Crítica - John Wick 3: Parabellum (John Wick: Chapter 3 - Parabellum, 2019)
Um simples filme de ação que se torna uma experiência.
Cá estamos para falar sobre o tão amado terceiro capítulo da franquia John Wick. Após o primeiro filme que uma ação que conquista por sua história simples que se eleva para algo grande com suas belas cenas de ação e carisma de um grande elenco. O segundo temos uma expansão de universo enorme que nem sabíamos que era possível de fazer, trazendo maior exploração do conceito do Continental e a introdução da Alta Cúpula, novamente com uma porradaria belíssima de se ver. Mas agora, no terceiro, temos o ápice disso tudo, de worldbuilding, de ação, de construção de conceitos e temos mais um longa surpreendente que cativa novamente pelo casting, as lutas, os conceitos e a construção de mundo, que aqui é mais explorado, mais expandido e que deixa cada vez mais rico o que era a história simples de um homem buscando vingança pelo seu cachorro vira uma grande trama de gângster que fica cada vez melhor, é como se fosse uma série, uma novela, que a cada vez mais que a narrativa avança, fica melhor, mais tenso e mais legal de acompanhar, ficando arrepiante e emocionante.
Falando sobre o worldbuilding, temos a maior exploração do que é a Alta Cúpula, vemos que isso são basicamente iluminattis desse universo, uma grande organização que fica por trás de tudo nesse universo que é meio gângster e que a cada longa se expande mais, porque no primeiro era algo mega fechado que se passava só numa cidade e víamos ali acontecendo, depois no dois temos já exploração que há um Hotel Continental em Roma, que tem muita coisa por aí fora dos EUA e do núcleo russo e que tem algo rolando no mundo inteiro sendo controlado pela Alta Cúpula, aqui já temos mais noção do que é tudo isso, que essa tal organização é maior do que já parecia e isso é interessante porque é um negócio que põe medo no protagonista, você vê que o John Wick (Keanu Reeves) se sente ameaçado por aquilo e o mistério deixa ainda mais tenso, porque você não tem uma ideia completa do que é e parece bem mais legal desse jeito (pelo o que parece, vem spin-off deles por aí). A personificação dessa distribuição através de um juíz (Asia Kate Dillon), que é um conceito deixado em aberto porque essa juíza é só uma de muitos e essa performance fria, séria e poderosa da intérprete já dá uma noção do que é isso tudo, como é uma formação maniqueísta, que quer que todo mundo siga suas leis e que não está nem aí para o tanto de sangue que será derramado.
Outro conceito apresentado é Ruska Roma, uma máfia da Bielorrússia e descobrimos mais sobre o passado do protagonista, que ele trabalhava para esta organização (que é chefiada pela Anjelica Huston) e vemos um negócio parecido com aquele passado da Viúva Negra no Universo Marvel, esses jovens que vão parar nas mãos de gente perigosa e são treinados como atletas para aprenderem a lidar com a dor e os ferimentos e isso é bastante interessante, é um material muito bom para ser explorado, terá spin-off em breve com Ana de Armas intitulado "Ballerina" e confesso que tenho esperanças de ser um bom filme, porque é algo que pode ser muito maior do que parece (igual tudo que foi apresentado até agora) e que pode trazer algum resultado bem legal. Voltando à trama, começamos de onde o segundo capítulo termina, com o John sendo excomungado pela Alta Cúpula e já começa numa porradaria das boas, os primeiros vinte minutos são alucinantes, o John Wick com um cavalo no meio da cidade e eu gosto dessa extrapolação sem ser algo exagerado igual viraram outras franquias famosas, tem um quê de absurdo mas é um absurdo que é MUITO legal de assistir e que não se sustenta apenas nisso para os longas terem um funcionamento, é só uma cereja em um bolo bem doce.
