Crítica - Super Mario Bros. O Filme (The Super Mario Bros. Movie, 2023)

Sim, aquele mesmo.

Geralmente eu gosto de fazer uma introdução do filme que eu analiso, falo o background, história, as vezes curiosidades de produção, mas acho que dessa vez não é necessário, todos nós sabemos do que se trata, todo mundo sabe quem é o Mario (sim, esse aí mesmo), o encanador que sai por aí pisando na cabeça de tartaruga para salvar a princesa raptada do temido vilão. Até hoje o nome, a marca, são fortíssimos e sempre em alta, praticamente tem um jogo da franquia a cada dois anos, é algo que passa de uma geração para a outra e tem sua grande variedade de opções de entretenimento nos games: existe a franquia clássica Super Mario e depois os spin-offs, como Mario Maker, Mario Kart, Mario Party, Mario Strikers, Mario & Rabbits, Dr. Mario, Mario RPG, Baby Mario, Mario Golf, Mario & Sonic, Mario Tennis, Mario Baseball, Mario Sports Mix, Hotel Mario, e os jogos de outros personagens, como a franquia Donkey Kong, Yoshi's Island e Luigi's Mansion. Então é impossível não conhecer a franquia, pode até não ter jogado nada, mas é impossível escapar do conhecimento dos jogos e dos personagens, todos sabem quem são Mario, Luigi, Peach, Yoshi, Toad, Donkey Kong e Bowser, além das marcas registradas: o cogumelo, os potencializadores com o ponto de interrogação, os blocos, as moedas, os canos, os inimigos como Koopa, Goomba, Ludwig e Shy Guy. É algo que definitivamente esteve presente durante toda as nossas vidas.

Com isso, eu preciso explicar minha relação com a franquia, que vem realmente desde sempre comigo, eu sou muito fã, recentemente eu deixei um pouco de lado, não tive Wii U nem Nintendo Switch (o último Nintendo que eu joguei foi realmente o glorioso Wii), mas vi algumas gameplays de uns jogos, não cheguei a olhar praticamente nada do "Bowser's Fury", mas eu sempre gostei deles, não só gostava como era fascinado em tudo, eu tinha vários bonecos do Mario, do Luigi, do Yoshi e tal, vários brindes do McDonald's da franquia, eu e meu primo colecionamos uma série de brinquedos que vinham em pacotinhos surpresa, tínhamos até uma caixinha oficial para guardá-los (bons tempos). Eu era viciado no lore, em buscar aprender sempre mais, eu sabia a maior parte da história de cor (hoje sei mais ou menos), mas adoro praticamente tudo que envolva esse universo e esses personagens. Então eu tinha uma ansiedade para assistir, porque pô, é o Mario, não tem mais o que dizer, é algo tão gigantesco que marcou a vida de todo mundo, eu conheço pessoas tanto pessoas de meia-idade quanto crianças pequenas que são fãs, porque é isso, é simplesmente um fenômeno mundial poucas vezes visto, é como se fosse para os games o que o Michael Jackson é para música. Então, voltando ao raciocínio, era impossível não ficar empolgado e, na minha opinião, temos a melhor adaptação de games para o cinema até hoje, facilmente.

Primeiramente, é sempre bom lembrar que não é a primeira vez que a Nintendo investiu em um filme do Mario, tivemos o clássico da ruindade "Super Mario Bros: O Filme" (1993), que é horrível, não tem nada a ver com o lore dos jogos, tem a Daisy ao invés da Peach, o Yoshi tem um visual "realista", nossa, é tudo péssimo naquele, mas é engraçado por isso. A Nintendo se traumatizou com aquilo e ficou com receio de até hoje fazer alguma coisa para o cinema e quando decidiu lançar novamente não foi em live action, tamanho o medo. Mas o acerto de ser animação é o que cria algo tão mágico, incrível e marcante, uma adaptação realmente impressionante, que pode ser meio rasa em questão de diálogos, mas que é incrível em sua proposta em essência, porque você consegue sentir que todo mundo que participou verdadeiramente conhece os jogos, sabe a essência, soube o que era preciso para o longa funcionar e agradar seu público alvo: os fãs. Nesse quesito, é inegável que funcionou, o Miyamoto com certeza ficou orgulhoso. E tem uma crítica meio dividida, os críticos americanos não gostaram porque o roteiro é "simples" e "raso", mas amigos, vocês tão vendo a exploração de uma história de um encanador que salva a princesa raptada de um grande vilão animalesco, então a simplicidade é parte da essência da franquia, então essas reclamações não fazem o mínimo sentido, porque não é que é simples que é mal feito, porque do que adianta ser feito da melhor forma possível se não tiver nenhuma emoção? A emoção em um longa como esses é algo infinitamente mais importante que a lógica.

