Crítica - Guardiões da Galáxia Vol. 2 (Guardians of the Galaxy Vol. 2, 2017)

Uma sequência que consegue bater de frente com o primeiro.

Depois do estrondoso e surpreendente sucesso que foi o primeiro “Guardiões da Galáxia” (2014), temos mais um filme desse time maravilhoso, novamente no comando de James Gunn, e para mim é tão bom quanto primeiro, se é melhor? Não acho, mas é mesmo nível. Na sequência, agora os Guardiões estão mais unidos que nunca, agora como uma equipe conhecida por quase toda galáxia, com Peter Quill (Chris Pratt), Gamora (Zoë Saldaña), Rocket Raccoon (Bradley Cooper), Drax (Dave Bautista) e Groot, agora Baby Groot (Vin Diesel) viajam por todo o universo resolvendo trabalhos e cumprindo contratos em troca de dinheiro, até que Rocky rouba um dos clientes, os Soberanos, e com isso, os nossos heróis começam a ser perseguidos, até que o pai de Peter, Ego (Kurt Russell), se revela, aparece tentando ajudar e os refugia em seu planeta, no entanto, Ego esconde um grande segredo, que pode acabar com o universo. Nessa premissa, temos o básico para criar uma baita jornada, dividindo a equipe em duas linhas narrativas, cria uma imersão e um dos melhores filmes da Marvel. Tem gente que não gosta, mas para mim, só não chega ao nível do anterior por detalhes.

O motivo de eu não achar melhor que o primeiro é que passam vinte minutos fazendo explicação dos poderes do Senhor das Estrelas para no final tirá-los da forma mais simples possível, me dando uma impressão meio estranha. Tudo bem que ele ia perder de qualquer forma se não ele ficaria ridiculamente poderoso, contudo, não era necessário fazer uma explicação que toma muito tempo de tela que no fim não serve para nada, você desperdiça um tempo que poderia ter sido valioso em outros arcos, só que tirando isso, nada mais me incomoda. Aliás, eu gosto muito de como o James Gunn trabalha o senso de família entre os Guardiões, é de uma naturalidade impressionante. Eu sinceramente não gosto muito de quando forçam essa coisa de que "a família é mais importante que tudo", porque a maioria são filmes que fazem isso para serem propositalmente emocionantes, ou então o Toretto mandando essa do nada, mas aqui funciona pelo quanto é orgânico, não é algo forçado, existe um entendimento de que quando amigos passam muito tempo juntos, morando na mesma casa (ou nave), eles se tornam uma família mesmo, e dá para ver no olhar de cada um o quanto eles se importam com os outros, até mesmo o do Rocky que é CGI. Também faz sentido porque cada um encontra a família que nunca teve, o Quill perdeu a mãe e foi privado de uma família saudável, o Drax perde a esposa e a filha, a Gamora viu os pais sendo mortos na sua frente e o Rocky é um experimento científico, então faz muito sentido que eles se vejam como família, pois é algo que foi tirado deles, eles estão superando os traumas lado a lado.

Gosto de como Gunn divide o filme em duas storylines, uma com o Quill, Gamora e Drax indo com o Ego para o planeta dele, e a outra do Rocket com os saqueadores, sendo preso ao lado do Yondu (Michael Rooker), isso deixa uma dinâmica bem bacana, pois os arcos são muito interessantes e essa divisão funciona para nos preparar para o grande clímax. É muito beneficente para o desenvolvimento dos personagens, o do Quill o desenvolve melhor e mostra mais da sua origem, do seu pai, que é um vilão muito bom (falo mais dele depois). Nessa parte também tem a relação do Drax com a Mantis (Pom Klementieff), que é muito bom, porque é o Drax vendo nela a filha que ele perdeu, enquanto ela vê nele uma figura paterna que ela nunca teve, pois ela só teve o Ego, que praticamente a escravizou, e a essa nova personagem é muito boa, a inocência dela gera situações muito engraçadas, mas é deixado claro que apesar dela ser fofinha e inocente, ela é uma extremamente poderosa. Prometi que ia falar do vilão e ele é incrível, eu gosto muito pelo menos. O plano dele é meio ultrapassado? É sim, mas na proposta se encaixa muito bem, o Ego é um vilão enganador, egoísta, que dá medo, o Kurt Russell está sensacional no papel, ele tem alguns momentos que são muito bem atuados, ele demonstra que o Ego é um cara meio pirado da cabeça, que faria tudo pelo poder e ele não está nem aí para nada senão disso. Inclusive o antagonista é uma das maiores mudanças das HQs para o MCU, nos quadrinhos ele não tem nada relacionado ao Peter Quill, é um vilão do Thor, mas em uma adaptação visões como essas são bem vindas e mostra que não precisa ser fiel ao material original para ser bom.

