Crítica - Stranger Things 3 (3ª Temporada, 2019)

A melhor temporada!

Depois de duas temporadas tensas, aterrorizantes e puxando mais para o lado do bizarro, seria a hora de puxar o freio? Bom, nessa terceira temporada temos uma vibe totalmente diferente das duas primeiras, onde aqui foca mais nas relações interpessoais dos personagens e na aventura do que no terror e no sci-fi, aqui vemos os Irmãos Duffer buscando uma originalidade dentro da série, porque depois de duas temporadas praticamente emulando Ridley Scott e John Carpenter, vemos aqui uma vibe mais diferenciada que é muito funcional. Além de que se pararmos para analisar, os episódios se passam em 1985, quais os filmes de maior sucesso de 1985? "De Volta Para o Futuro", "Os Goonies", "Clube dos Cinco", "Rocky IV" e "Mad Max: A Cúpula do Trovão", que envolvem praticamente todos os elementos principais dessa leva de episódio: aventura, comédia mais séria e inteligente, adolescentes, um grande mistério, uma ameaça maior, russos e acima de tudo: diversão. Então, faz sentido que os Duffer optaram por esse estilo do que dos anos anteriores (que também fazia sentido, visto que filmes como "A Morte do Demônio" e "O Enigma de Outro Mundo" haviam sido lançados perto da data que se passam as primeiras seasons).

Aqui seguem novamente a estrutura da temporada anterior de separar os personagens em núcleos e nos últimos episódios juntar todo mundo para um grande confronto épico. Aqui a divisão começa no arco que envolve Mike (Finn Wolfhard) e Eleven (Millie Bobby Brown) namorando e tendo uma DR durante a temporada inteira e com isso eles envolvem Lucas (Caleb McLaughlin), Max (Sadie Sink) e Will (Noah Schnapp) no meio disso, mas eles também terão de resolver o mistério de Billy (Dacre Montgomery), que foi possuído pelo Devorador de Mentes. O outro destacamento envolve Dustin (Gaten Matarazzo) e Steve (Joe Keery) tentando desvendar códigos russos com a ajuda da nova personagem, Robin (Maya Hawke) e da irmã de Lucas, Erica (Priah Ferguson). Temos novamente o arco de Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton) procurando solucionar um mistério e, por fim, Joyce (Winona Ryder) e Hopper (David Harbour) descobrindo que os russos estavam em Hawkins há algum tempo.

Começar falando desse arco do Mike com a Eleven, que é o ponto fraco da temporada pelo simples fator de adolescente na puberdade ser um pé no saco que só sabe falar de amor, namoro e blá blá blá, nesses momentos é onde eu me identifico com o Will, porque realmente deve ser horrível ficar escutando problemas que você não dá a mínima toda hora contra sua vontade. Não é ruim, só para deixar claro, nós vemos essas crianças crescidas sendo insuportáveis pois não sabem como agir em um relacionamento e faz total sentido porque adolescente namorando é assim mesmo, começa o namoro e termina umas oito vezes em uma semana, fica com raiva por uma discórdia ou outra e tal, vendo por esse lado, funciona muito bem. Também gosto de como funciona o Will nessa situação, porque ele não quer saber de namoro, ele não quer saber de mulher e problemas no paraíso, ele quer jogar D&D e quando ele percebe que seus interesses e de seus amigos não estão mais alinhados, ele fica irritado e destrói tudo envolvendo a amizade, é outra crise de jovem que é muito bem trabalhada, porque é desse jeito, você quando adolescente fica bravo, chorando falando que "nunca mais" isso, "nunca mais" aquilo e aí no dia seguinte esquece tudo.

Quem rouba o show nessa temporada é esse arco do Starcourt. Primeiro que colocar um centro comercial como uma fachada para o governo soviético foi simples, mas de certa forma foi brilhante, se pararmos para analisar de que naquele momento histórico, a Rússia era socialista e um shopping é a instalação mais capitalista possível, então a sacada feita pelos Duffer foi ótima. Segundo que Steve e Dustin são uma das melhores duplas dessa série, a amizade entre os dois é incrível, a química entre o Keery e o Gaten é inacreditavelmente espetacular, isso que é uma das duplas mais improváveis da história, quem viu só a primeira temporada não conseguiria crer que Henderson e Harrington formariam uma das melhores combinações das séries. A adição da Robin para mim foi um ponto crucial para a engrenagem dessa temporada, porque esse estilo de humor mais ácido dela, o sarcasmo enraizado naquela cara de falta de interesse da Maya Hawke ajuda muito no carisma dessa temporada, é uma personagem muito boa que foi uma adição interessantíssima para o plantel, além do trio que ela faz com os outros dois ser perfeito. E a Erica é a personagem mais chata da série, porém eu gosto de como trabalham nela a hipocrisia da época, ao ela criticar Lucas e os amigos por serem nerds, quando no fundo ela é tanto quanto eles e eu gosto porque vai além de uma mera piada, é uma crítica a aceitação social e como as pessoas fingem ser o que não são para se encaixar em padrões estabelecidos da sociedade.

