Crítica - As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, 2012)

Somos infinitos...

Se fosse para definir esse filme em uma palavra, eu usaria a palavra "viver", porque poucas vezes eu vi um filme que fala tão bem sobre viver e você deve estar se perguntando o que diabos eu estou tentando dizer com isso, mas ao longo do texto você vai entender, o importante é que com viver, eu quero dizer sobre viver esse período da vida, o mais temido e horripilante de todos: a adolescência, a adolescência é o momento da vida onde você vira um rebelde sem causa que vive em uma busca incessante por diversão, que geralmente está atrelada à adrenalina. Porém aqui vemos esses adolescentes sendo retratados de outra forma, uma forma mais dramática que pega esses arquétipos e quebra, sempre vimos aqueles arquétipos clássicos, como em "Clube dos Cinco", por exemplo, que no próprio filme é dito que os adolescentes são vistos pela sociedade nas definições mais simples e convenientes, mas esse filme ele começa a mudar isso ao trazer o protagonismo para um garoto envolvido em um grupo de amigos, porque nesses filmes de adolescente geralmente o protagonista é o carinha que sofre bullying e aqui o filme começa a quebrar esse estereótipo ao aproximar o personagem central de seus amigos e o filme fala sobre muita coisa: depressão, traumas, relacionamentos, luto e etc. Mas para mim é um filme sobre amizades acima de tudo.

O filme é dirigido por Stephen Chbosky, autor do livro originário ao filme e acho que o grande acerto do filme é justamente ter o cara que criou a história para passá-la para a tela, porque ninguém no mundo vai conhecer melhor aquela história que o cara que a criou e acho que ele traz a visão que ele sempre teve sobre a história, ele conta uma história com tanta personalidade, com tanta emoção, com tanto envolvimento que o seu trabalho em sua estréia acaba por ser um dos mais lindos dos últimos quinze anos. Acho que é meio lógico que o filme tem uma carga pessoal pesada, ninguém conta uma história sobre amizade e sobre amor daquele jeito sem ter vivido algo parecido, acho que essa carga acaba por ser totalmente funcional dentro do filme, até porque sem isso o filme não teria cenas tão lindas e memoráveis como tem, como a cena do túnel, por exemplo, é uma das cenas mais icônicas da década passada. Achei legal também que por mais que seja o autor do livro, ele no filme acaba fazendo realmente uma adaptação, adicionando e removendo coisas, isso mostra que ele como um artista e como um contador de histórias sabe várias maneiras diferentes de contar a mesma história e acho isso positivo, por mais que no livro tenham coisas que eu considero que deveriam ter sido mantidas no filme, eu entendo a remoção.

Eu falei sobre definir o filme com a palavras "viver" no primeiro parágrafo e o que eu quero dizer pode ser visto facilmente no filme, sabe, ver o Charlie (Logan Lerman), um moleque depressivo, anti-social, traumatizado e tímido fazendo amigos, se divertindo e se sentindo bem com isso é tão satisfatório de se assistir, ver alguém descobrindo o real valor da amizade pela primeira vez é algo tão bonito, esse filme de certa forma é bem inspirador, pois mostra isso de uma forma tão natural que mostra que fazer amizades é realmente mais fácil do que parece. Acho que não é só sobre o valor de ter amizades, é sobre o valor de ser um bom amigo também, pois o Charlie vai aprendendo a ser um bom amigo durante toda a trama, ajudando os seus amigos, comprando presentes e chegando até a espancar héteros top para proteger um deles, acho que esse amadurecimento do Charlie se concretiza na cena em que Patrick (Ezra Miller) o beija por puro desespero e ele não afasta e nem reclama porque ele percebe "ele precisava disso". E a música canonizada no filme fala justamente sobre isso, sobre amizades, a grandiosa música "Heroes" de David Bowie, não foi uma música escolhida à toa para o filme, se você analisar bem a letra com o momento que ela toca, faz todo sentido ela ser a grande música do filme e a cena do túnel eu já falei: ICÔNICA! É uma cena perfeita, tudo nela é memorável. Acho que a amizade não se encaixa só nesse grupinho, acho que também se encaixa na relação de professor-aluno estabelecida com o Sr. Anderson (Paul Rudd) e essa figura de mentor que o professor tem para ele, dele incentivar o Charlie, dele tentar extrair o potencial do Charlie, de dar bons conselhos, se bobear o Paul Rudd agiu mais como um pai para o Charlie que o próprio pai dele no filme.

