chegou. É genérico, bobo, não é engraçado, não entretém, é chato em muitos momentos, tem alguns personagens insuportáveis, irritantes, outros muito bons, principalmente os destaques Paul Rudd e Jonathan Majors, tem uma boa direção de arte, uma boa trilha sonora, cenas pós-créditos interessantes para o futuro, mas de resto me assusta como a Marvel deixou algumas coisas passarem, como a Disney aprovou, sem brincadeira esse deve ter sido o pior epílogo da história da Marvel. Mas é só minha opinião, já vi que teve gente que se divertiu vendo, então assistam e desenvolvam sua própria experiência, espero que as suas sejam melhores que a minha.

Nota - 4,5/10

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