Crítica - Power Rangers: Agora e Sempre (Mighty Morphin Power Rangers: Once & Always, 2023)
Se você viveu no planeta Terra nos últimos trinta anos, creio eu que é quase impossível não conhecer os Power Rangers, um bando de adolescentes com um poder especial que envolve animais e cores que são selecionados por uma cabeçona gigante e um robô engraçadinho. São vários anos, várias temporadas, um lore impressionantemente enorme que envolve de tudo, desde tramas terrestres, culturais, que viram espaciais, intergalácticas, até negócios mais futuristas, científicos e por aí vai. Aqui acompanhamos a clássica geração, a primeira, a Mighty Morphin, que sempre passava na Globo e tem até hoje na Netflix, com sua equipe formada por Jason (o líder, ranger vermelho), Trini (a ranger amarela), Zack (o ranger preto), Kimberly (a ranger rosa) e Billy (ranger azul) e posteriormente o lendário Tommy (verde/branco), logo depois outros personagens entraram substituindo os clássicos, como Rocky (novo vermelho), Aisha (nova amarela), Adam (novo preto) e Kat (nova rosa). Neste longa-metragem de menos de uma hora, vemos um reencontro de alguns deles para uma história bem bobinha que se resolve facilmente e não entrega nada além da nostalgia.
É óbvio que é um especial televisivo feito para causar a nostalgia no espectador, mas não é por isso que significa que tem que ser uma porcaria. Eu adorava os Power Rangers quando eu era criança, vi várias gerações, eu adorava, principalmente essa galera do Mighty Morphin, que depois vai para o Zeo, o Turbo e o No Espaço, eu também adorava alguns dos seguintes como o Dino Trovão, Fúria da Selva e o meu favorito até hoje, que é o Samurai/Super Samurai (último que eu assisti também). No entanto, tentei olhar o antigão novamente um dia desses e me surpreendeu como é ruim. Bom, não é que seja mal feito nem nada, mas é muito tosco, especialmente brega e segue a mesma fórmula de história em todos os episódios, só que ainda sim é legal, a nostalgia captura. A franquia se calca em mostrar os adolescentes vivendo, até que o chefe chama para uma missão, eles lutam contra soldados genéricos e no final fazem o Megazord para derrotar o vilão que ficou gigante. É isso que basicamente acontece aqui, mas com os personagens adultos. Contudo, a forma com que é feito acaba sendo meio esquisita por alguns motivos.
Primeiro que alguns atores escolheram não voltar, como a Amy Jo Johnson, que faz a Kimberly, a rosa, e o Jason David Frank, o Tommy, que infelizmente veio a falecer ano passado, mas ele ainda estava vivo durante as gravações e quando elas foram finalizadas. Além de Austin St. John, o líder dos rangers clássicos, o ranger vermelho, está com problemas com a receita federal dos Estados Unidos e não conseguiu gravar o especial. Entretanto, ao invés deles simplesmente ignorarem a participação deles, eles colocam eles ali da forma mais esquisita possível, usando dublês que sempre tão de máscara e só falam com montagens bisonhas de partes do seriado antigo. Isso é uma decisão que eu acho péssima, que tudo bem lembrar da existência dos personagens, mas a forma na qual é feita beira o desrespeito com o legado daquele elenco, porque eles se livram facilmente deles de uma forma estúpida. No restante da trama, são utilizados os substitutos de Kimberly e Jason: Kat (Catherine Sunderland) e Rocky (Steve Cardenas), respectivamente, que na minha visão, foi uma decisão acertada e uma solução inteligente de cobrir essas ausências, no entanto seria muito melhor se a presença forçada e ridícula dos OGs não tivesse acontecido.
Os únicos que retornam são Billy (David Yost), que agora é um bilionário, e Zack (Walter Jones), que largou sua carreira para cuidar de Minh (Charlie Kersh), filha de Trini, a ranger amarela, que assim como a sua intérprete, veio a falecer. É tudo feito de forma corrida, que se apressa e deixa um ritmo meio estranho que beira ao ridículo, apesar de ser legal pela interação dos dois rangers originais entre eles, a nova personagem é incrivelmente irritante e insuportável, agindo como a adolescente mais genérica possível de algo envolvendo super-heróis. Além de ser viciada em cagar tudo, ela ainda tem uma atuação robótica, bizarra e estranhíssima. Não é crível a relação dela com o Zack e muito menos com sua mãe e sua memória, apesar de uma tentativa de desenvolvimento, acaba sendo raso e nisso fica muito estranho. Além de que a montagem parece que esquece da existência da garota por metade da exibição, focando mais nos quatro rangers que vemos aqui ao lado do Alpha. Mas inegavelmente é deveras emocionante ver aquela galera morfando novamente, lutando contra os bonecos de massa e enfrentando a Rita Repulsa, dá um certo quentinho no coração.
Cinquenta e cinco minutos de filme, não tem muito mais o que falar para gerar pelo menos mais um bom parágrafo. Encerro então dizendo que "Power Rangers: Agora e Sempre" é nostálgico, mas é ruim, muito ruim. E olha, eu já tô cansado dessa justificativa da "nostalgia", já que essa cartada vem perdendo o sentido, usar isso para dizer que isso aqui é bom é o cúmulo desse trunfo, é bizarro em vários sentidos e verdadeiramente ruim, mal escrito, mal atuado, com soluções narrativas fajutas. Mas, acaba fazendo uma homenagem bonita aos rangers que já nos deixaram e deixa um quentinho no coração em um momento ou outro. No geral, péssimo e covarde, mas que é impossível de odiar para quem gosta, igual eu que gostava quando mais novo.