Crítica - Cobra Kai (3ª Temporada, 2021)

A evolução de uma série bacana para uma série épica.

Após os eventos da batalha da escola na season finale anterior, Cobra Kai retorna para o que seria a sua chave de virada e algo apenas ótimo pega novas proporções, se torna uma coisa que você vibra assistindo mais de uma vez, se emociona, vira algo que chegou uma hora onde eu disse "p*ta que pariu eu amo essa série" só por ela existir. Falando a real, essa série é uma novela, é a Malhação versão Netflix, mas isso é excelente, porque em meio as séries que temos atualmente como "Stranger Things", "The Boys", "Sucession", "Better Call Saul", "Euphoria" e outras que na maior parte do tempo são mais sérias, mais pesadas, mais tensas, nós precisamos de uma série que equilibra toda essa seriedade e Cobra Kai faz isso perfeitamente, a série é leve, novelesca, divertida e muito bem feita, a história atravessa gerações, eu conheço gente de 10 anos que assiste e gente de 40 que assiste, é a série que vem para unir, que todo mundo gosta e é isso.

Eu fico impressionado como essa série consegue criar múltiplos arcos e equilibrar todos eles de forma que você consegue se importar com todos, aqui nessa temporada mesmo há cinco diferentes arcos e a divisão deles em tela é perfeita, alguns vão se mesclando ao longo dos episódios e no final tudo se junta na season finale mais selvagem da série. Quem foi o grande destaque dessa temporada? Novamente a relação de Johnny Lawrence (William Zabka) com Miguel (Xolo Mariduena) e aqui há esse sentimento dúbio já que há chances de Miguel ficar paraplégico e eles tem uma aproximação muito forte nessa temporada, principalmente porque o Johnny carrega culpa pelo o que houve com o Miguel na escola, todos os seus alunos se viraram contra ele e seu filho está sumido, ele está perdido e quando Miguel acorda ele tenta fazer seu melhor amigo/enteado voltar a andar e a cada evolução dele é uma felicidade para o espectador, a recuperação do Miguel toma uma boa parte da série e até ele se recuperar totalmente há uma paciência e ele ainda não se recupera totalmente nessa temporada, tanto que ele mal consegue chutar e leva uma surra do Kyler na season finale.

Falando em relações do Johnny, a relação dele com o Daniel-San é um ponto altíssimo da série, essa aminimizade é muito braba, o Ralph Macchio e o William Zabka tem uma interação espetacular, é uma dupla clássica onde um é racional e o outro emocional, mas algumas vezes os dois são completamente emocionais e essa briguinha deles não é nada mais que tensão sexual disfarçada. Daniel e Johnny vieram de treinamentos diferentes, criações diferentes, jornadas diferentes, logo ambos tem visões completamente opostas sobre o mundo no geral, essa relação deles gera várias das melhores cenas da série, inclusive em dos primeiros episódios é espetacular juntarem eles num lance de "policial bom e policial mau", o cara que teve essa ideia foi um gênio, gerou um dos melhores episódios da série. Para a alegria dos fãs, Daniel e Johnny recebem um estalo de realidade através da nossa doce e amada Ali Mills (Elisabeth Shue) que retorna e faz com que eles percebam que continuar uma briga de três décadas atrás é totalmente inútil e imaturo para dois homens daquela idade, também Ali é a única que percebe que LaRusso e Lawrence enxergam um no outro apenas características deles que eles não gostam neles mesmos, Daniel não quer aceitar sua agressividade e perigosidade e Johnny não quer aceitar a sua explosividade e provocação, essa dualidade deles é o que faz essa série andar e eles são mais iguais do que aguentam admitir.

Inclusive eu falei da Ali e uma das coisas que eu mais admiro na série é o retorno de personagens antigos dos filmes clássicos para a série e não é só uma aparição para você ficar empolgado e passar depois como algo vazio, todos os personagens retornam com uma função na trama. Aqui hão três retornos, a própria Ali, que é muito legal ver ela de volta, a Elisabeth Shue retornando e ela tem a função de agregar aos arcos de Johnny e Daniel, fazendo com que eles percebam que vivem uma realidade fútil numa rivalidade sem sentido e quando ela aparece em cena tem um brilho muito especial, quando ela aparece pela primeira vez é um dos momentos que eu virei e falei: "pqp como eu amo essa série". Também tem o retorno do Chozen (Yuji Okumoto) que ajuda o Daniel a descobrir mais sobre o verdadeiro caratê da família Miyagi. Chozen tem uma evolução notável desde o primeiro filme, virando um mestre sábio e paciente ao invés daquele adolescente chatão e irritante, esse treinamento dele com o LaRusso é muito bom, muito divertido e a vingança dele sendo construída pacificamente com um rancor de 35 anos antes é simplesmente algo satisfatório.

