Crítica - Spiderhead (2022)
Um sci-fi bastante interessante.
O diretor Joseph Kosinski sinceramente nunca havia me despertado interesse em nenhuma de suas obras, mas depois de "Top Gun: Maverick" ser um dos melhores filmes que eu vi em muito tempo, decidi dar uma chance para ele, nada melhor que começar com um filme que lança menos de um mês depois da estreia do filme com Tom Cruise. Kosinski aqui decide adaptar um conto de ficção científica chamado "Escape From Spiderhead", de George Saunders e tenta nos apresentar em duas horas um conceito científico bem interessante sobre uma máquina que controla o sentimento das pessoas. De antemão já aviso que é um filme bastante divisivo e que você deve ir com a mente bem neutra para formar uma opinião mais concreta, assim como eu fiz.
O conceito científico aqui apresentado é bastante interessante, uma "máquina" que controla emoções é algo que não é novidade, mas a forma que desenvolvem aqui é muito intrigante, tem certos níveis e tipos diferentes mostrados e cada um tem uma função diferente que consegue mudar o cérebro de uma pessoa completamente, a forma mais simples de fazer a apresentação disso é apresentando com a coisa que as pessoas mais gostam: sexo. O primeiro sentimento alterado em tela é o tesão e você vai vendo ali como funciona isso, como eles vão mudando o nível até chegar em um momento que esses sentidos tomam conta total do corpo dos personagens ali mostrados. Esse conceito é muito bem trabalhado ao decorrer do filme em vermos outras sensações abordadas, como a alegria, o medo e até um momento onde os personagens ficam chapados e é muito convincente, também é impressionante como aquilo poderia ser facilmente real, porque não é difícil entrar na mente de uma pessoa e agora conseguir ter níveis de comoções é algo bem original que me surpreendeu bastante.
A mensagem do filme é sobre autoperdão, o filme inteiro basicamente fala sobre isso. Primeiro que o local cujo se passa é uma espécie de prisão com cobaias que foram presas mas que optaram por ir para lá para se sentirem menos culpadas do que fizeram com as alterações que seriam aplicadas. Todos os personagens do filme são pessoas que cometeram erros de maneira não-proposital ou em momentos de instabilidade emocional e que vão para esse lugar onde tentariam buscar redenção para si mesmos. A mensagem do filme no final é justamente que: não existem drogas ou remédios para você se autoperdoar, você mesmo tem que se perdoar com o passar do tempo. É uma mensagem que faz bastante sentido com o que o filme fala e mostra sobre os personagens centrais e também é uma mensagem muito influente que ajuda as pessoas mesmo, todo mundo se culpa por coisas que são imperdoáveis, mas que depois de um tempo esse peso nas costas cai.
Acho que se o filme tivesse um terceiro ato melhor seria, tranquilamente, um dos melhores filmes sci-fi do século. Porém, o terceiro ato acaba diminuindo um pouco o nível do filme, não chega a ficar inassistivel, porém os diálogos começam a ficar muito caricatos e expositivos, muitas coincidências narrativas ocorrem e os cortes nas cenas de ação atrapalham muito as lutas em si. Se tivesse mais tempo, fosse menos apressado, menos explicativo e tivesse mais coragem nas cenas de porrada, indubitavelmente minha nota seria bem maior, esse ato que deixa a sensação de que o filme foi menor do que poderia ter sido.
A melhor coisa do filme, de longe, são os protagonistas. O Miles Teller manda muito bem, ele transpassa bem a culpa que o personagem carrega, ele consegue mostrar o quanto aquele cara é traumatizado no ponto certo e como vocês devem ter percebido, o filme necessitaria de um cara com muitas emoções no papel e o Teller, apesar de não ter um rosto tão expressivo, convence no papel com uma entrega corporal também, ele consegue passar através de expressões meticulosas e trejeitos corporais perfeitamente o que o personagem sente. O Chris Hensworth por outro lado faz o vilão do filme, é legal ver essa subversão dele que quase sempre faz o herói e aqui ver ele como um vilão excêntrico, sarcástico e carismático é muito legal, ele também necessita de muitas emoções para interpretar seu personagem e você vê como que ele se entrega muito ali para o personagem sair bom. Além da relação entre os dois ser muito boa, porque é uma amizade, ao mesmo tempo que é uma relação onde ele tenta domesticar ele para ser uma cobaia eternamente, tem cenas dos dois muito boas juntos que a química entre eles é surpreendente, os dois juntos formam uma ótima dupla.
Apesar de ser bastante divisivo, eu gostei de "Spiderhead", é uma história bem interessante e muito bem apresentada pelo Kosinski, são conceitos da ficção científica espetaculares que criam situações onde o diretor transita muito bem entre vários sentimentos e entrega o que a premissa promete. Com uma dupla protagonista sensacional e carismática, Joseph Kosinski entrega um dos filmes mais interessantes de 2022 até o momento, fazendo este que vos fala ficar imerso no filme de uma forma que nem eu esperava. Apesar dos problemas, o filme me conquistou e se quiserem mais um motivo para eu ter gostado: a batalha final do filme é ao som de "You Make My Dreams" da dupla Daryl Hall & John Oates, também conhecida como a música que o Tom dança em "(500) Dias Com Ela".
Nota - 7,5/10