Crítica - Missão: Impossível 2 (Mission: Impossible II, 2000)

O que houve aqui, Tom Cruise?

Logo após o enorme sucesso do primeiro "Missão: Impossível" (1996), que logo tornou-se um clássico e um dos filmes mais "copiados" em questão de pouco tempo, Hollywood como sempre abre aqueles olhos verdes gigantescos com dois cifrões e decide que precisa de mais. No papel, o que temos aqui parece sensacional, temos o retorno de M:I com Tom Cruise voltando como Ethan Hunt, porém sem Brian De Palma atrás das câmeras, que saiu porque ele quis mesmo, só que em seu lugar entra outro monstro, outro diretor incrível de ação: John Woo, que havia realizado "A Outra Face" (1997), com Nicolas e John Travolta, além de vários e vários longas de ação adorados em sua terra natal, Hong Kong. No entanto, é algo que praticamente ninguém gostou na época, hoje em dia hão defensores, dizendo que é injustiçado e que merece ter uma revisita e uma "justiça histórica" para que haja elogios. Particularmente, eu sempre achei isso aqui uma porcaria, nunca curti muito, mas agora maratonando para trazer os filmes para a página eu até pensei: "talvez com o conhecimento em cinema que eu adquiri desde quando eu vi pela última vez, pode ser que eu goste agora", e de verdade, minha opinião sobre o filme mudou, porque é muito pior do que eu lembrava.

Neste longa, vemos Ethan Hunt (Tom Cruise) sendo convocado pela IMF para impedir outro agente, Sean Ambrose (Dougray Scott), que quer causar uma pandemia do vírus Quimera através de um objeto chamado Belérofonte. Com isso, Hunt precisa da ajuda de seu antigo parça, Luther Stickell (Ving Rhames) e da ex-namorada de seu alvo, Nyah (Thandiwe Newton), tal qual Ethan se apaixona. Primeiramente, gostaria de falar da história, novamente usando o macguffin, o tal do Belérofonte, que é uma referência à Mitologia Grega, já que Belérofonte é o herói que montou Pégaso, o cavalo alado, e derrotou a criatura chamada Quimera, uma criatura híbrida de vários animais como leão, cabra, serpente e dragão, que também é o que dá o nome ao vírus mostrado no filme. O que tem de legal na trama acaba nessa referência mesmo, porque ô filminho chato, a história se estende demais e não cria nenhuma imersão, é confusa e o diretor não se preocupa com isso, basicamente é ele dizendo que se você não entendeu, você que se ferre, porque eu mesmo que já tinha visto anteriormente tava boiando em vários momentos. Entendo que foi feito para não ficar expositivo, mas é uma decisão criativa que eu creio ser um problema no entanto.

John Woo é um excelente diretor, disso todos sabemos, porém não combinou com a franquia na minha visão. Quando eu penso em Missão Impossível, eu penso em espionagem e a ação como consequência, entretanto Woo faz justamente o contrário, tentando esconder a parte de agente secrego em vários momentos, fazendo que no final o Ethan Hunt tenha tido uma cena agindo como um espião realmente. John tenta trazer o estilo do cinema asiático consigo para a franquia, contudo, é aí que eu acho que não combina, pois a estrutura que ele usa é boa, mas não dentro dessa série de filmes em específico. Nessa estilização, são adicionados milhares de zooms na cara dos personagens em todo e qualquer corte, edição exagerada em vários pontos e, principalmente, uso excessivo e cansativo de slow motion, nem um filme do Zack Snyder utiliza tanto esse recurso. É um exagero essencialmente oriental, que em uma franquia substancialmente norteamericana acaba falhando na minha visão, eu não consegui comprar essa ideia.

A bagunça da direção não vem só pelo o que fazem esteticamente, mas a própria trama tem defeitos enormes. O vilão é um bunda, é um engravatado genérico que quer cumprir sua missão por motivos que parecem inexistentes, porque eu sinceramente não lembro de nenhum e se teve, com certeza não foi crível, pois ele tem o plano mais imbecil de todos os vilões da franquia, talvez de todas as franquias, porque é de uma bobagem inacreditável, parece paródia. Sem contar o ator que tem um desempenho muito fraco, atuando no automático sempre, não tem nenhuma imponência e a rivalidade dele com o Ethan Hunt é extremamente forçada, não há como acreditar que esse maluco com as expressões faciais de uma porta de guarda-roupa vai peitar o Tom Cruise. Outra coisa horrível é a relação dela com a Nyah, que é um pior que o outro na atuação, dá até pena de ver aquilo, a interação entre os dois é maior do que deveria e a química é zero.

