Crítica - John Wick: Um Novo Dia Para Matar (John Wick: Chapter 2, 2017)
Uma excelente e inusitada expansão de universo.
Após o moderado sucesso de "John Wick - De Volta ao Jogo" (2014), uma continuação não era esperada, mas chegou e é, no mínimo, surpreendente. O primeiro filme era uma pancadaria sincera, uma história bem simples e cenas de ação maravilhosas. Aqui se repete, porém, de uma forma mais incrível de como é extraído um leite de pedra, pois uma história simples de um homem querendo vingar seu cachorro se transforma em um universo cinematográfico que nem sabíamos que era possível. Eu gostaria de fazer meio que uma declaração, porque geralmente esses filmes de tiro, explosão e tal, são taxados de genéricos e ridículos, mas Chad Stahelski e Keanu Reeves conseguiram mudar essa visão ao trazer cenas de ação que realmente são lutas, são artes marciais, trazer uma história bem comum, mas bem esculpida, bem trabalhada, trazer coadjuvantes interessantes e de quebra no final deixa um gancho que já deixa ansioso para o vindouro terceiro capítulo, depois dessa franquia, Hollywood mudou a forma de fazer e assistir essas histórias de porradaria, vários filmes que surgiram depois que são tão bons quanto e, apesar de já existir obras nesse estilo em países como a Coreia do Sul, a China e outros, sempre foi subjugado por ser inferior na teoria, porque para Hollywood filme de ação bom sempre era anexado na teoria, sempre tinha um lado puxando para a fantasia, ou sci-fi, ou guerra/forças armadas, ou faroeste, ou espionagem, porém nunca algo puro do gênero, acho que o único mais aclamado era "Busca Implacável" (2008), mas ele não é tanto assim. Então, John Wick realmente é um game changer em Hollywood e por causa dele surgiram vários outros filmaços.
Só que John Wick é especial, porque eles pegam a história mais normal, mais simples do mundo, que fala sobre assuntos clichês, que são a vingança, o luto, a raiva e outros, que não traz uma grande mensagem emocional nem nada, pegaram a ideia mega normal, de máfia, de buscar retaliação e saíram, fizeram uma baita expansão de universo, é algo muito maior que aparentava ser, e com isso, evolui tudo na franquia, traz uma profundidade maior para o personagem-título, que traz mais loucuras exageradamente boas, traz uma aura de ação poucas vezes vista anteriormente. Começa de onde o primeiro termina, com o John Wick (Keanu Reeves) finalizando o trabalho com a família Tarasov e recuperando seu carro, logo depois descobrimos que Wick na verdade é alguém muito mais importante e muito mais pica do que já aparentava ser (e ele já aparentava ser muito), então, há toda uma jornada de descobrir mais sobre o John Wick, seu passado, sua relação com a esposa, seus antigos atos e até rivalidades, é um negócio bem explorado que é um auxílio gigantesco para grandes set pieces de ação, que chocam pela violência, técnicas de artes marciais e técnica cinematográfica em si, que passam muito rápido, é uma experiência bastante imersiva e memorável.
O Chad Stahelski de novo traz sua experiência com ação e artes marciais para criar mais uma outra experiência maravilhosa de ação, algo que faz o espectador vibrar. Há um negócio muito hapkido nisso aqui, que para quem não conhece, é uma arte marcial que te ensina a pegar literalmente qualquer coisa e matar alguém com isso, é basicamente o que o John Wick faz, ele consegue fazer gente ir de comes e bebes com um objeto dos mais aleatórios, como a famigerada cena que ele mata dois caras usando simplesmente um lápis, ou seja, além de já ter todo o carisma e senso bad-ass natural do Keanu Reeves, ainda adicionam mais disso, com mais atitudes sensacionais que deixam você pensando como "esse cara é fod4". Voltando a falar da ação em si, é de explodir cabeças como é bem feito, bem coreografado, como você vê que é muito técnico e essa técnica das lutas é natural, eu sou praticamente de artes marciais, de taekwondo mais especificamente e eu trabalho com isso, e cara, os movimentos dos chutes tem a técnica e a movimentação correta que se usa em uma luta, o uso de técnicas de mão usando armas brancas ou de fogo são tão acurados que é assustador. O coreógrafo de lutas e o coordenador de dublês mereciam um aumento, porque é tão real, tão preciso, que são as melhores cenas de ação (em questão porradaria) que tiveram em Hollywood, tem as cenas do metrô, a cena da boate em Roma, cara, é tudo muito bem coreografado, bem gravado, bem editado, é perfeito.
