Crítica - Twisters (2024)
Nois vai descer, vai descer, descer lá pro Oklahoma no finalzinho do ano, os furacões já tão chegando pra pegar você.
Essa é uma das críticas que eu estou prometendo a mais tempo e nunca saia, acabou que finalmente eu assisti e o texto que eu vinha prometendo desde agosto já está entre nós, mais enrolada do que essa, só a de "Godzilla Minus One" (2023), que eu demorei quase nove meses para entregar na página. Porém, deixando isso de lado, estamos aqui para falar de uma sequência, reboot, remake, sei lá como descrever isso, é uma nova adição à franquia "Twister" (1996), que só havia tido seu primeiro longa até então, lá atrás, dirigido por Jan de Bont, diretor do ótimo "Velocidade Máxima" (1994) e, apesar de ter passado na Sessão da Tarde algumas vezes, eu só fui ver de fato completo em 2024, em aquecimento para essa "sequência-legado", que acabou que eu só fui ver agora em fevereiro de 2025, e eu gostei bastante do anterior, é muito divertido assistir aqueles malucos indo caçar furacão e como eles são apaixonados por isso. No entanto, ninguém volta para essa nova entrada, alguns atores do original já até morreram, como Bill Paxton e Philip Seymour Hoffman, então preferiram rebootar e trazer novos personagens, novos atores e um novo diretor, Lee Isaac Chung, que dirigiu "Minari" (2020) e se você é raiz da página, sabe que eu detesto esse filme. No entanto, a abordagem de ação, de urgência, de desastre natural, acaba que chama a atenção e, bom, ele consegue ser divertido.
Kate Carter (Daisy Edgar-Jones) é uma aficionada por meteorologia, especialmente por furacões, e para um projeto de faculdade, junto com sua equipe, ela desenvolve uma tese de que é possível diluir um furacão por dentro. No entanto, seu projeto dá errado ao eles encontrarem um tornado nível F5 (o nível máximo da Escala Fujita, que retrata ventos que podem chegar a 511 km/h), nisso, ela perde três membros do seu time, incluindo seu namorado. Anos depois, trabalhando em Nova York num centro meteorológico, ela é contatada pelo único sobrevivente de sua equipe, Javi (Anthony Ramos), que a apresenta um projeto de caçar furacões em uma onda sem precedentes no Oklahoma que durará uma semana. Nisso, ela acaba conhecendo Tyler Owens (Glen Powell), um influencer, e sua equipe de caçadores, que supostamente busca atenção em meio às tragédias, mas, ao longo do tempo, Kate percebe que nada é realmente como parece ser. Começando dizendo que eu assisti o original para nada, já que não há nenhuma referência além da máquina Dorothy, e aqui eles usarem três máquinas chamadas Espantalho, Homem-de-Lata e Leão, então essas referências de usarem "O Mágico de Oz" para caçar furacões são reutilizadas, mas, de resto, não há nada, o que possibilita uma originalidade no que eles fazem.
Aqui, é o mesmo naipe de "Gladiador 2" e "Furiosa: Uma Saga Mad Max", é impossível ver e não comparar com o anterior que é melhor, mas dessa leva de, praticamente, revivals de clássicos, ele é o que melhor consegue se desprender do original devido a não querer e não precisar referenciar o clássico para criar sua história, o longa tenta andar com pernas próprias. No entanto, é impossível de qualquer jeito não comparar, e nesse caso, eu acredito que seria até melhor eles colocarem uma ligação direta com o original, eu conseguiria ver facilmente essa protagonista, a Kate, sendo filha da Jo, a personagem principal do original interpretada pela Helen Hunt, poderia facilmente ser, ainda fazem um suspense bem do vagabundo ao ela chegar na casa da mãe para ser uma personagem nova, acho até que isso justificaria muito da obsessão dela pelo assunto. Mas, no fim, não faz tanta diferença, já que conseguem contornar isso muito bem, criando um novo conceito e, assim como uma continuação clássica, tenta fazer coisas mais grandiosas, em escalas mais grandiosas e com acontecimentos mais grandiosos, porém, o primeiro conquista mais por ter mais coração.
Lee Isaac Chung acaba por fazer algo que foca mais na jornada dessa menina do que num grande acontecimento em si, construindo uma trama em volta dela, de seus estudos e de seus objetivos, encaixando as cenas de tornado no meio disso. Não há tanta autoralidade assim, o que é bom, porque eu não gosto desse diretor no modo autoral, mas a condução de blockbuster clássico traz uma vibe bem bacana, gerando o entretenimento que esse filme deveria gerar. É muito legal de se acompanhar esses personagens e as cenas de ação, que são tensas, que tem a adrenalina, a urgência e que conseguem passar o quão destrutivas são as consequências. Acho muito interessante a linha tênue estabelecida sobre os furacões, o quão são fascinantes, ao mesmo tempo que são assustadores, e o como isso é mostrado através dos personagens, o quão eles tem paixão por aquilo tanto quanto eles temem, como é algo que eles sentem a beleza, mas tem que sentir medo. Isso é algo que vem já desde o anterior, mas lá era mais intenso, aqui é mais por parte do costume de ver isso naquela região do Oklahoma, cujo os personagens cresceram por lá, onde é comum, e acaba que isso cria essa aproximação entre as pessoas e os acontecimentos.