No outro arco o diretor trabalha esse trio com o Rocky, o Baby Groot e o Yondu, que é uma pequena equipe que funciona tanto na parte de ação/sci-fi, quanto na comedia, mas surpreendentemente bem no drama, com o passado deles sendo praticamente jogado na cara um do outro, saindo de uma pseudo rivalidade para uma amizade bem interessante, o Rocket precisando lidar com o fato de nunca ter sido amado, de ter sido sempre um simples experimento de laboratório que só encontrou amor entre os Guardiões, mas tenta renegar isso por nunca ter sentido algo parecido antes, sendo até meio babaca com todo mundo. O Yondu tem sua relação com o Peter, que ele foi uma figura paterna e o Star-Lord não reconhece isso, como o Udonta sente essa dor de ser meio negligenciado pela sua cria, mas que mesmo sabendo disso, sempre gostou dele e tenta o salvá-lo, fazendo sua redenção e reconciliação com o Quill. E também tem o Baby Groot, que é maravilhoso. O Groot adulto já era sensacional, mas a versão Baby acaba sendo três vezes melhor, eu amo esse bichinho, as cenas dele são pura fofura, a dança dele no início é incrível, quando ele está triste dá ódio de quem o deixou daquele jeito, é um dos meus personagens favoritos do MCU, ele é dos nossos. 

Visualmente falando, é o filme visualmente mais bonito do MCU. A cinematografia é sensacional, as cores saturadas que dão uma vida ao longa, a paleta de cores é muito boa, principalmente no planeta Ego, onde vai alterando das cores no talo quando eles chegam maravilhados lá, para as cores mais escuras e mortas quando a desgraça começa a acontecer, que é um simbolismo funcional. Novamente gostaria de destacar o trabalho de maquiagem, que é muito mais complicado que o do anterior, porque eles pintam dezenas de pessoas de dourado, apenas dourado, desde as lentes nos olhos até o cabelo, e ainda tem toda a tripulação dos saqueadores, cada um com características diferentes dos outros, alguns completamente complicados, outros apenas com um detalhe no olho, ou no rosto, cabelo, deve ter sido um trabalho muito mais complicado que o do primeiro, então fica aqui os meus parabéns para a equipe de maquiagem, porque acho que eu nunca vi algo igual em Hollywood, acho que só “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015) chega perto. E a trilha sonora é, novamente, especular, digo até que a seleção é tão boa quanto à anterior, mas aqui elas fazem sentido dentro da trama, com as letras combinando com aquilo que acontece, algumas que eu gosto são "Bring It to Home on Me", do Sam Cooke, "Brandy (You're a Fine Girl)", do Looking Glass, e "Wham Bam Shang-a-Lang", do Silver.

Excelente sequência, "Guardiões da Galáxia Vol. 2" é um dos melhores desse universo com toda a certeza. É divertido, é legal de assistir, o valor de entretenimento e de revisita é enorme. É bem feito em todas as questões, a história é excelente, ótimos arcos, desenvolvimentos de personagem que agregam muito, as piadas são muito bem encaixadas, elenco espetacular novamente com uma química impressionante e é o melhor filme da Marvel falando em questão de visual, design de produção, efeitos visuais, dublês, design sonoro, maquiagem, cabelo, cenografia, tudo excelente (Marvel, por que, Marvel?). São os queridinhos do público, se não fizessem algo digno seria um desrespeito, é um filme com autoria do James Gunn, é um filme bastante corajoso por mudar várias coisas dos quadrinhos e por decisões surpreendentes. Confesso que adoro tudo que envolva, eu já vi tantas vezes que eu considero essa galera os meus amigos, vou sentir muita falta deles após a despedida.

Nota - 9,0/10

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