Crítica - Sorte de Quem? (Windfall, 2022)

Quando a superficialidade vence a emoção.

Do nada esse filme brotou no meu Letterboxd, literalmente, eu tava passando e vi ele, vi que tinha um elenco bacana, de um gênero cinematográfico que eu gosto muito (suspense), baseado em Hitchcock e logo adicionei na minha watchlist. Quando o filme começou com a câmera estando estática e os créditos iniciais passando realmente como se fosse um clássico de Alfred Hitchcock eu criei um certo hype e o filme começa até de forma interessante, esse minimalismo na abertura, a fonte amarela, os créditos meio noir, muito bom... O problema é o que vem depois, porque, como diz o grande crítico Waldemar Dalenogare Neto:
- "O que vem depois é um show... De horrores".
Essa frase também se encaixa perfeitamente aqui.

O diretor do filme é Charlie McDowell (curiosidade: o diretor é filho do grande ator Malcolm McDowell, o eterno Alex DeLarge de "Laranja Mecânica") e não é a estreia dele (apesar de a linguagem e a cara do filme passarem muito essa vibe), mas tem muitos erros de principiante e eu consigo entender o que ele queria fazer, pois meu sonho de carreira é ser diretor e roteirista e eu tento muito criar uma linguagem própria para o que eu escrevo e etc. Então eu consigo compreender o que Charlie queria fazer ao fazer um filme bem mais minimalista, calcado em diálogos, em uma locação só, mas não deu certo, ele errou e errou feio, é um filme com ideias bastante interessantes e que, se fosse trabalhado por um diretor um pouco mais experiente, talvez conseguisse ser um filme verdadeiramente bom. A linguagem meio Hitchcockiana apresentada por Charlie é bastante interessante e convence nos primeiros dez minutos de filme, porém, ao longo do filme, você percebe o quão superficial ela é, é totalmente sem emoção e sem personalidade, o filme não prende, não conquista, não tem ritmo, não tem sequer um momento cujo eu prestei atenção na história ao ponto dela me prender totalmente, para ter noção, eu só consegui terminar o filme na terceira tentativa de vê-lo, porque nas duas primeiras eu caí no sono.

Eu até gosto de como o filme inverte alguns arquétipos geralmente vistos, por exemplo, no papel dos atores, porque se fosse alguns anos atrás, o Jason Segel provavelmente interpretaria o nice guy e o Jesse Plemons provavelmente interpretaria o bandido e a inversão de colocar o cara acostumado a fazer vilões como o cara "bonzinho" e vice versa até que é um experimento interessante e como são dois atores talentosos, funciona de uma certa forma e eu acho que a atuação do Jason Segel é verdadeiramente boa, apesar da motivação do vilão ser o famoso carinha pobre que fica irritado com o cara rico de "ui, você tem tudo e eu não tenho nada, o mundo é injusto, a sociedade é fod@ e blá blá blá" e é cansativo, mas a atuação do Jason Segel consegue suprir esse problema, ele convence saindo da zona de conforto, fazendo um vilão e mandando bem, quando ele aparece você sente a presença dele, uma certa imponência, o jeito que ele se impõe é como se fosse o diabo chegando no céu, é a coisa que funciona num desastre total.

O filme tenta criar uma ligação entre os personagens...? Tipo, tentar aproximar o sequestrador das vítimas...? Essa parte é totalmente bisonha, por alguns momentos parece que o vilão do filme vai se relacionar com a vítima feminina (até porque a tensão sexual construída entre eles é melhor que a dela com o cara que faz o par romântico dela) e cara, sério... Ah, eu não sei nem o que dizer, meu estoque de xingamentos já foi utilizado na minha crítica de "Os Olhos de Tammy Faye" e tô tentando me controlar desde aquele surto.

Basicamente "Sorte De Quem?" é uma tentativa fracassada de um fã de Alfred Hitchcock ao tentar fazer uma homenagem ao seu ídolo e acabar acertando em quase nada. O filme só não é um desastre completo por conta da performance absurda de Jason Segel ao sair da zona de conforto, porém o diretor tava tão focado em fazer um filme estaticamente igual ao Hitchcock que esqueceu que um filme precisa de emoção, personalidade e principalmente tensão, literalmente é um filme de suspense que não cria tensão nenhuma. Total decepção!

Nota - 3,0/10

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