Crítica - Resgate 2 (Extraction 2, 2023)

Netflix finalmente encontrando seu grande blockbuster.

Em 2020, bem no início da pandemia de Covid-19, quando haviam incertezas sobre o futuro do cinema, o primeiro "Resgate" (2020) foi o primeiro grande filme lançado nesse tempo dúbio e sombrio da humanidade, num momento onde você ou assistia o que bombava na Netflix ou vivia só de filmes e séries mais antigos. Foi um sucesso absoluto, com mais de 90 milhões de streams e foi o de maior sucesso da plataforma por bastante tempo, até hoje é um dos cinco mais vistos com mais de 231,4 milhões de horas assistidas. Estrelado pelo nosso queridíssimo Thor, Chris Hemsworth, era questão de tempo até uma sequência ser anunciada, e novamente encabeçada pelo diretor Sam Hargrave, o qual fez sua estreia no primeiro longa e é mais um daqueles diretores de ação que eram coordenadores de dublês e decidiram se arriscar na realização, e, a julgar por esses dois filmes, ele é muito bom, muito talentoso na parte técnica, sabe amarrar um drama bom e comum e dá à Netflix o que pode ser, finalmente, sua grande franquia de filmes.

Após estar morto por alguns minutos pelos eventos ocorridos no final do anterior em Bangladesh, Tyler Rake (Chris Hemsworth) volta dos mortos e vive uma aposentadoria aparentemente comum, até que um agente chamado Alcott (Idris Elba) o chama para uma missão a pedido da ex-esposa de Rake, Mia (Olga Kurylenko), o qual ele precisaria resgatar a irmã dela, Ketevan (Tina Dalakishvili), esposa de um dos reis do crime da Georgia, e seus filhos, na prisão, e com isso, Tyler e sua equipe começam a ser perseguidos pela gangue dos Nagazi, liderados por Zurab (Tornike Gogrichiani). Hargrave busca ampliar seus horizontes como diretor e como cabeça da franquia, buscando uma maior profundidade em todos os seus arcos, desenvolve questões deixadas abertas no primeiro em relação ao passado do nosso protagonista, como o falecimento de seu filho e a solidão que ele enfrenta. O drama é trabalhado de maneira coerente, não é o grande destaque, não é algo impressionante, mas que consegue passar sua mensagem de uma forma impactante.

Hargrave dessa vez busca também uma maior aproximação no arco das vítimas e dos vilões, como um trabalho bem padrão, mas que como eu disse, é eficiente e ajuda a entender o que o filme quer dizer. O do vilão, o Zurab, eu acho um desenvolvimento muito bom, porque tem toda uma questão dele ter sido um refugiado de guerra, e aí ele precisou entrar no crime junto com seu irmão para conseguirem sobreviver sendo imigrantes, e é bem feito, você sente a dor daquele cara, a raiva que ele sente e ele faz frente ao Rake, consegue apresentar bem uma ameaça física ao protagonista, é um vilão bem funcional para a proposta. Já as vítimas, temos a Ketevan, a ex-cunhada de Tyler, que é comum, legal e tal, tem uma boa interação, só que o filho dessa moça, o Sandro (Andro Japaridze), é simplesmente INSUPORTÁVEL, é o típico moleque chato e revoltado que tenta bater de frente com o herói, mas que só atrapalha e você sente raiva dele durante toda a exibição, mas pelo menos ele, diferente de outras crianças e adolescentes em filmes de ação baseados em quadrinhos nos últimos tempos, ele tem uma função na trama que acontece e o fato dele ser um babaquinha irritante ajuda na imersão na trama de uma certa forma.

