Crítica - Karatê Kid - A Hora da Verdade (The Karate Kid, 1984)

Um clássico memorável!

A franquia Karatê Kid pode ser considerada um absoluto sucesso, pois até hoje é famosa e relevante, mas tudo isso começou lá em 1984, quando chamaram o diretor de "Rocky - Um Lutador" (1976), John G. Avildsen para dirigir o primeiro capítulo (de muitos) da história de Daniel-San (Ralph Macchio). Por que todo mundo gosta de Karatê Kid? Por que se apegamos tanto a esses personagens com o decorrer do tempo? Por que ele é tão marcante? São perguntas recorrentes cujo a resposta está no filme. Hoje em dia, 38 anos depois, Karatê Kid ainda tem um público impressionante, graças ao seu retorno com a série "Cobra Kai" (2018-presente), mas o filme envelheceu bem? O que torna ele uma parte tão adorada da cultura pop? Bom, creio eu que além de ser a apresentação do karatê e das artes marciais para a geração oitentista e posteriormente as gerações futuras, é um filme muito conquistador que estabelece uma estrutura que viria ser copiada várias e várias vezes, não é um filme que é grandes coisas, não é um grande épico, uma grande história de ficção científica, mas é um filme onde a simplicidade o torna lendário.

O filme nos apresenta a Daniel LaRusso, um sociopata violento que abusa do poder lhe dado para praticar bullying ilimitadamente com os garotos do Dojo Cobra Kai e conquistar na base da força Ali Mills (Elisabeth Shue). Ok, sem brincadeiras. Nesse filme vemos LaRusso como o protagonista bullyinado, um personagem oprimido por querer amar (que bonitinho) e que cria essa rixa com o Cobra Kai e com Johnny Lawrence (William Zabka) e você percebe que os caras não tinham a mínima noção do impacto sociocultural desses filmes e personagens quando o William Zabka não está nem creditado como elenco principal, ele está no elenco secundário do filme (mal sabiam o que viriam a acontecer). Essa relação clássica de bullying dos anos 80 é referência até hoje, vendo pela visão da época, LaRusso era oprimido mas ele sempre tentava bater de frente com os bullys, essa construção toda do bullying sofrido pelo Daniel-San nos conduz até o grande clímax do filme: o torneio. Mas é o caminho até lá que é o grande forte do filme ao desenvolver a relação entre o Daniel-San e o seu mestre, Sr. Miyagi (Pat Morita).

Falando a real, o Ralph Macchio não é um ator tão bom, ele é funcional no que o papel de Daniel-San lhe propõe, mas como ator em si ele é meio fraco, porém ele tem um certo carisma, você se apega àquele personagem, você entende o que ele passa e etcetera. O desenvolvimento do Daniel-San é crucial ao vermos que ele é um garoto extremamente irritado, tem um pavio curto com todo mundo e o equilíbrio dessa persona raivosa vem quando há o desenvolvimento da relação com o Sr. Miyagi, porque o Miyagi é a pessoa mais calma do mundo e essa sua calma, sensatez e jeito sublime é fundamental para a transformação do LaRusso e os dois quando estão juntos em cena são muito compatíveis, eles dois juntos tem uma interação muito legal, o treinamento na base do trabalho infantil é muito bem feito e você acaba tendo uma certa afeição com aquilo ali acontecendo em tela, a admiração mútua que vai se construindo durante o filme é natural e bem trabalhada, você crê no relacionamento professor-aluno entre aqueles personagens sem dificuldades.

O Sr. Miyagi é o grande ponto alto do filme, ele é apresentado como um senhorzinho aparentemente inofensivo, tranquilo e um possível usuário de maconha, mas na realidade o cara é uma arma letal que pode te matar com as próprias mãos se ele quiser. Os conceitos do Miyagi são atemporais, como o uso de artes marciais apenas para defesa pessoal e a utilização de menores idades para tarefas domésticas e trabalho infantil por quatorze horas seguidas sem pagamento (por que você acha que todo mundo na China sabe lutar?), mas, brincadeiras à parte, dá para aprender muito com o Miyagi e sua não-violência, são citações válidas até hoje. Além disso, o Pat Morita manda muito bem, é uma das performances mais memoráveis de uma figura didática de todo o cinema, o Miyagi é um dos mestres e um dos idosos mais legais do cinema e ele transmite toda essa calmaria e lucidez em sua performance, além da cena onde ele está embriagado que se destaca das demais e os trejeitos que ele cria, o jeito que ele anda meio pinguim causa um convencimento ao espectador.

É impressionante como esse filme exala anos 80, tudo nele tem a vibe oitentista, desde o estilo cinematográfico que ele apresenta até sua trilha sonora. O filme cria bem essa clássica história de dois lados (inclusive o filme como sabemos hoje em dia foi revisto com outros olhos), tem bem a construção da relação com uma figura anciã, a namoradinha clássica e padrão loira de olho azul e essa condução por duas horas nos leva até o torneio, o grande clímax do filme e como todo bom filme dos anos 80, tem uma montagem com uma música pop, nesse caso, "You're The Best" e é simplesmente perfeito. Ainda falando do torneio, o clímax geral do filme (a final do campeonato) é um espetáculo, o Avildsen consegue te pôr na tensão daquela luta, o meu eu de 10 anos via aquilo e ficava com tantas emoções quanto vendo uma luta do UFC (e até hoje é assim, apesar de já saber o que acontece). E o Johnny Lawrence perdeu por imbecilidade mesmo, porque o icônico 'golpe da garça' é o movimento mais previsível da história, ele que foi idiota de sair correndo e levar um chutão na cara.

Apesar de todos os problemas, eu amo demais "Karatê Kid - A Hora da Verdade", é um filme dos anos 80 que pode não ter envelhecido tão bem devido aos conceitos que tínhamos naquela época, mas é um filme emocionante, icônico, memorável, é um filme que até hoje não foi esquecido e vai demorar para ser (nem um remake com o Jackie Chan foi capaz de fazer esse filme ficar para trás). Tem personagens carismáticos, uma relação incrível de mentor e aluno, momentos e cenas canonizadas na mente humana, é um filme que exala anos 80, nesse caso é impossível deixar a nostalgia de lado. Incrível!

Nota - 10/10

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