Crítica - Duro de Matar (Die Hard, 1988)

Entretenimento em seu mais puro estágio.

Nesse especial de natal, eu já falei sobre "Esqueceram de Mim" (1990) e dedico uma parte do texto falando sobre os problemas e inconveniências que o projeto passou durante todo o período de produção. Esse não é muito diferente (inclusive também há seu episódio na série documental "Filmes Que Marcaram Época", a mesma citada no texto anterior), pois suas histórias vão de que o protagonista era para ser o Frank Sinatra até os bastidores da explosão no terraço no final. Enfim, esses clássicos sempre geram grandes histórias de bastidores e elas só são tão comentadas se o filme for incrível, porque se for horrível, a história pode ser a mais inusitada possível, só será contada por poucos. No caso, aqui não temos um longa só incrível, ele é justamente a aura pura do que é o gênero de ação no cinema e por isso é lembrado como um dos grandes filmes de ação da história e um dos... Grandes filmes de Natal...?

Muita gente discute se deveria ser considerado um filme de natal ou não, pois não é porque ele se passa na época de festas que ele é automaticamente uma obra natalina, mas pelo fato de ser um longa de ação, que mostra de maneira nada convencional relacionamentos familiares, amorosos e amizades, eu o considero dentro do subgênero, até porque natal em família é igual ao filme: conflito (especialmente em ano de eleição, tal qual nós estamos), então essa discussão besta foi encerrada logo agora. A história é bem fácil de entender e se você morou em uma caverna pelos últimos 34 anos, eu te conto agora: acompanhamos John McClane (Bruce Willis) indo ter uma conversa com sua esposa, Holly (Bonnie Bedelia), quando o prédio que ela trabalha é invadido por terroristas alemães liderados por Hans Grüber (Alan Rockman), que dominam o edifício e vemos McClane em uma jornada para detê-los buscando o maior número de ajuda possível. Essa trama é bastante simples, porém sua execução acaba elevando seu nível para um grande blockbuster que ganha altas proporções e que ficou marcado na história dos filmes de ação.

Quem dirige é John McTiernan, que não tem tanto reconhecimento e nem renome dentro da indústria por algumas questões de bastidores extremamente bizarras (o cara contratava detetives para observar produtores de grandes estúdios e o que eles queriam fazer para ele ir lá e se candidatar com projetos quase idênticos), contudo, apesar disso, dirigiu grandes clássicos blockbusters, como "Predador" (1987), "Caçada ao Outubro Vermelho" (1991) e uma das várias sequências deste longa, "Duro de Matar 3: A Vingança" (1995). McTiernan tem uma excelente atuação na função ao conseguir subverter todas as expectativas e clichês dos grandes longas de ação daquela época, como o fato do protagonista não ser bombado e transformar um comediante em um astro, mas seu maior acerto é criar uma imersão em que você se prende tanto ao que está vendo que o tempo passa rápido, em pouco tempo ele já nos apresenta a John McClane, quem ele é, o que ele faz, a situação dele, a relação com a mulher e pronto, você o compra facilmente, a partir daí, o diretor faz uma apresentação dos vilões, sua real ameaça e depois acaba por se desenvolver um dos melhores filmes de ação daquela época. A pancadaria é sem precedentes e muito bem coreografada, além de totalmente frenética, parando pouco e quando para, o clima de tensão no ar se mantém pois todo mundo sabe que vai dar ruim caso ocorra um movimento brusco sequer.

