Crítica - Veja Como Eles Correm (See How They Run, 2022)
O clássico espírito do whodunnit.
O subgênero do whodunnit se diz respeito aos filmes cujo há um assassinato (ou algum outro delito) e um detetive investiga os suspeitos até descobrir quem é o culpado (tanto que está até no nome, já que whodunnit significa, logicamente, "who done it?", que em tradução literal é "quem fez isso?"). É um estilo de trama muito comum e bem sucedido seja no cinema, no teatro ou na literatura, sendo a principal referência de criações dessas histórias a escritora britânica Agatha Christie, um nome que provavelmente você conhece mas nunca leu um livro e nem viu o rosto dela, mas fala que um filme lembra o estilo dela (tipo o que eu vou fazer/estou fazendo aqui). No geral, é um gênero agradável que a maioria gosta, só que os plots são sempre muito parecidos, porque sempre envolve um assassinato, suspeitos apresentados logo de cara, surge um detetive pra investigar geral e no final o vilão é um cara que fazem você acreditar durante a obra inteira que não é ele, mas no final era e isso é ironizado aqui, já que este acaba por zoar e brincar com o próprio gênero durante toda a exibição.
A zoeira começa com Kopernick (Adrien Brody), um diretor de cinema de Hollywood contratado para adaptar "A Ratoeira", de Agatha Christie, para as telonas e em uma das primeiras frases do filme ele já diz "essas histórias de whodunnit são todas iguais" e aí ele é obviamente assassinado e daí surge uma dupla de detetives designados para o caso: Stoppard (Sam Rockwell) e Stalker (Saoirse Ronan). A direção é do novato em longas de ficção, Tom George, que nitidamente se inspira em alguns filmes e diretores, tendo as maiores bases em "Entre Facas e Segredos" (2019), de Rian Johnson e "O Grande Hotel Budapeste" (2014), de Wes Anderson. A questão de trama é mais puxada para o mistério cômico de Johnson, enquanto a estética é totalmente baseada no estilo de Wes, porém com uma paleta de cores menos pastelizada e que não a deixa enjoativa visualmente, porém a simetria nos planos é bem similar e o estilo de filmagem é claramente inspirado em Anderson.
Enquanto na trama há a inspiração não só de Johnson, mas de Christie também, como já disse anteriormente, a peça da autora, "A Ratoeira" ou "The Mousetrap", faz parte da trama e hão paralelos entre ela e o filme em si, em uma cena em específico isso é mostrado (uma curiosidade é que no final das apresentações da peça na vida real, os espectadores são convidados a não revelar o assassino para não estragar a surpresa - porém o final está na Wikipédia em inglês da peça). Nesse longa, vemos uma história ficcional ocorrendo em torno dessa obra teatral, envolvendo vários suspeitos, desde o roteirista da futura adaptação cinematográfica até o próprio detetive que investiga o caso, mas um dos acertos é que vai além do mistério principal e busca um desenvolvimento dos detetives em suas vidas pessoais, mostrando os problemas de cada um, o que ajuda no desenvolvimento de uma excelente trama que prende bastante, apesar de alguns problemas.
Meu principal problema é que ele demora para capturar o espectador, o início é bem demorado e arrastado, porém a partir de meia-hora de exibição, você começa a se interessar pelo o que está acontecendo e vai se envolvendo cada vez mais pelo mistério até pela construção de um possível plot twist que é muito bem trabalhada. Outro problema é que em alguns momentos parece um "first draft", uma primeira versão da história, contendo diálogos mal terminados e até mal feitos em determinados momentos, principalmente nesse início arrastado e que não envolve. Mas compensa com um segundo e terceiro ato muito bem feitos e que você vai se interessando cada vez mais pela história e pelo mistério, começa a ser isso com as reviravoltas e se importar com aqueles personagens, criando uma experiência cinematográfica agradável.
Eu gosto das atuações, elas ajudam muito no funcionamento do filme como um todo. O Sam Rockwell vai muito bem nesse arquétipo de cara meio atrapalhado, sem noção e meio irresponsável em uma função de destaque dentro de sua firma, basicamente é o que ele fez em "Jojo Rabbit" (2019), só que com mais tempo de tela para ele desenvolver suas maluquices e mais aprofundamento na história dele, dando um passado para ele em que você entende o porquê dele ser tão atrapalhado desse jeito. Enquanto a Saoirse Ronan faz uma novata que é inexperiente e bastante precipitada e ela vai muito bem nesse arquétipo, criando aquela típica personagem que tem convicção demais em suas ações e gera alguns problemas e alguns acertos ao longo da história. Ela manda muito em caracterizar seu papel, criando uma forma um pouco "certinha" demais que convence ao vermos sua função dentro da trama dessa garota nova que quer se provar. Além da Saoirse estar linda demais e me dar uma vontade enorme de ser padrasto.
Um bom mistério, "Veja Como Eles Correm" funciona muito bem tanto como um whodunnit quanto como um buddy Cop em que acaba por satirizar ambos subgêneros por suas conveniências que acontecem nas principais obras dos dois. Apesar de problemas rítmicos no início e momentos em que parece cru, contém um elenco que funciona muito bem em uma espécie de caricatura do caso, dois protagonistas muito bem desenvolvidos e um mistério que demora para envolver, mas quando envolve, não desenrola mais. Não é grandes coisas, mas é bem divertido.
Nota - 7,5/10