Crítica - O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, 2021)

Margot Robbie, Idris Elba, vilões protagonistas, trasheira e tubarão fofo, como não amar?

🚨 Esse texto contém spoilers leves 🚨

Em julho de 2018, James Gunn, após dois excelentes e aclamados filmes no MCU, acabou sendo demitido da Marvel Studios por tweets pesados antigos e aí a DC, criticada fortemente na época, não perdeu a oportunidade de olhar para Gunn e ver ali um cara que poderia fazer um bom filme na editora, já que o próprio já trabalhou na Warner e é DCnauta assumido, ele é muito fã das HQs da DC e conhece personagens completamente esdrúxulos e desconhecidos da empresa e por isso ele foi a escolha certa para a direção, ele pega personagens de escala C ou D (até F) da DC e bota no filme, os únicos em escala A e B são a Arlequina, o Capitão Bumerangue, a Amanda Waller, o Flag e o Tubarão Rei, o resto são personagens totalmente aleatórios que nem os próprios heróis da DC nos quadrinhos devem saber que existem, como O.C.D, Dardo, Blackguard e Doninha que são tão bostas que morrem com menos de 15 minutos de filme. Mas, mesmo assim, sendo personagens incrivelmente desinteressantes, o Gunn faz você sentir o impacto da morte daqueles personagens, tanto por fazer você se importar rapidamente com eles, quanto pela violência gráfica apresentada, o Gunn entende o que o Esquadrão Suicida é e sempre foi: uma equipe de vilões de terceira categoria que não se encaixavam mais em nenhum em outra história e jogavam na equipe de qualquer jeito e toda edição pelo menos três morriam, aqui o Gunn faz um dos filmes de quadrinhos mais quadrinescos que existem, além da legenda totalmente estilosa em cenas não-em-inglês que lembra um traço quadrinesco, ainda tem as cores fortes, os visuais totalmente cartunescos, feitos de tecido fino e de cores vivas e mais estilosos, o visual da Arlequina por exemplo, é mais avermelhado que contrasta com o preto, o visual do Tubarão Rei é um tubarão branco usando calção de tiozão (o que só por essa descrição dá para saber que é genial), a intenção do Gunn ao escolher esse visual de tio foi dar uma cara mais humana para o Tubarão Rei e fazer-nos se empatizar mais com ele, o Polka-Dot-Man tem um visual idêntico ao dos quadrinhos e é totalmente ridículo, mas é ridículo no bom sentido, que é para ser engraçado e funciona nessa questão e mais uma vez nesse ano de 2021 temos a prova que uniforme igual ao clássico dos quadrinhos adaptado para a tela fica uma idiotice. O único visual mais escuro é o do Sanguinário porque ele é o personagem mais quebrado dentre aqueles do filme, é uma questão de metáfora, mas isso explico melhor no próximo parágrafo.

O Sanguinário é um vilão que é matador de aluguel e nos quadrinhos mandou o Superman para UTI com um tiro de uma bala de kryptonita (e isso é canônico), mas é um vilão que praticamente não tem participação ativa alguma nos quadrinhos, aqui ele é o protagonista e dentro da história ele é colocado nesse papel de liderança à força e tem que se virar, o arco dele aqui lembra o do Pistoleiro no primeiro filme do Esquadrão Suicida, até porque tem a relação dele com a filha, a filha é menor de idade e pode ir para Belle Rive, a diferença é que o Idris Elba sabe fazer drama diferente do Will Smith e compramos a história dele, além de outros dramas dele envolvendo traumas de infância com um pai maluco que dava castigos absurdos para ele (e também explica o trauma dele de ratos que gera algumas das situações mais engraçadas do filme), gostei muito do Idris Elba aqui, ele é um cara muito classudo na vida, nas entrevistas e aqui ele é um cara maluco, sem vergonha e que tem medo de coisas bobas, essa desconstrução da aparência dele de homão bad-ass foi muito funcional para mim e ele finalmente apareceu na DC já que ele odiava trabalhar na Marvel, não minto que fiquei decepcionado que ele entrou e não foi como Lanterna Verde, mas aqui tirou um pouco dessa dor que eu tinha. A Arlequina aqui ela é relegada para um papel secundário no primeiro ato e até a metade do segundo ato ela é, até chegar no protagonismo e a Margot Robbie é sensacional, é um dos castings mais acertados dos últimos anos em filmes de heróis, ela encarna aquela persona psicótica, irônica, doida e vulgar de uma forma que convence de que ela é tudo isso no nível 2 e acho legal que o James Gunn não apagou nenhum aprendizado dela dos dois filmes anteriores, ela segue algumas regras que ela mesma estabelece no "Arlequina em: Aves de Rapina" e isso agrega à personagem, mesmo que sabemos que a Margot não vai continuar por muito tempo como a personagem e que esse universo será resetado no filme do Flash, então não vai adiantar nada para o universo em si, mas aqui nessa obra agrega muito. O Pacificador eu achei incrível, o cara é basicamente uma versão extrema e maluca do Capitão América, um cara que quer a paz acima de tudo matando todo mundo que precisar (e tecnicamente ele não tá errado, porque se todo mundo morrer, o mundo realmente terá paz) e eu achei o John Cena está muito bem no papel, porque ele é ator relativamente há pouco tempo e até agora não teve um papel que deixasse ele explorar mais alguma capacidade de atuação que ele tinha, aqui ele consegue sair desse arquétipo de brucutu sem expressões que é um péssimo ator e aqui ele tá super carismático, a personalidade do personagem também ajuda muito, porque é um cara meio travadão que não tem pensamento do que tá fazendo, não pensa nas próprias atitudes e não tem muita noção, a cena que ele aparece de tanguinha branca eu nunca ri tanto em filme de super-herói.

