Crítica - Pânico 6 (Scream VI, 2023)

Interessante, mas fraco dentro da franquia.

🚨 Texto com spoilers 🚨

Após pouco mais de um ano do retorno de uma das franquias de terror mais icônicas e adoradas com "Pânico" (2022), a continuação direta chegou. Como o anterior serve como um soft-reboot, esse segue os acontecimentos e traz de volta o novo grupo de personagens apresentado, liderados por Sam (Melissa Barrera), porém, pela primeira vez sem a nossa querida e amada Sidney Prescott (Neve Campbell), a protagonista da série, que não voltou por questões contratuais. Após a confirmação de sua ausência, a seguinte questão surgiu: será que a franquia se sustenta sem a personagem principal? E ficou essa ansiedade para ver o que estava por vir e devo dizer que a Sid fez muita falta, eu senti mais falta dela aqui que do Rocky em "Creed III" (2023)  e, devidas as proporções, acaba sendo mais surpreendente a carência da Neve Campbell que a do Stallone na franquia que ele criou. No geral, como filme em si, esse é um dos mais fracos, ele é até bacana, tem conceitos interessantes, uma história cativante, é o mais violento e brutal da série, mas falta algo, pois a sensação que me passa é que é muito covarde.

Após os eventos de Woodsboro no último ano, Sam vai para Nova York junto com Tara (Jenna Ortega), Chad (Mason Gooding) e Mindy (Jasmin Savoy Brown) com a intenção de esquecer o Ghostface e ter uma vida normal, até que surge um novo vilão e novamente eles precisam adivinhar quem é, com a ajuda de Gale (Courteney Cox) e o retorno de Kirby (Hayden Panetierre), que milagrosamente sobreviveu àquela facada totalmente mortal em "Pânico 4" (2011). Primeiro que a presença da Jenna Ortega tem um peso bastante diferente da última vez, por motivos óbvios, a garota virou um fenômeno do dia para a noite no final do ano passado graças a série "Wandinha" (2022-), ganhou uma pancada de seguidores no Instagram, estava em todas as premiações da temporada apresentando, virou crush de todo mundo e isso acabou afetando no longa de última hora, acho que o primeiro problema é esse, é nitidamente editado para que a atriz ganhe maior destaque, e é entendível, ela é incrível e seu nome é uma marca que cresceu bastante, mas poderia ter sido feito de forma mais sútil, já que fica notável algumas cenas que não estavam no corte original e acabam tendo no final pela quantidade absurda de foco no rosto dessa menina, toda a cena tem que mostrar a reação dela. Era natural a Tara ganhar mais destaque, mas não um tão forçado pelo peso da atriz que cresceu recentemente, foi muito em cima da hora que sua fama chegou e ficou esquisito na montagem, parece que ficam buscando a participação dela o tempo todo.

Em questão de direção, não é mal dirigido, entretanto parece ter tido intervenção do estúdio em algumas partes (essa busca pela Jenna Ortega na cena é um exemplo). Uma das decisões que me fez chegar a essa conclusão foi a de nenhum personagem principal ser morto. Com exceção dos Ghostfaces, nenhum personagem que estava no miolo que acompanhamos morreu e desculpa, sei que é uma obra de ficção, mas o moleque levou umas vinte facadas e ainda sobreviveu só para a queridinha da Jenna Ortega não ficar triste, isso é inadmissível dentro do que já vimos dentro da franquia. Faltou coragem, algo que é intrínseco da série, não podia ter tido essa deficiência. Eles trouxeram personagens novos apenas para morrer e os que vieram do passado deixaram todos vivos na esperança de sequência, nisso se dá o filme com as mortes com menos peso emocional. Mas eu gosto de algumas coisas, em relação a história eu acho o prólogo bem legal, bastante diferente do que vimos em todos os outros, que mostra o Ghostface matando alguém, depois vemos que aquele não era o Ghostface real, mas sim apenas um fã maluco tentando ser. Eu gosto da relação entre a Sam e a Tara, que é muito melhor desenvolvida, tem uma aproximação maior, um relacionamento de mais proteção, uma tentando proteger e a outra não gostando desse sufocamento, é bem interessante de ver.