Um acerto do diretor é aumentar a importância do caso ao longo da narrativa, começa sendo só McClane contra os terroristas, matando cinco deles, depois chega um policial, depois mais policiais, o delegado, jornalistas, o FBI, uma história que era simples vai ficando cada vez maior e apresentando vários personagens de suporte que são muito funcionais para a trama. Considero isso subestimado, a função dos coadjuvantes, pois são vários ótimos e bastante carismáticos, que funcionam muito bem na proposta de um grande blockbuster com grandes personagens, pois se ficasse concentrado no Bruce Willis, eventualmente enjoaria e ficaria monótono (falo a mesma coisa sobre essa divisão de tempo de tela no texto de "Esqueceram de Mim"), então fazer outros núcleos acaba sendo bom para o longa e seu entretenimento. Temos AJ Powell (Reginald VelJohnson), um sargento que faz amizade com John pelo rádio e eu acho bizarro como essa relação é bem desenvolvida e crível sem eles se enxergarem durante 99% das cenas, é só por comunicação de walktalk e mesmo assim você compra, além de que o AJ aparenta ser um personagem random, mas até ele tem seu desenvolvimento com um background bastante crível. Tem também o motorista de limusine Argyle (De'voraeux White), que tem uma participação reduzida, mas funciona de um jeito excelente como alívio cômico, tendo cenas bem engraçadas com suas peripécias dentro do veículo.

Esses personagens todos são colocados justamente para fortalecer o papel de John McClane como protagonista. É engraçado saber hoje em dia que o Bruce Willis não era nem cotado, pois ele era um comediante fortinho, não era um bodybuilder enorme como os outros grandes astros de ação da época, como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger ou Carl Weathers, que eram quem faziam esses "filmes de soldadinho", onde o cara pegava uma arma e saia metendo o louco em geral. O Bruce Willis aqui, comparado a esses monstros, era franzino, tanto que quando o trailer foi exibido pela primeira vez no cinema, eram risos que soavam quando ele aparecia na tela. É engraçado como ele consegue subverter tudo isso dentro do longa, pois em sua atuação ele demonstra imponência, valentia e muito carisma, pois ele ao invés de tentar imitar essas atuações caricatas de caras bombados com armas, ele faz piadinha, tem um instinto mais heróico do que assassino e isso ajuda mais nós espectadores a se apegar a ele, pois ele não quer matar por matar, ele está mais preocupado em ajudar as pessoas e é isso que o torna um grande herói do cinema, não é um doido que sai por aí metendo bala em geral, seu desenvolvimento leva para um caminho em que gostamos dele por sua história e suas mitagens, como a clássica e marcante frase "yippie-kay-yay motherf*cker", que está até hoje na cultura popular.

Outro ponto altíssimo é o Hans Grüber, que desde que eu vi o filme pela primeira vez, eu o defendo como um dos melhores vilões do cinema e há vários motivos para isso. O principal, na minha opinião, é demonstrar a desgraça que ele é naturalmente, sendo um otário manipulador em vários momentos como na cena que ele fala com a polícia ou no momento que ele se finge de bonzinho para andar com o McClane, essa esperteza do antagonista acaba deixando ele mil vezes melhor, são algumas atitudes que ele tem que acabam sendo fundamentais para os sentimentos do espectador ficarem contra ele. A atuação do Alan Rickman é outro nível, foi a primeira atuação do cara no cinema e ele já entrega uma performance vilanesca impecável, demonstrando toda a frieza e inteligência do vilão, de quebra fazendo alguns sotaques ao longo da trama, fazendo com que deixe ele icônico e marcado, com certeza é um dos vilões mais memoráveis do gênero.

Em "Duro de Matar" temos tanto um clássico do gênero de ação quanto do subgênero natalino, sendo um filme que funciona perfeitamente para assistir na época de fim de ano já que tem entretenimento, tem porradaria, tem carisma, ótimo protagonista, excelente vilão, coadjuvantes que ajudam bastante a moldar o filme como um blockbuster extremamente divertido, com o mais alto nível de cinema e momentos, frases e frames marcados para sempre na história da cultura pop. Então, não é um clássico que marcou época por acaso, merece todo essa aclamação sim. Eu geralmente fico em dúvida entre um 9,5 ou um 10 como nota, mas, é época de natal e a generosidade é uma das maiores virtudes do ser humano nessa época, então vai a máxima mesmo.

Nota - 10/10

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