Ainda sobre os próprios personagens, falar sobre o homem que lidera essa franquia, o Chris Hemsworth como Tyler Rake, que eu já falei do desenvolvimento dele lá atrás, mas gostaria de destacar agora a performance do ator. Hemsworth para mim é um ator bem subestimado, já que ele é bastante versátil e consegue se sair bem em vários gêneros. Apesar dele ser lembrado como Thor e sempre vai ser pelo o tão icônico ele deixou aquele papel, e ele se sai bem no drama, na comédia e na ação. Ele aqui manda bem na parte dramática, consegue trazer esse lado do passado do Tyler, ele atua muito com o olhar e consegue transpassar os traumas que ele viveu, arrependimentos que ele teve e uma sombra constante que atordoa sua mente. Na parte da ação, ele consegue ser imponente, bad-ass, e aqui ele se diferencia do primeiro filme pela preocupação constante que ele tem com si mesmo, já que ele passou pelo o que passou e fica com essa sensação de que ele pode morrer com alguma pancada na cabeça. Sem contar que o próprio personagem é legal, ele é ainda mais que no anterior, já que aqui o que ele faz é tratado de uma maneira mais grandiosa pelas condições inferiores que ele vem, ele é um herói de ação incrível que bateria de frente facilmente com o John Wick (fica aí no ar o debate).

Também destaques para a equipe de Rake, seus coadjuvantes que retornam do primeiro filme e, assim como o protagonista, estão ambos melhores que no anterior: a Nik (Golshifteh Farahani) e o irmão caçula dela, Yaz (Adam Bessa). O Yaz que era quase um figurante no anterior, totalmente esquecível, aqui tem uma participação maior, com um carisma grande, boa aparição, e que quando acontece algo com ele há um impacto no espectador, não só nos personagens como em quem tá assistindo, eles realmente conseguem construir esse irrelevante a ponto de fazer com você se impacte com algo que acontece com ele, é muito bem trabalhado. A Nik já era legal desde o outro, aqui há uma evolução dela como a melhor amiga do Tyler, sua confidente e uma personagem que se impõe na hora do tiroteio, ela é braba e funciona bem como essa co-protagonista de ação que complementam o principal, é um acerto gigante, extremamente cativante e incrivelmente funcional.

Mas o principal, o motivo para que nós todos vemos (pelo menos quem sabe o que vai encontrar), é a ação, que é de um nível altíssimo, uma das melhores do ano até o momento. Sinceramente, que ótimo que os dublês decidiram irem realizar seus próprios longas, olha o que estamos recebendo dentro do gênero, que época maravilhosa quando nos últimos dez meses lançaram esse, "John Wick 4: Baba Yaga" (2023) e "Trem-Bala" (2022), como estamos bem servidos. Tecnicamente é perfeito, questão de montagem, efeitos visuais, som, design de produção e, principalmente, fotografia e coordenação do departamento de dublês, porque a coreografia de tudo, a forma como é bem feito, é uma aula para a própria Netflix começar a notar no que eles investem ao invés de aceitar qualquer porcaria no catálogo, é de um capricho, de uma composição técnica inacreditável. Tem uma cena maravilhosa de plano-sequência que dura vinte e dois minutos e é uma loucura, pois começa na prisão, aí vai para o subterrâneo, aí tem luta na noite com uma guerra de gangue, depois tem perseguição de carro, os veículos vão de base, aí tem um trem e aparece um helicóptero, cara, é um negócio milagroso que é de cair o queixo, é incrível como acontece, como é bem dirigido, sério, me deixou embasbacado até agora.

Excelente blockbuster de streaming, "Resgate 2" é uma sequência que supera o original, há um aumento de qualidade em todos os quesitos, os personagens, a atuação, a direção, a história, a trama, desenvolvimento, ação, vilão, tudo é melhor. Com cenas de pancadaria muito bem coreografadas, cenas de ação que envolvem efeitos visuais, notavelmente práticos, que criam uma credibilidade maior para tudo o que acontece. Chris Hemsworth incrível como protagonista e Sam Hargrave numa evolução perceptível, temos a Netflix finalmente encontrando sua franquia principal em questão de filmes, o seu grande blockbuster, e que maneira de achá-lo. Incrível, que ano, ou melhor, que época para ser fã de filme de ação com tantos filmes e franquias lançando ao mesmo tempo.

Nota - 8,0/10

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