Crítica - Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom, 2018)

Surpreendentemente bom.

Eu confesso que esse filme nunca me animou em nada, eu deixei ele passar na época e eu só vi porque estou vendo a os antecessores para chegar em "Jurassic World: Domínio" e depois de rever o "Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros" meu hype diminuiu. Porém, surpreendentemente acabei gostando muito desse aqui, ele é totalmente diferente do que eu imaginei que seria, é algo mais puxado para o suspense, para o desastre, é um filme que põe os personagens em situações complicadas que necessitam de alta adrenalina e acabam gerando bastante tensão ao espectador que se cria uma imersão na história. Não é um filme perfeito, tem muitos erros, mas é um filme bem feito, bem original que me surpreendeu muito, nunca achei que eu iria gostar.

Quem dirige aqui felizmente não é o Colin Trevorrow, mas J. A. Bayona que fez um filme chamado "O Impossível" (2012), que não é um filme que eu gosto, mas ele trabalha muito bem as cenas de desastres e a reação das pessoas àqueles eventos. Aqui acho que foi a escolha certa para dirigir o filme porque precisavam de alguém como ele no comando, um cara que sabe trabalhar com desastres naturais, com o gênero de horror, com efeitos visuais grandes e ele sabe exatamente como fazer bem aqui, ele não busca emular o Spielberg em 98% do filme igual o anterior, o Bayona tenta criar algo próprio, diferente de tudo que a franquia apresentou até hoje, um filme que puxa mais para o terror do que para a aventura em si, mas onde os vilões não são apenas os dinossauros, mas sim quem quer mexer com eles e essa subversão é muito bem feita, você sente mais medo do poder e da capacidade humana do que das criaturas em si, é o primeiro filme da franquia que retrata os animais como realmente seres vivos, com emoções, sentimentos e etcetera e enquanto vemos os homens corrompidos pela ganância, o dinheiro, se pararmos para pensar, é o primeiro filme da franquia que mostra como os dinossauros foram explorados esse tempo todo desde o Hammond no "Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros" e algo que aqui é escancarado bem na nossa cara - e tanto que o dino vilão do filme é um rebelde que se virou contra os criadores (humanos) e por isso tenta matar todo e qualquer humano.

O Bayona se destaca muito na parte técnica do filme, além de toda construção da vibe de cada cena, ele consegue transpassar isso através de cada plano colocado em tela, tem uma hora que ele faz um contraplano maravilhosa que é chocante, tem momentos na edição também que ele mescla dois planos na tela que estão acontecendo simultaneamente e se encontram e é um jogo filmico chocante, porque eu realmente não esperava esse nível de direção nessa franquia depois do Spielberg. Ele também cria o desastre muito bem, como diz o subtítulo do filme tanto no original quanto na tradução, é um reino ameaçado, o Parque que era uma construção arquitetônica perfeita agora é mostrado como um mundo em ruínas, um local desgraçado pelo tempo e a cena onde a ilha realmente vai abaixo é chocante, é uma baita sequência de ação que desde o princípio flerta com o suspense e o terror, criando uma ansiedade no espectador, depois a cena vai ficando cada vez mais frenética onde não há momento para respirar, quando a cena acaba é um alívio porque todo aquela adrenalina foi embora, mas o encerramento desse arco do parque é triste com a morte de um puro e inocente Braquiossauro em um dos planos mais belos que eu já vi em um blockbuster.

O diretor também consegue melhorar aqui algo que não me descia no antecessor: Chris Pratt. O Chris Pratt aqui aparenta estar muito mais solto na atuação do seu personagem, ele não é o mesmo herói caras e bocas antipático que vemos no filme anterior, aqui você finalmente vê ele como um cara legal, simples, que só quer viver na van dele e construir uma casa para ele morar e quando ele vira um herói de ação mesmo você se importa muito mais com ele, principalmente porque aqui a relação dele com os dinossauros, especialmente a Blue, é bem mais estabelecida e gera cenas emocionantes (Owen Grady 🤝 Steve Harrington 🤝 Personagens odiáveis no início e depois de um desenvolvimento ficam legais). A Bryce Dallas Howard funciona bem no filme como a figura feminina forte, guerreira e, digamos, bem sedutora (mulher linda do cacete, vtnc), ela convence nessas cenas comuns, ela tem uma personagem legal, apaixonante, mas nas cenas de ação eu não gosto do overracting que ela faz porque fica muito na cara que ela está forçando e dá uma sensação de ridículo, faltou uma naturalidade nas cenas de susto na minha opinião, era só repetir a take, não ia fazer mal a ninguém.

Dos personagens novos de boa só a menininha, a Maisie (Isabella Sermon), que é fofinha, é carismática, excepcionalmente boa atriz, ela consegue transpassar os sentimentos de sua personagem de um jeito bastante crível, você se convence que aquela criança ali tá com medo ou quando tá feliz e tal, ela realmente me surpreendeu. Enquanto aos outros dois personagens eu não sei quem teve a ideia de colocar eles ali, porque a Zia (Daniella Pineda) e o Franklin (Justice Smith) são péssimos - ele inclusive indicado ao Framboesa de Ouro de Pior Ator Coadjuvante (não vamos dizer que foi injusto). São dois personagens sem importância, você não liga para eles e parece que eles foram totalmente improvisados dentro desta obra. Tenho a teoria de que seriam os irmãos do primeiro filme, mas como os intérpretes deles já estariam ocupados em outros projetos, arranjaram os dois primeiros que viram na rua e colocaram ali dentro, é totalmente perdido, eles somem por trinta minutos e você não dá a falta deles, esse é o calcanhar de Aquiles desse filme.

Uma coisa que nesse filme se destaca independente de gostar ou não com certeza é a OST do Michael Giacchino, é algo arrepiante, cada tema que ele põe emoção ali, muito da emoção do filme é ajudada por essa trilha sonora incrível, ele dá uma certa importância à alguns instrumentos que dão um tom épico ao filme, principalmente o tema do Indoraptor, que é aterrorizante e cria uma vibe de "nossa, isso tá acontecendo e tá indo longe demais". Também destaco o retorno de Jeff Goldblum como Dr. Ian Malcolm, que é muito bom, ele só tem duas cenas, mas é muito legal ver ele ali de volta, por mais que na primeira parte dele não esteja entregando uma atuação no nível do que ele já fez na vida (até porque não é necessário com o tempo de tela dele), na segunda parte ele faz um monólogo muito bom onde ele já havia avisado há 25 anos que não iria dar bom tudo isso.

Uma surpresa para mim, "Jurassic World: Reino Ameaçado" é um filme realmente bom, realmente bem feito. Além de corrigir erros do anterior, consegue ser um filme cheio de adrenalina, um filme onde você se importa com os personagens, é verdadeiramente divertido, é imersivo, é uma experiência intensa. É isso que ocorre quando um bom diretor com uma visão mais autoral assume o filme e não um robô que fica no Ctrl+C Ctrl+V o filme inteiro, o J. A. Bayona dá um show ao revolucionar o estilo da franquia que, pelo visto, não foi mantido, ele não só muda a vibe como subverte a visão que sempre tivemos de olharmos as criaturas como os antagonistas, quando na verdade os reais antagonistas são os humanos que os reviveram para explorá-los com objetivos puramente monetários (parece a Disney fazendo live-action). Não achei que ia dizer isso, mas é um filmaço!

Nota - 8,0/10

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