Sobre a exploração de universo, ele cria várias organizações e conceitos mega interessantes, que surpreendem pela originalidade e desenvolvimento, isso ainda viria a ter mais expansão no terceiro, que vai ser mais expandido no quarto, no quinto e nos spin-offs. Ele traz um conceito de Promissória envolvendo o John Wick e o vilão, o senhor do crime italiano, Santino D'antonio (Riccardo Scamarcio), que dá mais background para o protagonista, deixa ele mais humano pela motivação - tem também maior exploração do Submundo do Crime, e essa Promissória sendo envolvida, já que ela não pode ser quebrada de jeito nenhum. Tem a questão da Alta Cúpula, uma espécie de Iluminatti da máfia. Há o maior desenvolvimento do Continental, do que é isso no geral e como é bem mais gigantesco do que se parecia ser. Tem também rivalidades, o Cassian (Common), que é basicamente o John Wick careca e eles tem uma rivalidade interna em um plano secundário da narrativa, que é bem construída, a tensão entre os dois, as lutas, é bem legal essa tensão realmente violenta entre o Keanu Reeves e o Common. Também tem a reunião de Matrix, tem o Laurence Fishburne aparecendo em uma cena e ele doidasso interagindo com o Keanu Reeves no modo sério, é realmente bem bem divertido.
O próprio John Wick é um personagem que evoluiu muito, que ganha mais passado, mais desenvolvimento e mais evolução. Mostra mais do passado do personagem, mais da relação dele com a finada esposa e como ele era real e perdidamente apaixonado pela sua esposa, a Helen (Bridget Moynahan), tem uma questão dele ser meio depressiva e tem novamente essa coisa que eu falei no texto anterior, dele ser um forasteiro, ser baseado naqueles heróis frios e clássicos do cinema, tipo Clint Eastwood, Paul Newman, Gary Cooper, Marlon Brando e vários outros, o cara que é caladão, mas chega e resolve. Eu gosto muito disso, dele ser mais quieto, porque dá uma sensação maior de como o cara é realmente bad-ass, ele ser misterioso é o que faz o público adorá-lo, nós temos esse instinto natural de se acompanhar por alguém que vimos sofrer, porque ele não apanha de nenhum adversário, mas já apanhou várias vezes da vida, ele traz muito da vida real mesmo, o Keanu Reeves teve momentos muito sofridos na vida e ele transpassa na atuação essa dor interior porque ele sabe o que é que o personagem passa e ele manda bem nisso.
Eu só não curto muito o vilão, o Santino D'antonio, ele é muito irritante e só serve para encher o saco, não só o personagem é meio fútil e contraditório, como o ator é bem fraco e não passa nenhuma emoção, nenhuma ameaça, é broxante, que quando comparado aos Tarasov no filme anterior, chega a ser humilhante, até porque esse aqui principalmente não tem nenhuma imponência sobre o John Wick. O que eu curto muito é a técnica, a parte sonora, a trilha, o design de som é perfeito, os tiros, nas lutas você sente o impacto de cada chute, cada golpe com o braço, cada bloqueio, é algo que te põe na imersão e pela precisão dos caras em fazer caprichado deixa ainda melhor. Outras coisas excelentes são a direção de arte, que cria vários cenários com identidade única, os hotéis do Continental, as baladas, o metrô e, principalmente, a sala de espelhos, que é um dos sets mais incríveis que eu já vi e que foi repetido mil vezes depois, tem essa referência em várias oitras obras, até em uma cena de "Stranger Things" que copia até o enquadramento. A fotografia no mesmo nível, enquanto no original era mais focado num estilo verde para alguma representação mais noir, aqui há uma saturação maior nas cores, mas é mais usado um tom marrom, bege, que vai alternando ao longo do filme, porque os cenários são sempre construídos visualmente nessa paleta com variações de marrom.
Uma continuação surpreendente, "John Wick: Um Novo Dia Para Matar" é outro belíssimo entretenimento, porque tem porrada, tem ação, tem tiro, tem explosão, mulher seminua, trilha sonora braba, Keanu Reeves, Laurence Fishburne, cena engraçada, drama, tudo que precisa para um filme desse estilo funcionar bem. Além de haver uma construção e ampliação de universo que nem era possível imaginar que existia tudo isso, o que muda o patamar da franquia e depois é aumentado novamente na próxima sequência. Tem as cenas de ação mais críveis de Hollywood, lutas que realmente artes marciais estão presentes, cenas bad-ass e um desenvolvimento de personagem maravilhoso que conquista pela simplicidade e pela empatia tanto pelo protagonista quanto pelo ator principal. É um negócio de maluco, essa franquia é maravilhosa. Eu prefiro o primeiro porque acho o elenco mais carismático e o vilão mais ameaçador, mas esse é tão bom quanto, sensacional.
Nota - 8,5/10