Crítica - Por Uns Dólares a Mais (Per quacho dollari in piú, 1965)
A continuidade da revolução e de um dos grandes heróis da história.
Um ano depois de seu primeiro filme de sucesso, Sergio Leone retorna, não exatamente com uma continuação, mas com um filme sobre o mesmo Pistoleiro Sem Nome (Clint Eastwood) do filme anterior, e dessa vez, ele está mais ameaçador. Leone, agora mais experiente, tenta coisas novas nesse filme, ao fazer cenas noturnas e adicionar mais personagens centrais, como o Coronel Mortimer (Lee Van Cleef) e o vilão El Indio (Gian Maria Volonté) - que já havia interpretado o vilão do filme anterior, o Ramón Rojo. E mais uma vez, esse cheiro de western spaghetti predomina no ar, com Leone tendo consciência de sua identidade própria e do que ele quer, faz um filme tão bom quanto o anterior.
Leone cria uma história interessantíssima, é quase impossível tirar os olhos da tela, o filme te prende do início ao fim em uma aventura empolgante, emocionante e arrepiante. O final do filme é incrível, um show à parte, além de ter a seguinte linha, diga-se de passagem, arrepiante:
- "Very clareless of you, old man... Try this... Now we start!".
Aquilo dá vontade de aplaudir e gritar igual um louco. E o Pistoleiro Sem Nome é um personagem simplesmente incrível, como eu disse no texto sobre o filme anterior, o Clint só precisa de duas expressões faciais para botar medo em todos os outros personagens: o modo misterioso e o modo sério, e esse caçador de recompensas é incrívelmente carismático só tendo isso, porque as ações dele ao longo do filme fazem você pensar: "esse cara é f#da", e ele é mesmo!
Ao adicionar dois personagens centrais, Leone precisa os desenvolver também. O vilão El Indio é muito melhor que o vilão do mesmo ator no outro filme, pois ele tem desenvolvimento, ele tem os traumas dele e quando ele aparece, ele convence mesmo como um cara mau, ele é bem expressivo e isso ajuda em colocá-lo como figura antagônica dentro do filme. Enquanto o Coronel é um personagem bastante carismático, você vai mudando sua percepção sobre ele o filme inteiro e fica nessa ambiguidade de gostar ou não dele, você gosta dele, depois odeia, depois gosta e fica nesse ciclo até você decidir se gosta ou desgosta dele. O Lee Van Cleef manda muito bem porque ele tem essa cara de legal e de otário ao mesmo tempo, ele tem a imponência dele que põe respeito em quem assiste, foi um grande ator que infelizmente não tem mais tanto reconhecimento nos dias de hoje.
Preciso ressaltar também o gênio Ennio Morricone em mais um grande trabalho, onde ele aqui adiciona instrumentos de cordas à sua trilha e consegue diferenciá-la da do filme anterior e ele cria uma trilha tão marcante, tão épica, tão arrepiante que acaba por se tornar uma trilha inesquecível. A trilha dele traz sensações inexplicáveis, é vontade de gritar, é nostalgia, é uma sensação de "isso é cinema!", a trilha sobe o filme de prateleira, as cenas dos cowboys cavalgando de uma cidade para a outra com a trilha dele são sempre belíssimas. É uma pena que esse gênio da música não esteja mais entre nós. O trabalho técnico do filme é todo espetacular, nesse eu acho que o que se destaca é o figurino, onde cada personagem tem sua identidade própria através das roupas que utilizam e pelas roupas conseguimos ver perfeitamente o que aqueles personagens representam na história do filme, um exemplo é o do Coronel que está sempre com roupas pretas, colocando-se como autoridade máxima dentro da trama.
Tão bom quanto o anterior, "Por Uns Dólares a Mais" é mais um grande faroeste, um dos melhores da safra de western spaghetti, onde vemos um dos melhores trabalhos da curta, mas grandiosa carreira de Sergio Leone. Com uma trilha marcante, emocionante, arrepiante e todos os adjetivos positivos possíveis de Ennio Morricone e um protagonista marcante e incrívelmente f#da, esse filme se consagra como um dos melhores filmes faroeste da história e consagra o trio LME (Leone-Morricone-Eastwood) como um dos grandes trios da história do cinema! Que espetáculo!
Nota - 9,5/10