Na realidade acho que o que salva mesmo é o elenco. A Sam é uma protagonista bem legal, ela tem mais aprofundamento aqui, a atriz é boa, ela consegue mostrar esse lado medroso da personagem, o receio que ela criou com tudo após Woodsboro, inclusive com ela mesma, ela tem medo de si própria, de assumir o lado psicótico e animalesco do pai, ela tenta se proteger e à irmã, e isso é muito bom. A própria Tara é legal, apesar do destaque exagerado pelo sucesso da atriz, ela tem um arco bem interessante de querer viver a própria vida sem precisar temer um maluco de máscara a qualquer momento, isso é muito bom, mas infelizmente ela é vítima de um relacionamento amoroso forçado e non-sense que atrapalha a trama, ainda mais com a visível convicção dos diretores de estarem criando um casal maravilhoso, mas a química é zero. Quem carrega nas costas é a Kirby, caramba, eu não lembrava que eu amava tanto ela até agora, ela continua sensacional. Puro carisma da Hayden, ela tem uma participação que faz sentido, uma imponência e um arco que faz sentido com o que foi apresentado anteriormente no quarto, e ela leva demais nas costas, chega a ser inacreditável, tomara que volte futuramente. A Gale, sendo a última restante do trio original, tem uma participação encurtada, que envolve a melhor cena do Ghostface no longa, e ela tem uma função na trama como jornalista (diferente do anterior que ela era só figurante), então é uma participação incrível, apesar de pequena, mas sinceramente, deveriam ter matado ela e dar um peso emocional infinitamente maior para a trama, assim como foi com o Dewey posteriormente.

O Ghostface aqui, ou melhor, os Ghostfaces, são brutais, mas o plot twist não me convenceu dessa vez. Pela primeira vez temos três pessoas por traz do vilão, duas fisicamente e um idealizador. Na realidade, tem cinco, se contar com as duas tentativas fajutas do prólogo que são mortas pelos verdadeiros. A grande reviravolta se dá justamente pelo policial ser o assassino, ou melhor, o cara que planejou tudo e os matadores serem seus dois filhos, que se infiltraram no grupinho de amigos. A motivação é ok, se fosse o segundo filme de toda a franquia seria excelente, mas o problema é a mesma motivação da Sra. Loomis do "Pânico 2" (1997), que é a simples e pura vingança pela morte de um ente querido, é um plot repetido na série e isso deu uma afastada. E sempre tem alguma crítica social nos Ghostfaces, não importa qual, teve crítica à vulnerabilidade mental de certas pessoas, abandono materno, busca exagerada por fama, fãs malucos e aqui há uma tentativa, eles tentam falar das fake news, de como é fácil manipular alguém pela internet, e algo que é tão importante de ser dito atualmente acaba sendo explorado de forma rasa e muito rápida, se tivessem mais dois minutinhos ali para explicar seria muito bom.

Eu não desgosto de "Pânico 6", é legal, tem vários conceitos interessantes, cenas excelentes, uma violência brutal e que combina com o tom mais pesado que tenta passar, mas que faltou coragem em sua história, se acovardando na hora em que algum personagem do centro da trama precisa morrer. Tem um elenco muito bom, destaques óbvios para a Hayden Panetierre e a Jenna Ortega, mas também a Melissa Barrero, a própria Courteney Cox, o Jack Champion (nosso querido Spider de "Avatar: O Caminho da Água") que faz o Ethan é incrível, ele manda bem, o próprio Dermot Mulroney é muito legal. Trabalho de dublês, cena de perseguição, de ação e de morte no geral são espetaculares, o que complica mesmo é a história e a forma como foi trabalhada, nitidamente interferida pelo estúdio. É bacana, é divertido, mas dentro da franquia fica um pouco abaixo, principalmente sendo o sexto capítulo, e também a falta que a Sidney deixou é imensurável.

Nota - 6,5/10

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