Crítica - O Brutalista (The Brutalist, 2024)

A tentativa de um épico moderno.

"Não se fazem mais filmes como antigamente". Este é o grande lema da campanha do filme que irei falar hoje, que tenta resgatar um espírito de cinema clássico americano, tentando ser um grande épico, uma grandiosa jornada sobre um personagem que você acompanha desde seus momentos de queda até suas glórias. O responsável por isso é Brady Corbet, um cara que trabalha há muito tempo com cinema, trabalhou bastante como ator, até com diretores de nome, como Michael Haneke e Sofia Coppola, mas que vem se encontrando na direção e aqui quis trazer uma vibe de grandes épicos Hollywoodianos, feitos com pouco, mas que geram muito, ele tenta fazer o seu próprio "Lawrence da Arábia" (1962) ou "O Poderoso Chefão" (1972), trabalhando a questão da arquitetura brutalista, criando uma figura para representar essa história. E vem causando muito barulho, seja por haver um intervalo durante as sessões no cinema devido a sua longa duração, ou por estar indicado para dez Oscars, incluindo Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e um favoritismo amplo para Adrien Brody na categoria de Ator, além de ser gravado inteiramente em VistaVision, que era uma tecnologia abandonada, apenas usada como ferramenta complementar de efeitos visuais. No entanto, também causa controvérsias ao se dizer "à moda antiga" e usar inteligência artificial para refinar a performance de Brody e em fotos de locações que aparecem durante a exibição. Mas, será que isso impacta na qualidade do longa como um todo? Ou apenas é mais um detalhe?

Lázló Tóth (Adrien Brody) é um arquiteto húngaro com pensamentos e ideias revolucionárias, responsável por monumentos arquitetônicos de Budapeste, que se vê na obrigação de fugir de seu país após a Segunda Guerra Mundial, já que ele é judeu, sobrevivente do holocausto no campo de Bunchewald, e que não sabe o paradeiro de sua esposa, Erszébet (Felicity Jones), que ainda estava capturada. Ele decide ir para os Estados Unidos, mas especificamente para a Filadélfia, morar com seu primo Attila (Alessandro Nivola) e tentar arrumar um emprego em sua área. Contudo, tudo muda quando ele faz uma obra na casa do milionário Harrison Lee Van Murren (Guy Pearce), que de início fica irritado com aquilo que vê (já que foi ideia de seu filho) e que não recebe bem a mudança. No entanto, depois de um tempo, vemos que ele viu um certo potencial no talento de Tóth, o colocando para trabalhar e buscar o seu tão aguardado "sonho americano", além de ajudá-lo a trazer a esposa e a sobrinha órfã, Zsófia (Raffey Cassidy) para os EUA. Tem uma aura de clássico aqui, existe uma vibe muito grande de estarmos vendo algo da Era de Ouro ou até da Nova Hollywood, feito com este objetivo que alcança tecnicamente e esteticamente, porém, deixou a desejar em outros pontos.

O que é o brutalismo, afinal? O termo vem do francês "béton brut", que significa "concreto bruto" e define a essência do estilo: estruturas maciças, concreto aparente, funcionalidade acima da decoração e impacto visual. Então são coisas grandes, extravagantes, diversificadas, feitas com materiais simples, ou menos rebuscados, que são construídos para serem impactantes e funcionais com uma criatividade artística, que deixa os adereços e a ornamentação de lado. Acontece que o longa em si pode ser considerado uma obra brutalista, já que segue bastante esse padrão de simplicidade, cotidianidade, acima de técnicas rebuscadas e de um visual comum e agradável num geral. É bem pensado, já que quando você para e analisa o que está vendo, percebe-se que hão coisas mais brutas no desenvolvimento dos personagens, na maneira deles agirem, na construção dos cenários, na trilha sonora, na edição que corta muitas vezes puxando para um lado mais realista e pensado em causar o impacto do que algo feito de um jeito mais comercial ou padrão.

Brady Corbet sabe bem o que quer com isso, ele consegue trazer essa estética do diferente, mas impactante, desde a primeira cena, que é um dos pôsteres do longa, onde vemos a Estátua da Liberdade de cabeça para baixo e a câmera se virando lentamente. É um plano muito bonito e diferente do que estamos acostumados a assistir, então é inegável que o diretor traz originalidade no que está fazendo. Ele faz uma ode a todo esse estilo arquitetônico e constrói sua narrativa com elementos que buscam alcançar o conceito de qualquer forma. No entanto, é preciso dizer que muitas vezes por buscar a tecnicalidade no que ele está fazendo ao invés de contar a história, acaba que soa maçante por grande parte da história, em vários momentos você não dá a mínima para o que está acontecendo e toda essa grande arquitetura estética montada por Corbet soa como um grande vazio narrativo mesmo sendo cheia em sua ideia. Acaba que cinema, como eu defendo por aqui, é emoção, coisa que aqui é pouco entregue, indo contra até essa ideia do impacto visual que eles tentam emplacar por aqui.

