Crítica - O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear, 2023)

A singela história do Ursinho Pó.

Filmes baseados em histórias reais inusitadas sempre fazem sucesso por algo tão absurdo e que parece fictício ter acontecido no nosso mundo, nisso tem vários exemplos, alguns são: "Prenda-Me Se For Capaz" (2002), de Steven Spielberg; "Cães de Guerra" (2016), do Todd Philips e "O Náufrago" (2000), de Robert Zemeckis. No entanto, nem um maluco ficando cinco anos conversando com uma bola de vôlei consegue superar um urso chapado. A história real ocorreu em 1985, quando o ex-oficial do narcotráfico, Andrew C. Thornton II, jogou de um avião mais de 40 pacotes de cocaína numa floresta de Lexington, Kentucky, já que estava sendo procurado pela posse dessas drogas. Até que um urso-negro encontrou a companhia favorita do Maradona e simplesmente comeu, o urso literalmente ingeriu 80kg de pura coca. Quanto a Andrew, ele tentou pular para não ser pego, mas deu problema no paraquedas, se espatifou no chão, não tankou e foi de hexa 2022. O fato importante é que o animal consumiu o pó de lua, mas ele também não tankou e acabou indo de Edson Arantes do falecimento. Só que, se o filme acabasse nisso, não teria a mínima graça, então qual foi a ideia? "Vamos deixar o urso chapado e transformá-lo em um serial killer", o que no papel é interessante, mas na prática... Nem a zoeira conseguiu salvar.

Vamos aos fatos: é óbvio que o longa não foi feito para ser levado a sério e é pura e simplesmente um experimento do subgênero do terrir do famoso pensamento "e se tivesse acontecido isso?", "e se tivesse acontecido aquilo?" e esse blá blá blá mental todo, mas acontece que não é por isso que precisa ser mal feito. Quem dirige é a Elizabeth Banks, a atriz e também diretora do remake mais recente de "As Panteras" (2019), que causou polêmica, tem opiniões bem divididas, a própria Banks deu uma declaração que repercutiu mal na época, mas eu nunca assisti por não ter me despertado o interesse já que me parece bastante genérico. Bom, mesmo se aquele não for, este é, porque não tem nada de interessante, é tudo mal feito, mal aproveitado, tem timings bizarros e certas situações que causam vergonha alheia no espectador, são vários arcos de humanos sem graça que não levam a lugar algum e ofuscam o que importa: o urso matando geral. Sinceramente, eu não esperava algo tão bem feito, mas pelo menos queria ver o animal assassinando pessoas da forma mais exagerada possível, só que acontece o problema que teve em praticamente todo filme com bicho: as pessoas que você não se importa são protagonistas e não o personagem-título. É tipo "Godzilla" (2014), que o que importa, que é o bicho, o Gojira, só tem oito minutos de tempo de tela. Honestamente, não era tão difícil, era só dar espaço para o urso, o gore, mas até isso tem pouco.

A divisão é feita em alguns arcos: Sari (Keri Russell) é uma mãe solteira e enfermeira cujo a filha, Dee Dee (Brooklyn Price), mata aula com o melhor amigo, Henry (Christian Covery), para ir até o meio da floresta para pintar um quadro do que caiu lá. Temos Bob (Isiah Whitlock Jr.), um chefe de polícia que investiga o que está acontecendo ao lado de sua pupila Reba (Ayoola Smart). Syd (Ray Liotta) é um traficante que envia Daveed (O'Shea Jackson Jr.) pegar os pacotes caídos, mas ele vai ao lado de seu ex-melhor amigo que não fala há algum tempo: Eddie (Alden Ehrenreich), filho de Syd que é depressivo em decorrência da morte de sua esposa. Nessa trip maluca eles encontram Kid (Aaron Holiday), um maluco chato para um caramba que tentou assaltar Daveed com mais dois amigos e levou uma surra, mas, no entanto, sabe onde estão as drogas. E tem um arco que se encerra rapidamente da guarda-florestal Liz (Margo Martindale), que iria sair com Peter (Jesse Tyler Ferguson), mas esse arco é tão ruim e sem carisma que se livram dele o mais rápido que dá. Nessas storylines, vemos as histórias mais rasas, com uma falta de carisma impressionante (mesmo tendo atores como o Isiah Whitlock Jr. e o Ray Liotta) e diálogos que foram escritos com a bunda. Sério, acho que a verdadeira cocaína estava no corpo de quem escreveu isso, porque chega a ser tão ruim que não é nem engraçado, é triste mesmo. Tudo bem que não precisa ter diálogos incríveis e mega elaborados no filme do Ursinho Pó, mas fazer a criança dizer que: "não estamos enfrentando um urso, mas sim o urso do pó branco", é INACREDITÁVEL.