As cenas de furacão são muito boas, não só os efeitos, mas toda a construção em volta. Aqui, há a introdução de uma tese que a protagonista teve na faculdade, sobre diluir tornados por dentro, e muito da trama do longa do segundo ato para a frente torna-se isso, onde há a urgência por estar chegando um F5, e toda essa pressa para isso dar certo, quase como se aquilo fosse um antagonista para esse estado, é muito bem trabalhado. É ótimo como aqui eles brincam muito com as possibilidades que eles poderiam fazer sem com que saísse do verossímil, apesar de ter muita loucura, tem os tornados gêmeos, onde uma parcela do tornado se separa e formam dois furacões por alguns minutos; também tem os personagens soltando fogos de artifício num desses tufões, onde geram cenas bem massas visualmente. Além do tornado de fogo, que aquilo ali é loucura, mas incrivelmente é real, pois existe na realidade, é plausível, e a forma como eles levam isso para a tela é muito bem feito. O contexto também é excelente, já que vemos como aquilo é realmente devastador, as consequências são chocantes e vermos a situação real de perigo ajuda muito a entender o risco que elas pessoas correm ao terem essa ocupação, a escala ajuda muito, e impacta muito vermos lares e cidades arrasados, uma mãe tentando proteger a filha a todo custo e tudo mais.
E a nova protagonista é muito bem trabalhada, eu gostei muito da Daisy Edgar-Jones e da personagem Kate, pois eles sabem bem como construir ela e traçar uma empatia do espectador pela mesma. O filme já começa bem num prólogo chocante, mostrando o trauma dela e porque seria difícil para ela voltar ao Oklahoma, voltar ao campo como uma caçadora de furacões, pois no início já somos arrasados pela coragem de matarem quase todos os amigos dela de uma vez, já justificando tudo que veríamos sobre ela no futuro e é pesado, é impactante, não tem como não criar uma empatia pelo o que aquela garota viu e sentiu naquela situação, mataram mais gente ali do que em todo o primeiro filme. Como isso se alastra por toda a trama e é basicamente o guia dela para todas suas atitudes, ressentimentos e até as relações que ela tem com as pessoas, ela se afasta muito das outras pessoas, é muito distante, pois tem medo da perda voltar a assombrá-la. A relação que ela vai estabelecendo com o Owens ao longo da narrativa é uma disrupção de tudo que ela sofreu e teve que superar com tudo isso é até inspirador de certa forma, vendo a maneira na qual tudo acaba no final.
Além dela, temos o novo membro do clube das estrelas de cinema, Glen Powell, em seu terceiro grande sucesso de bilheteria e segundo consecutivo como protagonista. Bom, ele aqui não é bem o protagonista de fato, mas não há como negar que sua imagem vendeu bastante o longa, e ele é um par romântico que vai assumindo um co-protagonismo com o andar da trama. O personagem dele é, bem, ele mesmo, ele é aquele cara carismático, engraçadão, meio maluco das ideias, mas que é sedutor, cativante, tem um apelo que vem com ele, e apesar de parecer meio babaca, prepotente, é um cara de coração bom. Ele na real é um sigma chad, extremamente moggado, ele tem o molho, ele tem o sexappeal, ele é a definição de chad com aquela expressão dele com os olhos centrados e a barba. Ele é muito mais legal que o Javi, que é um personagem que claramente tem intenções com a protagonista, mas ele além de frouxo, ainda é um babaca algumas vezes e não passa de um beta, literalmente eu torcia para esse cara ser trocado, pois não tem que sobrar nada para o betinha mesmo, its over. Tem o Superman nesse filme também, o David Corenswet, mas ele não faz nada, ele é só um empregado de um ricasso que financia esse programa e fica lá do lado do beta o tempo todo.
Falando agora da parte mais técnica, eu já falei bastante dos efeitos e como eles brincam muito com o conceito dos furacões, mas eu gostei de outras coisas. Eu achei muito interessante o conceito do carro do Owens, com todos aqueles gadgets, os parafusos que prendem a caminhonete no chão para eles entrarem dentro do furacão (não sei se isso é factualmente efetivo, mas eu achei massa isso aí), além de todos os conceitos dos fogos de artifício, como é montado para as situações perigosas que eles enfrentam, é literalmente um bat-móvel de tornado. Eu achei a fotografia bem propícia a isso tudo, eu gosto desse tom cinza que toma conta, utilizando o tempo e o clima local para contrastar com o sentimento da Kate em muitos momentos, além da maneira a qual eles gravam os ventos, os furacões e como impacta nos personagens como um todo. E também gostaria de falar da trilha sonora, pois temos várias boas músicas aqui, mas tem a música tema do Owens, "Ain't No Love in Oklahoma", do Luke Combs, que é um country rock, e isso simplesmente gruda na cabeça, é muito chiclete, e a vibe é a mesma do personagem. Tem algumas coisas que eu não gosto, acho que falta o senso de unidade, de equipe, que era um diferencial do primeiro, além de alguns diálogos serem bem desconexos em um momento ou outro, especialmente as cenas de Kate com sua mãe.
Bom, acho que não existe nada a mais que eu possa falar sobre "Twisters". Acredito que relacionar isso com o original de 1996 é quase inútil, pois não é um filme tão lembrado, apesar de ser um clássico, passou muito na televisão, mas não tem uma fanbase nem nada, apesar de ser excelente. Porém, esse aqui também é muito bom, apesar de não ter quase nenhuma relação direta com o primeiro, consegue criar seu próprio caminho e gerar uma trama daquelas clássicas de continuações, onde tudo é mais grandioso, mais espetaculoso, mais pirado e mais criativo, de certa forma. Ótimos personagens, eu gostei muito das atuações da Daisy Edgar-Jones e do Glen Powell, além de uma direção padrão, mas bem cozinhada pelo Lee Isaac Chung, uma construção visual interessante dos furacões e uma bela trilha sonora, entrega o que promete e diverte muito, é bem legal de assistir, queria ter visto no cinema, pois teria elevado a experiência, tem várias coisas aqui que eram propícias a se verem na telona, e querendo ou não, é algo diferente nos blockbusters de hoje.
Nota - 7,5/10