Crítica - Karatê Kid 2 - A Hora da Verdade Continua (The Karate Kid Part II, 1986)

Uma expansão emocionante.

Todo grande blockbuster dos anos 80 eventualmente recebeu sua sequência, alguns demoraram como "Top Gun - Ases Indomáveis" (1986), que teve uma sequência 36 anos após o lançamento do original; e outros lançaram um pouco depois, como foi o caso de filmes como "Caça-Fantasmas" (1984), "De Volta Para o Futuro" (1985) e a nossa franquia aqui falada: Karatê Kid. As sequências geralmente eram inferiores aos originais por terem objetivo monetário, mas outras se destacaram e conseguiram alcançar o nível do original, esse é o nosso caso, pois analisando tecnicamente, podemos dizer que o segundo capítulo da jornada de Daniel-San (Ralph Macchio) e Sr. Miyagi (Pat Morita), é até melhor que o primeiro, eu não acho isso, porém esse filme consegue quase igualar o primeiro em emoção e em qualidade ele pode até ser um pouco melhor (apesar de ser inferior no impacto).

Aqui, vemos Daniel-San indo desbravar o karatê em terras asiáticas, especificamente em Okinawa, a terra originária do Sr. Miyagi e aqui há um destaque bem maior ao mestre, onde vemos suas origens, suas relações, seus costumes e etcetera, o desenvolvimento do Miyagi é algo inimaginável para um filme desse tipo, que retira em vários momentos o foco do protagonista e vai para a sua figura tutora, o filme é praticamente do Miyagi, o show do Pat Morita é novamente um grande destaque, ele tem cenas onde a atuação dele se difere das demais, tem uma cena dele na praia com o LaRusso e ele vai só observando o horizonte enquanto o Daniel fala sobre a perda de seu pai e ele não fala nada, mas pelo olhar dele dá para sentir uma performance carregada de emoção e sentimento, pelo jeito dele de olhar dá para fazer o espectador compreender perfeitamente suas emoções naquele momento. Além de ter um desenvolvimento quase romântico com Yukie (Nobu McCarthy) e uma rixa com Sato (Danny Kamekona) que se molda novamente em amizade, essa clássica história de talaricagem é muito boa, eu gosto desse antigo triângulo amoroso, ajuda na construção dos três personagens e no final ele serve para mostrar o quanto pessoas na juventude são totalmente imbecis.

Mas apesar desse maior foco no Miyagi, o LaRusso ainda é o protagonista da história e com um novo interesse romântico, a Tamlyn Tomita, que interpreta a Kumiko (hihihihi) e também uma nova rivalidade, que é com o Chozen (Yuji Okumoto), em resumo: a história do Daniel-San será sempre a mesma independente do lugar que ele está. O Ralph Macchio melhorou na atuação, tem cenas onde ele manda realmente bem, como a própria cena da praia que ele faz um belo monólogo, o Daniel continua um pouco provocativo, porém dessa vez mais amadurecido e até chega a ter cenas heróicas no filme. Essa dualidade com o Chozen funciona bem, com todo o respeito, mas o Chozen dá mais raiva ao espectador que o Johnny Lawrence, é um personagem arrogante que não quer "arruinar a sua honra" por motivo algum e esse personagem dá uma raiva absurda, seja por sua prepotência, por sua falta de caráter ou pelo fato de querer se aparecer a todo custo, tanto que é satisfatório demais vê-lo apanhando para o LaRusso no final, esse nem tem outra visão sobre igual o Lawrence no filme anterior, é um otário e ponto. 

Muitos irão criticar, mas a relação do LaRusso com a Kumiko é melhor que com a Ali (e bem mais sadia). A química dos dois atores é muito boa, tanto que ela eleva o Ralph Macchio no filme, os dois juntos tem uma interação tão bacana, você compra facilmente esse casal e a amizades entre eles se estabelece tão naturalmente que é lindo. O tema do filme curiosamente é uma música romântica, "Glory of Love" do Peter Cetera, que é uma das grandes músicas clássicas do cinema oitentista (da década num geral) e muita gente até hoje deve pensar que essa música é do primeiro filme e a letra fala justamente sobre o cara que vai ser o herói dos sonhos para a mulher de sua vida, o que é basicamente a história do Sr. Miyagi com a Yukie e ainda nesse assunto musical, a trilha sonora do Bill Conti se destaca muito aqui, a utilização de temas contendo sons que lembram a cultura japonesa, tanto que você associa o Japão às músicas tocadas com facilidade até os dias atuais, é uma baita trilha que acerta nos tons que o filme pede, a tensão, a aventura, o drama, o romance, a comédia, foi muito bem feito.

"Karatê Kid 2 - A Hora da Verdade Continua" é uma sequência que bate de frente com o original, talvez seja até melhor. O filme retrata tão bem a cultura japonesa e do karatê que dá vontade de aprender a arte marcial e ir buscar suas origens. Tem bons protagonistas, boas histórias a serem contadas, um grande aprofundamento no Miyagi que deixa esse personagem ainda mais amável, uma melhora no personagem do Daniel-San, boas coreografias de luta, um par romântico incrível do LaRusso com a Kumiko e uma boa rivalidade com o Chozen. Grandíssimo filme!

Nota - 9,5/10

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