Crítica - O Grinch (How the Grinch Stole Christmas, 2000)
Fofinho e bem feito.
Dr. Seuss foi um criador de histórias infantis extremamente fantasiosas que provavelmente você conhece algumas delas através de animações, como "Horton e O Mundo dos Quem" (2008) e "O Lorax Em Busca da Trúfula Perdida" (2012), mas sua principal e mais conhecida fábula é a do Grinch, um monstro verde ranzinza que odeia o Natal e faz de tudo para azucriná-lo na Quemlândia, um povo, digamos, com muito amor pela data. Mas, por que o Grinch se tornou algo tão marcante? Por que está tatuado na cultura natalina? O que faz do personagem tão sensacional assim? São coisas que eu sinceramente não consegui encontrar uma resposta definitiva e talvez vá encontrando na medida que eu escrevo, mas que tanta gente gosta desse filme e reprisa todo fim de ano eu entendo, apesar de não ser um grande fã.
Eu gosto desse conceito de ter um ser que odeia o Natal, já que é uma época tão comemorada e feliz, temos luzinhas para todo lado, muita comida na ceia, família reunida, tradições religiosas para alguns e o mais importante: os presentes, então retratar alguém que detesta a data é algo diferente e que acaba conquistando o público por sua imprevisibilidade, tornando-se algo que é quase único e praticamente é uma das duas histórias que mostra um cético quanto às festas tendo uma jornada de redenção para descobrir um significado para o Natal. É sempre bom frisar que este é um filme infantil, então deve ser analisado como tal, e eu confesso que não tive um contato muito grande com ele na infância, no máximo vi alguns minutos e só fui ver um pouco mais velho e acho que perdi o timing, pois se eu visse quando criança provavelmente a nota que vocês veriam lá no final seria um pouco maior, mas no geral é legal até, as infantilidades acabam me afastando um pouco (até porque não sou criança), mas uma das vantagens de ver quando crescido é entender várias das piadas adultas, já tinha entendido várias alguns anos atrás, agora entendi mqia algumas, deve ter até mais que eu não tenha pegado.
O longa tem a direção do Ron Howard, que é o diretor mais aleatório de Hollywood e na maioria das vezes entrega resultados desagradáveis na minha opinião enquanto entrega também algumas obras interessantíssimas, então ele tem uma carreira bem inconstante. Creio que aqui seja um dos interessantíssimos, já que ele consegue entregar a inocência e fantasia de uma história do Dr. Seuss perfeitamente, criando uma condução agradável que tem alguns erros rítmicos na minha opinião, pois em alguns momentos me dá a impressão de ser bastante corrido, mas no geral o clima é agradável e ele sabe bem como equilibrar o timing cômico e criar uma jornada que consigamos acompanhar sem dificuldades pelos 104 minutos de exibição. O principal disso, como eu disse anteriormente, é conseguir transpassar a pureza de um conto infantil quase folclórico com maestria para a tela, até hoje a criança que assistir pela primeira vez deve ficar maluca, pois a história está diretamente direcionada ao público infantil e toda sua "bobagem" é válida visto isso.
Só que Howard prefere optar em alguns momentos por apertar o pé no pedal e deixar um ritmo acelerado mais para o início, na primeira meia-hora tudo acontece muito rápido, parece que são só cinco. Vai tudo rolando em uma certa velocidade onde com praticamente dez minutos o Grinch (Jim Carrey) já tá na Quemlândia fazendo suas malvadezas, só que isso para mim acaba sendo prejudicial pois a apresentação dele nesse curto período de tempo é bem rasa, só diz que ele odeia o Natal e é isso, não é o suficiente para causar o impacto que deveria. A trama só começa a ter um andar melhor a partir de quarenta minutos, onde o protagonista já teve um desenvolvimento através de flashbacks e a partir daí eu entendo porque marcou tantas infâncias, pois traz diversão, comédia, entretenimento e uma jornada inesperadamente madura para uma obra destinada ao público infantil, se encerrando de um jeito muito bonitinho com o que vinha sido apresentado ao longo dos 100 minutos que se passaram.
Se tem alguma coisa pela qual vale a pena assistir só por isso, é o Jim Carrey como Grinch. O Jim Carrey já é surtado naturalmente, então no papel de uma história infantil com um personagem cujo sua proposta é ser como um antagonista excêntrico do Natal, ele fica mais pirado ainda. A maquiagem nele é inacreditável, mas você ainda consegue ver os traços do ator ali, pois o cara é tão icônico que você sabe que aquilo é a cara dele. As expressões que ele faz parece até uma espécie de efeito especial, mas ele já fez essas caretas em entrevistas sem nada na cara e é inacreditável, parece que esse homem nasceu para fazer papéis de comédia que são extremamente surtados, uma performance que eleva a qualidade do filme. Ele tem um ótimo contraponto com a garotinha, a Cindy Lou (Taylor Momsen), que é uma excelente personagem na minha visão, essa curiosidade dela é o que faz o filme melhorar, esse faro jornalístico dela em investigar o Grinch melhora tanto o arco dela quanto o do personagem principal, além de funcionar como uma espécie de identificação para o público alvo, como uma forma da criança se ver dentro daquela história.
No mais, é preciso exaltar o trabalho técnico desse filme, em especial duas questões: o design de produção e a maquiagem. A construção de todo esse universo extremamente fantasioso é estonteante, porque você já compra esse universo de Quemlândia logo de cara, com as construções um pouco exageradas, a decoração que lembra histórias em quadrinhos e principalmente a construção da casa do Grinch, em que temos umas gambiarras que remetem a desenhos animados clássicos que é excepcionalmente bem feita. Quanto a maquiagem, é preciso aplaudir a paciência da equipe de maquiagem que teve que maquiar dezenas de pessoas com focinhos e coisas que remetessem aos personagens de Dr. Seuss, deixando todos os personagens com uma retratação perfeita e isso ajuda demais na imersão, o trabalho que deve ter sido feito para isso é absurdamente difícil, porque até os figurantes mais irrelevantes tem, isso consegue ajudar na imersão do espectador que consegue ver que aquilo pode ser algo crível.
Eu tenho alguns problemas com "O Grinch", não irei mentir, porém não nego que eu me diverti assistindo e que é um filme feito para isso, a diversão das crianças, da família no geral, numa época de festas. Um show de atuação do Jim Carrey que entrega uma das performances mais absurdas, caricatas e incomuns que já vimos de uma forma quase impecável e que precisa ser aplaudida, além de um complemento perfeito que é a personagem da Cindy Lou. O trabalho técnico também é absurdo e ajuda muito a pôr o espectador dentro de Quemlândia. Apesar de ser problemático, é bonitinho, merece ser assistido pelo menos uma vez na vida.
Nota - 7,5/10