Crítica - Missão: Impossível - Nação Secreta (Mission: Impossible - Rogue Nation, 2015)

As Peripécias do Tom Cruise estão indo longe demais (e é maravilhoso)

Depois de um sucesso esmagador de público, crítica e bilheteria envolvendo o quarto capítulo da série, "Missão: Impossível - Protocolo Fantasma" (2011), as peripécias do Tom Cruise retornam, agora sob o comando de Christopher McQuarrie, o homem que revolucionou de vez Missão Impossível. Acho que eu já disse isso no texto anterior, mas em uma franquia como essas, o nível dos acontecimentos sempre precisa escalonar de um filme para o outro, mas aqui há uma quebra disso na questão de história, mas não em abordagem, pois o debandada do IMF é tratada de maneira que você crê que aquilo é tão importante quanto uma possível guerra entre Estados Unidos e Rússia no filme passado. É um sucesso inquestionável, um dos melhores da franquia sem sombra de dúvidas, é quase que uma evolução do filme prévio (apesar de que, por pouco, eu ainda prefiro o quatro) e é uma base interessantíssima para o futuro, não só com a adição de McQuarrie na direção, mas também com um rumo que tem um potencial altíssimo, e como vimos no seguinte, se concretizou com maestria.

Ethan Hunt (Tom Cruise) se vê caçado pelo O Sindicato, uma organização liderada por Lane (Sean Harris), e após uma falha do protagonista, o IMF é desativado, com Benji Dunn (Simon Pegg) e William Brandt (Jeremy Renner) sendo transferidos para a CIA, Luther Stickell (Ving Rhames) se aposentando e Hunt tornando-se foragido. Os personagens descobrem que O Sindicato busca por uma caixa vermelha criptografada que só pode ser desbloqueada pelo Primeiro Ministro Britânico, e com isso, Ethan e sua equipe precisam chegar adiantados antes que essa nova organização ponha o mundo todo em risco. McQuarrie traz uma inventividade muito grande, além de uma competência altíssima, que dá a credibilidade necessária para que a trama ande e que o espectador realmente acredite na queda do IMF e dos nossos heróis, ainda mais numa sensação de mistério equilibrada com a ação de forma maravilhosa, sem deixar a parte da espionagem de lado, começando uma espécie de casamento perfeito com a franquia, já que o tanto que combinou ele com a série é inacreditável, tanto que o Tom Cruise o adorou e até hoje eles são brothers, trabalharam em "Top Gun: Maverick" (2022) juntos (mas lá ele é roteirista e produtor) e esse combo é esplêndido para o cinema de ação e blockbuster atual.

McQuarrie é inteligente em sua abordagem, ao invés de aumentar os acontecimentos e tentar encaixar o Ethan Hunt na tal guerra que ele arquitetou, ele utiliza as consequências das ações dos personagens em Protocolo Fantasma para gerar uma trama que se passa quase nos bastidores da CIA e do governo americano. Nisso, há uma seriedade, um drama muito presente, mas ainda sim, por conta da ação, das cenas de espionagem e da interação entre os personagens, surge uma obra com um alto valor de entretenimento, que é divertida de verdade. A trama é praticamente dividida entre o núcleo principal com o Hunt e o Benji lidando com a misteriosa Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), enquanto Brandt tem de cuidar do diretor Hunley (Alec Baldwin) e do conselho, que estão lidando com a desativação da IMF, nisso surgem duas linhas narrativas que são muito interessantes, para que no último ato elas se encontrem e gerem um clímax realmente emocionante. Nisso, McQuarrie dá uma aula de timing e de condução, ele sabe o tempo exato das coisas e como não deixar entediante para o espectador, sabendo qual é a hora boa de cortar o Ethan e ir para o Brandt, não hão destaques forçados, é equilibrado de um jeito magistral.