O arco da Nancy e do Jonathan tanto faz, é deixado em quarto lugar, mal aparecem, apesar de tanto ele quanto ela terem um crescimento altíssimo durante essa temporada, vemos ambos buscando suas ambições e tentando se apoiar no relacionamento e eu gosto muito deles, os atores tem carisma, muita química e o Jonathan aqui ainda é meu personagem favorito porque ele tá cada vez mais se consolidando como um grande amigo, como um irmão mais velho para toda a trupe. O arco do Hopper e da Joyce é muito interessante, é muito legal ver os dois trabalhando juntos no maior estilo buddy cop, quase como um "Máquina Mortífera" um pouco romântico e os dois discutindo, tendo decisões que são abordadas por um lado mais cômico, é bem legal, além de trazerem de volta o Murray (Brett Gelman) com um papel mais importante e colocarem o Dr. Alexey (Alec Utgoff) que é um dos personagens mais amáveis da série. Ainda nesse assunto, gosto da rivalidade que é criada entre o Hopper e o Grigori (Andrey Ivchenko), principalmente porque esse russo é literalmente o próprio T-800, porque ele não tem nenhuma expressão, parece um robô programado para matar e põe medo só de aparecer em tela (além de ser fisicamente similar ao Robert Patrick, o T-1000), claramente uma referência a "Exterminador do Futuro" (1984).

Outras três qualidades que preciso destacar são: primeiramente, a relação entre Max e Eleven. O quanto que ambas crescem com essa amizade é impressionante, a Sadie Sink e a Millie Bobby Brown tem uma baita química juntas e em cena elas combinaram demais, principalmente nesse conceito clássico de melhores amigas dos anos 80, além da mensagem passada ser muito importante, que é que as pessoas tem que agradar a elas mesmas e não as outras e para o público da série, é uma mensagem bastante válida. A segunda é o Devorador de Mentes. Toda a questão do Mundo Invertido é deixada de lado por aqui, mas a forma de como o vilão é construído de forma similar a um demônio é impressionante, causa medo ver todas aquelas pessoas que ele controla juntas, como ele vai dominando as pessoas pouco a pouco e como isso acaba culminando no último episódio é espetacular. A terceira é o peso emocional e a coragem da série, pois nós vemos várias vezes que a série não teme em matar seus personagens e como que com pouco material com eles, conseguimos nos chocar e emocionar com o final do arco deles, Dr. Alexey e Billy por exemplo, o primeiro mal conhecíamos, o segundo era odiável, mas com um minuto desenvolvendo eles e mostrando que eles são pessoas boas, me fez emocionar, sem contar a morte falsa do Hopper que também é bastante emocionante pelo sacrifício que ele faz e a cena da Eleven lendo a carta dele me fez chorar.

E a season finale, ein? Na minha humilde opinião, é o melhor episódio da série. Primeiro que você já tá tão envolvido a tanto tempo com aqueles personagens que uma familiaridade é criada e acaba subindo o nível de importância daqueles personagens para você. Nesse episódio tem várias cenas épicas, de sair gritando mesmo, como o Steve chegando com o carro e salvando geral de ser morto pelo Billy (minha cena favorita da série), tem a cena do Lucas tacando fogos de artifício no Devorador de Mentes, tem a Eleven libertando o Billy do Devorador de Mentes, o Hopper destruindo o projeto russo de Schwarzenegger e a Joyce fechando o portal, são todas cenas que empolgam, que quem assiste já fica na ansiedade e adrenalina que quando acaba é uma sensação de alívio, de poder respirar. Mas eu citei essas cenas e não poderia esquecer justamente de cena mais icônica dessa série, né? Logicamente o Dustin cantando "Never Ending Story" com a sua webnamorada dos anos 80 e era uma cena que tinha tudo para ficar ridícula, pois geralmente não dá bom um momento cômico em meio a uma tensão de todos os lados, mas tudo nessa cena é perfeito, a reação dos personagens, o Hopper percebendo que literalmente ele trabalha com crianças, o monstro gigante atrás do carro, é sensacional, eu não tenho ideia de como fizeram dar certo, mas conseguiram e deu mais do que certo até.

Buscando novos ares, "Stranger Things 3" deixa de lado o terror e a ficção científica para focar mais claramente nas relações entre os personagens com uma vibe mais de aventura e de comédia mais séria dos anos 80. Cria relações incríveis, tem uma divisão de núcleos que funciona perfeitamente, tem cenas inesquecíveis, momentos marcantes e todos os episódios mantém o mesmo nível de serem perfeitos ou quase lá. Com um nível emocional aguçado e com uma originalidade em sua trama, essa se consolida, na minha visão, como a melhor temporada da série até este momento.

Nota - 10/10

Nota por Episódio:
3x1: "Chapter One: Suzie, Do You Copy?" - 9,5/10
3x2: "Chapter Two: The Mall Rats" - 9,0/10
3x3: "Chapter Three: The Case of the Missing Lifeguard" - 10/10
3x4: "Chapter Four: The Sauna Test" - 10/10
3x5: "Chapter Five: The Flayed" - 10/10
3x6: "Chapter Six: E Pluribus Unum" - 10/10
3x7: "Chapter Seven: The Bite" - 10/10
3x8: "Chapter Eight: The Battle of Starcourt" - 10/10

FILMES OU SÉRIES RELACIONADOS:
• Stranger Things (2016)
• Stranger Things 2 (2017)
• Stranger Things 4 (2022)

Postagens mais visitadas