O Tubarão Rei é incrível, ele é feio, ele tem um visual monstruoso, ele não é aquele tipo de personagem cg antropomórfico que é bonitinho visualmente, mas ainda sim ele é muito fofinho, quem não tem vontade de abraçá-lo nem gente é, ele é meio ingênuo, a ingenuidade dele misturada com a insanidade de um tubarão é sensacional, é um paradoxo interessante de acompanhar e ele tem tanto momentos de sua ingenuidade (como brincar no aquário com aliens) quanto momentos de insanidade (tentar comer a Caça-Ratos 2 enquanto ela está dormindo - não dessa forma seu mente suja). Falando nela, a Caça-Ratos 2 é outra personagem muito boa, ela é uma rebelde que era moradora de rua e que perdeu o pai (que é o Taika kkkk) e é uma personagem muito identificável, a história dela de ter que morar na rua com um pai solteiro é parecida com a de muita gente, dá para ver a relação de proximidade dela com os ratos e como mesmo eles sendo animais que causam doenças, eles podem ser fofinhos e importantes, eu gostei muito da Daniela Melchior no papel, ela só perde um pouco em atuação porque ela tá atuando numa língua que não é a nativa dela e isso algumas vezes causa um certo nervosismo ou desconforto, mas ainda é uma atuação muito boa. Tem o Polka-Dot-Man, o personagem de quadrinhos mais burlesco da história, que é um cara vestido com roupa colorida que espirra bolinha e aqui o James Gunn deixa ele sério de uma forma genial, transformando ele em um personagem nilista que tem aversão pela mãe porque a mãe dele era uma cientista maluca que criou uma condição com um vírus alienígena dele, esse negócio de transformar o personagem idiota dos quadrinhos em um cara traumatizado é muito legal. O grande vilão do filme é Starro, o primeiro vilão da Liga da Justiça e que aqui é basicamente a mesma coisa dos quadrinhos: um alien que quer conquistar planetas comandando a população, é um vilão que no que se propõe, que é ser um alien que não sabe falar gigante e ameaçador, funciona muito bem, é um vilão muito legal de ver nos cinemas. A única coisa que eu não curti foi a violência gráfica do filme, é boa, mas o James Gunn sabe que nerd quando vê violência já começa a se achar um cara incrível e brabo e começa a dizer "pô, é um filme realista, é maduro", sendo que é um filme propositalmente irrealista e imaturo, e é uma violência desnecessária, claramente baseada em "The Boys", mas em "The Boys" funciona pela sátira, aqui não tem nada, é assim porque sim.

Vou parar por aqui, porque você lendo aí não tem ideia, mas eu tô aqui há nove horas e tenho outras obrigações para cumprir e eu tô cansado. "O Esquadrão Suicida" é um dos melhores filmes de super-heróis dos últimos tempos na minha opinião, um dos que eu mais gostei de ver com toda certeza, é um filme que dentro de sua proposta foi muito funcional para mim. Todos os personagens são excelentes, o James Gunn tem muita autoralidade e coragem, ele não tem medo, ele mata todo mundo mesmo e dane-se, sensacional. Funciona como um pipocão divertido (só não recomendo assistir comendo por conta do gore).

Nota - 8,5/10

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