Crítica - Top Gun: Maverick (2022)

Um dos filmes mais incríveis que eu já vi.

🚨 Texto sem spoilers 🚨

Foram trinta e seis anos de espera, mas finalmente uma sequência de "Top Gun - Ases Indomáveis" está entre nós. Geralmente quando vem continuações que lançam muito depois do filme original, o mais fácil de imaginar é que vai ser inferior ao antigo, é o que estamos acostumados, pois os casos recentes não são um retrospecto positivo nesta questão. Aqui, temos um caso raro: ele não só supera, como por muito! Esse só não é melhor em uma coisa que comento depois, mas cara, ver no cinema sendo um fã do antecessor desde criança foi uma experiência maravilhosa, acho que nunca me senti tão feliz e tão leve ao ver algo no cinema. Já está entre os melhores filmes de 2022 e entre os melhores filmes que eu já vi na vida. Eu só estou muito feliz que eu tive a oportunidade de ver isso no cinema, eu tinha sete anos quando vi o original pela primeira vez na TV, agora ver o segundo é um mix de sentimentos difícil de explicar.

Nas sequências que se passam muitos anos depois, normalmente ficamos felizes ou orgulhosos de vermos os protagonistas mais velhos e amadurecidos do que no filme anterior, aqui não é o caso, o Maverick (Tom Cruise) ainda é o mesmo moleque irresponsável, sedutor e completamente louco que foi visto há trinta anos e ele amadurece ao longo da exibição. Durante esse tempo todo que se passou, o Capitão Mitchell recusou várias promoções na Marinha porque a paixão dele por ser um piloto sempre teve uma voz mais ativa na sua cabeça e eu acho legal fazer essa retratação meio "Peter Pan" do protagonista, porque é isso que ele aparentava desde sempre, ele é o mulherengo que anda de moto usando Ray-Ban, com senso de humor debochado cheio de desacato à autoridade (quero ser igual a ele quando eu crescer). O Tom Cruise tem uma atuação bem mais amadurecida e segura de si, acho que deve ser a melhor atuação dele em muitos anos, desde "Colateral" (2003) do Michael Mann. Ele é o cool guy, você gosta dele, você se apega a ele, você quer ser ele e ele manda bem ao passar essa vibe, eu gosto dos trejeitos dele, principalmente na parte mais romântica onde ele tem trejeitos de garanhão e passa uma lábia impressionante - e, independentemente de orientação sexual temos de admitir: o Tom Cruise é um p*ta de um gostoso (me senti humilhado vendo ele com tanquinho aos 60). O amadurecimento dele é meio que forçado pelas situações, pois ele é posto na posição de mandante e ele é obrigado a agir como um professor para uma dúzia de moleques e ainda tem o pano de fundo da relação dele com o Rooster (Miles Teller).

Rooster é filho do Goose (interpretado pelo Anthony Edwards no filme anterior), cujo Maverick ainda se culpa pela morte, apesar de ter sido provado que não foi por erro dele. Pete tentou ser um pai para Rooster mas vacilou com ele e o garoto o odeia por ter invalidado seus documentos para entrar na Marinha. A relação entre os dois é muito bem trabalhada, é uma relação entre o moleque e a figura paterna que não se dão bem, já vista em tantos outros filmes, mas a forma com que o diretor Joseph Kosinski a trabalha eleva para algo que realmente tem um peso na consciência do personagem principal o longa inteiro e essa relação se solidifica no último ato, e se eu passar disso, é muito spoiler, melhor eu parar por aqui - mas, um detalhe: o Miles Teller tá IDÊNTICO ao Goose, repito: IDÊNTICO. O ator também está excelente no papel fazendo esse garoto com os seus daddy issues com o Mav e tem cenas que ele extrapola e fica sensacional, ele demonstra muito bem o que o personagem pensa só através do olhar e do comportamento corporal, mandou bem demais.

Joseph Kosinski tenta afastar a história da do longa original, trazendo novos elementos para a história e tendo apenas duas relações com o que é visto na primeira jornada de Maverick: a relação com Rooster (com a família do Goose) e com o Iceman. Muita gente reclamou que não trouxeram a Kelly McGillis de volta, mas no já era estabelecido que o relacionamento entre os dois era um casinho besta e para ser sincero, ela nem falta fez aqui, a Jennifer Connelly como Penny é um par romântico bem melhor. Gosto de como a relação do casal protagonista não é do nada, há um desenvolvimento de anos atrás que é apenas mencionado e é basicamente um reencontro entre eles, isso diferencia do que é visto geralmente nesses romances em blockbusters e na moral, que química, que casal legal, a aproximação dos dois é muito boa e eles combinam muito em tela, mas a pior coisa é decidir quem é mais atraente: o Tom Cruise ou a Jennifer Connelly? Brincadeiras à parte, ela também está incrível e tem cenas que surpreendem pela atuação, como a da conversa depois de um certo evento meio depressivo, que ela demonstra o porquê de complementar tão bem o Maverick.

