Crítica - Creed II (2018)

Maduro, porém gorduroso.

Após o sucesso de "Creed - Nascido Para Lutar" (2015) era óbvio que a história de Adonis Creed (Michael B. Jordan) não estava terminada, ainda mais sendo parte de uma franquia tão aclamada e bem sucedida. Aqui, o foco sai da relação de Donnie e Rocky (Sylvester Stallone) para focar mais no personagem-título, seus medos, suas relações, suas motivações e a chegada de um velho e inédito inimigo. O universo de Rocky mesmo sendo bem fechado no personagem, consegue ser recheado dentro de suas proporções, tivemos várias sequências e nelas alguns personagens icônicos surgiram, um deles é Ivan Drago (Dolph Lundgren), o vilão de "Rocky IV" (1985), cujo matou Apollo Creed, o pai do nosso novo protaganista. Como disse no texto anterior, o cinema evoluiu daquela época para cá, uma das questões que amadureceu mais foram os vilões, porque antigamente eram só caras maus que geralmente eram russos e extremamente caricatos (como no caso do Drago mesmo), então aqui há uma oportunidade de pegar alguém que foi raso lá no original que ele aparece e tentar transformar em algo a mais, dessa vez trabalhando por um ponto de vista de alguém que não era nem nascido quando a fatídica luta aconteceu.

Substituição: sai Ryan Coogler, entra Steven Caple Jr., que basicamente é um estreante, só tinha feito um filme bem menos famoso antes, e o que Caple tenta fazer é o que acaba deixando aquém do primeiro, pois ele tenta emular tanto o Stallone lá com os antigos Rocky (2, 3, 4 e 6) e também o Coogler no antecessor, com isso acaba que fica mais robótico do que deveria em alguns momentos e também surge uma certa gordura. O diretor vai muito bem nas cenas que envolvem o boxe, como as lutas em si e os treinos, ele cria uma empolgação ao vermos o Adonis no ringue, na academia, no deserto, mas o drama dele decai bastante em comparação ao que vimos no último, porque aqui tem sim um lado interessante, Donnie e Bianca (Tessa Thompson) terão uma filha e tem a chance dela ser surda, mas é tudo trabalhado de maneira tão preguiçosa que a preguiça se transfere ao espectador. Até o arco do Rocky, que é completamente abandonado, tinha algo interessante ali, mas acaba por ser só uma cena no meio e outra no final que conclui sua jornada. Se tivesse um pouco mais de mão pesada ali, melhoraria muito.

Mas acho que tem um acerto bom no arco do Adonis em relação à carreira, porque primeiro traz o Drago, que mesmo que esse Creed não conheça pessoalmente, o Ivan foi alguém que impactou bastante na vida dele (literalmente tirou o pai dele) e há o filho, o Viktor Drago (Florian "Big Nasty" Munteanu), que é um antagonista bem trabalhado. Os Dragos são bastante desenvolvidos, tem toda a questão de que a Rússia se virou contra ele após a derrota contra o Rocky e isso foi descontado de todas as formas nele, a esposa abandonou ele com o moleque e a gente vê um vilão nessa situação que deixa até meio triste mesmo ele sendo um assassino. Hoje em dia percebemos que o Drago na verdade sempre foi uma vítima da União Soviética e que ele era praticamente um robô antigamente, agora a gente vê esse lado mais humano, a presença do filho e a relação com ele ajudam a se simpatizar um pouco com isso, o Drago ganha a humanidade que lhe faltava, ele ganha emoções, importância e tudo mais. O Dolph Lundgren e o Florian Munteanu mandam bem nos papéis e isso ajuda bastante, principalmente o Lundgren, que entrega um personagem mais sensibilizado, com um arco próprio bem feito e a cena dele jogando a toalha é a conclusão perfeita para sua história, a ironia/metáfora foi maravilhosamente usada. Quanto ao Munteanu, ele consegue passar uma imponência impressionante, ele traz um ar antagônico que era o principal problema do anterior, ele traz uma presença e uma ameaça verdadeira ao nosso protagonista, a expressão dele realmente põe medo, ele vai bem de verdade.

Voltando ao Creed, como disse, gosto de como é explorado o medo dele em relação à carreira, pois ele perde a primeira luta e sente que todo o futuro dele está ameaçado, a tensão construída é boa, é realmente interessante acompanhar e acho que o que faz funcionar é isso, porque o drama pessoal acaba sendo um calcanhar de Aquiles em várias oportunidades, acho que poderia ter muito mais foco nessa parte do esporte, da carreira, do que o lado família, pessoal, tudo bem que esse último está enraizado na franquia desde sempre, porém não é por isso que precisa se forçar nesse padrão não tendo tanto conteúdo para sustentar. Onde mais a direção do Caple Jr. se destaca são justamente nas cenas de luta, porque a coreografia e a edição são excelentes e conseguem compactar o impacto, a violência e o peso dramático em si da luta em um combo espetacular que arrepia, emociona e nos faz vibrar. A primeira luta que mais rápida e apressada propositalmente já é incrível, mas a final é um nível acima, que empolga pela ação, edição, som e pela trilha, que usa os clássicos temas do Rocky para arrepiar e cai como uma luva nos momentos utilizados.

O Michael B. Jordan entrega novamente uma bela atuação, facilmente a melhor coisa do filme, porque ele consegue passar para o espectador essa dor, esse medo dele em relação tanto ao lado pessoal quanto profissional, ele se sai muito bem no drama, ele é bastante convincente nas cenas de ação, ele passa realmente o impacto dos golpes dados e sofridos por um lutador e a cena que ele mais se destaca é a que ele tá no hospital, onde ele fica praticamente imóvel e mesmo assim consegue passar tudo que o personagem tá sentindo naquele momento, especialmente quando aparece o Rocky ali. Falando no Rocky, apesar dele ter ficado um pouco mais de escanteio, o Stallone de novo traz uma boa performance, provavelmente na sua despedida do papel, porque agora o drama dele é outro, o Adonis foi embora, ele tem que lidar com o retorno à solidão e tentar enfrentar os demônios do passado que o impedem de ligar para o filho, esse arco do Rocky apesar de mais curto e menos importante, ainda funciona, até porque ele é um dos melhores personagens da história do cinema e nós nos despedimos dele com um encerramento de arco satisfatório e bonitinho para quem é fã.

Apesar de ficar aquém em algumas questões, "Creed II" ainda consegue empolgar, emocionar e fazer arrepiar com belas cenas de luta, grandes montagens de treino, um espírito de Rocky presente de forma gigantesca e com um desenvolvimento incrível focado na relação do protagonista com sua carreira, assim como a dos antagonitas, que acabam dando certo por trazer um lado que nunca foi imaginado de um vilão tão clássico e caricato. Peca em algumas questões, falta peso, falta originalidade em certos pontos, mas não deixa de ser arrepiante, emocionante e inspirador, assim como um bom filme dessa franquia deve ser.

Nota - 7,5/10

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