Crítica - Amor Sem Escalas (Up In The Air, 2009)
Literalmente eu.
É importante deixar claro antes do texto: esse filme está no meu top 10 filmes favoritos da vida, existe um eu antes de ver esse filme e um depois de ver esse filme, praticamente esse filme em todas as vezes que eu vi foi um divisor de águas na minha vida. Eu já o assisti quatro vezes: na primeira eu era bem imaturo e avaliei o filme de uma maneira superficial, procurando mais o valor artístico do filme do que o valor emocional (sendo que na época não entendia bem nenhum dos dois) e eu já havia gostado muito do filme, mas na segunda vez que eu assisti eu já havia entendido melhor o que o filme sempre quis dizer e a mensagem mexeu muito comigo, até me fazendo chorar em algumas oportunidades. Na terceira vez que eu vi, eu tinha acabado de ter uma decepção na vida e foi uma sensação péssima e esse filme ajudou a combater o sentimento que parecia algo interminável e agora na quarta vez que eu vejo foi porque essa semana que estou escrevendo é meu aniversário e decidi tentar rever alguns dos meus filmes favoritos e acho que só descobri mais coisas que o filme quer dizer, porque pode psrecer só mais um filme besta, mais uma comédia romântica idiota, mas é muito mais do que isso, acima de tudo é um filme sobre a vida, praticamente nesse filme tem tudo que alguém precisa saber sobre a vida, o filme fala sobre família, sobre amor (suas virtudes e decepções), sobre trabalho e sobre descobrir seu lugar no mundo. É até legal a subversão feita, pois nos filmes quem geralmente está procurando seu lugar no mundo são personagens adolescentes ou jovens adultos, mas aqui é um cara com quarenta anos que, na marra, descobre qual a vida ideal para ele.
Eu me identifico muito com o protagonista, primeiro que o nome dele é Ryan (e para quem não sabe, esse também é meu nome e também tem a pronúncia meio americanizada) e parece que quando eu vejo esse filme, tem alguns diálogos que parecem que são diretamente para mim, porque sempre que eu tô vendo esse filme curiosamente eu tô passando por momentos difíceis ou onde minha ansiedade está à mil e parece que eu vou explodir se não encontrar respostas sobre tal coisa. E o Ryan (George Clooney) do filme é tudo que eu provavelmente vou ser quando tiver quarenta anos, mas não é o que eu quero ser nem de longe, apesar de que agora, na minha juventude, parecer que esse vai ser meu caminho (mas eu não sei de nada, até os quarenta anos, a jornada vai ser muito longa), o Ryan é um m*rda, essa é a realidade, o cara faz palestra motivacional incentivando as pessoas à abandonar a família, vive jogando indireta para as ideias dos outros que ele não gosta, tem objetivos de vida fúteis e superficiais e só se importa com ele mesmo (e é muito triste se identificar com isso), a jornada de Ryan ao longo do filme é maravilhosa, porque todo mundo que aparece no filme contribui de certa forma para o desenvolvimento dele como pessoa, ele é como um garoto de doze anos amadurecendo de forma atrasada e ele amadurece na base da força, as situações obrigam ele a começar a agir de acordo com a idade dele, chegando ao ponto de por uma parte do filme ele ter um papel de figura paterna para a Natalie (Anna Kendrick).
O diretor do filme é Jason Reitman (filho do saudoso e também diretor Ivan Reitman) e ele entende muito sobre essa coisa do valor familiar, praticamente todos os filmes dele falam sobre família de certa forma, cada um abordando famílias em diferentes estágios e esse aborda a falta de família, Ryan é totalmente isolado da família dele (não porquê eles o excluem, mas sim porque ele se afasta), ele não liga para sua família, não quer receber notícias e sequer sabe o nome do noivo da própria irmã e aos poucos o Ryan vai aprendendo o valor da família dele (tendo que ir contra o seu próprio lema de vida para salvar o casamento de sua irmã) e é até triste ver que ele é tão afastado da sua família que ele mal é incluído nas discussões e nem pôde levar a irmã ao altar e o George Clooney na atuação dele convence muito bem nesses sentimentos de tristeza interna do personagem ao sentir que não falhou só com a família, mas também com ele mesmo (mas da atuação dele eu falo mais depois).
