Crítica - O Reformatório Nickel (Nickel Boys, 2024)

O ladrão de vagas do Oscar 2025 (junto de Emília Pérez).

Geralmente, o Oscar de melhor filme não vem acompanhado de muitas surpresas, todos os dez indicados são longas que fizeram barulho na temporada de premiações e acabaram pegando indicações em prévias, são difíceis as surpresas. Porém, em 2025 não tivemos só uma, que foi com o nosso brasileiro "Ainda Estou Aqui", mas a segunda foi com este aqui, que começou com uma certa força na temporada, foi diminuindo, e acabou chegando à categoria máxima da premiação de gaiato, roubando a vaga que deveria ser de "A Verdadeira Dor" (que já adianto que não deveria, pois o filme do Eisenberg é muito melhor), e também em roteiro adaptado acabou retirando uma vaga que poderia sobrar para "Wicked", "Duna: Parte 2", ou até o próprio "Ainda Estou Aqui". Óbvio, estamos num ano com o possante "Emília Pérez", que tem treze vexatórias e inacreditáveis nomeações cujo nenhuma é merecida, reclamar de outro filme pode até pegar mal, mas aqui, nesse caso, é uma daquelas invenções da Academia que você vê sendo indicado sabendo que existem melhores que ficam de fora da premiação como um todo. Esse ano eu penso em pelo menos três filmes dignos de estarem em múltiplas categorias principais e que ficam de fora para entrar um "Emília Pérez" ou "Nickel Boys" da vida. Essa é uma vibe que vinha sumindo de pouco em pouco, mas que neste ano fraco, tomou conta mais uma vez.

Em 1962, durante a era da segregação racial e das leis de Jim Craw no sul dos Estados Unidos, acompanhamos a história de Elwood Curtis (Ethan Herisse), um jovem negro, bastante inteligente e com potencial, criado por sua avó Hattie (Aunjuane Ellis-Taylor), que o criou sempre com cuidado e com medo dos brancos, devido à misteriosa morte de seu avô na cadeia. Contudo, Elwood, aos 18 anos, acaba indo para a faculdade e precisa lidar com o mundo. Porém, no seu caminho até lá, é acusado injustamente por um roubo de carro, pois estava pegando carona num veículo roubado. Com isso, ele vai parar no Reformatório Nickel, uma prisão para jovens menores de idade, cujo, devida segregação, os brancos ficam em cômodos confortáveis, enquanto os negros são jogados em acomodações gastas, sujas e pobres. Lá, Curtis conhece Turner (Brandon Wilson), que se identifica com ele e os dois começam uma amizade que perdura e os ajuda a sobreviverem aquele local difícil. Mais um ano, mais um filme independente dirigido por um homem negro, no caso aqui, o debutante RaMell Ross, e que alcança vagas em grandes premiações por seu tema, por seu experimento, pois aqui acompanhamos um longa gravado em primeira pessoa, feito com muito pouco, mas que tenta impactar muito, criando alguns momentos bastante colocados apelativamente para causar um choque, para ter esse impacto pelo tema, mas acaba que é mais um longa que o diretor se perde com invenções técnicas e cria uma experiência longa e cansativa.

Tudo bem, tem um tema muito bom, uma intenção muito singela, no entanto, de boas intenções o inferno também está cheio, e aqui acaba que o inexperiente RaMell Ross tenta se sustentar só pelo seu tema, deixando de lado a forma como contar a história e apelando mais para um experimento que ele tenta fazer de colocar a visão do longa em primeira pessoa, do que tentar fazer algo que realmente crie um longa que seja bom por si, e não por artifícios técnicos ou uma mensagem existente. Vou começar logo falando dessa fotografia para tirar o elefante da sala, pois eu achei muito ridículo. Primeiro que a forma como que é gravado remete a um filme pornô, parece que a qualquer minuto o personagem cujo está com a câmera na cabeça vai olhar para baixo e sacar o instrumento para fora. Não existe inspiração, não existe criatividade, é feito de um jeito para dizer que é assim e pronto, acabou. Não existe a necessidade disso, é apenas um artifício barato utilizado para uma tentativa de vender o longa como diferenciado, criativo ou até corajoso, mas termina não sendo nada nisso. Eu considero até covarde muitas vezes, pois eles colocam muitas questões implícitas, várias coisas que eles poderiam ter abordado melhor, criado um drama encima, mas preferem ignorar e focar em narrativas que não cativam, que não emocionam, que são apenas uma coisa enfiada ali contando com a empatia do espectador. A questão é que existe a diferença entre ser empático e ser cego, onde parece que se você disser que não gosta, alguém vai vir e criar toda uma narrativa dizendo que é porque você é preconceituoso e não entende. Não, eu entendo o que acontece aqui, eu sei o que está na tela realmente quer dizer, a questão é que não é por isso que eu tenho que achar necessariamente bom, pois aqui não é.

