Crítica - Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves, 2023)
Uma adaptação acessível e extremamente divertida.
Há muito tempo existem tentativas de trazer o famigerado RPG de mesa "Dungeons & Dragons" para o audiovisual. Existiu uma trilogia nos anos 2000, com o primeiro, intitulado "Dungeons & Dragons - A Aventura Começa" (2000), tendo em seu elenco Jeremy Irons e sendo um completo fracasso em todos os sentidos, fazendo com que suas sequências fossem direto para DVD. Apesar da influência e de ser um jogo gigantesco, nunca tinha conseguido uma adaptação propriamente dita com um grande sucesso para os cinemas, teve o desenho "Caverna do Dragão", que é um clássico lembrado até hoje, e também acabou por ter elementos adaptados em "Stranger Things", já que alguns vilões da série são personagens originais do game. Mas, o dia em que D&D ganhou uma boa adaptação para a telona chegou e me surpreendeu positivamente, eu esperava algo legal e foi, é um tipo de filme que eu estava sentindo falta ultimamente e que traz uma sensação boa quando acaba, é delicioso de assistir.
Particularmente eu nunca joguei D&D, mas sei algumas coisas do lore, sei como funciona uma partida (anos de experiência assistindo "The Big Bang Theory"), as campanhas e tal, isso é moleza de saber, tenho curiosidade de jogar também. Para quem não sabe, o jogo consiste em, basicamente, ser uma diversão com amigos, tem um que é o Dungeon Master, que é basicamente o narrador das partidas e ele é o cara que cria a história, que pode inventar o que ele quiser, ser o organizador das longas campanhas. Depois cada um dos jogadores cria seu próprio personagem baseado em um conceito medieval dessas histórias que lemos desde sempre, como um aventureiro, guerreiro, bárbaro, mago, anão, bardo, druida, trapaceiro ou qualquer outro. Então dá para perceber que é algo que depende muito de criatividade e feito 100% para a galera se divertir, então a missão era fazer um filme divertido e cumpre essa proposta perfeitamente, porque é bem feito e tem aquele valor de revisita muito grande. É perfeito para assistir muitas vezes e se sentir entretido em todas elas, me surpreendeu de verdade.
No longa, acompanhamos Edgin (Chris Pine), um bardo viúvo e sua melhor amiga, Holga (Michelle Rodriguez), uma bárbara que foi expulsa de sua tribo para ficar com o homem que amava, que foram presos por conta de uma emboscada armada por Forge (Hugh Grant) com auxílio da feiticeira Sofina (Daisy Head). Com isso, Edgin e Holga juntam Simon (Justice Smith), um mago de meia-tigela, e Doric (Sophia Lillis), uma druída tiefling (espécie original do jogo) que é extremamente poderosa. Você tem esses personagens excêntricos naturalmente, que são carismáticos por suas características e backgrounds, e os coloca em uma trama simples que funciona demais pela sua boa adaptação e acessibilidade. Acho uma história muito boa, que utiliza de clichês e coincidências narrativas de uma forma muito inteligente e justificável, porque é um jogo comandado por um cara que pode inventar o que ele quiser e aqui tem umas coisas que em qualquer outro filme seria horrível, mas aqui cabe pela adaptação que quer fazer de uma partida de RPG. Me espanta pela acessibilidade, quem nunca jogou nada de D&D, que nem eu, vai entender perfeitamente sem nem ter dúvidas, você entende a essência, a história, as espécies, o lore apresentado, ficou muito bom.