Ryan também é colocado no meio do filme como uma figura paterna, existe esse segmento onde Ryan, Alex (Vera Farmiga) e Natalie viram pai, mãe e filha, respectivamente, e é maravilhoso ver essa dinâmica entre os três, porque tudo começa com a Natalie chorando por conta de término e logo depois tem uma conversa dos três onde eles falam sobre amor e é interessante como cada um tem uma visão diferente do amor condizente com a história de seus personagens, o Ryan é totalmente frio sobre o assunto, Alex prefere a maturidade em uma relação e a Natalie é uma adolescente que sonha com o príncipe encantado que cavalga em um cavalo branco e ver esse conflito geracional, esse debate e a forma como ele é apresentado e montado é algo de mestre, aquela parte na minha opinião é a cena onde a mão do Jason Reitman sobre a história mais se destaca, ali dá para sentir e entender exatamente o que ele tentou fazer e conseguiu, inclusive no filme inteiro dá para sentir a mão dele sobre a trama, é um filme bastante autoral, você consegue sentir frequentemente a visão do Jason Reitman sobre a história e é maravilhoso como funciona tão bem, parece algo sinfônico, esse filme é meio sinfônico, na realidade, ele é feito tão bem, é conduzido de uma forma absurda e é tão fechadinho, tão redondinho mesmo, parece uma música cujo a harmonia é evolui junto com o protagonista.
Eu também achei incrível como o filme tem um monte de atores renomados com papéis secundários ou até terciários, mas eles não são inúteis, cada pessoa que o Ryan conhece durante sua jornada tem um peso na vida dele e ajuda ele a evoluir seus pensamentos, tem o Zach Galifianakis no início que serve para mostrar como o Ryan é um cara totalmente frio e cruel em seu emprego, tem o J. K. Simmons e o Danny McBride que ajudam ele a perceber melhor o sentido de família e de casamento e depois tem o Sam Elliott no final que quando aparece é para celebrar o maior objetivo de dez milhões de milhas do Ryan, mas também é quando o Ryan se questiona "mas o que diabos eu estou fazendo com a minha vida?" e percebe o quão superficiais e egoístas são seus objetivos na vida. Essa questão das demissões é um contexto histórico muito importante cujo o filme é colocado, quando ele é gravado e lançado durante a crise na Bolsa de Valores de Nova York e uma cacetada de gente perdeu o emprego nessa época, então esse é um filme good vibes que fala sobre buscar objetivos alternativos na vida, praticamente foi um filme certo na hora certa. E esse filme tem um dos melhores plot twists do cinema, não é algo super elaborado ao longo do filme, mas quando acontece é chocante e ainda quebra a expectativa e o filme não deixa Ryan estragar sua jornada e não deixa o filme acabar igual uma romcom genérica da Sessão da Tarde e se você analisar o filme a fundo, faz total sentido lógico e emocional aquilo acontecer.
Convenhamos, o George Clooney é um ator limitado, mas como Ryan ele combina perfeitamente, porque ele demonstra perfeitamente como ser o cara insensível, sem sentimentos e sem valor familiar nenhum, ele mostra perfeitamente como ser um babaca por uma grande parte da exibição, aquele discurso dele da mochila se pagando de moralista parecendo o Cristiano Ronaldo da viagem aérea é ridículo por ser aquilo, mas como instrumento para desenvolver o Ryan durante o filme é magistral, ele vai vivendo e contradizendo aquilo, aprendendo que a vida não é assim e na atuação do Clooney ele faz essa falta de expressão do personagem, essa frieza, essa falta de emoção e no final do filme ele começa a ganhar as emoções, você começa a perceber no rosto dele as emoções surgindo, de felicidade, tristeza e etc. Provavelmente deve ser a melhor atuação da carreira dele. O principal destaque de atuação do filme acho que fica para a Vera Farmiga e para a Anna Kendrick. A Vera Farmiga é maravilhosa, ela faz o contrário do George Clooney dentro do mesmo arquétipo, ela é divertida, expressiva, ela tem ótimos momentos, quando ela aparece em cena, parece que o filme ganha peso e acho que a interação dela com o George Clooney é completamente espetacular, é uma química de outro mundo. E a Anna Kendrick faz muito bem esse papel da jovem prodígio que tá chegando por agora, mas que se impõe, tem ideais que ela veementemente crê e é um retrato daquela geração dessas meninas que se impõem, dessa geração do girl power e eu acho incrível a forma que ela age como adolescente em algumas cenas forçando o Ryan a agir como o pai que ele nunca quis ser, toda essa questão dela ser jovem e querer viver esse romance eterno e dela acreditar no amor verdadeiro acabam gerando resultados extraordinários.
Como já deu para perceber desde o primeiro parágrafo, eu amo "Amor Sem Escalas", é um dos meus filmes favoritos da vida e dificilmente isso mudará, é um filme que pode não ser totalmente perfeito, que pode ter seus erros, mas o impacto emocional que esse filme tem é forte, praticamente esse filme está enraizado na minha vida e todas as vezes que eu vi ele, eu me livrei de vários problemas que estava passando na vida com a ajuda desta obra-prima, eu só queria dizer ao Jason Reitman: "muito obrigado, cara", porque essa é minha sensação ao ver o filme, é um filme necessário para mim, esse filme é responsável por minha evolução pessoal, é impossível ser imparcial em relação a ele, simplesmente magistral! S2
Nota - 10/10