A outra dessas duas vias que correlaciona com o original é a presença do Iceman (Val Kilmer), que aqui retorna como almirante, e é emocionante a cena do reencontro, o nosso querido Kazansky no original era o cara rival, meio babaquinha e ao longo do antecessor ele e o Maverick se tornam amigos e essa amizade que é resgatada e retratada aqui é emocionante. Basicamente o almirante que fez o capitão ficar na Marinha até agora e o reencontro dos dois é maravilhoso, eu juro, eu chorei na cena, ainda mais sabendo de tudo que o Val Kilmer passou na vida dele: o câncer, a perca da voz e ver ele aqui, sorrindo e falando (mesmo que seja com uma inteligência artificial) me fez tão feliz, e o desfecho da história dele também me fez chorar, impressionante a carga dramática trabalhada pelo Kosinski, o cara surpreendeu.

As cenas de vôo são inacreditáveis! Aqui é muito mais porque em 1986 o Tom Cruise ainda não era um sociopata perfeccionista que queria fazer tudo não importa o risco (tem até uma referência a isso aqui numa cena onde ele não consegue pilotar um barco, algo bem mais fácil que pilotar um jato) e o esse dodói malucão não é o diretor, mas é ele quem manda e, não só ele, como todos os intérpretes de pilotos tiveram que aprender a pilotar caças militares também, e isso gera cenas de ação extraordinárias e que te colocam dentro do longa, ainda mais vendo no cinema com o som dos motores rasgando seus ouvidos, é uma sensação muito boa (inclusive eu tive a grata oportunidade de ver na sala do cinema da minha cidade com o melhor som e a maior tela, foi uma experiência realmente inesquecível). Joseph Kosinski revelou que foram aproximadamente oitocentas horas de gravação (!) e isso só me faz questionar: como que de todo esse material, ele conseguiu selecionar as duas horas mais perfeitas que poderia ter? Porque todas as cenas são impecáveis e estão aonde deveriam estar, até as de vôo que, provavelmente, foram o motivo de ter 800 horas de material (provavelmente não, né, com certeza).

A trilha sonora do filme é composta pelo Harold Faltermeyer (o compositor do primeiro filme), pelo lendário Hans Zimmer e pela Lady Gaga (que também ajudou na composição além de fazer a música tema) e eu devo dizer que é tão boa quanto a do primeiro, acho que a canção original "Hold My Hand", apesar de bacana, fica abaixo da clássica "Take My Breath Away" e esse é o tal único aspecto que o original se sobressai, mas é difícil também falar entre uma música que tá enraizada no mundo há décadas contra uma que acabou de lançar. Quando toca o tema clássico do Faltermeyer e logo depois "Danger Zone", eu me senti naquela cena de "Ratatouille" onde o Anton Ego prova o ratatouille e volta para a infância, mas ao invés de comer ratatouille, comigo foi assistindo a cena inicial do antigo começando na televisão. Os temas compostos, especialmente pelo Hans Zimmer, são todos espetaculares e o Zimmer não tenta aparecer mais que o longa como em algumas ocasiões e isso me deixou muito feliz, porque é aí que ele brilha sempre. Agora, uma das questões que tínhamos sobre o filme é se ele seria tão gay quanto o primeiro e eu digo: não, porém temos novamente a cena da praia aqui (dessa vez com futebol americano) que supera o nível gay de algumas das cenas do primeiro filme e até me deu vontade de sair do cinema, mas aqui é justificada com uma função na trama bem inteligente.

Em "Top Gun: Maverick" temos um dos filmes mais perfeitos que eu já vi. Uma sequência que supera, por muito, o original. Ver no cinema foi uma experiência imprescindível, eu nunca vou esquecer de ter visto algo tão bom e tão divertido assim na telona, depois de anos de espera, eu finalmente estou realizado em ver que esse um Top Gun 2 existe e é melhor do que jamais imaginei, eu nem achava que poderia ser mais que uma nota 8 e agora tô aqui falando horrores dele. Tom Cruise é um ator espetacular que entrega um dos personagens mais icônicos da sua carreira novamente de uma forma melhorada ainda por cima. Esse filme é uma obra de arte pura em todos os quesitos: drama, ação, entretenimento, trilha, som, montagem, tudo. Que coisa linda!

Nota - 10/10

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