Crítica - Dezesseis Facadas (Totally Killer, 2023)
Um slasher cômico que quase chega onde queria.
Hollywood tem a mania de misturar gêneros de filmes, parecem donos de cachorros criando intercurso entre diferentes raças, aqui temos um ménage que mescla terror, ficção científica e comédia, que convenhamos, não é nada de novo, mas gera resultados interessantes na maioria das vezes, contudo, se mal executado pode gerar uma obra risível, então é sempre necessitado uma boa direção nesses casos. Então, quem dirige? Uma moça chamada Nahnatchka Khan (nomezinho complicado de escrita, mas fácil de pronunciar), este é seu segundo trabalho nos cinemas (no caso nos streamings, porque esse é do Prime Video e o anterior é da Netflix, mas vocês entenderam), eu vi o antecessor, é uma comédia romântica chamada "Meu Eterno Talvez" (2019), que é bem mequetrefe, mas tem um cameo lendário do Keanu Reeves que em dez minutos salva o longa. Aqui, sendo um estilo totalmente diferente poderia ser um longa melhor, porém, que sofre pelo final mal feito, falta de equilíbrio em certos pontos e um exagero que tenta ser confuso de propósito e termina que é só mais uma adição de catálogo, entretanto, consegue ser divertido e criar um mistério interessante entorno de quem é o assassino.
A pacata cidade de Vernon sofre com o trauma de um "serial killer" que matou três garotas adolescentes nos anos 80, ambas com dezesseis facadas. 35 anos depois, a única sobrevivente, Pam (Julie Bowen), é assassinada, fazendo com que sua filha, Jamie (Kiernan Shipka) busque uma forma de salvá-la voltando no tempo com uma máquina criada por sua melhor amiga, Amelia (Kelcey Mawema), e em 1987, conhece uma versão jovem de sua mãe (Olivia Holt) e as três vítimas, Tiffany (Liana Liberato), Marisa (Stephi Chin-Salvo) e Heather (Anna Diaz), dias antes da série de mortes. Com isso, Jamie, dando uma de Marty McFly, parte em busca de descobrir a identidade do assassino e matá-lo antes que o futuro que sua mãe vai de base se concretize. O filme não é ruim, durante uma hora e vinte é uma opção de entretenimento bastante agradável que conquista o espectador, apesar de não ser grandes coisas, no entanto, o final do filme decide ir para um daqueles caminhos de criar confusões desnecessárias para criar burburinho e discussões acerca do longa, o que vocês sabem que eu não curto, pois se precisa disso para seu filme ser falado, é porque não tem muita coisa que o sustente.
Essa mistura entre gêneros é feita a partir do uso do slasher como a base da história, a comédia vindo pelo carisma da atriz principal, as ações que ela tem e as situações que ela passa no passado e o sci-fi vindo pela parte da viagem temporal, obviamente. Há um desequilíbrio desses estilos, fazendo com que a comédia não seja engraçada em grande parte do tempo e que a parte do sci-fi só sirva para confusão, além de que quando aparece, quebra a imersão porque é desinteressante, tem uma menina que é um gênio da ciência e física quântica, que cria uma máquina do tempo via wi-fi e ela não tem um pingo de carisma, ainda juntam ela com um podcaster maluco que só serve para ser suspeito e careca. Outra coisa que pega é o terceiro ato, pois até começa bem com uma situação tensa, tem uma revelação realmente inesperada de quem era o culpado, mas aí perde a mão quando quer criar confusão desnecessária em relação ao sci-fi, querendo fazer aquele lance de viagem no tempo, que tenta misturar "De Volta Para o Futuro" com "Pânico", mas é uma tentativa de complicação que me afastou, porque não é realmente difícil, mas quer parecer, e isso acaba criando uma sensação desconfortável que me afastou dessa trama, além de ignorar completamente as consequências de quem é o assassino.
Porém, a direção consegue criar um clima bem interessante, apesar dos erros de equilíbrio que eu citei, a diretora consegue criar uma vibe bacana, contextualizando bem a garota contemporânea nos anos 80, lidando com os comportamentos da época que eram misóginos, sexistas, xenofóbicos, gordofóbicos, racistas, a falta de tecnologia da época, a precariedade em algumas questões àquele tempo, usando isso como a comédia dentro dessa vibe slasher meio "Halloween" e meio "Pânico", que há uma tensão genuína de pensar quando que o mascarado irá atacar. Além da condução, uma coisa que ajuda nessa construção é o protagonismo da Kiernan Shipka, essa menina mandou bem demais aqui, ela manda bem na parte dramática, ela convence demais que ela está perdida naquele tempo e transpassa a urgência que tem para cumprir seu objetivo. Além do mais, ela é excepcionalmente carismática, apesar dela ter algumas atitudes questionáveis no começo, você vai se apegando a ela e acaba acompanhando bem sua jornada, onde ela equilibra bem na performance as partes da comédia e do terror.
Apesar de problemas, "Dezesseis Facadas" consegue criar um entretenimento bem bacana que traz um terrir bem legal de se acompanhar. É problemático no equilíbrio dos gêneros, dando muito mais espaço para o terror do que a comédia e para ambos mais do que a ficção científica, que fica perdida ali no meio, tem um terceiro ato fulo e é um longa bem plástico, onde as inspirações se sobressaem a originalidade, que é formulaico, uma fórmula da Blumhouse, porque parece que todo filme que o Jason Blum mete a mão de alguma forma acaba se tornando algo meio quadrado que não fede nem cheira. Tem aquela direção que é boa em algumas questões e má em outras, tem um elenco bem qualquer coisa que, com exceção da protagonista, são um bando de atores que fazem o básico e entregam atuações bem caricatas em papéis bem qualquer coisa, ainda com o fato de serem uma galera mais velha que eu interpretando pessoas do ensino médio, que, convenhamos, já passou essa época. No geral, bacana, mas bem esquecível.
Nota - 6,5/10