Gosto muito do trio principal porque são personagens muito humanos que acabam por ser de uma facilidade muito grande para nos identificarmos com eles, eu, por exemplo, consigo me ver nos três ali, eu consigo me ver no Charlie como esse garoto que conseguiu não só a vencer a timidez e fazer amigos, como também um cara que virou um bom amigo, eu consigo ne ver no Patrick por conta dessa personalidade mais debochada e engraçada dele e eu consigo me ver na Sam (Emma Watson) por conta dessa convicção dela em querer sempre o melhor tanto para ela quanto para quem ela ama e os três atores mandam muito bem. O Logan Lerman é abaixo dos outros dois, mas acho que o encaixe dele no papel foi muito bom porque essa falta de personalidade acaba culminando no Charlie de certa forma, com essa persona mais quieta e tímida, esses trejeitos dele mais contidos são muito bons e ele manda bem nas cenas dramáticas, principalmente naquela onde ele fala com a doutora, ali ele mostra que ele pode ser um bom ator quando ele quer. O Ezra Miller é o famoso caso de pessoa que eu odeio odiar, porque ele é um desgraçado mas eu não consigo não gostar dele, o cara é muito bom, nesse papel do Patrick eu achei ele sensacional porque ele se solta e traz uma performance excêntrica e dá muita personalidade ao personagem, acho que talvez ele seja o melhor personagem do filme, até porque ele é esse cara que é engraçadão, que é debochado, mas que tem seus medos e inseguranças demonstrados também e eu não quero me estender muito porque o parágrafo tá gigante, mas ele é sensacional, tanto o personagem, quanto a atuação, quanto o desenvolvimento do personagem na trama. E a Emma Watson é uma força nesse filme, parece que o filme ganha mais vida quando ela tá na tela, ela tem uma luz própria que é impressionante e eu gosto nessa personagem dela o quanto ela sofre mas consegue superar e a personagem dela me faz ter o mesmo questionamento que o Charlie no filme "por que boas pessoas se apaixonam por pessoas ruins?", é meio triste ver uma menina tão boa se envolvendo em relacionamentos tão ruins enquanto tem um cara legal apaixonado por ela ali do lado. Acho que posso dizer sem medo que é a grande atuação da carreira dos três facilmente.

O filme tem seus problemas, para mim o principal é a personagem da Mary Elizabeth (Mae Whitman), não a personagem em si, mas o fato dela namorar com o Charlie é irritante, não faz sentido e demanda um tempo do filme que não é entendível o fato de aquilo estar acontecendo e o porquê de estar acontecendo, basicamente só serve para reforçar o óbvio mais uma vez. Eu também não curto muito que deixaram bem de lado a relação do Charlie com a família, tem poucas coisas e poderia ter sido bem melhor explorado, principalmente com os irmãos dele, no livro tem uma cena que estabelece o relacionamento dele com a irmã e que mostra que ele se importa com ela e eu senti falta dessa cena aqui, com certeza traria um sentido novo ao filme.

"As Vantagens de Ser Invisível" é um filme lindíssimo, é um filme icônico, memorável, divertido, reflexivo, você ri, você chora, você se choca, é um mix de sentimentos muito gostoso. É um filme que é mais que um filme teen besta, é mais que um filme sobre amor de colégio, é mais que um filme sobre depressão e traumas, é um filme acima de tudo sobre amizades, sobre o valor de ter e ser um bom amigo, é um filme que sim, tem problemas, sim, é imperfeito, sim, é incompleto, mas é um filme muito tocante e muito icônico por suas cenas, seus personagens e sua trilha sonora. Lindo, apenas.

Nota - 8,0/10

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