Literalmente deixam o urso de lado para focar nessas tramas sem nexo, cujo os atores não tem química alguma, a relação da Keri Russell com o garotinho chega a dar pena dos atores se submetendo àquela situação. Pior ainda é o arco dos traficantes, que até tem um drama interessante da amizade que está morna, um dos amigos não estava lá pelo outro quando ele teve uma perda importante, mas aí entra esse personagem horroroso do Kid, ou Stache, que é simplesmente insuportável, ele só tá lá fazendo um papel de um cara meio afeminado que é sensível, irritante e uma tentativa de alívio cômico (tentaram representatividade e reforçaram estereótipo), mas ele acaba sendo a representação daqueles homossexuais criados no Twitter que deixa ele inexplicavelmente chato, na moralzinha, eu não lembro de um ser tão irritante na história do cinema, ele consegue ser pior que Scooby-Loo, pior que a Rebel Wilson em qualquer longa, pior que a filha do Charlie em "A Baleia" (2022), é mais chato que qualquer um. Para aumentar a raiva, a m*rda desse otário nem morre, ele fica lá sendo insuportável por uma meia-hora e o urso nem se prestou para avançar nele e decapitá-lo. Sinceramente nunca tive tanta vontade de arregaçar alguém na porrada quanto esse moleque do car*lho.

Única coisa de legal que o elenco realmente traz é a aleatoriedade, já que temos a mulher de "Missão Impossível 3" (2006) sendo mãe da menina de "Projeto Flórida" (2017), temos o filho do Ice Cube interagindo com o jovem Han Solo, que por sua vez é filho do Ray Liotta e por aí vai. Para você ver o quão pobre o longa na maioria das questões, uma das coisas mais legais é a intersecção de atores, coisa que acontece em todo e qualquer obra audiovisual de alto orçamento. Você acha que não dá para piorar? Ah, mas dá sim, claro que eles conseguiram estragar mais ainda, porque a batalha final, o grande encontro de todos os arcos acontece na total escuridão, eu até agora não sei direito o que aconteceu porque simplesmente não dá para enxergar nada, é um baita filtro escuro meio azul que deixa inassistível. Na moral, acho que a cocaína era real, porque parecia todo mundo chapado concebendo esse negócio, seja a diretora, os roteiristas, os produtores que aprovaram, o cinegrafista, o editor, geral loucasso de farinha.

Únicas coisas boas que eu consegui notar são realmente poucas. A parte mais legal é justamente o que? O urso matando pessoas inocentes (em teoria) da forma mais exagerada e grotesca possível, isso infelizmente acontece bem pouco, o gore é bem economizado, precisava de mais para deixar mais brutal, mas ok, não é um grande problema. Algumas dessas partes do Pablo Escobear caçando contém uma tensão interessante, especialmente a cena da árvore a dos enfermeiros na cabana, tem algo ali que poderia ter sido muito melhor aproveitado. Eu também gostei do CGI do bicho, realmente dá a impressão de que o urso é verdadeiro e dá uma certa credibilidade ao que tá acontecendo nesse quesito, os pelos são bem definidos e a violência através do rosto do animal é transpassada. É uma pena a subutilização, porque se fosse pelo menos mais 40% focado nisso, seria tranquilamente bastante divertido, mas preferem focar em coisas extremamente bestas.

Infelizmente, "O Urso do Pó Branco" não consegue funcionar em quaisquer propostas. Não funciona como terrir, não funciona no rótulo "tão ruim que é bom", não é bom como ação, nem como suspense e muito menos terror, é apenas ruim em todos os quesitos, nem tentando desligar a mente eu consegui curtir. É um elenco extremamente aleatório que não tem química alguma, que desperdiça talentos impressionantes, que faz uma divisão mal feita de arcos e ainda cria alguns dos personagens mais irritantes da história do cinema com alguns diálogos tão risíveis que parece uma novela infantil. É legal por algumas cenas de ação e pelos efeitos do urso que são bastante convincentes, mas de resto... É, não rolou. Mas vale a pena pelas piadas ruins e trocadilhos que dá para fazer (assim como vocês leram ao longo de todo o texto).

Nota - 4,0/10

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