Crítica - Ghosted: Sem Resposta (Ghosted, 2023)
Até as pessoas ricas e bonitas precisam pagar boletos.
Às vezes é bom o surgimento de alguma comédia que venha para descontrair o público, ser um entretenimento divertido, engraçado e que de praxe tenha algum ator famoso para chamar a atenção e esse filme aqui com certeza não é esse tipo, porque sua proposta é ser algo bacana, no entanto, acaba se perdendo e se tornando totalmente genérico e maçante ao longo de sua exibição. Aqui há uma comédia romântica de ação, um gênero que geralmente dá errado, mas que tem bons frutos, como o maravilhoso "Sr. e Sra. Smith" (2005), e aqui havia a chance de ser outra exceção à regra, vindo de um diretor elogiado e dois atores extremamente famosos e renomados da atualidade. Entretanto, parece que foi uma inteligência artificial que criou este longa, o que se torna mais uma história que você já viu um milhão de vezes sendo contada novamente da forma mais batida possível e fica a impressão de que foi mais feito para a galera que participou pagar uns boletos do que pela qualidade fílmica em si.
No filme, acompanhamos Cole (Chris Evans), um fazendeiro aficionado por plantas e meio esquisito, que se apaixona por Sadie (Ana de Armas), que parece apenas ser uma mulher comum com um emprego de consultora de arte, até que em uma viagem em busca dela, ele descobre que sua desejada é uma agente secreta da CIA e os dois se envolvem em altas confusões juntos. Por essa sinopse de Sessão da Tarde já dá para esperar o que assistir, uma trama totalmente genérica que só se vende por cenas de ação vazias e pifiamente coreografadas em um dos longas mais esquecíveis que você verá na sua vida. Basicamente isso aqui me lembra aqueles longas-metragens do Supercine em que uma loira gostosa é sequestrada e aí surge algum herói brabo para salvá-la tipo o Tom Cruise, ou o Antonio Banderas, ou até o Liam Neeson, mas nesse caso a única originalidade vem de trocar os gêneros e colocar o homem sendo o loiro sequestrado e a mulher sendo a heroína bad-ass que vai salvá-lo e envolve-lo na confusão. Não tenta inovar em nada, e não ser inovador não é um problema propriamente dito, mas a forma na qual tudo é trabalhado ser mal feito, genérico e monótono acaba sendo seu grande defeito.
A direção é do Dexter Fletcher, diretor do elogiadíssimo "Rocketman" (2019), além de ser o homem que pode ter estragado "Bohemian Rhapsody" (2018). Ele tem algum talento para comédia, seu longa "Eddie, a Águia" (2015) é uma comédia relativamente adorada por quem viu, mas aqui parece que ele foi dominado por algum tipo de inteligência artificial, parece que foi controlado pelo escaravelho do Besouro Azul, porque é robótico ao extremo, é incrível como o longa te passa absolutamente nada, zero sentimento, zero carisma, zero coração, zero emoção, é apenas um showzinho visual para mostrar pessoas bonitas dando tiro e se vestindo bem. O que me deixou mais triste é notar como ninguém se importa, nem o diretor, nem quem escreveu, nem os atores principais, quem parece mais se importar são os intérpretes que fazem cameos, eles são os únicos que estão visivelmente se divertindo: Anthony Mackie, John Cho, Sebastian Stan e Ryan Reynolds. Participações pequenas que não influenciam em absolutamente nada na trama, mas que são as únicas coisas genuinamente engraçadas e legais que eu vi aqui. A do Ryan Reynolds completamente do nada é muito esquisita, mas é aceitável e ele tem a melhor linha de diálogo (que pelo menos é engraçada de tão bizarro, aposto que ele mesmo que improvisou) e a cena com os outros três é muito bacana, apesar de ser apenas isso, cameos.
Quanto aos próprios atores, dá até pena. Eu adoro a Ana de Armas, acho-a uma tremenda atriz que vem crescendo muito em fama, em papéis, em nível, foi indicada ao Oscar agora pouco (contestável, mas ok) e ver ela se submetendo a isso me deu uma tristeza. Primeiro que eu achei um tremendo erro de casting mesmo, o papel não combinou com ela, ela não tem uma aparência nem certa bagagem no gênero para ser colocada como uma grande heroína de ação, ela começou a ter participação mais ativa recentemente, porém em papéis secundários. Mas, principalmente, a achei nova demais para esse tipo de papel, mais no quesito aparência. já que ela tem 34 anos, mas o rosto é da faixa de 25-29. Acho que precisaria ser alguém uns quatro, cinco ou seis anos mais velha, ou que pelo menos aparentasse. Originalmente seria a Scarlett Johansson no papel, uma escolha que viria redonda, mas se pegasse alguém na mesma vibe já daria certo, como uma Michelle Rodriguez ou até a Halle Berry indo um pouco mais além. O Chris Evans até tenta, ele visivelmente está se esforçando, mas na lei de esforço mínimo, já que ele não precisa forçar muito para ser carismático, ele é um cara genuinamente bacana em Hollywood, geral gosta dele e aqui ele faz ele mesmo em tudo: timing cômico, piadocas, histórias estranhas, personalidade, vestimenta, tudo. O cara fez basicamente ele mesmo, dá até certo, mas é de fácil esquecimento.
Enfim, mais um longa esquecível daqueles que só o otário aqui assiste, "Ghosted: Sem Resposta" é genérico, superficial e robótico em todos os quesitos: direção extremamente monótona e cansativa, roteiro genérico que aparenta ter sido feito na colaboração incrível de uma inteligência artificial com uma adolescente fanfiqueira, cenas de ação razoáveis porém mais do mesmo, trilha sonora cringe que tenta ser moderna e "cool" demais, edição bisonha em alguns momentos, atuações preguiçosas, vilão broxa. É um combo de tudo genérico que pode acontecer, o que é uma tristeza já que eu conseguia enxergar algum potencial, mas ele é subaproveitado. Só presta por algumas piadas, algumas cenas ali, os cameos e ver a Ana de Armas sendo naturalmente bonita. De resto, descartável.
Nota - 3,0/10