Essas cenas de ação novamente conduzidas magistralmente por Chad Stahelski, que entrega um espetáculo, lotado de cenas bonitas visualmente e artisticamente, adrenalina, cenas arrepiantes e um desenvolvimento surpreendente. Esse para mim é o filme da franquia com a melhor história, melhor construção e melhores diálogos, é o mais bem feito no geral, se é o melhor como um todo acho que fica pau a pau com o primeiro, mas com certeza é o mais maneiro. Nas cenas de ação tem de novo o uso de artes marciais e sei que vai parecer repetitivo, mas o uso dessas práticas na pancadaria é o diferencial para Hollywood, não só por utilizar, mas por reinventar a cada novo capítulo, nesse mesmo utilizam muito mais de luta com facas e de uma espécie de jiu-jitsu do que nos outros que envolvia muito karatê e hapkido, aqui são coreografias mais complexas e excepcionalmente bem executadas, tem cenas que são inacreditáveis. Outra coisa muito legal é que o John Wick sendo retratado como o cara mais velho retornando da aposentadoria, ele é retratado como o picudo, mas ele apanha e muito, isso dá uma sensação de humanidade maior para a história, ele não é um super-humano igual um Liam Neeson ou Vin Diesel, ele é um cara normal, que é o melhor assassino do mundo, mas ele também leva a porrada e esse é um detalhe tão pequeno, mas tão legal, que eu achei preciso dar o destaque.
Outro destaque é o elenco, que cresce a cada filme e fica cada vez melhor. Além do Keanu Reeves, do Ian McShane, do Lance Reddick e do Laurence Fishburne que já estavam nos filmes anteriores, temos as adições de Anjelica Huston como a antiga chefe do John Wick, que aparece pouco mas deixa uma abertura muito interessante para os spin-offs e para explorarem mais o passado do protagonista no próximo capítulo; tem a Halle Berry, que rouba a cena, ela merecia um spin-off da Sofia, porque aparece por questão de 15-20 minutos, mas ela tem uma presença impressionante e uma personalidade bastante carismática, a interação entre ela e o John é preciosa e a relação com os cachorros é bem interessante; tem Asia Kate Dillon como representante da Alta Cúpula e dá um gostinho do que vai ser essa organização nos próximos filmes e os ordenados dela, o Mark Dacascos (artista marcial de verdade inclusive) fazendo um ninja, que bate de frente com o John Wick e o único que machucou o John Wick de verdade até agora, e funciona bem essa dualidade, principalmente com ele sendo um fã do personagem-título e deixa até uma relação engraçada. O próprio John Wick tem uma retratação legal, uma jornada interessante, dele fugindo da Alta Cúpula, tendo uma jornada de descobrir mais sobre isso, encontrando um homem acima da organização e o gancho no final também é bem interessante. O Winston também tem um desenvolvimento instigante, que aumenta importância do personagem e deixa o espectador com um mixed fellings sobre ele, porque ele é o típico chefão legal, ao mesmo tempo que é um desgraçado, além da química dele com o Charon que é certeira e uma dupla bem funcional.
Parte técnica deslumbrante. Eu lembro lá de 2019 (o melhor ano que eu vivi do cinema, muitas saudades) que esse filme foi indicado para muitas premiações da crítica e de sindicato justamente em categorias visuais e artísticas, especialmente design de produção, som e fotografia, os três principais destaques. Cara, a única palavra que eu tenho para descrever a direção de arte desse filme é chocante, porque é lindíssimo, principalmente o interno do continental, a sala de vidro, que é um negócio mindblowing de tão perfeito que é, misturado com a fotografia que é toda neon e puxa as vezes para muitos tons de azul e roxo, deixando o verde de lado dessa vez, funciona perfeitamente e cria essa estética neo-noir bastante agradável e também uma identidade própria para cada local, seja o Continental de Nova York, o de Casablanca, a parte do Marrocos como um todo, o deserto, cada local muito bem executado. A parte sonora também é incrível, a mistura do som dos tiros com a trilha sonora é um feito de mestre que se fosse feito um pouquinho errado já ferrava tudo e é algo muito difícil de se fazer apesar de não parecer, além de nas lutas você sentir o impacto dos golpes, muito por mérito disso.
Em "John Wick 3: Parabellum" temos um grande thriller de ação que surpreende pelo capricho, pela ação, pela porradaria, pelo carisma e pela beleza. Um filme de ação comum que conquistava pela simplicidade, de ser negócio de tiro e máfia, virou realmente uma experiência de filme de gângster, de pancadaria, com uma das melhores cenas de luta da história de Hollywood sem nenhum exagero. É algo bonito de assistir, tanto pelo visual quanto pela precisão na história e na técnica, design de produção impressionante, fotografia lindíssima que acerta o tom neo-noir do longa e um trabalho sonoro maravilhoso. É uma franquia que cresce cada vez mais e mais, seja por sua inesperada e inacreditável construção de mundo que fica maior a cada capítulo e pretende melhorar ainda mais com os capítulos e spin-offs vindouros.
Nota - 9,0/10