Eu gosto muito do tom dado a trama, o tom de aventura, de equipe de pessoas com habilidades especiais, a aventura situada na época medieval, tudo misturado com uma comédia maravilhosa. A direção é da dupla Jonathan Goldstein e John Francis Daley, responsáveis pelo "A Noite do Jogo" (2018) e uma pancada de créditos em comédias como diretores e roteiristas, que, tirando a comédia, não tem nada a ver, então é uma aventura até para os realizadores em trazer algo com muito mais ação, com um lado meio "Senhor dos Anéis", "As Crônicas de Nárnia", em uma versão mais cômica, mas ainda é tão fantástico quanto, você se fascina por alguns conceitos apresentados pelo o quão legal eles são, sejam clãs, tribos, seja o estilo do personagem, de onde ele vem, suas habilidades, suas próprias jornadas, é tudo muito bacana, você fica besta ali assistindo. Entretanto, acho que o único problema vem justamente da direção, que é uma pequena gordura em algumas cenas, que se estendem um pouco, tem uma parte que é com o Regé-Jean Page fazendo um personagem de sidequest que é legal, mas que dá um soninho ali mais para o fim, porque dá uma estendida ali meio chatinha.
Em questão de produção técnica, acho que é uma das mais impressionantes que eu vi recentemente, principalmente figurino, maquiagem, cabelo, design de produção e cenografia, que acho que é a mais incrível de um blockbuster, acho que é a melhor desde "Pantera Negra" (2018), porque é uma construção absurda. Você olha os figurinos, cada um bem detalhado, que contam a história dos personagens através daquilo, pelos detalhes (ou falta deles, dependendo dos personagens), a forma como é construído e traz a sensação do RPG. Os cenários, majoritariamente reais, me deram uma saudade da Hollywood de alguns anos atrás, onde se importavam em fazer boas construções de locais, algo inventivo, crível, faz tempo que uma fantasia não era tão bem feita nesse quesito, os vilarejos, reinos, o cemitério, as cavernas e outros, é tudo um espetáculo técnico e visual. Os efeitos são um respiro em meio a tal "crise do CGI", já que a grande maioria são efeitos bem trabalhados, uma mistura da computação com o prático, é bem feito, só tem um que eu achei estranho, o resto são todos muito bons.
Outro grande trufo é o elenco, que é encantador. O Chris Pine é muito bom, ele funciona como esse herói de ação que não é um cara heroico, ele é meio medroso, incapaz, engraçado e ele tem seus objetivos bem definidos, mas ele tem uma carga dramática que ele entrega o necessário para a funcionalidade do personagem e da trama, a relação com a filha dele e com a Holga é muito bem construída. Falando nela, a Michelle Rodriguez, é bem legal, carismática, ela tem um arco interessante envolvendo seu passado, seu relacionamento amoroso com um anão, é bem legal, principalmente na ação que a atriz entrega demais fisicamente e na execução das lutas, ela é uma guerreira bravíssima. O Justice Smith é bem legal, apesar de ser o mesmo papel de jovem bobão, virgem e de zero autoestima que ele sempre faz, mas se ele continua nesse arquétipo, é porque ninguém funciona como ele e é bem bacana, engraçado, ele tem um arco bem legal também de autodescoberta. A Sophia Lillis é a mais diferente dentre eles, é uma espécie meio exótica, ela é extremamente poderosa, só que a forma na qual usam os seus poderes não é exagerada e nem overpower, e ela é muito legal também, ela é encantadora, ela tem um quê ali que conquista o espectador.
No final, "Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes" tem um probleminha ou outro, tem uma barriguinha ali no meio, tem um pós-créditos totalmente desnecessário, mas conquista pelo carisma, pela simplicidade, a acessibilidade e pela adaptação incrível que faz. Consegue adaptar perfeitamente a essência de D&D, de como é vendido, a diversão fantasiosa e legal entre amigos que te deixa feliz por algumas horas e é isso, é desse tipo de filme que estamos precisando nos cinemas atualmente, longas que tenham coração, que sejam essencialmente engraçados, divertidos, uma aventura descontraída que você adora o tempo enquanto assiste. Um elenco carismático, uma produção técnica impressionante, uma direção incrível, ação e comédia perfeitamente equilibradas. É um que eu recomendo para todo mundo assistir, foi muito legal assistir no cinema totalmente descontraído, com certeza irei rever várias vezes no futuro.
Nota - 8,0/10