Também é inteligente da parte de McQuarrie entender uma coisa: é o quinto filme, tudo que tinha nos outros já era desenvolvimento o suficiente para o Ethan Hunt, então ele aproveita essas brechas e o põe em situações cujo já não é mais necessário explicar quem é aquele cara, o que ele é, o que ele já faz, qual o passado dele, quais suas motivações, com o que e com quem ele se importa, já foi tudo definido, aqui então sobra espaço para fazer o Tom Cruise brilhar na ação. Inclusive, dessa vez suas peripécias incluem ele ficar pendurado do lado de fora de um avião, e também ficar debaixo d'água por muitos minutos, o que prova que esse cara é um sociopata do perfeccionismo, pois ele ficou pendurado no avião por nada, essa cena não tem nenhuma função na trama, era ele que queria fazer por fazer mesmo. Essa de respirar embaixo da água então é loucura, já que ele poderia fazer em vários takes, a cena tem cortes, edição, computação gráfica e tudo, mas não, ele vai lá e fica seis minutos seguidos mergulhado (curiosidade: ele era recordista de respirar mais tempo debaixo d'água, mas foi ultrapassado pela Kate Winslet em "Avatar: O Caminho da Água").

A equipe se mantém da base apresentada do filme anterior, com retornos de Benji e Brandt, e também o Luther retornando de vez como um personagem na trama. Benji é um grande destaque, aqui o Simon Pegg se solta e dá uma personalidade maior ao personagem, tendo uma participação bem maior, com uma relação de quase fraternidade estabelecida com o Ethan Hunt, eles aqui já são praticamente irmãos, um se preocupa com o outro e daria a vida se fosse preciso, é muito legal ver a evolução dessa dupla. O Luther é o Luther, ponto. Ele continua sendo brabo, não tem mais o que dizer. O Brandt é brabo, eu adoro o Jeremy Renner no papel (pena que ele não volta mais depois), ele faz bem esse cara que é sério, meio irritado e sempre preocupado, ele é um exemplo para os outros coadjuvantes de como agir em frente às câmeras, roubar a cena, sem querer roubar o protagonismo ou ser mais legal que o principal. Mas quem quase faz isso é a Rebecca Ferguson, pois ela é demais, uma das melhores personagens da franquia inteira, porque ela entrega tudo, ela é casca grossa, é bad-ass, é cativante, tem sex appeal impressionante, tem uma interação maravilhosa com o Hunt e com o Benji, e a dubiedade dela é sempre um ponto bem explorado, você nunca sabe o lado dela, as suas verdadeiras intenções, o que ela representa, é um mistério até o fim.

Na parte técnica, um destaque que é sempre necessário é o de edição, porque é sempre um nível absurdo, não há franquia tão bem editada quanto esta. Como disse quando falava de McQuarrie, o timing é sempre preciso, isso vai de cena para cena, onde cada corte é funcional para a construção de uma tensão e vai se criando uma ansiedade no espectador, a cena da ópera é uma aula disso, vai alternando entre o Ethan e a Ilsa de uma forma natural que vai arquitetando a curiosidade de quem está vendo para o desfecho que aquela cena terá. É a mesma coisa com a cena da água, ela vai sendo montada narrativamente pouco a pouco para que você se preocupe com aquela situação e quem vai sofrer fazendo-a. Isso é somado ao design de som, uma construção sonora impressionante que te intromete na trama, ver esse filme com fone de ouvido ou com um som altíssimo (seja caixa de som ou a própria televisão com Dolby 5.1), com a fotografia impecável e a coreografia de ação espetacular, que se supera e vira a melhor da franquia (até então).

Uma evolução da franquia, "Missão: Impossível - Nação Secreta" traz à tona o potencial que a série sempre teve, com uma trama envolvente, uma abordagem séria e madura que dá cada vez mais credibilidade à narrativa, com cenas de ação incríveis, que são tensas, que são divertidas e que são perfeitamente encaixadas na trama através da direção e da montagem. McQuarrie veio para ficar na franquia e para revolucionar a mesma, transformando M:I cada vez mais em uma das mais adoradas, mais aguardadas, uma das melhores de ação, a melhor de espionagem (desculpa 007, mas já é fato) e uma das melhores do cinema blockbuster, de todo o cinema no geral. Com o Tom Cruise cada vez mais insano em suas loucuras, uma equipe extremamente carismática que conquista tanto quanto o protagonista e uma parte técnica impressionante, a franquia sobe o nível cada vez mais e vai me conquistando mais e mais a cada revisita.

Nota - 9,5/10

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