Apesar disso eu gosto da forma como as adaptações são feitas, como que eles trazem algumas coisas como as fases, as plataformas, o conceito multiversal e galático dos reinos, até o conceito de como trazer o Mario Kart para longa. É difícil adaptar um jogo de plataforma para o cinema, principalmente dessa franquia que você praticamente só pula, quebra bloco e desce pelo cano, então como eles resolvem essa questão? Eles usam a plataforma como um centro de treinamento do Reino dos Cogumelos. Isso é tão simples, mas tão bem adaptado e bem legal de ver no cinema. É a mesma coisa com os karts, que se justificam como o principal meio de transporte do reino dos Kongs e que podem ser produzidos por lá. Cara, é algo que é bem pensado, é executado de uma maneira bem legal de se acompanhar e ver como eles conseguem conectar uma coisa com a outra, foi tão simples, mas tão legal. Assim como foi ver a retratação de outros elementos do game, como as flores de fogo e gelo, o cogumelo vermelho de crescimento e o azul de diminuição, o Cat Mario, o Mario guaxinim do Super Mario World, até a forma com que ele bate em alguma coisa e perde esses poderes é legal e funciona de maneira cômica.

Acho o tom muito acertado também, é algo mais light, divertido, mas que tem o seu quê de grandioso, de um épico animado, afinal é um filme feito para agradar os fãs e essa vibe ganha força através de easter eggs, visual e trilha sonora. Geralmente eu reclamaria do excesso de fanservice, mas aqui funciona, é exagerado mas é para ser desse jeito, é para agradar o público que é fã e sabe de tudo que rolou na história do nosso herói, tanto na lore quanto questão de produção. Tem referência a tudo, referencia o primeiro jogo, o Donkey Kong antigo, referencia o live action ruim dos anos 90, referencia todo e qualquer jogo, desde o Super Mario World, o Galaxy, ou até mesmo Luigi's Mansion e Smash Bros. E é tudo tão bem colocado, é tão legal, o pessoal no cinema ia ao delírio (e detalhe, cinema cheio, mas com menos de dez crianças na sala, a prova de que Mario funciona para todas as gerações). É também notável um avanço gráfico bastante interessante, que consegue mesclar a fantasia cinematográfica da Ilumination com os visuais dos jogos em 3D que estão aí desde o Wii e o 3DS, e é bonitão, nossa, tem cenários excepcionais, principalmente a construção de cada reino e suas características próprias, seja o do Bowser que é todo constituído por uma paleta de cores laranja e preta que remete ao fogo, seja o dos Kongs remetendo aos jogos solos do DK, ou o Reino dos Cogumelos que é uma construção absurda e inacreditável visualmente, desde aquela ceninha divulgada no The Game Awards dava para notar isso, esse worldbuilding maravilhoso que é feito.

O destaque maior talvez realmente fique para a trilha sonora do Brian Tyler, que eu já elogiei esse cara recentemente por conta da sua trilha em "John Wick 4: Baba Yaga" (2023) e aqui ele consegue entregar algo ainda melhor, usando das referências clássicas dos temas dos jogos compostos pelo lendário Koji Kondo (que foi consultor dos temas para o longa também) e ele pega e eleva para um nível acima, ele dá o tom épico e aventureiro necessário para essa jornada, tem temas que são lindíssimos e bem destacados, como a cena dos nossos heróis saindo para a aventura, a montagem mostrando eles andando pelos reinos e a trilha incidental estralando, aquela cena da noite em meio às flores de fogo também tem um tema incrível. Também achei incrível a adaptação do tema da Rainbow Road, o tema clássico e um que eu não vou falar o que é porque é spoiler do final, mas que me fez lacrimejar de alegria. A trilha sonora selecionada (famigerado soundtrack) também é bastante agradável, se utilizando de músicas famosas para engrandecer alguns momentos, tem "No Sleep Till Brooklyn", do Beastie Boys, no início, que eu cantei junto enquanto passava, depois teve "Holding Out for a Hero", da Bonnie Tyler, que é um clássico do cinema por tocar em uns quinze filmes diferentes (inclusive tocou em "Shazam! Fúria dos Deuses" que lançou mês passado), teve "Take On Me", do A-ha, que dispensa apresentações, outra que também não precisa dizer qual que é, "Thunderstruck" do AC/DC na cena que estão fabricando os karts, que é outra que eu cantei junto mentalmente, porque é o AC/DC, meu nobre, é obrigação o sing-a-long.