Ele co-escreve o longa com sua esposa, a também cineasta Mona Fastvold, e mesmo tendo dois autores com um certo renome cult, é impressionante como eles não criam nenhuma trama ou personagem interessante para o longa. Primeiro que aqui tem uma das coisas que mais me irrita em filme: divisão em partes sem a mínima necessidade. Literalmente não há motivo algum para isso além da intermissão, essas duas partes, acontecem diversas coisas variadas em diferentes espaços de tempo em ambas, terminando que não muda em nada. A história até começa bem, parece que veremos a busca de um arquiteto e seu estilo único pela realização de seu sonho na América, mas acaba que existem tantas voltas encima do que vai rolando que ao final nem dá mais para saber o que o longa queria contar. Existe um ponto de virada do meio para o fim do segundo capítulo que é totalmente desnecessário, feito só para criar um choque no espectador, até tem uma repercussão dentro da trama, mas que não termina em nada. Corbet cria muitas coisas e resolve quase nenhuma, deixando sua narrativa oca e arrastada.

Acaba que tudo isso, de cinema clássico, utilização do VistaVision, história de sonho americano, tentativa de drama épico dentro de um período histórico, não passa de conversinha fiada para campanha para premiações, pois acaba sendo um filme mais conservador em vários de seus aspectos e quer atingir um certo público dentro de corpos de votantes. Mas, vamos ser sinceros, que discursinho mais besta, que preguiça que me dá toda essa porcaria de "ain, não se fazem mais filmes como antigamente", VOLTA PARA OS ANOS 50 ENTÃO, ARROMBADO, estamos em 2025, essa palhaçada de que "o cinema está diferente do que era", é óbvio que está, estamos evoluindo a tecnologia, os equipamentos, os diretores, os roteiristas, os atores e profissionais num geral tem mais acesso à informação, mais oportunidades de trabalho, de diversidade de projetos, tudo bem que tem muito filme ruim, mas sempre teve, a questão é que os de antigamente não sobreviveram, assim como os dessa geração também não vão. Se o significado de fazer cinema é ficar para trás, se prendendo num passado fictício em que nenhum de nós, incluindo o próprio Brady Corbet, viveu, é uma besteira sem tamanho. Cinema é evolução, é progresso, esse discursinho é tão idiota e ter esse tipo de pensamento é tão retrógado que dói os olhos ao ler.

O que salva é realmente o Adrien Brody como o protagonista. Já retirando o elefante da sala, sim, tem IA na voz dele nas cenas que ele fala húngaro para fortalecer a pronúncia, no entanto são apenas em voiceovers, assim sendo mais fácil de relevar, já que não é usada em cena (com exceção de uma única que escondem a boca dele na sombra). Acaba tirando o brilho geral, mas não o brilho dele em cena. O personagem nem é tão interessante assim no texto, mas Brody traz um ar que torna isso assistível por muito. Ele cria uma outra persona, um sotaque bastante convincente, cenas onde ele passa para o espectador a empolgação, uma honestidade, uma bondade, ao mesmo tempo uma incerteza, um receio, como tudo a sua volta lentamente vai se virando contra si. Ele tem seu momento de auge, com uma felicidade contagiante, a empolgação pelo sonho americano, mas quando existe uma queda, um momento que o mundo o coloca para baixo, ele enlouquece, ele fica cada vez mais esquisito, esquentado, irritado, e convence em ambos, trazendo um impacto dramático para o longa todo, já que a direção não consegue por ela mesmo.

Sua esposa é interpretada pela Felicity Jones, que até tem uma atuação interessante. Ela manda muito bem em demonstrar a frustação, ela passa bem como ela se sente, a saudade que ela teve do marido e como ela se sente renegada em vários momentos. É uma personagem que sofre muito, você compra toda a dor dela, ela está doente, não consegue mais andar, tem que viver na base de medicações e mal consegue reviver sua relação aos bons tempos com Lázló. Ela manda muito bem nessa questão de trazer o drama dela, existe um impacto no que ela fala, no que ela faz e não fica apenas como um papel qualquer da grande mulher por trás do grande homem. Tem a sobrinha deles, a tal da Zsófia, que aí é mais uma das muitas personagens que o longa apresenta e deixa jogado, tentando dar algum impacto para ela, mas gera cenas sem o mínimo peso, criando um epílogo ridículo, um monólogo idiota e que encerra o que era para ser o cinema clássico da forma mais vergonhosa que poderia.

