Crítica - Apollo 10½: Aventura na Era Espacial (Apollo 10½: A Space Age Childhood, 2022)

Um retrato sublime da infância.

Já falei muito sobre Richard Linklater por aqui, tem três filmes dele entre meus favoritos e tal e ele já trabalhou outras vezes com a infância, incluindo no seu grande projeto "Boyhood - Da Infância à Juventude", mas ele nunca havia feito uma retratação tão lúcida e acertada sobre a infância, o sentimento que esse filme passa durante toda sua exibição, desde o play até o último segundo dos créditos, é o de nostalgia, ao vermos Stan adulto em voice overs (performance de voz do Jack Black) contando de forma tão detalhada que todo mundo consegue se identificar, o filme se passa nos anos 60, mais especificamente em 1969, e o Linklater me fez sentir nostalgia de uma época que nem meu pai tinha nascido ainda, a infância que ele conta ali conversa com a da maioria das pessoas que vão assistir ao filme.

Até a preferência pelo filme ser animação foi uma escolha para lembrar da infância, porque, além de ser o gênero mais consumido e adorado pelas crianças desde sua criação, sempre lembramos da infância com uma aura colorida, como se ela tivesse sido perfeita, brilhante e sem nenhum defeito, sempre lembramos com carinho e trazer esse sentimento de imperfeição na estética e no visual do filme foi um grande acerto, é um filme muito colorido, muito vivo, dá gosto de assistir. Além de ser um estilo de animação lindíssimo! O Linklater já havia usado esse estilo em um dos seus filmes mais famosos, o "Waking Life", só que esse filme em questão foi lançado há 21 anos atrás, de lá para cá, a tecnologia mudou e muito, se aquele já era impressionante com esse mesmo estilo há mais de vinte anos, imagina esse agora com uma tecnologia absurda que temos, o estilo foi bastante aperfeiçoado e aqui tem cenas que parecem a realidade, a construção dos cenários, das paisagens, é lindíssima, é um deleite para os olhos.

Gosto de como a infância é retratada, no contexto histórico dos anos 60, vemos a rotina daquelas crianças contada de uma forma quase mística e fantástica, é legal de ver a forma que é contada, a relação com os irmãos, as visitas aos/dos avós, as encrencas na escola, os jogos da liga infantil, as idas ao cinema para ver "A Noviça Rebelde", aquilo traz uma sensação incrivelmente nostálgica, eu talvez nunca tenha vivido algo daquele tipo, mas o filme me faz sentir que eu vivi. Eu gosto dessa retratação do típico pai sábio, um pouco cabeça quente e um pouco conservador e a retratação da mãe que sempre tá ali cuidando dos filhos e fumando, meus pais são assim? Não, mas o filme me fez sentir que eles eram. Eu gosto mais de como é contada as medidas absurdas da época, como o fato de que todo mundo (literalmente) podia bater em criança legalmente e é muito bisonho ver isso nos dias de hoje que isso é considerado crime. E a narração do Jack Black é maravilhosa, a forma que ele conta convence muito aquela história como real, ele conta de uma forma onde ele parece que está contando sobre a própria infância, ele tem uma voz muito característica e muito firme, é incrível.

O grande objetivo do filme era mostrar a imaginação de uma criança querendo se colocar em um momento histórico e faz sentido, porque todo mundo quando criança e olhou algo na TV já se imaginou ali (eu mesmo me imaginava sendo o ranger verde), e a ideia de colocar uma criança se imaginando em meio à um momento histórico como a Corrida Espacial foi uma ótima ideia, mas a execução é confusa, eu acho que esse fato é o que tira um pouco do filme, porque você demora a perceber que é imaginação e essa mal explicação deixa o filme confuso, não tô dizendo que precisa ser um filme muito didático e virar autoexplicativo, só tem que ser bem feito para deixar claro que é aquilo está acontecendo, porque parece realmente uma parte da trama principal até os últimos vinte minutos do filme. Não sei se deu para entender bem, mas essa parte aí foi uma decepção grande.

Gostei de "Apollo 10½: Aventura na Era Espacial", não é do nível do que o Linklater já fez na carreira, mas é um retrato da infância feito com muito carinho, muita personalidade e muita pessoalidade. Um filme que, apesar de ter um problema gravíssimo, acaba se superando por sua sensação nostálgica e seu carisma. Além de tudo isso, ainda tem uma técnica de animação lindíssima e uma história tão sensível e tão sublime que dá gosto de ser cinéfilo. Parabéns ao Linklater e ao Jack Black por proporcionarem uma das animações mais bonitas e sensíveis que eu já vi.

Nota - 8,0/10

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