Falando em química zero, essa Nyah também não combina em nada com o Ethan Hunt, já que até a casada do primeiro filme cumpre melhor o papel de par romântico para o protagonista mesmo nunca tendo sido. É uma relação que já começa estranha na primeira cena, pois a edição é aquela que o John Woo utiliza do slow motivo mil vezes sem nenhum motivo, aí depois tem uma tensão sexual gratuita, logo depois tem mais uma ceninha besta e aí sim vem a xenga-a-lenga. Nessa descrição, parece que o casal se conheceu e se estabilizou em dez minutos, mas isso toma a valiosa primeira meia-hora de exibição, o que já me perdeu aí. Ainda mais que a performance da Thandiwe Newton é muito fraca, ela é uma boa atriz, venceu vários prêmios importantes, mas aqui é inexpressiva, novamente só colocaram uma mulher no filme para ser bonita e fazer cara de modelo para a câmera, é inacreditável que cometeram o mesmo erro duas vezes seguidas, aqui consegue ser pior pelo destaque enorme.

O Tom Cruise também não se escapa, nem o carisma dele foi capaz de melhorar alguma coisa para mim. A melhor coisa que o Tom Cruise fez nesse filme foi o cabelo, porque a cabeleireira dele tava incrível, mas é um filme de ação e não uma propaganda da L'Oréal Paris, então esses cabelos de modelo dele não servem para nada além de se mexer no slow motion. O Ethan Hunt nesse filme é nada, ele faz um monte de coisa, luta, anda de moto, pula de um lugar para o outro várias vezes, transa, mas a impressão que me deu no final foi de que ele é um nada. O que salvou minimamente é novamente o Luther, que é maravilhoso, muito mais pelo carisma do Ving Rhames do que pelo texto, já que ele se sobressai e traz o alívio cômico de forma agradável, tendo como sua gag recorrente as suas roupas caras sendo danificadas.

Para não ser injusto, eu gosto de algumas coisas, mas é mais na parte técnica. Para a época, os efeitos visuais são maravilhosos, envelheceram relativamente bem, é o básico de explosão, novamente o uso dos helicópteros, mas é funcional no que se propõe. As cenas de ação são muito bem coreografadas, apesar de serem quase arruinadas pelo slow motion, acabam se saindo bem, em especial a batalha final, onde tem a luta corpo a corpo do Ethan contra o vilão que é muito boa. A trilha sonora no entanto, é um mixed feelings, pois ela isoladamente é sensacional, é outro nível, mas dentro da exibição acaba sendo funcional em alguns momentos e deslocadas em outros, tem uma cena de tiroteio comum e a trilha tocando uma música de batalha final, que a música em si é boa, mas não para um tiroteio de segundo ato. Ainda em música, tiveram a brilhante ideia de chamar bandas de rock para compor canções originais, mais especificamente o Limp Bizkit e o colosso, o Metallica, entretanto as duas músicas são ruins, não tem o que fazer. Metallica é a minha banda de metal favorita, eu adoro os caras, mas a faixa deles "I Disappear" é genérica, é sem graça, a bateria parece feita de panela e lata de tinta e parece até concordar com os haters que dizem que o Metallica se vendeu, pois a impressão que dá é essa, um rock genérico corporativo um pouco mais pesado.

É um filme que causa divisões, mas sinceramente eu já não era muito fã de "Missão: Impossível 2" e agora na revisita sou muito menos. Eu entendo quem gosta, é realmente interessante, mas eu não consigo ver essa estrutura de cinema de ação asiático em M:I, não foi uma combinação legal, os dois são sensacionais separados, mas juntos foi algo esquisito. A impressão que me dá é que o John Woo foi limitado demais pelo estúdio, entretanto o estúdio deixou colocar algumas nuances do diretor na edição e ele acabou abusando, dando a impressão de que ele teve liberdade demais. Se você não entendeu nada do que eu acabei de falar, foi assim que eu me senti vendo o filme em vários momentos, pois eram vários diálogos vazios, em uma história genérica e sonolenta, na qual só funciona por algumas cenas de ação e o carisma do Ving Rhames. Se você gosta, pouco me importa, cada um tem sua opinião e é isso, mas para mim não dá, se você gosta ótimo para você, ótimo para o filme, nenhum filme merece ser odiado (com exceção de Blonde, Tammy Faye e 50 Tons de Cinza). No final, o importante é que todos concordamos que a melhor coisa desse filme é a esquete do Tom Cruise com o Ben Stiller fazendo o dublê dele e eles dando risada.

Nota - 3,5/10

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