Outro personagem que tem mais destaque é o tal do Van Muren, feito pelo Guy Pearce, e eu confesso que eu detestei essa atuação. Ele foi escrito para ser detestável, ok, é um arrombado mesmo, mas o que de fato eu não gostei foi que tudo nesse malandro parece que foi criado a dedo para pegar uma vaga no Oscar de melhor ator coadjuvante e nada mais. Em 75% da performance dele, ele está no modo de atuação mais Oscar bait que existe, e que eu mais detesto também: a atuação de grito. Eu não sou contra essa coisa de terem cenas de personagens gritando para serem os grandes momentos de atores em suas obras, porém, tem de fazer sentido com o que foi apresentado sobre o tal personagem. Aqui é muito gratuito, tudo que ele faz é extremamente gratuito na realidade, do nada também o longa decide transformá-lo num vilão, coloca ele para ter uma ação totalmente desnecessária e sem nenhuma coerência com nada que havia sido mostrado dele anteriormente e gerar um encerramento tenebroso da participação do Pearce aqui, com uma cena que parece que foi copiada do possante "Saltburn" (2023). Não dá, não consegui gostar de nada que vi dele por aqui.

Na parte técnica, como disse, é bem pensado como eles colocam o conceito do brutalismo arquitetônico em vários artifícios. Um deles é a própria direção de arte, onde os cenários são realmente grandiosos, bem elaborados e impactantes, não são bonitos, mas trazem toda essa concepção arquitetônica do impacto visual, da grandiosidade em meio à simplicidade. Os locais, especialmente a mansão dos Van Murren, são muito bem demonstrados, além de claro, o conceito da própria obra que o protagonista se dedica a construir, que é o cerne do que o longa busca com suas locações. A fotografia do VistaVision é interessante, é uma tecnologia que como eu disse anteriormente, ficou em desuso por ser considerada ultrapassada, hoje em dia é uma ferramenta extra para efeitos visuais, mas não dá para negar que a forma na qual eles utilizaram deixou o longa muito bonito, muito detalhado, existem momentos que são fascinantes visualmente, como a câmera tenta trazer um certo realismo e é bastante destacada sem ser tão saturada quanto aparenta, criando um tom mais vintage. Dá para ver a textura dos grãos de areia, de cimento, isso é algo visualmente absurdo, é um ponto para o Corbet, mostrando que essa tecnologia ainda pode ser utilizada hoje em dia.

Eu achei a trilha sonora também bem interessante, ela é realmente bem bruta, tendo momentos mais sinfônicos, lentos, que buscam a emoção, e outros mais altos, que tentam soar grandiosos, mas mantendo a simplicidade, não é muito extravagante, é mais contida mesmo quando quer ser mais aparente, usando poucos instrumentos netas ocasiões. Separadamente é excelente, mas como nada que acontece em tela tem algum impacto, acaba que inutiliza a música do Daniel Blumberg. A montagem segue este mesmo padrão, não tendo cortes mais comuns, eles são mais retos, ou então mais enrolados, as vezes são muitos, outras vezes são poucos, muitas cenas longas, outras curtas, então não existe, propositalmente, uma linguagem mais acessível, tenta ser fiel ao seu tema/conceito e se você comprar, está feito, mas eu achei isso uma jogada artística preguiçosa de um cara que acha que está fazendo mais do que realmente está realizando. Dá para sentir através de toda essa estética, todas essas atuações forçadas, situações exageradas, algumas coisas pesadas desnecessárias que não conversam com o resto do longa, muita atuação de grito, muita tecnicalidade fútil, somado a todos os discursos, campanhas, marketing e coisas do tipo, que eles acham que isso é um clássico instantâneo, é de uma prepotência sem precedentes e o pior é que existem um bando de cinéfilos que querem se pagar de intelectuais dizendo que é revolucionário, que quem não gosta é porque não entendeu. Meu irmão, eu não sou ninguém, eu não gosto de me intrometer no gosto dos outros, mas se você acha que isso aqui é grandioso, revolucionário ou uma obra-prima, deixe de ser otário!

Por fim, "O Brutalista" acaba que promete muito e entrega pouco, sendo uma das obras mais prepotentes que eu vi nos últimos tempos. Parem de comprar essa futilidade em forma de filme só porque é bonitinho, porque tem uma estética diferente, só porque tem uma atuação muito boa. Tecnicalidade, estética, isso não adianta se não tiver uma história boa para contar, que é justamente o grande problema daqui. É desinteressante, tudo é tão vazio, sem sentimento, sem substância, que acaba sendo uma experiência que não te traz nada em troca além do visual diferente e do experimento arrogante que faz com que você perca mais de três horas da sua vida em algo que soa interminável, e quando termina, é da maneira mais ridícula possível. Adrien Brody carrega com sua performance, realmente emocionando em tela e se superando, em mais uma grande performance de um artista sobrevivente do holocausto (o cara já virou um arquétipo). De resto, não é nada, é só uma tentativa presunçosa, que soa como Brady Corbet batendo uma para ele mesmo, achando que é um gênio e um revolucionário, ele pensa que é o próprio personagem que ele escreveu, quando na verdade é só um arrombadinho que merece levar um murro na cara, já estou contra esse cara em qualquer coisa que ele fizer daqui para frente. Um filme como esse é um retrocesso cinematográfico.

Nota - 5,5/10

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