Crítica - Stranger Things (1ª Temporada, 2016)

Como criar um universo incrível.

Há seis anos, no momento desse texto, surgia uma das séries mais fenomenais (no sentido de ser fenômeno mesmo) da história e é inexplicável o sucesso astronômico, porque o elenco era praticamente desconhecido (o único nome mais conhecido era a Winona Ryder que já tava apagada na indústria e também tinha o David Harbour que nunca tinha conseguido um papel maior em Hollywood), é uma história que não é baseada em nada preexistente, não tem nenhum conceito conhecido e isso só me leva a uma resposta: fez sucesso porque é bom, não apenas bom, é excelente! É uma obra que pega várias referências de várias obras e cria um universo original, com conceitos incríveis, personagens carismáticos, uma trama envolvente e nossa, por que eu demorei tanto para ter assistido?

A série mostra uma forma de trabalhar ficção científica bastante diferente do convencional, puxando mais ao terror do que ao fantástico, como é de praxe, trazendo realmente a vibe oitentista que ele quer passar, pois grandes hits de sci-fi nos anos 80 eram mesclados com o horror (John Carpenter, David Cronenberg e outros). Trazer a série para os anos 80 é mais do que uma questão estética e referencial, o fato de se passar nos anos 80 tem uma grande porcentagem dentro da essência da série, onde mostra como o mundo era mais feliz àquela época, com fliperamas e ataris, D&D no auge, filmes incríveis a cada semana no cinema, era o melhor tempo para se ser nerd. A série foca em nerds, majoritariamente, Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin), Dustin (Gaten Matarazzo) e Will (Noah Schnapp), a série gira em torno desse grupo de amigos que são nerds ao extremo e eles tem uma grande parcela do sucesso dessa série, a interação entre eles é muito boa, a amizade que vemos estabelecida crescendo ao longo dos episódios é muito legal de acompanhar, são personagens muito carismáticos (especialmente o Dustin, que é facilmente top 2 personagens da série) e os atores são muito bons, eles passam muita verdade em suas performances, eles são muito bem coordenados e eles funcionam perfeitamente.

Incluí o Will no bolo do parágrafo passado, mas ele mal aparece ao longo desta temporada, o arco dele está mais relacionado aos seus familiares, sua mãe, Joyce (Winona Ryder) e seu irmão, Jonathan (Charlie Heaton) - aka o melhor personagem dessa série. Eu gosto de como trabalham esse drama da Joyce, como mãe ela desesperada atrás do Will, ficando enlouquecida, gastando mais do que podia, negando crer provas que seu filho pode estar morto e a Winona Ryder tá surtada na atuação, ela manda muito bem, talvez acho que é a melhor atuação dessa primeira parte da série, ela se descabela, fica incrédula, grita, surta, pira, ela é incrível! Enquanto o Jonathan para mim tem a evolução mais incrível da série nessa temporada, ele começa como um adolescente bullyinado, recluso e ele termina como um herói bad-ass que tenta peitar os demogorgons com um taco de beisebol, ele é meu personagem favorito da série porque ele é literalmente eu, ele sempre se culpa, não liga para os outros, pensa sempre na pior possibilidade e a mina que ele gosta não corresponde os sentimentos.

Os conceitos criados pelos Irmãos Duffer são bastante interessantes, o Mundo Invertido é uma coisa bem interessante, a forma que eles apresentam e dizem sobre quebras no espaço-tempo é muito doido e a própria construção visual dessa dimensão sombria com tons azulados e como você sente a atmosfera tóxica daquele local dependendo da sua imersão dentro da série. Também gosto de como trabalham esses experimentos feitos pelo Dr. Brenner (Matthew Modine) e eu gosto desse sentimento dúbio que é criado ao longo da temporada em relação a isso e não se pode falar dessa primeira temporada sem falar sobre a Eleven (Millie Bobby Brown) que é praticamente a grande heroína da série e esse mistério todo de quem ela é, o porquê dela ter poderes, é tudo algo que ajuda muito na sua imersão na série e eu gosto da forma como a Millie Bobby Brown atua, porque ela fala pouco mas mesmo assim ela tem uma certa superioridade por seus poderes, ela pode te matar a qualquer momento e tem cenas da série que são grandes demonstrações de poderes que não tem nem em filmes de heróis, ela é muito boa nessa temporada.

O Hopper (David Harbour) também é um personagem incrível. No primeiro episódio parece que ele vai ser o clássico arquétipo do policial rabugento com a vida que já tá cansado (no nype Comissário Gordon), mas ao longo dos episódios você vai vendo que aquele cara ali na verdade é um cara marcado pela perca e perder a pessoa que ele mais amou o transformou em alguém mais duro que se esconde em uma personalidade casca grossa quando por dentro ele está em um eterno sofrimento e como isso é trabalhado com o passar dos episódios, até chegar no último capítulo onde mostra em flashbacks qual o grande trauma dele e você que já gosta desse personagem, acaba gostando cada vez mais.

Na primeira temporada de "Stranger Things" temos uma história influenciada por várias coisas que se torna muito original, juntar vários elementos e várias referências transforma essa história em algo único, por incrível que pareça. Tem ótimos personagens que sustentam uma ótima história em ótimas atuações. É uma série que cresce ao longo dos episódios, é muito bem dirigida, a vibe dela é impressionante, tem um mix de sentimentos que ao mesmo tempo tem momentos cômicos, de horror, suspense, ação, tem um tom de história épica, é um negócio absurdo. Mal sabiam os Irmãos Duffer o monstro que eles criaram.

Nota - 10/10

Nota por Episódio:
1x1: "Chapter One: The Vanishing of Will Byers" - 8,0/10
1x2: "Chapter Two: The Weirdo on Maple Street" - 8,5/10
1x3: "Chapter Three: Holly, Jolly" - 10/10
1x4: "Chapter Four: The Body" - 9,0/10
1x5: "Chapter Five: The Flea and the Acrobat" - 8,5/10
1x6: "Chapter Six: The Monster" - 9,5/10
1x7: "Chapter Seven: The Bathtub" - 10/10
1x8: "Chapter Eight: The Upside Down" - 10/10

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