E também há nossa grande Kumiko (Tamlyn Tomita) - eu continuo não tankando esse nome. A Kumiko ela retorna numa função mais especial, claro, é lindíssimo ver ela de volta, a interação e a química *absurda* entre ela e o Daniel, o futuro que ela queria se realizou, a Kumiko é uma personagem impossível de não gostar, só que ela também tem a função de tentar trazer de volta o Sr. Miyagi e seus ensinamentos para o LaRusso, ela literalmente leu as últimas palavras do Sr. Miyagi para Okinawa e isso não é só lindo pelo momento, é lindo porque demonstra que toda a franquia Karatê Kid é sobre a amizade do Daniel-San com o Miyagi e mesmo após a morte do último, ele ainda está presente lá o tempo todo em espírito e alma. Eu gostaria muito que o Pat Morita pelo menos soubesse que o amor que todo mundo tem pelo seu personagem mais famoso continua intacto, o Miyagi, seus ensinamentos, sua personalidade e sua amizade com o Daniel-San são imortais.

Nessa temporada há um maior desenvolvimento e ameaça do Cobra Kai, com Kreese (Martin Kove) tomando a liderança de vez e provando cada vez mais o quanto ele é um psicopata doente e perturbado que manipula a mente de jovens os ensinando uma política antiética e errada. Mas Kreese não é tão mau assim, pois ele ganha um desenvolvimento absurdo em flashbacks (sua versão mais jovem é interpretada pelo ator Barnett Carnahan) e a gente vê que o Kreese foi igual aos garotos e garotas que ele ensina: foi manipulado por um mestre sociopata que o transformou em um monstro sem compaixão, toda essa história dos flashbacks é espetacular, você vê o Kreese sendo um cara legal, um bobo apaixonado e termina com a sua origem de vilão virando esse cara impiedoso e doido por socar os outros. Seus alunos não deixam de ganhar desenvolvimento, enquanto Kyler (Joe Seo) é apenas um riquinho valentão, Tory (Peyton List) e Falcão (Jacob Bertrand) ganham um desenvolvimento a mais, vemos finalmente um background da Tory que antes parecia ser apenas uma valentona para criar uma rivalidade feminina com a Sam (Mary Mouser), mas aqui a gente vê o quanto a Tory na verdade é a personagem que mais sofre na série, constantemente assediada pelo síndico de seu prédio, ter que trabalhar em dois empregos para sustentar a família com um irmão criança e uma mãe doente, ela não tem nada e apesar dela ser uma psicopata, você sente pena e entende o lado dela.

Enquanto ao Falcão... Bom, é meio complicado. Curto muito a performance do Jacob Bertrand, essa transição que ocorre do nerd para o valentão na primeira temporada e agora vemos essa persona grosseira e brigona tomando conta, mas acontece que como o personagem é um dos mais queridos, decidiram tentar trazê-lo para o lado bom da força, mas é muito rápido, precisava de muito mais desenvolvimento. Entre os arcos da série que vemos, o do Falcão acaba ficando meio de lado e as cenas que fazem ele questionar se está do lado certo ou não são muito rápidas e são poucas até. Eu gosto do fato de ter a redenção do Falcão e a amizade com o Demetri (Gianni DeCenzo) ser redefinida, mas o problema é justamente ter tamanha pressa nisso. Demetri é outro personagem com uma evolução enorme nessa temporada, ele continua o mesmo nerdola fazendo referência a Star Wars, super-heróis, Harry Potter e etc; mas também ele ganha confiança, ele vira um personagem que você acha maneiro, o cara saiu do geek bullyinado para o namorado da menina mais popular da escola, essa essência dele não ter sido abandonada mas ele ter evoluído para um Demétrius foi uma escolha acertadíssima, uma ótima adição para a Pokédex da franquia.

Sam é outra personagem que tem uma evolução notável, eu gosto muito da Sam. Crush? Talvez. A Sam tem toda essa construção de um trauma envolvendo a Tory que vai se alastrando ao longo de todos os episódios e eu vou parar por aqui porque o limite do Instagram encerra logo. A terceira temporada de "Cobra Kai" é um choque, onde a série muda seu patamar, indo de algo muito divertido, para um divertido épico, se tornando um dos melhores audiovisuais do ano de 2021. Com retornos de personagens que realmente agregam à trama, desenvolvimentos de personagens chave e uma excelente expansão, a série sobe uma prateleira. Apesar de uma decisão narrativa que eu discordo muito, essa temporada foi chocante e divertidíssima, não dá para negar que beira a obra-prima. Cobra Kai é uma novela da Netflix? Sim, mas isso não significa que é ruim, é a série que o público precisa, a série que quebra a tensão de todas as outras e traz momentos de pura diversão e entretenimento.

Nota - 9,5/10

Nota por Episódio:
3x1: "Aftermath" - 8,5/10

3x2: "Nature Vs. Narture" - 10/10

3x3: "Now You're Gonna Pay" - 8,5/10

3x4: "The Right Path" - 10/10

3x5: "Miyagi-Do" - 9,5/10

3x6: "King Cobra" - 9,0/10

3x7: "Obstáculos" - 9,0/10

3x8: "The Good, The Bad and the Bad-Ass" - 10/10

3x9: "Feel The Night" - 10/10

3x10: "December 19" - 9,5/10

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