O diretor quer muito esfregar a mensagem na sua cara, ele quer muito te fazer sentir mal caso você não goste, pois existe um apelo muito grande ao colocar situações muito pesadas que sempre vemos acontecendo em diversas obras, e infelizmente, diversos noticiários, mas a forma na qual RaMell Ross traz isso é muito apelativa e caricata, é claramente feita para causar um choque barato e não causa o que deveria causar, não é feito de maneira genuína, eu não consigo enxergar honestidade na forma que é entregue aqui. Mas, o maior ato de desespero e apelação para praticamente te chamar de racista caso não gostei sem dizer uma palavra sequer, só com a direção dele, é colocar vários e vários momentos de ícones da cultura negra dos Estados Unidos, colocar uma parte de um discurso de Martin Luther King Jr. ou um pedaço de uma atuação de Sidney Poitier, além de outros momentos dessa causa, dessa luta por direitos dos negros, que são jogados no meio do longa para reforçar a mensagem, ainda somados a imagens e notícias da corrida espacial, fazendo uma correlação da exploração do humano para com o espaço, com a luta pelos direitos civis, para tentar esfregar na sua cara que você seja ignorante caso não goste.

Eu achei, particularmente, ridículo, não precisaria apelar para isso se você tivesse realmente uma história para contar, se existisse algo aqui exatamente interessante. É muita linguiça preenchida em duas horas e vinte de exibição, cujo poderiam ser muito menores e melhores desenvolvidas caso o diretor se preocupasse mais em querer fazer algo verdadeiramente bom, do que apenas tentar fazer as pessoas gostarem do seu filme de uma forma quase que obrigatória. Ainda nessa questão de storytelling, tem toda uma trama paralela entre flashforwards, onde acompanhamos um futuro visto pela terceira pessoa, que é insuportável de se assistir, tem uma cena num bar que é longa, chata, completamente desinteressante e que fica se arrastando de uma forma que me deu sono. Porém, ao final, eu gostei da conclusão e da justificativa que existe para ser assim, torna-se um final interessante ao colocar essa câmera em terceira pessoa por não ser mais quem você realmente pensa que é, mas não consegue salvar o resto, já que até essa cena do final, tudo que acontece é zero, é uma série de eventos que não causam nenhum impacto genuíno, é só umas coisas que, com todo respeito, dane-se, eu não me importo.

A relação que se constrói entre os dois personagens é muito qualquer coisa, realmente não dá para entender. Ok, tem uma identificação ali, eles dois se enxergam de uma forma um no outro, mas todas as conversas deles são totalmente desinteressantes, os diálogos são qualquer coisa e são muito longos, eu gosto de filmes que tem longas conversas e tal, mas desde que tenha fundamento e o que seja falado realmente instigue e impacte de alguma forma em quem está assistindo. Eu particularmente achei esses dois atores bem fracos, especialmente o Ethan Herisse que interpreta o Elwood, a performance dele soa muito amadora, parece que ele está literalmente lendo o texto do roteiro, ele pode até ser mais fechado e tal, mas é uma performance tão quadrada que não cativa. O Brandon Wilson como Turner é um pouco melhor, ele realmente tenta trazer um pouco de dinâmica ao personagem e ao longa como todo, mas como o resto não ajuda, ele não é tão grandioso para carregar o filme com ele, contudo, ao menos ele traz um pouco de vida e honestidade para um longa que soa assim. Ainda tem a Aunjuane Ellis-Taylor fazendo a avó de um deles, numa tentativa de criar uma relação, algo mais contido, mas não dá para comprar, é uma encheção de linguiça toda vez que ela aparece, numa atuação construída para uma ou outra nomeação em prêmios, mas é bem genérica.

Honestamente, que se dane esse filme, eu já estou cansado, vi tanto filme ruim nessa maratona do Oscar que este foi o penúltimo indicado que eu vi e eu já não aguento mais aguentar tanta coisa chata, pedante, que não me empolga, que não cria uma experiência, e esse é o que eu menos gostei de todos no geral, só fica na frente de um filme, que vocês devem imaginar qual é. O que dá para eu tirar de "O Reformatório Nickel" é que é uma obra desinteressante, onde o diretor está mais interessado em mostrar o que ele sabe fazer ao invés de desenvolver uma história propriamente boa, onde ele desenvolve o longa de uma maneira que ele quer fazer com que você se sinta mal caso não goste, mas ele não faz nada para você realmente gostar. É desinteressante, arrastado, longo, sonolento, os personagens não são cativantes e toda a questão técnica é pedante, um experimento sem objetivo e sem motivo nenhum, com atuações que soam amadoras e um longa que é inacreditável estar à frente de vários outros muito melhores que foram esnobados.

Nota - 4,5/10

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