Sobre os personagens, eu gostei bastante das retratações. O Mario (Chris Pratt) está muito bem, ele tem a sua jornada do herói, ele é ambicioso e tem um background bastante interessante envolvendo questões familiares, que são colocadas no longa como uma forma de aproximar mais os espectadores e isso cria uma certa identificação com o protagonista, porque os problemas que ele tem, o empreendedorismo dele é um fracasso, ele é bullyinado pela própria família e sempre é subjugado a um zé ninguém, e apesar de ser um drama bem comum, já ajuda mais a desenvolver algo que poderia ter sido tão raso. Também é notável o espírito aventureiro e de aprendiz, o desenvolvimento dele me lembrou o do Luke Skywalker em "Star Wars", de começar sendo chamado para a aventura, ir treinando e buscando mais sobre os seus desafios. Muita gente critica o casting do Chris Pratt para ser a voz do personagem, mas pô, é o Mario, poderia ser o Andy Samberg ou o Snoop Dogg interpretando que ficaria sensacional e gostaríamos dele. E há uma inversão de papéis entre os outros dois protagonistas: o Luigi (Charlie Day) e a Peach (Anya Taylor-Joy), onde todos sabemos que no jogo a princesa é sequestrada e o Mario Verde ajuda o vermelho, mas aqui eles trocam e eu acho que funciona, até porque hoje em dia essa questão de donzela em perigo é ultrapassada, e além do mais nem faria sentido o Mario ir salvá-la para começo de conversa, o fato de ser o Luigi deixa as motivações de seu irmão mais críveis. O verdão não dá para avaliar muito, eu gosto dele, ele é sensacional, mas aparece pouco na meiuca do longa, contudo quando ele dá as caras é muito bom e tem um carisma interessante. Já a princesa é bad-ass, porradeira, ela tem uma adaptação bastante legal, cheia de carisma e uma pose imponente, realmente de comandante, de líder, que é espetacularmente bem construída.

O Donkey Kong (Seth Rogen) tem uma participação bem bacana, maior do que eu esperava, ele faz bem um papel de ser aquele aminimigo do Mario, tem um arco bacana envolvendo o pai e seria maravilhoso reaproveitá-lo em um longa solo (que eu não duvido nada que já esteja sendo produzido, imagina que incrível um possível filme de Donkey Kong Country). O Toad (Keegan Michael-Key) é muito legal, é adorável e tem uma relação bem bacana tanto com o protagonista quanto com a princesa, ele tem um excelente timing cômico e referências bem legais (só faltou ele mandar um "se Deus quiser agora ela cala boca" e "todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer"). Mas o grande destaque é o Bowser (Jack Black), que é cômico, mas ao mesmo tempo sem perder o seu potencial ameaçador, porque ele é brabo, imponente, mas tem umas cenas muito engraçadas, comédia escrachada mesmo, o humor do Jack Black, que ganha até musiquinha (que merece estar no Oscar de canção original só para o Jack Black performar no palco), cara eu adorei o personagem, ele foi sensacional, porque é um equilíbrio tão bem feito de comédia e drama, o tom é muito acertado, parece que o papel dele foi escrito pelo próprio Jack, porque a essência é uma mistura do personagem nos games com a persona engraçada do ator, funciona muito bem.

Acho que tudo já foi dito sobre "Super Mario Bros. O Filme" e, apesar de sua fórmula padrão e suas soluções que podem soar rasas, é isso que a franquia sempre foi, a simplicidade é sua essência e além do mais, a emoção é infinitamente mais importante que a lógica nesse caso, porque emocionalmente, para um fã é sensacional ver tudo aquilo sendo adaptado e de uma forma agradável. Sinceramente eu não saia de um filme tão extasiado pela nostalgia desde "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", porque é isso, é a mesma vibe para quem é fã: uma história simples, mas com a adaptação de tudo que nós gostaríamos de ver sendo bem feito e emocionante, eu cheguei a chorar de verdade vendo aquilo sendo transpassado de forma tão bonita para o cinema. Nossa, é realmente incrível e apaixonante.

Nota - 9,0/10

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