Crítica - Camaleões (Reptile, 2023)
Outro suspense qualquer da Netflix.
Estrelado por Benicio Del Toro, um novo suspense chega à Netflix. A plataforma investe muito nesse tipo de obra porque é o que é mais assistido dentro do streaming, os ganha-pães são longas, seriados e documentários relacionados a crime, polícia, assassinato e tudo mais, o que não é problema nenhum, inclusive o suspense (especialmente o policial) é o gênero de filme que eu mais gosto. Esse grande número de adições deve se dar graças a um algoritmo que reúne os tópicos que a galera mais gosta de ver e faz com que roteiristas, diretores e produtores recebam informações do que é mais consumido para gerar e comprar novos projetos com premissas similares. Este é um longa-metragem dirigido por Grant Singer, que é a estreia do moço no cinema ficcional, mas o nome 'Singer' não é à toa, já que ele é responsável por clipes de grandes artistas musicais do pop atual, como The Weeknd (esse é o principal, já que dirigiu clipes de algumas das músicas mais famosas do fimdesemana), Camila Cabello, Lorde, Ariana Grande, Skrillex, J Balvin, Travis Scott, Taylor Swift e outros, além de dirigir um documentário sobre o Shawn Mendes. Singer criou esse roteiro junto a Benjamin Brewer e o próprio Benicio Del Toro. Eu vi o trailer disso e fiquei genuinamente interessado, mas será que cumpriu com essa pequena expectativa?
Uma corretora de imóveis chamada Summer Elswick (Matilda Lutz) é misteriosamente assassinada em sua casa, nisso, Tom Nichols (Benicio Del Toro), um detetive com um passado dúbio, acaba sendo designado para descobrir quem é o culpado. Os principais suspeitos acabam sendo o namorado da vítima, Will Grady (Justin Timberlake), o ex-marido da mesma, Sam Gifford (Karl Glusman), e Eli Phillips (Michael Carmen Pitt), um rapaz esqusito que foi prejudicado no passado por Will e sua família. Então Tom, com auxílio de sua esposa Judy (Alicia Silverstone), tenta desvendar o caso enquanto enfrenta demônios do passado e do presente. O trailer passou para mim num dia que eu entrei na Netflix e fiquei genuinamente interessado, tinham planos bem bonitos e uma história que não é 100% original, mas que havia potencial. No entanto, como diz Ryan Reynolds: "o trabalho dos editores de trailers é esse, transformar algo ruim em bom". Não é um filme ruim, mas ele sofre de problemas que acabam prejudicando, uma extensão da história desnecessária e mal aproveitamento de questões interessantes, isso faz com que a experiência vire mais do mesmo, mais uma obra da Netflix que você vê e esquece dois minutos depois o que aconteceu.
O andamento inicial da trama é bem cativante, você tem toda aquela história do assassinato e o detetive experiente indo atrás, é claramente baseado na obra de Alfred Hitchcock e os primeiros quarenta minutos vão nessa vibe, intercalando o mistério entorno do delito com a vida pessoal do protagonista. Porém, a inexperiência acaba se sobressaindo no resto da trama, com linhas narrativas que aparecem, mas são desnecessárias e uma resolução confusa que parece querer passar uma certa mensagem, mas é falha em grande parte dos quesitos. Primeiro que o longa se estende demais e isso abre uma brecha para uma reviravolta enfiada lá de qualquer jeito para tentar fazer uma crítica social fod4 que é mal aproveitada e jogada de maneira qualquer, sem contar com o desfecho do caso que é o mais previsível e sem graça possível. Eu até achei que o filme ia por outro caminho e fazer uma revelação surpreendente, um possível final que eu pensei, mas eles mudam o foco do plot twist e vai para algo relacionado ao personagem principal e ao departamento de polícia, nisso para mim acabou indo para onde não deveria, o final que eu pensei que seria era muito melhor sem brincadeira. O principal problema para tudo isso é a duração, não tinha trama o suficiente para duas horas e quatorze e a extensão é prejudicial para esse resultado.
Talvez o ponto alto seja a atuação do Benicio Del Toro, retornando a um papel protagonista depois de sei lá quantos anos. Ele faz o clássico arquétipo do detetive experiente, mas ele tem uma camada de passado onde diz que ele era problemático, que tinha sido preso e que acabou recebendo uma chance graças ao tio de sua esposa. Ele tem aquela presença que um detetive deve ter em tela (o bigode estiloso contribui bastante para isso) e ele carrega nas costas, sendo quase todas as cenas focadas nele e tendo algumas onde ele se destaca mais, como a do sonho e a final, além de sempre ter diálogos precisos que condizem bem com a personalidade do personagem. Outra que vai bem é a Alicia Silverstone, que está ensaiando um retorno a Hollywood depois de quase trinta anos de seu sucesso, e ela vai bem nesse papel da esposa que apoia o marido, mas que acaba sendo até mais inteligente que ele, ela tem uma aparição reduzida, porém, sempre quando em tela, rouba a cena. No entanto, o Justin Timberlake é subaproveitado, o que fazem com ele é vergonhoso. Na minha opinião, o J.T. é um dos melhores cantores que migraram para a atuação, ele tem carisma e fez ótimos papéis, incluindo de Sean Parker em "A Rede Social" (2010), que é um dos meus filmes favoritos, mas aqui ele é subjugado a caretas, como se a instrução fosse para ele parecer suspeito e inocente ao mesmo tempo, só que é uma dualidade tão parcial que a performance se resume a uma cara de bunda. Dito isso, Timberlake estará no Oscar, mas não de coadjuvante por esse filme, mas sim de canção original por "Trolls 3".
É uma obra bem rasa, não é gratuitamente que teve só quatro parágrafos tirando esse de considerações finais, quando eu terminei de ver eu tinha dado uma nota 6/10, mas agora depois de pensar no longa e sair o suficiente para só isso de texto, percebi que era mais liso do que parecia e a nota diminuiu um pouco. "Camaleões" definitivamente não é um filme mal feito, os primeiros quarenta, quarenta e cinco minutos são incríveis e totalmente imersivos, mas, por uma condução fraca e inexperiente no restante da exibição pesa muito para a experiência, que perde força por conta de uma previsibilidade tão óbvia que fica ruim e uma reviravolta mal aproveitada pelo diretor. Funciona pela performance de Benicio Del Toro e o início da investigação, mas no fim, o trailer acaba sendo melhor que o filme em si.
Nota - 5,5/10